Diocese de Guarulhos

SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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O sonho é viver num jardim, mas há violência entre irmãos

São inúmeros os textos bíblicos que justificam e esclarecem o tema da Campanha da Fraternidade desde ano: Fraternidade e Amizade Social. O lema: Somos todos irmãos foi escolhido das páginas do evangelho de Mateus, 23,8. No contexto, Jesus procura explicar aos discípulos que seu projeto é servir. Esclarece que entre os discípulos, só Deus deve ser chamado de mestre, eis o motivo que nos tratarmos e vivermos como irmãos e irmãs.

O caso de Caim e Abel é um episódio esclarecedor, quando se está em debate o projeto de vivermos como irmãs e irmãos, como deseja o próprio Deus, para toda a humanidade. Depois de ser expulso do paraíso criado por Deus, o homem se encontra diante do fenômeno da morte. Nos meandros desse fratricídio bíblico esconde-se um jogo de interesses entre grupos rivais. Pastores e agricultores se digladiam na saga pelo poder.

A narrativa bíblica não esconde que, uma vez fora dos desígnios de Deus, o ser humano é capaz de derramar o sangue do próprio irmão sobre a terra por ele cultivada (v.8) e, após o assassinato, desprezar a pergunta do Criador: “onde está teu irmão?” (v. 9).

O projeto de Deus do ser humano viver no Jardim e na mais bela sintonia com a natureza, com os animais e com os seres humanos, é desprezado. Da prática do bem, para o conhecimento do bem e do mal; da vivência do amor, para o reinado da “ira” (v. 5). A violência chega ao ponto do ser humano não se sentir responsável nem mesmo pela vida do próprio irmão. “Por acaso sou eu o guardo do meu irmão” (v. 10).

            Há três genealogias presentes no texto. Essa forma literária foi composta em torno dos personagens: Caim e Abel (Gn 4,1-16), a descendência de Caim (Gn 4,17-24) e a terceira genealogia, indicando a substituição do irmão Abel assassinado garantida a Set (Gn 4,25-26). Na apresentação das genealogias, visualizamos no texto a seguinte forma:

  • Gn 4,1-2: vemos a primeira genealogia apresentando os irmão Caim e Abel. O primeiro trabalha como “cultivador do solo” e o segundo, “pastor de ovelhas”.
  • Gn 4,17: nesta genealogia, Caim é visto na base das cinco gerações e inserido na origem das cidades, onde atuam as mais diferentes profissões: construtores de cidades, artesãos de tendas, pastores, tocadores de lira, charamela e laminadores em cobre e ferro (vv. 17,20-22).
  • Gn 4,25: trata-se da genealogia apresentada em substituição a Abel. Desta geração, após o nascimento de Set, aparecerá a origem da invocação do nome do Senhor. “O primeiro a invocar o nome do Senhor” (v. 26).

Caim surge como personagem principal. Seu nome, citado 13 vezes  na narrativa, liga-se ao clã dos Quenitas. Um clã que, embora não tenha  ligação direta com as doze tribos de Israel, será, por sua vez, portador e  defensor do nome do Senhor (Js 15,57). Por outro lado, Abel, liga-se ao “sopro, fumaça”, algo sem muito valor.

No confronto entre os “irmãos”, acompanhamos o conflito entre os agricultores da terra e os pastores. A busca da superação deste conflito irá determinar a quem pertencerá o campo, as terras que oferecem a base de alimentação e o poder

O texto não esconde essa consciência de Caim frente a sentença recebida da parte do Senhor e ressalta a fragilidade de sua conduta e de uma cultura baseada na violência. Sem asilo nem proteção, sua vida está em perigo (v. 14). Mas Deus é fiel ao seu projeto. Não criou o homem para que este reproduza o sistema de violência. Semelhante a Gn 3,21, ele vem em auxílio à sua criatura, abrandando sua pena e colocando em Caim “um sinal’ (v. 15). Tal sinal, conhecido como tatuagem, identificará Caim como participante de um clã, em que a morte de sangue é vingada sete vezes.

 

Pe. Antonio C. Frizzo

acfrizzo@uol.com.br

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