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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

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…pois tive fome e me destes de comer (Mt 25,35)

A realidade humana encontra-se profundamente ferida em sua capacidade de relação, que é uma de suas maiores dignidades e a torna imagem e semelhança de Deus. Os seres humanos, especialmente na era moderna, enfrentam grandes dificuldades em estabelecer relações com Deus, consigo mesmos, com os outros e com a criação da qual fazem parte. É nesse contexto que as pastorais sociais são chamadas a atuar á luz das sagradas escrituras, da tradição do magistério nos orientam neste novo tempo e desafios.

Assim sendo, tendo em vista estas considerações, a nossa reflexão visa mostrar a esse homem alienado, perdido, que no modo de ser de Jesus Cristo está a resposta do enigma da humanidade. Jesus, o Filho muito amado do Pai, ao assumir nossa natureza humana restaura a humanidade em todas as suas dimensões, mas não faz isso sem a cooperação do próprio homem. Por isso, no seu modo humano de existir nos revela e nos ensina como restaurar a nossa capacidade de relação.

Por muito tempo a Igreja se debruça sobre o homem concreto, constatando e denunciando situações desumanas como aquelas vividas pelos mais frágeis e esquecidos que, em vez de serem resolvidas, se torna cada dia ainda mais graves e questiona a Igreja, em sua voz profética, onde temos cada vez mais a impressão de que a voz do deus do lucro e do dinheiro, tem mais adoradores e conquista mais os corações e consciências de nossa gente.

Vemos uma situação de exclusão, pobreza, violência, perda de valores éticos e religiosos que nos deixa intimidar, fazendo com que o Evangelho de Jesus e o magistério da Igreja não sejam ouvidos e mesmo diante de tanta profecia e denúncia eclesial de opressões sociais, econômicas e políticas, parece não haver tanta firmeza no anúncio do Reino de Deus, como realidade de paz e justiça, acontecendo no aqui e no agora, nos perguntamos em que situação nos estaríamos sem a presença do Evangelho e da Igreja, a realidade atual seria bem mais triste e desumana.

“no seguimento de Jesus Cristo, aprendemos e praticamos as bem- aventuranças do Reino, o estilo de vida do próprio Jesus: seu amor e obediência filial ao Pai, sua compaixão entranhável frente à dor humana, sua proximidade aos pobres e aos pequenos, sua fidelidade à missão encomendada, seu amor serviçal até a doação de sua vida. Hoje, contemplamos a Jesus Cristo tal como os Evangelhos nos transmitiram para conhecer o que Ele fez e para discernir o que nós devemos fazer nas atuais circunstâncias” (Documento de Aparecida, n 139).

Diante desta realidade, os diáconos são chamados como Igreja a um ministério verdadeiramente social , sobretudo nas áreas de missão, para explicar mais frutuosamente seu ministério com a ajuda da graça sacramental do diaconato (LG 29).

A espiritualidade diaconal se caracteriza pela descoberta e partilha do amor de Cristo servo, que veio para servir e não para ser servido. O candidato deve adquirir atitudes como simplicidade de coração, doação total de si mesmo, amor humilde e de serviço aos irmãos, especialmente aos mais pobres e necessitados, e escolha por um estilo de partilha e pobreza. A articulação do corpo diaconal tem como finalidade principal fazer a vida diaconal circular entre todos os membros, vivenciando dores e alegrias, angústias e esperanças, fracassos e vitórias, oração, espiritualidade, partilha, encontros e reuniões, amor e entrega pelos irmãos na rua ou em qualquer outra situação de miséria humana, sem medir esforços.

A Igreja tem a responsabilidade de cuidar dos mais vulneráveis e o diácono deve estar atento às necessidades dessas pessoas e apoiar as pastorais sociais que trabalham para oferecer cuidados de saúde, moradia, alimentação e vestuário, além de palavras de conforto e orientação espiritual e que atuem oficialmente em nome da Igreja, levando a presença sacramental aos diferentes lugares onde os excluídos se encontram. O diácono pode ser um guia seguro para esses irmãos, conduzindo-os ao Reino do Senhor, onde poderão encontrar segurança, alívio para suas necessidades mais profundas e cuidados para suas feridas.

“Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal

A miséria humana e suas consequências deveria sensibilizar todos crentes, assim como sensibilizou o samaritano frente ao sofrimento de outro que nem conhecia e não somente parou, mas o levantou, levou e pagou para ser cuidado e curado. Diante da cruz de Cristo, nenhum cristão que comunga, pode se omitir e achar que não é com ele e que cabe ao outro cuidar. O alimento recebido semanalmente na eucaristia e na palavra de Deus durante a Santa Missa deve nos direcionar à compaixão, a reflexão que a melhora deste mundo e das pessoas, passa por sua ação concreta diante de todos os desafios sociais.

Você já parou para analisar o olhar e a forma como os mais necessitados olham pra você, muitas vezes com medo e com receio, com a incerteza se será percebido ou se conseguirá ao menos um pouco do que está pedindo. Já parou para pensar que levou-o a uma pensão, onde cuidou dele”, Lc 10,32 há dias na vida sofrida que ele leva e tem que driblar a fome e a dor com bebidas alcoólicas e drogas, muitas vezes como a única alternativa que restou porque todos lhe deram as costas.

Que se ele saiu de uma casa que tinha conforto e preferiu a vergonha e as dificuldades da rua ou de outros cantos, é porque ele precisava mais do que nunca de alguém que pudesse escutá-lo e entender seus problemas e angústias. A Igreja conta com a sabedoria herdada da Tradição e da revelação dada nas Sagradas Escrituras, com autoridade de interpretar e colocar em prática todo ensinamento contido e querido por Deus.

“Pois tive fome e me destes de comer.Tive se e me destes de beber.Era forasteiro e me acolheste.Estive nú e mes vestistes, preso e vieste ver-me” Mt 25 35,36

O evangelista Mateus narra o último julgamento, onde o próprio Cristo nos mostra as condições para entrar no reino dos céus em uma linguagem clara e objetiva. Fica fácil entender que a missão de todo cristão sempre deve ser em favor dos pobres, dos órfãos e da viúva.

Já se passaram muitos séculos e na contemporaneidade ainda não foram contemplados os verdadeiros destinatários do reino que ainda sofrem, perambulam e insistem em viver. Somos chamados a missão de fazer acontecer o reino de Deus aqui e agora nestes dias difíceis, onde parecem despontar os sinais dos tempos, somos chamados a dar uma resposta de amor a Deus.

“Iluminados pelo Cristo, o sofrimento, a injustiça e a cruz nos desafiam a viver como Igreja samaritana (cf. Lc 10,25-37), recordando que “a evangelização vai unida sempre à promoção humana e à autêntica libertação cristã”20. Damos graças a Deus e nos alegramos pela fé, solidariedade e alegria características de nossos povos, transmitidas ao longo do tempo pelas avós e avôs, as mães e pais, os catequistas, os rezadores e tantas pessoas anônimas, cuja caridade mantém viva a esperança em meio às injustiças e adversidades” (Documento de Aparecida, 27)

Esta reflexão me fez descobrir o que já carregava dentro de mim e me incomoda ao ver o sofrimento nas ruas de minha comunidade, após cada Missa e comunhão recebida no conforto de minha Paróquia e ao lado de irmãos que poderiam retribuir aos bens recebidos sem enxergar aqueles que já não podiam, porque o tempo e as circunstâncias os afastaram do nosso meio e já ficara mais difícil de se reaproximar.

Fundada e querida por Cristo, a Igreja fez uma opção pelos pobres e fracos e a Igreja da América Latina procura viver com intensidade esta preferência tendo como ferramenta principal as pastorais sociais em seus diversos campos de atuação em busca do bem-estar social e comunitário.

Os anos vividos em comunidade, as experiencias positivas e as com menos êxito formaram ingredientes a continuar buscando, seja pela convivência em comunidade, seja pela atividade acadêmica que apesar das limitações, do tempo e da compreensão nos trouxe até aqui, com uma nova missão diante da miséria humana e agora em um novo tempo pós pandemia, que exige a necessidade de readaptação e diante das novas exigências impostas pela sociedade, estado e do novo homem que surge nesta nova etapa. Será que a pandemia transformou o homem, ou somente uma parte foi tocada e fará a grande diferença na sua vida e em consequência na do outro.

Há um paradigma e uma equação difícil de responder, enquanto o homem insistir em ser apenas homem e não compreender que se trata de um ser a imagem e semelhança de Deus, que busca a vida integral, digna do ser reconhecido como filho de Deus.

A Igreja peregrina conta com o homem sujeito da sua própria história, a buscar alternativas a sociedade do consumo que busca dia a dia a riqueza, ganância e o poder que distribui mau os bens que deveriam ser comuns e destroem a possibilidade de se haver harmonia e boas relações de fraternidade.

Ao longo dos séculos o homem de boa vontade, passando pelos profetas, apóstolos, pela tradição e por tantos outros que inclusive entregaram a própria vida pela causa da justiça vem ao seu modo e inspiração constituir um novo povo de Deus neste tempo. Neste tempo acadêmico e de discernimento eclesial com várias experiencias e desafios fizeram crescer a vontade de continuar em missão, crendo que é possível diminuir a miséria humana e propor um novo pacto com a sociedade que só terá a ganhar com homens e mulheres novos, reinseridos no convívio social com dignidade. Para tanto, há a necessidade juntar as forços com todos os grupos, independente do credo possam agregar e trazer resultados comuns, cujo benefício seja de todos.

Antonio Calixto Silva
Candidato ao Diaconato Permanente

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Mês da Bíblia 2024: Ezequiel O Profeta da Esperança

O livro de Ezequiel nos coloca diante de uma das etapas mais atribuladas e trágicas da História do Povo de Deus. O reino de Judá, fraco e indefeso diante dos grandes impérios, se vê mergulhado numa disputa de ordem internacional sem ter condição nenhuma de interferir em seu próprio destino. De um lado, o império babilônico. Do outro, o reino do Egito. No meio, tentando se equilibrar entre poderosos, estavam os sucessivos reis de Judá. A consequência desastrosa deste jogo de poderes internacionais foi o exílio e a destruição do país e da capital Jerusalém. O profeta Jeremias é a grande testemunha histórica de todo este desastre político. O livro das Lamentações é o grito doloroso do povo sofrido, vítima dos erros políticos dos governantes. A mensagem do profeta Ezequiel vem completar este quadro histórico de dor e de morte, mas também trazendo uma centelha de reconstrução e de esperança.

A vivência de Ezequiel junto à comunidade dos exilados mergulhou-o na mesma sorte do povo de Deus naquele momento histórico. Ele também passou pela noite escura do desterro, do medo, da ausência e da saudade. Mas ele continua fiel e teima em continuar a crer na fidelidade do Deus que esteve sempre presente na vida do povo.

Toda a mensagem profética de Ezequiel foi vivida e proclamada no exílio na Babilônia. Ezequiel tenta mostrar aos exilados que, apesar de toda destruição, morte e desterro, ainda há uma esperança, muita esperança. Ainda ardem as brasas da fé por baixo de todas as cinzas da destruição, do sofrimento e do exílio.

Uma das etapas históricas do povo de Israel é a etapa do Exílio. A ideia mais comum a respeito deste período, que vai de 597 até 538, é a seguinte: houve a invasão da Babilônia contra Judá; Nabucodonosor, o rei da Babilônia, fez duas deportações (597 e 586) e levou muita gente para o Exílio. Com a derrota dos babilônios para os persas (539), Ciro, o rei da Pérsia, permitiu o retorno do povo para sua terra. A partir de 538, em sucessivas levas, os judeus regressaram da Babilônia para a Judéia.

Na realidade, o que houve não foram só estas duas deportações. A Bíblia registra muitos exílios do povo de Israel e de Judá. Já em 734, o rei da Assíria promoveu uma deportação de israelitas para as terras do império assírio (cf. 2Rs 15,29). Com a queda da Samaria (722) muitas outras pessoas do reino de Israel foram levadas para a Mesopotâmia e lá espalhadas entre as várias províncias do império assírio (cf. 2Rs 17,6.23). O mesmo aconteceu com Judá a partir das invasões assírias entre 701 e 669 (2Cr 33,11-13). As sucessivas deportações por ocasião das invasões babilônicas geraram uma comunidade de uns dez mil judeus exilados na Babilônia (cf. 2Rs 24,14). A maior parte destas pessoas não voltou para Jerusalém. Havia uma grande comunicação entre a comunidade dos judeus que permaneceram em Judá e a comunidade dos exilados na Babilônia (cf. Jr 29,5-7).

Foi um processo, cada vez mais amplo, de exílio, saída, dispersão, deportação e emigração do povo para os países ao redor da Palestina. E ao mesmo tempo, houve um processo igualmente crescente de retorno, de reorganização, de reconstrução, de busca de uma nova identidade.

Foi nesta noite escura do povo que brilhou a aurora de um novo olhar. Um olhar nascido da experiência do amor fiel de Deus que permitiu à comunidade fazer a releitura do passado. E assim, desta situação de morte, nasceram as imagens mais bonitas de esperança. Jeremias fala do novo coração (Jr 30 a 33), Isaías fala do consolo e do amor que animam o servo de YHWH para ser o revelador da presença de Deus no mundo (Is 40 a 66), como transparece nos quatro cânticos do povo Servo: no primeiro cântico Deus escolhe o seu Servo (Is 42,1-9); no segundo cântico o Servo de Deus descobre a sua missão (Is 49,1-6); no terceiro cântico o Servo assume e executa a sua missão (Is 50,4-9); no quarto cântico temos a paixão e vitória final do Servo de Deus (Is 52,13 a 53,12).

É neste contexto de avaliação e de reconstrução que surge o profeta Ezequiel. Ele fala do novo pastor (Ez 34,11-31), do novo Templo (Ez 40 a 47), da água purificadora que restaura a Criação (Ez 47,1-12). Na visão dos ossos secos, ele descobriu sinais de vida lá onde os outros só enxergavam morte e desespero (Ez 37,1-14).

Ezequiel é um profeta que tem um jeito todo próprio. Ele era da tribo de Levi, e toda a sua espiritualidade transpira o ambiente sacerdotal. Ele anuncia e lamenta a destruição do templo e da cidade como consequência dos desvios, sobretudo cultuais, da elite. Ele tem visões estranhas, difíceis de serem decifradas e interpretadas. Tem desmaios, deve realizar ações simbólicas estranhas, mas que chamam a atenção do povo. Toda a sua vida, tanto pessoal como familiar, se torna uma profecia viva. Ele já não se pertence.

Grande parte das profecias de Ezequiel são denúncias violentas que acusam o povo e anunciam o castigo. Talvez seja a sua experiência da santidade de Deus, profanada tão despudoradamente pelos sacerdotes, pelos reis e pelos falsos profetas, que o levou a essa reação tão agressiva que, até hoje, faz a gente sentir-se incomodada quando lê as profecias de condenação deste profeta. A enormidade dos castigos que ele anuncia revela o tamanho da sua dor ao ver o povo desviado pelos seus maus governantes, nobres, sacerdotes e profetas. E o profeta conclui suas trágicas mensagens com um refrão misterioso da parte de Deus: “Então sabereis que eu sou YHWH!” (cf. Ez 6,7.10.13.14; 7,4.9.26; etc…)

Mas no meio destas visões terríveis aparecem também as visões mais bonitas da Bíblia, como flores brilhantes no meio do mato fechado. Uma destas flores é a visão dos ossos secos que retomam vida sob a ação do espírito de Deus (Ez 37,1-14).

Sendo sacerdote, é evidente que Ezequiel sabia ler e escrever. Desta forma, grande parte dos oráculos podem ter saído de seu próprio punho. Ele mesmo pode ter escrito sobre suas experiências extáticas ou suas ações simbólicas. Mas não podemos pensar que todo o livro foi obra dele. Numerosos acréscimos posteriores são contribuições de seus discípulos.

De qualquer forma, apesar de reunir materiais tão diferentes como visões, sermões complicados, oráculos de difícil intepretação, encenações dramáticas, o livro de Ezequiel é um dos mais bem organizados dentre os livros proféticos.

  • 1-3: A vocação profética. O profeta recebe sua missão
  • 4-24: Profecias de ameaça e de condenação contra Judá, antes do segundo cerco de Jerusalém
    Nesta unidade vale destacar o seguinte: as ações simbólicas (4 e 5); a visão da profanação do templo (8 a 11); a parreira inútil (15); a responsabilidade pessoal (18); as duas irmãs (23); a morte da esposa (24,15-27).
  • 25-32: Oráculos contra as nações cúmplices do império.
    O centro destas denúncias são as duras palavras dirigidas contra a cidade de Tiro, na Fenícia (26 a 28) e contra o Egito e seu faraó (29 a 32).
  • 33-39: Oráculos de salvação durante e depois do cerco final de Jerusalém.
    O profeta busca animar o povo exilado apontando para um renascimento futuro. Aqui estão as passagens sobre os pastores de Israel (34); o oráculo sobre os montes de Israel (36); a visão dos ossos secos (37,1-14); as duas achas de lenha (37,15-28); os oráculos contra o reino de Gog (38-39).
  • 40-48: Estatuto político e religioso da futura comunidade na nova Cidade Santa.
    Esta parte apresenta um plano de reconstrução da nova Jerusalém, tendo como centro um templo restaurado para onde voltará a glória de Deus. Sendo um documento que fundamenta o renascimento da religião judaica, algumas Bíblias chamam esta parte de “A Torá de Ezequiel”.

 

Fonte: portaldascebs.org.br.org.br

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Maria, mulher da escuta, cristã sinodal!

Neste breve artigo, iremos refletir e meditar sobre alguns aspectos da colaboração de Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, na história da Salvação, na vida e na missão da Igreja.

O Papa Francisco, convida a Igreja para uma atitude de escuta. O Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade tem sido preparado a partir da escuta de diversos grupos. O pontífice propôs escutar as pessoas que estão inseridas na comunidade e as que estão afastadas, as pessoas sofredoras, sem teto, sem-terra e sem trabalho, desesperançadas.

O compromisso de cada pessoa batizada, é escutar a Palavra de Deus, deixar ser tocado por ela; ser testemunha de Cristo, na Igreja e na sociedade; e corresponder firmemente às exigências evangélicas de amar a Deus e ao próximo como a si mesmo; acolher e cuidar das pessoas caídas à beira do caminho (cf. Lc 10,25-37), promover e cuidar da vida de todo o planeta, criação de Deus.

A Igreja nascente, atenta, ao testemunho da Mãe de Jesus, transmitiu de geração em geração o apreço ao discipulado de Maria, a Bem-Aventurada!

Maria sempre foi uma cristã sinodal, ela participa da verdadeira festa de comunhão e se coloca a serviço da Igreja nascente, no sentido de que caminha junto com seu Povo, desde Pentecostes até a consumação da história da nossa salvação.

As mulheres presentes na comunidade participam do dinamismo suscitado pelo Espírito Santo de Deus. Maria, mãe de Jesus e as outras mulheres, presentes na comunidade de fé, são também elas, anunciadoras da boa notícia de Jesus a partir da própria comunidade de fé, junto com os outros discípulos

Importante mencionar que, Maria é aquela que, juntamente com o Espírito Santo, sempre está no meio do povo (EG, 284). “Ela reunia os discípulos para O invocarem (At 1, 14), e assim tornou possível a explosão missionária que se deu no Pentecostes. Ela é a Mãe da Igreja evangelizadora e, sem Ela, não podemos compreender (…) o espírito da nova evangelização”. Por isso, suplicamos:

Maria, te pedimos que nos ajude no compromisso com a nossa fé cristã, a partir da vivência na pequena comunidade.

 

Maria é modelo de escuta. Ela recebe a visita do anjo, e fica atenta, na escuta ao que Deus espera dela, e da sua colaboração ao Seu Projeto. Ela faz uma escuta ativa. Escuta, e deixa o Espírito falar no seu coração, para que agraciada pelo Espírito de Deus, manifeste seu Sim como adesão ao Projeto de Deus na sua vida e na vida do seu povo.

Nossas comunidades eclesiais, todo o povo de Deus, são chamadas a uma conversão pastoral e missionária. Que possamos oferecer a nossa vida e a nossa participação na caminhada de fé, em comunhão com toda a Igreja. Supliquemos confiantes:

Maria ensina-nos a fazer o que o disse o Mestre Jesus (cf. Jo 2,5).

 

No Magnificat, Maria exalta seu Deus “porque olhou para a humilhação da sua serva”, “socorreu seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia(…)” (cf. Lc 1, 48. 54). A misericórdia de Deus “se estende sobre aqueles que o temem” (cf. Lc 1,50). Louvava a Deus porque “derrubou os poderosos de seus tronos” e “aos ricos despediu de mãos vazias” (Lc 1, 52.53), é mesma que conservava cuidadosamente “todas estas coisas ponderando-as no seu coração” (Lc 2, 19). Ela é a serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor (cf. EG, 286). Na sua fé e escuta ativa, Maria sai às pressas ao encontro de Isabel, que era de idade avançada e estava grávida (cf. Lc, 1, 39 ss). Supliquemos com confiança:

Maria ensina-nos a escutar a Palavra de Deus, e ter a disponibilidade para responder, ativamente, ao que Deus nos chama.

 

Para o papa Francisco “ Maria é como “a amiga sempre solícita para que não falte o vinho na nossa vida.”  Como “aquela que tem o coração trespassado pela espada, que compreende todas as penas. Como Mãe de todos, é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça. Ela é a missionária que se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno. Como uma verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus” (EG, 286).

Como Igreja peregrina neste mundo, cada cristã e cristão é chamado a viver o Batismo, na Igreja e na sociedade, como “sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5,13). Sujeitos eclesiais. Disponíveis para acolher a Palavra de Deus e na liberdade de filhos e filhas de Deus, participar da festa da comunhão, na pequena comunidade, e como Igreja em saída, semear a paz, a justiça, a fraternidade, a amizade social.

Peçamos com confiança: Maria, Mãe de Deus e da Igreja, acompanhe a peregrinação sinodal do povo de Deus, indicando a meta da profecia, e o estilo mariano da força revolucionária e do afeto.

Que o Espírito Santo de Deus desperte cada pessoa batizada para assumir a vocação cristã, com alegria, no dinamismo da Trindade Santa. Que sejamos construtores de Paz! Que nossa comunicação esteja a serviço da vida! Que o Senhor Deus, misericordioso, ilumine nossas ações no campo da evangelização e de ações sociotransformadoras, para que em Jesus, todos os povos tenham vida.

Que o Magnificat (cf. Lc 1,46-55), louvor que exprime a espiritualidade de Maria, nos inspire a fazer da nossa vida, toda ela um Magnificat, como ato de agradecimento pela misericórdia de Deus, ao reconhecer como Maria, a misericórdia de Deus para com Seus filhos e filhas.

Maria, cheia da presença de Cristo, que saibamos pedir a “santa ousadia de buscar novos caminhos para que chegue a ‘todos, todos, todos’ a beleza que não se apaga, fazendo-nos alcançar um novo ardor de ressuscitados para levar a todos o Evangelho da vida que vence a morte” (cf. EG, 288), em uma Igreja sinodal, em permanente estado de missão, acolhedora, samaritana e serviçal.

 

Celia Soares de Sousa

Cristã leiga, teóloga

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O sonho é viver num jardim, mas há violência entre irmãos

São inúmeros os textos bíblicos que justificam e esclarecem o tema da Campanha da Fraternidade desde ano: Fraternidade e Amizade Social. O lema: Somos todos irmãos foi escolhido das páginas do evangelho de Mateus, 23,8. No contexto, Jesus procura explicar aos discípulos que seu projeto é servir. Esclarece que entre os discípulos, só Deus deve ser chamado de mestre, eis o motivo que nos tratarmos e vivermos como irmãos e irmãs.

O caso de Caim e Abel é um episódio esclarecedor, quando se está em debate o projeto de vivermos como irmãs e irmãos, como deseja o próprio Deus, para toda a humanidade. Depois de ser expulso do paraíso criado por Deus, o homem se encontra diante do fenômeno da morte. Nos meandros desse fratricídio bíblico esconde-se um jogo de interesses entre grupos rivais. Pastores e agricultores se digladiam na saga pelo poder.

A narrativa bíblica não esconde que, uma vez fora dos desígnios de Deus, o ser humano é capaz de derramar o sangue do próprio irmão sobre a terra por ele cultivada (v.8) e, após o assassinato, desprezar a pergunta do Criador: “onde está teu irmão?” (v. 9).

O projeto de Deus do ser humano viver no Jardim e na mais bela sintonia com a natureza, com os animais e com os seres humanos, é desprezado. Da prática do bem, para o conhecimento do bem e do mal; da vivência do amor, para o reinado da “ira” (v. 5). A violência chega ao ponto do ser humano não se sentir responsável nem mesmo pela vida do próprio irmão. “Por acaso sou eu o guardo do meu irmão” (v. 10).

            Há três genealogias presentes no texto. Essa forma literária foi composta em torno dos personagens: Caim e Abel (Gn 4,1-16), a descendência de Caim (Gn 4,17-24) e a terceira genealogia, indicando a substituição do irmão Abel assassinado garantida a Set (Gn 4,25-26). Na apresentação das genealogias, visualizamos no texto a seguinte forma:

  • Gn 4,1-2: vemos a primeira genealogia apresentando os irmão Caim e Abel. O primeiro trabalha como “cultivador do solo” e o segundo, “pastor de ovelhas”.
  • Gn 4,17: nesta genealogia, Caim é visto na base das cinco gerações e inserido na origem das cidades, onde atuam as mais diferentes profissões: construtores de cidades, artesãos de tendas, pastores, tocadores de lira, charamela e laminadores em cobre e ferro (vv. 17,20-22).
  • Gn 4,25: trata-se da genealogia apresentada em substituição a Abel. Desta geração, após o nascimento de Set, aparecerá a origem da invocação do nome do Senhor. “O primeiro a invocar o nome do Senhor” (v. 26).

Caim surge como personagem principal. Seu nome, citado 13 vezes  na narrativa, liga-se ao clã dos Quenitas. Um clã que, embora não tenha  ligação direta com as doze tribos de Israel, será, por sua vez, portador e  defensor do nome do Senhor (Js 15,57). Por outro lado, Abel, liga-se ao “sopro, fumaça”, algo sem muito valor.

No confronto entre os “irmãos”, acompanhamos o conflito entre os agricultores da terra e os pastores. A busca da superação deste conflito irá determinar a quem pertencerá o campo, as terras que oferecem a base de alimentação e o poder

O texto não esconde essa consciência de Caim frente a sentença recebida da parte do Senhor e ressalta a fragilidade de sua conduta e de uma cultura baseada na violência. Sem asilo nem proteção, sua vida está em perigo (v. 14). Mas Deus é fiel ao seu projeto. Não criou o homem para que este reproduza o sistema de violência. Semelhante a Gn 3,21, ele vem em auxílio à sua criatura, abrandando sua pena e colocando em Caim “um sinal’ (v. 15). Tal sinal, conhecido como tatuagem, identificará Caim como participante de um clã, em que a morte de sangue é vingada sete vezes.

 

Pe. Antonio C. Frizzo

acfrizzo@uol.com.br

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Amizade social é tema da Campanha da Fraternidade

Inspirada nas teses do papa Francisco, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou na quarta-feira de cinzas – início da quaresma para os cristãos católicas -, a edição de número 60 da Campanha da Fraternidade. A ideia central da Campanha é divulgar a proposta de Amizade Social, firmada pelo papa Francisco, na encíclica Fratelli Tutti, lançada em outubro de 2020.

Amizade Social tem como sinônimo o gesto de cuidar. A preocupação de cuidar está presente em todas as dimensões de nossas vidas. Das mais insignificantes e rotineiras atitudes às significativas opções que direcionam nossas vidas, as vidas no mundo. Nas relações pessoais – família, trabalho, lazer, amores – o gesto de cuidar, querer bem, estar bem é algo intrínseco no ato humano. Temos uma atenção particular de cuidar dos nossos grupos de amigos. Estamos, constantemente, rodeados de pessoas. Cada qual de nós se encontra naturalmente ligado a um grupo social. Somos indivíduos, mas ao mesmo tempo um ser social e, como tal, temos que cuidar da nossa individualidade e do grupo que nos acolhe. Afinal, somos humanos e, como tal, um ser social envolvido numa complicada teia de relacionamentos que identificamos como sociedade. Sabemos, por experiências, que ninguém vive só. Somos pessoas e aprender a ser pessoa, ser grupo e ser povo torna-se um desafio.

Tal aceno à prática do cuidar não impede inúmeros gestos e projetos marcados pelo descuidar. Fala-se muito da “divisão de narrativas” que nos envolve. Não é difícil encontrar alguém que não tenha se retirado do grupo do whatsapp ou das redes digitais, após amargar gestos, ideias e palavras repletas de intolerâncias, racismos, xenofobias e agressões verbais. Há uma crise que perpassa nossas relações humanas. Então, o cuidar tornou-se um desafio.

No atual sistema econômico tudo vira mercadoria. Nessa linha de pensar não exista o humano, pois o ser humano é visto como algo que também  tem um preço. Tudo que vemos e tocamos vira mercadoria com preço e data de validade. As vidas de inocentes importam? Não há pessoas, não há “fidelidade nos relacionamentos e projetos humanos que não sedam ao convite insano do dinheiro”. “A vida é grana” como cantou Cazuza.

Uma fraternidade marcada pela Amizade Social procurará conviver com os diferentes. Buscará dialogar com comportamentos, ideias diferentes daquelas que marcam meu convívio social. Não somos inimigos. Falas ou comportamentos marcados por bullying, feminicídio, machismo, pedofilia, racismo, pena de morte, intolerância religiosa, desrespeito com a democracia, hiper individualismo, aversão aos pobres e destruição do meio ambiente em nada colaboração para uma boa e salutar convivência social (CF 34-52).

Cuidar tem, para o universo cristão, um senso de projeto de vida. Cuidar do próprio corpo, cuidar do corpo dos outros, cuidar dos pobres e dispensar um bom tempo para cuidar do planeta Terra são gestos, projetos de preservar a vida. Garantir às futuras gerações os dons doados pelo Criador (Gn 1-11). Cuidar, tal como Noé, o cultivador, logo após o dilúvio (Gn 9,20) que se mostrou atento aos mais frágeis. Cuidar como o bom pastor identificado por seu ato de zelar pelas ovelhas extraviadas, machucadas, feridas e abatidas (Ez 34,1-16; Jo 10,1-18). Eis o alerta proposto pelo Papa Francisco: cuidar das feridas da nossa gente. Cuidar daquele, daquela que tem a vida ameaçada.

Antonio C. Frizzo

Acfrizzo@uol.com.br

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A esperança na vida eterna e o amor que nos mantêm unidos.

No Antigo Testamento, livro de 2 Mac 12, 38-45, já existe a ideia de que podemos e devemos interceder por aqueles que já partiram para a eternidade. Esse entendimento foi abraçado pelo cristianismo católico, e encontra em cada um de nós um refrigério para continuarmos a interceder por aqueles que não estão mais em nosso convívio aqui na terra. Acreditamos que haja uma conexão direta entre a Igreja Triunfante (os que estão na glória), com a Igreja Militante (nós que estamos militando neste mundo) e, com a Igreja Padecente (aqueles que estão se purificando para entrar na vida eterna).

A dor experimentada por todos que já perderam pessoas queridas, é marcada profundamente e deixa uma sensação de impotência diante da morte, que estabelece uma separação física. Muitos experimentam um vazio tão grande com suas perdas, que chegam a ter sua saúde mental afetada, e que necessitam de ajuda de especialistas para enfrentar os problemas causados pelo luto.

Embora as questões sobre a vida após a morte seja um mistério, podemos sim nos empenhar a conhecer quais os textos bíblicos nos dão ensinamentos sobre o tema e, buscar a luz de esclarecedores estudiosos sobre o tema, um correto entendimento. Nós, católicos, necessitamos conhecer aquilo que o magistério da Igreja trás de estudos e documentos, para assim formarmos um entendimento com uma base sólida. Dentro desta perspectiva, a Carta Encíclica Spe Salvi – “é na esperança que fomos salvos”, de Bento XVI, trata sobre a fé e a esperança, pontuando vários aspectos relacionados com a vida eterna.

A Encíclica Spe Salvi, aborda a esperança cristã em vários tópicos ou temas que podemos sintetizar como: Articulação entre fé e esperança; Dilatar a esperança; A vida eterna como objeto da esperança; A natureza da esperança cristã; Lugares de experiência da esperança; Nova perspectiva para a compreensão das realidades escatológica. Nesta reflexão fixarei o olhar sobre o (n.48) da Encíclica que menciona sobre a prática de que se possa ajudar, através da oração, os defuntos no seu estado intermédio adotada no antigo judaísmo, e que foi adaptada pelos cristãos com grande naturalidade, é comum à Igreja oriental e ocidental. Existe a compreensão de que para as almas dos defuntos, pode ser dado alívio e refrigério, mediante a Eucaristia, a oração e a esmola. Porém, o texto que salta o olhar é apresentado por Bento XVI, como:

 

            “O fato de que o amor possa chegar até ao além, que seja possível um mútuo dar e receber, permanecendo ligados uns aos outros por vínculos de afeto para além das fronteiras da morte, constituiu uma convicção fundamental do cristianismo através de todos os séculos e ainda hoje permanece uma experiência reconfortante. Quem não sentiria a necessidade de fazer chegar aos seus entes queridos, que já partiram para o além, um sinal de bondade, de gratidão ou mesmo de pedido de perdão? Aqui levantar-se-ia uma nova questão: se o « purgatório » consiste simplesmente em ser purificados pelo fogo no encontro com o Senhor, Juiz e Salvador, como pode então intervir uma terceira pessoa ainda que particularmente ligada à outra? Ao fazermos esta pergunta, deveremos dar-nos conta de que nenhum homem é uma mônada fechada em si mesma. As nossas vidas estão em profunda comunhão entre si; através de numerosas interações, estão concatenadas uma com a outra. Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem. Deste modo, a minha intercessão pelo outro não é de forma alguma uma coisa que lhe é estranha, uma coisa exterior, nem mesmo após a morte. Na trama do ser, o meu agradecimento a ele, a minha oração por ele pode significar uma pequena etapa da sua purificação. E, para isso, não é preciso converter o tempo terreno no tempo de Deus: na comunhão das almas fica superado o simples tempo terreno. Nunca é tarde demais para tocar o coração do outro, nem é jamais inútil”.

 

Talvez nossa prática de oração já fosse normal em relação aos falecidos, mas ao ter contato com esses ensinamentos do magistério da Igreja, minha esperança foi renovada e fui inflamado de uma alegria transbordante, pois vejo o quanto podemos beneficiar com nossas intercessões, aqueles que se foram e, quanto o amor que nos une pode estar em comunhão entre si. Nossas orações constituem uma expressão de amor por todos que tanto amamos em vida e, que nem a morte pode impedir que continuemos amando. Como nos afirmou o Papa Francisco em outro contexto da “Laudato si”, “Tudo está interligado”. Podemos fazer um paralelo com os textos da Encíclica Spe Salvi, dizendo que nossas vidas estão sim interligadas com as novas dimensões daqueles que já partiram.

É na esperança que fomos salvos (Rm 8,24).

Celso Rogério San-Tana TeixeiraAluno do 5º Ano de Teologia pela PUC-SP e aspirante ao Diaconato Permanente pela Diocese de Guarulhos

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Como entender a palavra de Deus com uma base sólida da fé católica, relacionando as fontes da teologia para uma boa argumentação?

Para falarmos das três fontes (Sagrada Escritura, Tradição e Magistério) é necessário esclarecer que abordaremos o tema numa visão da Teologia Católica, pois embora a Teologia Protestante, em algumas denominações tenham além da Sagrada Escritura, também como fonte a Tradição, eles não possuem como fonte o Magistério.

Tendo como fonte primária a Sagrada Escritura, que é a Palavra de Deus enquanto redigida sob inspiração do Espírito Santo, ela é base para toda reflexão em primeiro lugar, pois tanto o Antigo Testamento, como o Novo Testamento formam o conjunto de escritos que instruem o Povo de Deus. O próprio Jesus Cristo, em que toda revelação do Deus altíssimo atinge a sua plenitude, ordenou aos apóstolos que o Evangelho, fosse pregado como fonte de toda verdade salvadora e da disciplina dos costumes, comunicando os seus dons divinos, conforme a Constituição Dogmática Dei Verbum nº 418.

A Tradição que vem dos apóstolos e transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus, e o que receberam por meio do Espírito Santo. A transmissão da Boa Nova no início do cristianismo, por não possuírem ainda o Novo Testamento escrito, tiveram que usar a transmissão oral, que atesta a Tradição viva. A Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas, cabendo ao Magistério da Igreja, sua manutenção, modificação ou abandono, conforme o Catecismo da Igreja Católica menciona no nº 83. A Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição devem ser aceitas e respeitadas com igual reverência.

O Magistério da Igreja, formado pelos bispos (sucessores dos apóstolos), em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma, tem o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou transmitida, mas compreendendo que o Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço. Recebendo dos próprios apóstolos o múnus magisterial, os bispos ensinam apenas aquilo que lhes foi transmitido, ao mesmo tempo que por mandato divino e com o auxílio do Espírito Santo, devotamente a escuta, santamente a guarda e fielmente a expõe, absorvendo tudo aquilo que propõe que se deva crer como divinamente revelado deste único depósito da fé, conforme relata a Constituição Dogmática Dei Verbum nº 426.

As três fontes, portanto, encontram-se fortemente unidas e associadas, formando uma base sólida para toda reflexão Teológica que busca uma argumentação fundamentada e, não a reduzindo a uma interpretação pessoal ou apartada daquilo que a transmissão da Tradição efetivamente nos deixou.

 

Celso Rogério Santana Teixeira – Aluno do 5º Ano de Teologia pela PUC-SP

Aspirante ao Diaconato Permanente pela Diocese de Guarulhos

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O Profetismo em Israel (Reino do Norte)

Temos como primeiros representantes do Profetismo em Israel Elias e Eliseu, sempre em oposição ao rei Acab e à rainha Jesabel, por causa da defesa da Lei (Aliança) e da vida do povo que os soberanos menosprezavam; eles promovem uma verdadeira denúncia dos abusos do poder do rei  e a idolatria promovida por Jesabel. Consequência disso foram as perseguições que Elias sofreu (ver 1Rs 18,3; 19, 10; Jr 18, 18; 26,11)

 

Os PROFETAS, fiéis à Aliança não podiam ser coniventes em relação aos atos do rei. Este era um discernimento difícil, devido aos riscos que os profetas corriam.

 

O CICLO DE ELIAS (veja os Textos: 1Rs 17 – 19; 21; 2Rs 1, 1 – 2, 18).

ELIAS foi o maior representante do profetismo e figura-síntese do profetismo do Antigo Testamento (veja Lc 9, 30 = Mt 17, 4 = Mc 9,4).

Natural de Tesb (Galaad), distanciado do poder político (rei) num nível bem profundo.

Seu lugar é o deserto, refúgio diante das perseguições. Defensor dos pobres e crítico da ganância e do abuso do poder dos ricos e reis, estabelece uma convivência com os pobres: a viúva de Sarepta, em Sidônia (1Rs 17, 7 – 24). Sofreu a feroz perseguição ao ponto de se considerar “o único que sobrou” (1Rs 18 e 19).

Era um “homem de Deus” que trazia a experiência do Deus Libertador, a fé que brota da partilha e a esperança (nuvem) diante da seca. Expressou certa indignação contra a ambição sem medida do rei Acab (1Rs 21).

Traz uma singular experiência de Deus: a “brisa suave” (1Rs 19, 9 – 14); arrebatado aos céus num “carro de fogo” (2Rs 2, 11 – 12). Malaquias anunciou a “volta de Elias” (Ml 3, 23 – 24) e Jesus ofereceu nova interpretação da “volta de Elias” (Mt 17, 9 – 13), tamanha a importância do profeta Elias.

 

O CICLO DE ELISEU:

Foi “Herdeiro” da profecia e do “espírito de Elias” (2Rs 2, 13s). Foi um profeta mais popular (2Rs 2 – 13), chamado por Elias (1Rs 19, 19 – 21). Em sua história, há “causos”: narrativas com tons exagerados, com milagres e ações “esquisitas”. Ex.: “milagres aquáticos” (2Rs 2, 14; 2, 21; 5, 10; 6, 6) e “histórias de cunho popular” (2Rs 2, 23 – 24; 4, 1 – 7; 4, 9 – 44; 13, 21).

Temos que tomar cuidado com o gosto pelo “extraordinário”, pois a mensagem mais profunda do profeta é mais importante.

A ação profética de Eliseu é fundamental no contexto político em que viveu (Eclo 48, 13): veja os envolvimentos do profeta em eventos políticos: 2Rs 3, 4 – 27; 6, 8 – 23; 8, 7 – 15; 6, 24 – 7, 2; 9, 1 – 10 e 13, 14 -20.

Padre Éder Aparecido Monteiro

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Profetas: Começo e evolução do profetismo

A palavra “profeta” (NABI, em hebraico) hoje tem muitos sentidos. Muitos caracterizam os prfetas como previsores de futuro (precognitivos, videntes, como em 1Sm 9, 9). Podemos encontra-los em grupos de “homens em transe” (1Sm 10, 5s; 19, 24; 10, 10; Dt 13, 2 – 4; 1Rs 17, 17s; 2Rs 2, 19 – 22; Nm 22, 2 – 6), como intérpretes de sonhos (Cf Dt 13, 2 – 4) ou simples consultores de Deus (1Sm 8, 6 – 7). Às vezes, eles aparecem como conselheiros de reis (conf. Khalil Gibran), integrados a uma corte, como os prpfetas Natã e Isaías (veja 1Sm 10, 1.24; 16, 12 -13; 2Sm 7, 1 – 7; 24, 11 – 19; 1Rs 1, 34; 11, 29 – 31; 22, 5).

No profetismo clássico da Bíblia, eles aparecem como defensores dos pobres e ferrenhos críticos dos desmandos dos monarcas e são reconhecidos como “homens de Deus”, homens da fé em Deus. Sua fé se fundamenta no Deus libertador do Êxodo (go’el). Alguns profetas formarão grupos proféticos com o objetivo de manter vigilância crítica sobre os abusos dos reis. Durante o Exílio na Babilônia (ver Is 40 – 55 e Ez) serão os consoladores do povo sofrido.

 

O MOVIMENTO PROFÉTICO:

O profetismo também esteve presente em outros povos do Oriente Antigo (Egito, Mesopotâmia, Pérsia, etc). Nos textos proféticos da nossa Bíblia encontramos afinidade entre os escritos de Mari (Mesopotâmia) e profetas de Israel: o profeta era um ser humano que recebia uma missão nos momentos de crise.

A diferença consiste em que os profetas de outros povos se constituíam mensageiros de deuses e os profetas de Israel se dirigiam ao povo e aos reis exigindo conversão interior e exterior, anunciavam a Palavra de Deus e denunciavam as injustiças, arriscando suas vidas. Certos anúncios dos profetas eram feitos com ações simbólicas.

         Temos duas fases do profetismo em Israel no tocante à sua relação com os reis (monarquia):

1º fase: apoio à monarquia (ver 1 Sm 22, 5; 2 Sm 24, 11-19).

2º fase: crítica e combate à monarquia (ver 1Rs 19, 10.14) = fase da independência do Profetismo.

 

SEPARAÇÃO ENTRE PROFETISMO E MONARQUIA

O Deus anunciado pelos profetas era o Deus da Aliança (Iahweh), um Deus que legitimava tudo o que os reis faziam.

Os profetas de Israel estavam a serviço da Aliança entre Deus e o povo. Por isso, era preciso estabelecer uma certa independência ou até oposição aos atos dos reis (Elias, Jeremias, Amós, Oséias, Miquéias, etc). E, quando falam em nome de Deus contra os desmandos dos reis, encontram dificuldades para a missão (perseguições, por exemplo).

 

OS PRIMEIROS PROFETAS:

Samuel: foi um opositor da monarquia (1Sm 8), mas acabou ungindo Saul e Davi como reis de Israel (1Sm 10; 15, 10 – 23) por ordem de Deus.

Natã: sempre presente na corte de Davi (2Sm 7, 2; 12 e 1Rs 1); favorável à dinastia davídica, mas crítico diante dos pecados do rei Davi.

Gad: chamado “vidente”, era mais severo (ver 2Sm 24, 11 – 14. 18 – 19; 1Cr 21, 9 – 13 . 29; 29, 9; 1Sm 22, 5).

Natã e Gad: conselheiros severos do rei Davi (2Sm 7; 12; 24).

 

Já no tempo do rei Saul, os profetas reagem contra os erros dos reis, que prejudicavam o povo (ex.: Samuel). Alguns eram até próximos dos palácios, mas não eram coniventes com tudo o que os reis faziam!

        Após o Cisma de 931 a.C., quanto aos profetas do Norte (Israel), o profetismo floresceu em fidelidade às tradições javistas do tribalismo; os profetas eram “mais conservadores” e exerciam severas intervenções como “homens de Deus”, criando uma distância cada vez maior entre eles e o palácio dos reis e dos templos oficiais do culto nacional (ex.: Elias, Eliseu e Amós).

Já no Reino do Sul (Judá), o profetismo será um pouco mais tardio e estará condicionado às promessas messiânicas a partir de Davi ou da dinastia davídica (Natã e Isaías), mas sempre voltado para a fidelidade à Aliança com Deus (Jeremias, Sofonias, Miqueias, por exemplo).

Padre Éder Aparecido Monteiro

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O Reino do Sul (Judá) 1ª Parte

– Tribo de Judá: aparente tranquilidade; manteve-se fiel à dinastia Davídica (2Sm 7, 8 – 16; Sl 89, 4)

– Templo de Jerusalém: único lugar “autorizado” pelo Senhor para o culto, conf. Dt 12, 4 – 11);

– Jerusalém; Capital escolhida por Deus para habitar (1Rs 11, 36; 14, 21; Sl 48);

– Salmos: falam da Monarquia e da cidade e de uma liturgia a serviço do poder;

– Reis: avaliação negativa =” fizeram o que é mal aos olhos do Senhor”, exceto Ezequias e Josias;

– alguns reis marcaram muito a história do Reino de Judá.

 

ROBOÃO, de 931 – 913 a.C. (ver 1Rs 14, 21 – 31 e 2Cr 10 – 12)

  • problemas econômicos e políticos internos ausentes;
  • problemas com países vizinhos:

– Egito: o faraó Sesac atacou e saqueou Jerusalém (1Rs 14, 25 – 28 ; 2Cr 12, 2.9 – 11)

–  Reino do Norte: Roboão, em guerra contra Jeroboão I, tentou em vão recuperar territórios perdidos para o Reino do Norte (ver 1Rs 14, 30; 2Cr 12, 15b); as rixas continuaram no tempo de Abiam (913 – 911 aEC) e de Asa (911 – 870 aEC).

 

OZIAS/AZARIAS, de 781 – 740 a.C. (ver 2Rs 15, 1 – 7; 2Cr 27, 1 – 9)

  • enfraquecimento do Egito;
  • restabelecimento do poder político ao Sul de Judá.

 

ACAZ, de 736 – 716 a.C. (ver 1Rs 16, 1 – 20; 2Cr 28, 1 – 27)

  • Assíria: seu poder se firmou na região;
  • dúvida: unir-se à Assíria ou ao Egito – pressões;
  • conflito com Israel e Damasco (Aram/Síria), que queriam uma coalizão contra a Assíria;
  • Isaías (profeta) aconselhou a neutralidade em relação à coalizão e recomendou confiança no Senhor;
  • Israel e Damasco atacaram Judá;
  • Acaz fez um acordo com a Assíria e tornou-se seu vassalo;
  • Isaías e Miquéias (profetas) viram nesse acordo do rei Acaz com a Assíria uma violação à Aliança com Deus;
  • Assíria: derrotou Israel e Damasco e tomou grande parte do território de Judá (Is 1, 7 – 8; 2Rs 18, 13 – 16).

 

EZEQUIAS: de 716 – 687 a.C. – ver 2Rs 18, 1 – 20; 2Cr 29, 3 – 32, 33

  • promoveu uma ampla reforma religiosa em todo o Reino de Judá (ver 2Rs 18, 4 e 2Cr 29, 3 – 32, 33);

– purificação do Templo;

     – celebração da expiação pelos pecados;

     – restabeleceu o culto legítimo, conforme a Aliança;

     – convocou a solene celebração da Páscoa;

     – reformou o sacerdócio em Judá.

  • mereceu do Senhor um milagre de cura, apoado por Isaías, o profeta (2Rs 20, 1 – 11);
  • enfrentou o cerco da Assíria em 701 a.C. (2Rs 19, 20 – 34);
  • libertação: não trouxe a conversão proposta por Isaías;
  • o povo achava que a Monarquia e o Templo garantiriam por si mesmos sua sorte (Is 22, 1 – 4);
  • a Assíria começou a declinar e surge um outro Império: a Babilônia;
  • uma embaixada babilônica visita Ezequias: Isaías viu nesse fato um presságio do futuro Exílio de Judá (2Rs 20, 12 – 19).

 

MANASSÉS: de 687 – 642 a.C. – ver 2Rs 21, 1 – 18; e 2Cr 33, 1 – 20

  • período difícil: foi um rei cruel e ímpio;
  • foi abolida a reforma religiosa de Ezequias;
  • violência e opressão pesada sobre o povo (2Rs 21, 16);
  • ausência de grandes profetas, mas alguns advertiram o povo (2Rs 21, 10 – 15);
  • adoção de sacrifícios humanos (2Rs 21, 6).

 

AMON: 642 – 640 aEC – ver 2Rs 21, 19 – 26; 2Cr 33, 21 – 25

  • fez o mesmo que seu pai: idolatria, violência, opressão;
  • seus próprios servos o mataram: 2Rs 21, 23;
  • “povo da terra” (=líderes do povo): queriam mudanças e defendiam a fidelidade à monarquia davídica (2Rs 11, 20; 14, 21; 21, 24);
  • eliminação dos rebeldes pelo “povo da terra”;

 

Padre Éder Aparecido Monteiro