SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

SÃO PAULO - BRASIL

"A Esperança não decepciona" (Rm 5,5)

O nascimento de uma vocação

Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei.” (Jr 1,5).

Esse texto retrata o chamado do profeta Jeremias. Ele foi escolhido por Deus para anunciar a necessária conversão de Israel. Que o povo se arrependesse e que mudasse de vida. Mas, como nasce uma vocação? O que a constitui? Iniciaremos, com este texto, uma série sobre a formação dos sacerdotes, a começar pela descoberta da vocação.

Quantas vezes na comunidade não escutamos comentários como: fulano tem cara de padre! O que será mesmo a vocação? A etimologia da palavra é de origem latina vocare. Os significados são: chamar, convocar, escolher. Em todos estes significados, uma raiz comum – o chamado, a convocação, a escolha, ambos têm um autor: Deus.

Creio que o primeiro chamado de Deus para nós é a vida. Fomos formados e constituídos seres humanos já com uma missão específica: a glória de Deus! Santo Irineu de Lião já dizia: “A glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus”. Não obstante a vida, Deus com sua generosidade, ainda nos chama a uma vocação universal: À SANTIDADE. Independente da vocação específica de cada um de nós, a santidade é imperativo para todos. “Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos também vós santos em todo o vosso comportamento, porque está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pd 1,15-16). Não importa o estado de vida, casados, solteiros, consagrados, leigos e leigas, o convite se repete “Sede santos, como o vosso Pai do céu é santo.” (Mt 5,48).

Mas, e a vocação específica, onde ela se localiza na Igreja? Na Igreja, o Espírito distribui seus dons e carismas com abundância. E convoca os fiéis a assumirem uma vocação específica. São vocações laicais, sacerdotais e religiosas. Dentro da vocação laical há diversidade, o matrimônio, os que escolhem o celibato sem estarem ligados a institutos ou congregações, as virgens que se consagram, etc.

A vocação sacerdotal, vocação específica, nasce de um encontro da vontade de Deus e da resposta do que é chamado. E Deus chama das mais diversas formas. Às vezes, o candidato descobre sua vocação no contato com algum sacerdote, às vezes com uma canção, outras vezes em um retiro, numa pregação, enfim, os meios que Deus se utiliza para chamar são diversos, mas o fim é o mesmo: constituir sacerdotes para distribuir sua multiforme graça.

A Igreja, através de seus sacerdotes, santifica o povo na distribuição dos sacramentos. Aquele que um dia olhava a comunidade e reconhecia as grandes necessidades dela, agora se coloca à serviço. Reconhece que Deus lhe está chamando. Nem sempre é uma decisão tranquila; às vezes, nossa resistência à vontade de Deus nos faz crer sermos chamados à outra vocação, ou até mesmo o medo de responder. Muitas vezes é uma luta travada entre o Chamado e o que Chama: sempre ganha o que Chama. “Tu me seduziste Senhor, e eu me deixei seduzir; Tu te tornastes forte demais para mim, tu me dominaste” (Jr 20,7).

Lembro-me do menino tímido que, de longe, olhava o padre e dentro do seu coração uma voz dizia: “Vem e segue-me” (Mt 19,21). Ao ouvir as palavras do prefácio da oração Eucarística: “Corações ao alto”, pensava comigo: Ele deseja meu coração unido ao dEle. Reconheci que Ele me chamava para a vocação sacerdotal. Ele me chamava a deixar a timidez e o comodismo para lançar redes.  A vocação nasce de um encontro de amor, de um chamado irresistível. Ele venceu! Assim, nasce a vocação. Quando Deus vence.

 

Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros

ONDE ESTAMOS NESTA PÁSCOA?

Após dois anos sem celebramos a Páscoa presencialmente em nossas comunidades, neste mês de abril estamos nos preparando e, com a graça de Deus, estaremos em nossas comunidades para esta celebração que é o coração e o centro do Ano Litúrgico, bem como a força vital da missão da Igreja.

Como sempre digo a Páscoa de 2022 é única e diferente de todas as outras, não somente pela celebração presencial, mas porque tornamos presente no hoje da nossa história a ação salvífica e libertadora de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O mistério pascal está sempre rodeado por acontecimentos de morte, consequência do pecado. Em meio a situações de morte, Deus sempre aparece fazendo Aliança com seu povo. Ele é o Deus que defende a vida, mesmo quando, por justiça, a consequência deveria ser a morte. Foi assim desde Caim até Jesus Cristo, os apóstolos e os mártires de todos os tempos.  Nosso Deus nos dá a vida em Jesus Cristo, apesar dos nossos pecados, crueldades e absurdos e abusos contra a vida. A Páscoa é sempre uma nova resposta de Deus à nossa história.

A Páscoa de 2022 também está rodeada por acontecimentos de morte, seja em nossa vida pessoal, como na história da nossa sociedade. Temos o horrendo dado estatístico da pandemia com quase 660 mil mortes no Brasil, tantas e tantas das quais poderiam ter sido evitadas, se a defesa da vida tivesse sido colocada acima de interesses pessoais. Enfrentamos, talvez por negligência das pessoas, uma desigualdade vacinal em nosso País. Temos também uma desigualdade vacinal no mundo; em países pobres nem mesmo a primeira dose foi aplicada.  As terras indígenas têm permissão de serem invadidas para satisfazer a ganância de garimpeiros, que não se importam com a nossa casa comum. A guerra do Leste Europeu nos faz ver tanta barbárie e nos atinge economicamente gerando mais pobreza e miséria. Vemos diante deste quadro pessoas procurando tirar vantagens em todas as situações, principalmente às custas dos mais necessitados. A injustiça mata. A injustiça dói.

Temos também os nossos dramas pessoais que não estão alheios ao olhar misericordioso de Deus.

Não obstante tantos flagelos que temos passado, de modo especial nestes dois últimos anos, o “coração do faraó continua endurecido”.  Como no Êxodo, “Deus endureceu o coração do faraó.” Por quê? Para que naqueles onde reside a fé, haja luz, enquanto as trevas dominam os de coração endurecido, e esta luz permita ver o Deus Salvador e Libertador. Na noite das trevas para o Egito, Deus liberta o seu povo, conduzindo-o pela coluna luminosa e o faz atravessar o mar a pé enxuto, “rumo à terra onde corre leite e mel.” Deus faz distinção entre Israel e os egípcios. Deus, na força da ressurreição do seu Filho Jesus Cristo, faz distinção entre os que se deixam guiar pela luz da fé e os que endurecem o coração como o faraó.

Onde estamos nesta Páscoa, no exército do faraó ou com Jesus, junto à Cruz? Estamos com o coração endurecido, acreditando que a melhor resposta é responder ao mal com o mal (“olho por olho e dente por dente”)? Estamos com o coração endurecido a ponto de acreditarmos que uma revolução política irá trazer a paz e que esta será alcançada com o povo tendo a possibilidade de portar armas de fogo, de modo que Caim continue a matar Abel? Estamos com o coração endurecido a ponto de chegarmos à conclusão de que a vingança é a resposta de justiça? Estamos com o coração endurecido desacreditando da Doutrina Social da Igreja (de modo especial a “Laudato Sí” e a “Fratelli Tutti”)? Estamos contemplando Jesus no seu mistério pascal – nos emocionando até – mas dizendo interiormente e externamente até, que os tempos são outros e é preciso abrir exceções à mensagem do Evangelho?

Podemos, porém, estar junto a Cruz, acreditando que o “está tudo consumado” de Jesus é a vitória do amor numa nova dimensão, apesar de toda injustiça e assassinato. Podemos estar junto à Cruz do Senhor, acreditando que este amor é mais forte do que a morte e que vence a morte. Podemos estar junto à Cruz de Jesus, acreditando contra toda desilusão humana, que o nosso Deus é fiel.

A alegria da celebração pascal dependerá do lado que estivermos.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.Bispo diocesano

XI Assembleia Diocesana – “O Senhor fez em nós maravilhas” (Lc 1,49)

Amados Diocesanos, abaixo temos as prioridades escolhidas na Assembleia diocesana realizada em 12 de março de 2022.

Bendito Seja Deus!

PILAR DA PALAVRA: INICIAÇÃO CRISTÃ E ANIMAÇÃO BÍBLICA DA VIDA E DA PASTORAL

  1. Assumir o caminho de iniciação à vida cristã, de inspiração catecumenal, com a necessária reformulação da estrutura paroquial, catequética e litúrgica;
  2. Revisar, a partir dos desafios do mundo urbano, o dinamismo das comunidades eclesiais missionárias, possibilitando que o anúncio de Jesus Cristo transforme pessoa, famílias, ambientes, instituições e estruturas sociais;

 

PILAR DO PÃO: LITURGIA E ESPIRITUALIDADE

  1. Valorizar a pastoral litúrgica: canto litúrgico, o espaço sagrado e tudo que diz respeito ao belo serviço da vida espiritual (incentivar a comunhão entre as pastorais da liturgia, da catequese, da cultura e da arte sacra);
  2. Resgatar a centralidade do Domingo como Dia do Senhor por meio da participação na Missa dominical ou, faltando essa, na Celebração da Palavra (é importante que a comunidade não deixe de se reunir para celebrar o Dia do Senhor);
  3. 03. Priorizar o sacramento da Penitência junto a Pastoral da Escuta.

 

PILAR DA CARIDADE: A SERVIÇO DA VIDA

  1. A ação pastoral junto às famílias e jovens deve estar presente em todas as comunidades, fortalecendo e esclarecendo a defesa da vida humana, desde a fecundação até a morte natural.
  2. Encorajar o laicato a continuar o empenho apostólico, inspirado na Doutrina Social da Igreja, pela transformação da realidade (política partidária, pastorais sociais, mundo da educação, conselhos de direitos, elaboração e acompanhamento de políticas públicas, o cuidado da natureza);

 

PILAR DA AÇÃO MISSIONÁRIA: ESTADO PERMANENTE DE MISSÃO

  1. 01. Investir em comunidades que se autocompreendam como missionárias, em estado permanente de missão, indo além de uma pastoral de manutenção. Anúncio explícito da pessoa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e se abrindo a uma autêntica conversão pastoral.
  2. Valorizar as pastorais e movimentos que já atuam nos espaços missionários: os hospitais, as escolas e as universidades, o mundo da cultura e das ciências, os presídios e outros lugares de detenção;

Roguemos a Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, Mãe da providência, para que interceda por nós. E que estejamos abertos a ação do Espírito Santo em nossa ação pastoral. Coragem!

 

Pe. Marcelo Dias Soares – Coordenador Diocesano de Pastoral

Liturgia nos Ritos da Iniciação Cristã

Nesta série de artigos da Liturgia vamos comentar riquezas pouco conhecidas da liturgia: as celebrações com os catequizandos antes da Páscoa. Será muito útil conhecermos estes conteúdos, para celebrarmos bem e crescermos com estas celebrações.

Recordemos um pouco da história da Quaresma: Na catequese de adultos da Igreja antiga, os que seriam batizados na Vigília Pascal faziam 40 dias de intensa oração e jejum. E a comunidade refazia com eles o caminho para a renovação do batismo. Este é o sentido mais antigo da Quaresma: preparar a celebração da Ressurreição.

No Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA) há celebrações para integrar os catequizandos na comunidade. A primeira é a “Celebração da Eleição ou Inscrição do Nome”, prevista para o primeiro domingo da quaresma. Está no RICA, números 133 a 151. Vamos aqui resumir o essencial desta celebração:

Depois da Liturgia da Palavra, o padre questiona os catequistas e padrinhos se os catequizandos já amadureceram o suficientemente para receberem os sacramentos. O padre perguntará:

– Os catequizandos ouviram fielmente a Palavra de Deus? Estão vivendo na presença de Deus, como foi ensinado? Têm participado da vida e da oração da comunidade?

Depois da confirmação dos catequistas e padrinhos, o padre perguntará aos próprios catequizandos:

– Vocês querem ser iniciados à vida cristã, pelos sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia? Querem prosseguir fiéis à santa Igreja, continuando a frequentar a catequese, participando da vida da comunidade?

Depois da resposta afirmativa dos catequizandos, os nomes deles serão escritos num livro. Este livro é uma representação simbólica do “Livro da Vida” citado em Apc 20, 11-15. Os nomes dos catequizandos são escritos no livro, para entrarem no mistério de Cristo que a comunidade vive.

Então, são feitas preces específicas pelos catequizandos, de agora em diante chamados “eleitos”. Na celebração da comunidade, no terceiro, quarto e quinto domingos da quaresma, os eleitos voltarão para receberem novamente a oração da comunidade, em vista dos sacramentos que vão receber.

Observe a dimensão comunitária da catequese e da celebração: os catequizandos são apresentados pelos catequistas e padrinhos para a comunidade, a comunidade acolhe e ora por eles. Um elemento essencial deste rito é o diálogo entre os catequistas, padrinhos e o padre. O outro elemento é a oração: o padre pede que a comunidade reze por aqueles que serão batizados. É a comunidade de fé que acolhe seus novos membros, e o padre preside este diálogo e intercessão (RICA n. 148-149)

Os ritos são muito bonitos, mas precisamos dar um sentido prático para eles. Os catequizandos precisam da acolhida concreta da comunidade, que se torna corresponsável pela vida nova que eles vão assumir. A comunidade precisa viver com eles o caminho do Evangelho e a paixão pelo Reino de Deus, para fazer valer o que os ritos significam.

 

Pe. Jair Costapela Comissão Diocesana de Liturgia

LIBERDADE, EDUCAÇÃO E HISTÓRIA

Como as informações podem nos influenciar?

Recentemente a imprensa repercutiu a fala do Youtuber Monark que em seu podcast disse que o Partido nazista deveria existir legalmente. Essa declaração infeliz culminou com o desligamento de Monark dos canais do Youtube. Vale a pena discutir aqui como a falta de conhecimento sobre a história aliada a irresponsabilidade de quem produz esses conteúdos, podem influenciar jovens e crianças e gerar opiniões como as de Monark. A verdade é que, para o bem ou para o mal, as mídias sociais têm um grande peso no processo de educação.

Educar é atribuição da família, mas há muito tempo as famílias perderam essa capacidade e terceirizaram essa função às escolas, que por sua vez, não têm a credibilidade necessária para fazê-lo. O processo de educação implica um vínculo complexo que envolve discussões e diálogos nos quais se ensina e se aprende tudo ao mesmo tempo. Mas os pais chegam em casa cansados e entregam seus filhos aos computadores. O resultado disso é que estamos criando uma geração de pessoas alienadas que consomem passivamente os conteúdos da internet.

O ideal seria discutir com os filhos o que está acontecendo no seu bairro, na sua cidade, no seu Estado, no país e no mundo. Deveriam ler com os filhos sobre os acontecimentos do passado, sobre guerras, escravidão, extermínio de povos, etc. Por que não discutir sobre racismo, perseguição às minorias, xenofobia e homofobia? É importante saber que as crianças sabem manusear o computador e ter acesso a notícias, mas não têm o discernimento para entender o que é falso e o que é verdadeiro. Sem a participação dos pais elas se tornam consumidoras passivas dos grandes Youtubers e das fake news.

O Papa Francisco em sua carta Encíclica Fratelli Tutti, nos lembra que somos todos irmãos e como tais devemos zelar um pelo outro. Nos lembra também que não existem problemas individuais, que afetem uma só pessoa, uma só localidade. Em última análise o problema de um é problema de todos, pois habitamos a terra, casa comum. A verdadeira escola que educa para a vida é aquela em que há a participação de todos: Pais, Escola e Estado, afinal a História não acontece nos noticiários da TV, mas dentro de cada um de nós.

 

Romildo R. Almeida – Psicólogo clínico

POR UMA EDUCAÇÃO INTEGRAL

A Campanha da Fraternidade, nesta quaresma, nos convida a refletir sobre educação. Penso que o tema escolhido pela CNBB é por demais oportuno. Em primeiro lugar por sua relevância para a construção das bases de uma sociedade melhor, mas também porque os efeitos da pandemia global ocasionada pela Covid-19 foram avassaladores nesse campo.

De saída, cabe-nos a pergunta: o que é educar? Gostaria de relembrar que certa vez, um dos alunos de Michelangelo, escolhendo com seu mestre, pedras a serem esculpidas nas montanhas, perguntou-lhe como que, de forma mágica, tais pedras se transformavam em santos, anjos, papas. Respondeu-lhe apontando uma pedra: “aí dentro tem um anjo, basta tirar os excessos que estão sobrando”.

Dessa reflexão já podemos concluir que o processo de educação não se resume à importante tarefa de garantir às crianças e adolescentes boa instrução escolar e desenvolvimento físico. Muito além, ele deve formar o ser humano em sua integralidade, conduzindo-o a desenvolver-se até sua potência máxima, com a iluminação de sua razão e o fortalecimento de sua vontade.

Tenho que dizer uma pobre herança deixaremos se nossos esforços se centrarem em garantir um diploma aos nossos filhos, se, ao fim, se tornarem pessoas sem princípios claros e sólidos, força de vontade para pô-los em prática, e, acima de tudo, sem fé. Eis a sublime missão de educar, que requer paciência e amor, entregues no dia-a-dia, para eliminar os maus hábitos e descobrir as virtudes dos nossos filhos.

Não é demais lembrar que os governos civis podem e devem amparar nossas famílias para prover educação aos nossos filhos. Aliás, a Constituição Federal que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família (art. 225).

A primazia da educação dos filhos, porém, é dos pais, que não podem delegá-la integralmente à escola, a quem cabe complementar os pais em sua missão, na qual são insubstituíveis. A Igreja nos recorda, na Encíclica Divini Illius Magistri, que os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação de prover a educação religiosa, moral e civil da sua prole, e, por isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores.

         Sábias as palavras do Papa Pio XI, que ensinou que “a escola, considerada até nas suas origens históricas, é por sua natureza instituição subsidiária e complementar da família e da Igreja, e portanto, por lógica necessidade moral deve não somente não contraditar, mas harmonizar-se positivamente com os outros dois ambientes, na mais perfeita unidade moral possível, a ponto de poder constituir juntamente com a família e com a Igreja, um único santuário, sacro para a educação cristã, sob pena de falir no seu escopo, e de converter-se, em caso contrário, em obra de destruição”.

Por isso, é necessário que cada família, em sua realidade, invista tempo em educar os filhos na formação das virtudes e do bom caráter.  Além disso, é necessário acompanhar com proximidade a educação ministrada aos filhos na escola, que não tem o direito de, em desserviço à família, desconstruir os princípios e valores transmitidos no lar.

Que essa quaresma seja momento propício para que nos conscientizemos de nosso dever e tomemos as rédeas da educação integral à qual nossos filhos tem direito, ainda que isso signifique abrir mão de outros projetos. Pois não há vitória sem sacrifício. Não há ressurreição sem cruz. E não há missão mais nobre e realizadora, do que levar educar nossos filhos para construir a eternidade aqui, por meio de uma vida santa, para, ao final, levá-los ao Céu.

 

Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, pós-graduando em Teologia, mestre em Direito pela PUC-SP

O presbítero sábio

A vida presbiteral é um contínuo encontro com Deus que diz: “Pede o que quiseres e eu te darei” (1Rs 3,5). Pedir o precioso dom da Sabedoria que vem em nosso auxílio, a exemplo de Salomão, permitindo-nos acolher a vontade de Deus, discernir pelas coisas do alto e conferir a autoridade para conduzir e ensinar como verdadeiros educadores na fé.

O tríplice múnus de governar, santificar e ensinar é assumido de maneira efetiva quando o presbítero é capaz de se reconhecer chamado por Deus para o exercício de tão necessário ministério na vida da Igreja. Em Jesus Cristo encontramos a Sabedoria encarnada que nos atrai para si e nos quer configurados à sua vida de maneira tal que tenhamos a admiração por parte do povo ao nos vê ensinando com a vida que se torna evangelho para tantos.

O presbítero sábio é aquele que não age por si e não atrai para si, mas reconhece que a missão à qual foi chamado é para uma vida de doação sincera ao povo de Deus que deve ser instruído na vida cristã com o que prega a santa Igreja. Não é fácil educar na fé se não estivermos unidos a Deus, sendo dóceis aos apelos do Senhor.

O presbítero sábio é aquele que, como o Apóstolo Paulo, transmite o que recebeu, sem trair a fé, a Palavra e o ensinamento dos apóstolos. Ao mesmo tempo, é aquele que reconhece a sua pequenez diante da grandeza de Deus e da missão. Por isso, o presbítero sábio é o que busca por primeiro o Reino de Deus e ensina o povo a também buscar o essencial na vida.

Diante dos tantos desafios, das muitas exigências, das escolhas cotidianas, da necessidade da escuta, dos pedidos de respostas, da desumanidade, cabe-nos a oração: “Dai-nos um coração sábio, Senhor!”. Disse o Papa Francisco numa de suas catequeses: “devemos pedir ao Senhor que nos dê o Espírito Santo e nos dê o dom da sabedoria, daquela sabedoria de Deus que nos ensina a olhar com os olhos de Deus, a ouvir com o coração de Deus, a falar com as palavras de Deus”.

O presbítero sábio é aquele que não alimenta o ódio, o orgulho, o ciúme ministerial, a competitividade, mas tem a humildade de suplicar um coração sábio e caridoso, capaz de preocupar-se com a vida e condução do rebanho, sem esquecer-se de olhar com empatia e misericórdia também para com os irmãos no presbitério. Preocupar-se com o outro e cuidar de si é um profundo gesto de quem tem um coração sábio.

 

Pe. Thiago R. dos Santos – Pastoral Presbiteral

Continua a história de fé: Isaac e Jacó

A fé é sempre um diálogo com Deus. No caso dos patriarcas, a vida cotidiana está entrelaçada com a ação de Deus na  história humana. Exemplo disso é o casamento de Isaac (Gn 24) em relação ao qual todos os fatos são atribuídos a Deus.

Na história de Isaac temos um relato breve e semelhanças com a história de Abraão (exemplo: Gn 26, 1 – 11 e 12, 10 – 20) com Isaac a Aliança que Deus fizera com Abraão é renovada (Gn 26, 23 – 25). As tradições sobre Isaac se ligam a um antigo santuário que havia em Bersabeia, onde Abraão também teria estado.

Notamos também a rejeição a casamento com estrangeiras, conforme o costume de um estilo de vida nômade tribal. Neste sentido, Esaú é um mau exemplo: casou-se com uma heteia (Gn 26, 34 – 35).

Nas entrelinhas do texto percebemos a preferência de Deus em relação a Jacó (Gn 27): apesar de ser fruto da armação de Rebeca, a bênção que Jacó recebe de seu pai Isaac é desígnio de Deus (Gn 25, 21 – 26). É notável também a malandragem de Jacó (Gn 25, 29 – 34) para ser abençoado por seu pai (Gn 27, 1 – 29).

O desfecho deste episódio iria marcar o destino de Esaú (Edom), determinando as características de seus descendentes: um povo ora “irmão” ora inimigo de Israel, um povo guerreiro que viveria da rapinagem.

Mais uma vez a exigência de não se casar com estrangeira prevalece por ocasião da fuga de Jacó em relação a seu irmão Esaú: Jacó foge pra casa de Labão, seu tio (Gn 27, 46 – 28, 5).

No caminho para a casa de Labão, Jacó tem um sonho: a escada de anjos que confirma a renovação das promessas de Deus feitas a Abraão e Isaac (Gn 28, 10 – 22).

Chegado à casa de Labão, alguns fatos marcantes podemos ler no texto:

– o encontro com Raquel (Gn 29, 1 – 12): desde então Jacó se apaixona por ela;

– o acolhimento (Gn 29- 13 – 14), conforme o costume da época;

– o casamento com as duas filhas de Labão, Lia e Raquel (Gn 29, 15 – 30); embora fosse um costume da época que hoje nos choca, no entanto, mais tarde, a Lei de Deus iria proibir casamento com duas irmãs (Lv 18, 18);

– os filhos de Jacó (Gn 29, 31 – 30, 24; 35, 16 – 20) que mais tarde iriam compor as doze tribos de Israel ; um outro costume da época que poderia nos chocar: alguns dos filhos de Jacó são filhos com as escravas Bala e Zelfa, a fim de garantir descendência a Jacó.

Quanto ao enriquecimento de Jacó, percebemos novamente a astúcia do mesmo, que, por sua vez, havia sido enganado por seu tio Labão (Gn 30, 25 – 43), sua fuga (Gn 31, 1 – 21) e a perseguição sofrida (Gn 31, 22 – 42).

Todavia, acontecem duas reconciliações:

– com Labão, com um tratado (Gn 31, 43 – 32, 3);

– com Esaú: primeiro o encontro (Gn 32, 4 – 33, 1) e, logo após, a separação (Gn 33, 12 – 17).

São também notáveis dois fatos dramáticos na história de Jacó:

– a luta com o Anjo de Deus (Gn 32, 23 – 33): na qual Jacó (Israel) conseguiu “derrotar” o anjo, fato que marcaria para sempre a relação entre Deus e Israel, por quem Deus sempre zelaria;

– a violência por vingança dos filhos de Jacó em relação aos habitantes de Siquém (Gn 34, 1 – 31), fato que recebeu a reprovação de Jacó.

Por fim, mais uma vez, a Aliança é renovada em Betel (Gn 35, 1 – 14)

Alguns fatos da história de Jacó podem nos chocar, mas é preciso perceber que Deus, na sua infinita misericórdia, vai tentando “escrever certo nas linhas tortas da experiência humana”.

É importante notarmos a intervenção e presença de Deus na vida dos patriarcas, apesar de seus costumes nada ortodoxos para nós hoje. Porém, o texto bíblico nos fala de um Deus que sempre quis estar presente na vida do homem e com ele fazer amizade (Aliança), apesar das limitações do próprio homem.

 

Pe. Éder Aparecido MonteiroComissão de Liturgia

O coração da Diocese estava em retiro

Aconteceu entre os dias 14 e 18 de fevereiro, o Retiro Anual dos Seminaristas da Diocese de Guarulhos, dos períodos formativos Discipulado (Filosofia) e Configuração (Teologia). O retiro aconteceu no Santuário da Mãe Rainha – Schoensttat Tabor, na cidade de Atibaia.

O pregador de nosso retiro foi o Pe. Cristiano Souza, pároco da Paróquia Santa Cruz e Nossa Senhora Aparecida – Jd. Presidente Dutra. Foram dias de muita vivência espiritual e de ensinamentos bíblicos, trabalhados com o tema “Vinde reconstruamos as muralhas da cidade e ponhamos termo a esta humilhante situação” (Ne 2,17).

O retiro tinha uma espiritualidade própria de reconstrução da cidade – analogamente referindo-se a cada um de nós quando, caídos no pecado, nos perdermos, abrindo em nós feridas em formas de buracos, brechas por onde o inimigo pode ter acesso a nossa vida espiritual e afetiva. Nos dias de reflexão, foi-nos apresentado as curas por meio da oração, para que assim pudéssemos direcionar nossas vontades para Deus e nossas memórias não nos traíssem. Fomos, nesse sentido, chamados a todo tempo nos reconstruirmos com base em três pilares: a humildade, obediência e solicitude.

Para isso, é necessário nos retirarmos da agitação do dia a dia e nos abandonarmos nas mãos e na vontade do Senhor. Ainda assim, faz-se necessário subirmos a montanha para ouvirmos Deus que nos fala ao coração e, dessa forma, sermos homens da cura, homens da Palavra, homens da obediência e do pão. Somos chamados a se retirar da velha e esburacada cidade e nos tornarmos Cidade Nova, com muralhas reconstruídas para darmos o nosso “sim” com toda a inteireza a Deus – à exemplo da Virgem Maria, que foi toda de Deus. Quando Maria, mesmo sem saber como seria aconteceria, disse o seu sim – o seu “Fiat”: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Somos chamados a sermos servos como se fez serva a Mãe do Salvador: convicta da sua missão, foi ao encontro daquela que mais precisava, estava pronta para o serviço. Ao serviço e ao sacramento da Ordem precisamos dar o nosso “sim” diário por inteiro, sem reservas. Nesse sentido, somos também chamados também à vivência do celibato e da castidade por amor a Deus e na correspondermos aos irmãos.

Queremos agradecer a Deus Pai por todo cuidado que sentimos por parte da formação e, de maneira muito especial, de nosso pastor Dom Edmilson Amador Caetano que, com muito zelo e cuidado, nos forma para fazermos sempre a vontade de Deus. Ao Padre Cristiano nosso muito obrigado por sua humildade e oração, seus ensinamentos e amizade e seu auxílio em ajudar a curarmos nossas tantas feridas.

 

Ricardo Valério da Silva, 4º de Teologia

SÍNODO DOS BISPOS 2023: “PARA UMA IGREJA SINODAL: COMUNHÃO, PARTICIPAÇÃO E MISSÃO”

Acredito que todos já ouvimos a fábula do menino perdido que procurava por sua mãe. Quando lhe perguntavam como seria sua mãe, ele dizia: “É a mulher mais linda do mundo!” Todos então saíram à procura da mulher mais bela. Quando lhe apresentavam as mulheres lindas que encontravam, o menino dizia: “Não é esta! Minha mãe é a mulher mais linda do mundo!” Encontraram, então, uma senhora encurvada, marcada por rugas de sofrimentos, que procurava por seu filho. Pensaram: “ Mas, será esta?  Esta não é a mulher mais linda do mundo.” Apresentaram a tal mulher ao menino. Vendo-a ele disse: “Esta é a minha mãe! Ela é a mulher mais linda do mundo!”

A Igreja é também nossa mãe.  Dela todos nós, pelo batismo, nascemos. É a mais linda do mundo, pois tem a beleza da Palavra e a graça dos Sacramentos e continua no mundo a mais bela obra, a obra redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo. “…Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas sana e irrepreensível.” (Ef 5,25-27) Esta realidade sacramental da Igreja é indestrutível, mesmo diante das rugas e feiura dos pecados de seus membros.

Ao respondermos à consulta diocesana para o Sínodo de 2023, não podemos duvidar da santidade e missão da Igreja, nem mesmo esquecer da maternidade da Igreja e que somos filhos dela.  Seria duvidar do próprio Cristo. (Isso é dito para os católicos). Responder à consulta numa atitude de ataque e desprezo, é como atacar e desprezar a própria mãe, que mesmo enrugada e deficiente é a mais linda do mundo e do seu ventre todos nascemos.  Por outro lado, somos chamados a discernir como vivenciamos em nossas atividades e estruturas eclesiais a vocação de ser Igreja.

A consulta diocesana para o Sínodo brota da questão fundamental colocada no Documento Preparatório: Anunciando o Evangelho, uma Igreja sinodal caminha em conjunto: como é que este caminhar juntos se realiza em nossa Igreja Particular? Que passos o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso caminhar juntos?

Para responder aos dez núcleos que emanam desta questão fundamental, penso que seja importante:

a) Conhecer a história da diocese de Guarulhos no que diz respeito à sua caminhada pastoral.

b) Saber enumerar as experiências positivas e que alegria proporcionaram.

c) Saber citar as intuições que foram suscitadas na caminhada, bem como momentos em que se experimentou um consenso inspirado pelo Espírito e escuta da Palavra.

d) Saber enumerar as estruturas que já temos na diocese e que favorecem a sinodalidade.

e) Saber dizer quais os vícios que tais estruturas possuem e que estão dificultando da sinodalidade.

f) Ter consciência das dificuldades no caminhar juntos e também quais foram as feridas abertas pelos pecados contra a unidade e comunhão.

Neste momento aprendermos a nos escutar é o método para podermos atingir o objetivo que é discernir. Participação é o caminho. Assim sendo, animemo-nos em nossas comunidades a responder em grupo a esta consulta.

Desde o início de fevereiro temos também no site da diocese algumas questões dirigidas aos não católicos e grupos da sociedade, cujas respostas nos ajudarão neste objetivo de discernir.

 

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.Bispo diocesano