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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"A Esperança não decepciona" (Rm 5,5)

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XVI Assembleia do Sínodo dos Bispos

Papa Francisco: “Não precisamos de uma Igreja sentada e desistente, mas de uma Igreja que acolhe o grito do mundo e suja as mãos para servir o Senhor”

 

No dia 27 de outubro, a Basílica de São Pedro acolheu cerca de cinco mil fiéis para a missa conclusiva da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, presidida pelo Papa Francisco. O Pontífice dirigiu-se a cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, convocando-os a refletir sobre a postura da Igreja diante dos desafios atuais, através do exemplo de Bartimeu, o cego que, mesmo marginalizado, encontrou forças para gritar a Jesus e seguir pelo caminho.

A partir da passagem do Evangelho do trigésimo domingo do tempo comum (Mc 10, 46-52), que narra a cura de Bartimeu, o Papa ressaltou a importância de uma Igreja em movimento, atenta às necessidades e clamores da Humanidade: “Uma Igreja sentada é uma Igreja estagnada, incapaz de enxergar o Senhor em seu meio e de responder aos apelos do mundo”.

Papa Francisco usou a imagem do cego “à margem da estrada” para ilustrar a necessidade de uma comunidade que não se limite a observar de longe, mas que, impulsionada pelo chamado de Cristo, se levante e siga adiante.

 

Escutar e responder ao grito do mundo

O Papa, ao proferir a homilia, destacou que, ao longo da Assembleia Sinodal, a Igreja foi chamada a abrir-se ao grito dos marginalizados, daqueles que buscam acolhimento, e daqueles que, silenciosamente, sofrem. A exemplo de Bartimeu, Francisco enfatizou que a Igreja não pode ignorar o sofrimento e as necessidades de tantos irmãos e irmãs. Recordemos isto, enfatizou o Santo Padre, “o Senhor passa, o Senhor passa sempre e cuida da nossa cegueira. E é bonito que o Sínodo nos impulsione a ser Igreja como Bartimeu: a comunidade dos discípulos que, ouvindo passar o Senhor, sente a emoção da salvação, deixa-se despertar pela força do Evangelho e começa a gritar-Lhe. E fá-lo acolhendo o grito de todos os homens e mulheres da terra: o grito dos que querem descobrir a alegria do Evangelho e dos que, pelo contrário, se afastaram; o grito silencioso dos indiferentes; o grito dos que sofrem, dos pobres e dos marginalizados; a voz quebrada dos que já nem sequer têm força para gritar a Deus, porque não têm voz ou porque se resignaram”.

“Não precisamos de uma Igreja sentada e desistente, mas de uma Igreja que acolhe o grito do mundo e suja as mãos para servir o Senhor.”

 

Uma Igreja missionária e sinodal

Ao lembrar a interação entre Bartimeu e Jesus, Francisco explicou que, assim como o cego clamou por ajuda e foi atendido, também a Igreja deve escutar ativamente os clamores de hoje, fazendo-se próxima dos que necessitam de amparo espiritual, material e humano. A postura sinodal da Igreja, recordou o Papa, também pode ser simbolizada pelo seguimento de Bartimeu no caminho de Jesus: “uma comunidade em constante movimento, iluminada pelo Espírito Santo e impulsionada pela missão de levar a luz do Evangelho ao mundo”. Não caminhemos sozinhos ou segundo os critérios do mundo, mas juntos, como discípulos do Senhor, reforçou o Santo Padre:

“Irmãos e irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que acolhe o grito da Humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva aos outros a luz do Evangelho. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo.”

 

Amor, unidade e misericórdia

O Pontífice, ao voltar seu olhar para a relíquia da “Cátedra de São Pedro”, restaurada e exposta para a veneração dos fiéis, recordou o verdadeiro significado do poder e da liderança na Igreja. Para Francisco, esta imagem da Cátedra expressa a essência do serviço e da unidade, valores essenciais para a Igreja sinodal:

“Enquanto damos graças ao Senhor pelo caminho percorrido em conjunto, poderemos ver e venerar a relíquia da antiga Cátedra de São Pedro, cuidadosamente restaurada. Recordemos que esta é a Cátedra do amor, da unidade e da misericórdia, segundo o preceito que Jesus deu ao Apóstolo Pedro de não exercer domínio sobre os outros, mas de os servir na caridade. E admirando o majestoso baldaquino de Bernini, mais resplandecente do que nunca, redescobrimos que ele enquadra o verdadeiro ponto focal de toda a Basílica, isto é, a glória do Espírito Santo. Esta é a Igreja sinodal: uma comunidade cujo primado está no dom do Espírito, que nos torna irmãos em Cristo e nos eleva até Ele.”

“Coragem, levanta-te, Ele te chama”

Ao encerrar a homilia, o Papa exortou os presentes a deixarem para trás qualquer manto de resignação ou paralisia que possa ter invadido a Igreja, e incentivou a comunidade a confiar a própria “cegueira” a Deus e, como Bartimeu, levantar-se e seguir o Senhor. “Coragem, levanta-te, Ele te chama. Coloquemo-nos de pé e levemos a alegria do Evangelho pelos caminhos do mundo”, concluiu.

 

Thulio Fonseca – Vatican News

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Mensagem do Papa Francisco VIII Dia Mundial dos Pobres

A oração do pobre eleva-se até Deus (cf. Sir 21, 5)

Caros irmãos e irmãs!

  1. A oração do pobre eleva-se até Deus (cf. Sir21, 5). No ano dedicado à oração, em vista do Jubileu Ordinário de 2025, esta expressão da sabedoria bíblica é ainda mais oportuna a fim de nos preparar para o VIII Dia Mundial dos Pobres, que acontecerá no próximo 17 de novembro. A esperança cristã inclui também a certeza de que a nossa oração chega à presença de Deus; não uma oração qualquer, mas a oração do pobre. Reflitamos sobre esta Palavra e “leiamo-la” nos rostos e nas histórias dos pobres que encontramos no nosso dia-a-dia, para que a oração se torne um modo de comunhão com eles e de partilha do seu sofrimento.
  2. livro de Ben-Sirá, ao qual nos referimos, não é muito conhecido e merece ser descoberto pela riqueza dos temas que aborda, sobretudo quando se refere à relação do homem com Deus e com o mundo. O seu autor, Ben-Sirá, é um mestre, um escriba de Jerusalém que, provavelmente, escreve no século II a.C. Radicado na tradição de Israel, é um homem sábio, que ensina sobre vários domínios da vida humana: desde o trabalho à família, desde a vida em sociedade à educação dos jovens; presta atenção às questões relacionadas com a fé em Deus e a observância da Lei. Aborda os problemas nada fáceis da liberdade, do mal e da justiça divina, que hoje são de grande atualidade também para nós. Inspirado pelo Espírito Santo, Ben-Sirá pretende transmitir a todos o caminho a seguir para uma vida sábia e digna de ser vivida diante de Deus e dos irmãos.
  3. Um dos temas a que este autor sagrado dedica mais espaço é a oração, e fá-lo com grande ardor, porque dá voz à sua própria experiência pessoal. Efetivamente, nenhum texto sobre a oração poderia ser eficaz e fecundo se não partisse de quem se encontra diariamente na presença de Deus e escuta a sua Palavra. Ben-Sirá declara que, desde a sua juventude, procurou a sabedoria: «Quando eu era ainda jovem, antes de ter viajado, busquei abertamente a sabedoria na oração» (Sir51, 13).
  4. No seu caminho, descobre uma das realidades fundamentais da revelação, ou seja, o facto de os pobres terem um lugar privilegiado no coração de Deus, a tal ponto que, perante o seu sofrimento, Deus se “impacienta” enquanto não lhes faz justiça: «A oração do humilde penetrará as nuvens, e não se consolará, enquanto ela não chegar até Deus. Ele não se afastará, enquanto o Altíssimo não olhar, não fizer justiça aos justos e restabelecer a equidade. O Senhor não tardará nem terá paciência com os opressores» (Sir35, 17-19). Deus, porque é um Pai atento e carinhoso para com todos, conhece os sofrimentos dos seus filhos. Como Pai, preocupa-se com aqueles que mais precisam dele: os pobres, os marginalizados, os que sofrem, os esquecidos… Ninguém está excluído do seu coração, uma vez que, diante d’Ele, todos somos pobres e necessitados. Somos todos mendigos, pois sem Deus não seríamos nada. Nem sequer teríamos vida se Deus não no-la tivesse dado. E, no entanto, quantas vezes vivemos como se fôssemos os donos da vida ou como se tivéssemos de a conquistar! A mentalidade mundana pede que sejamos alguém, que nos tornemos famosos independentemente de tudo e de todos, quebrando as regras sociais para alcançar a riqueza. Que triste ilusão! A felicidade não se adquire espezinhando os direitos e a dignidade dos outros.

A violência causada pelas guerras mostra claramente quanta arrogância move aqueles que se consideram poderosos aos olhos dos homens, enquanto aos olhos de Deus são miseráveis. Quantos novos pobres produz esta má política das armas, quantas vítimas inocentes! Contudo, não podemos recuar. Os discípulos do Senhor sabem que cada um destes “pequeninos” traz gravado em si o rosto do Filho de Deus, e que a nossa solidariedade e o sinal da caridade cristã devem chegar até eles. «Cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade; isto supõe estar docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-lo» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 187).

  1. Neste ano dedicado à oração, precisamos de fazer nossa a oração dos pobres e rezar com eles. É um desafio que temos de aceitar e uma ação pastoral que precisa de ser alimentada. Com efeito, «a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se, principalmente, numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária» (ibid., 200).

Tudo isto requer um coração humilde, que tenha a coragem de se tornar mendigo. Um coração pronto a reconhecer-se pobre e necessitado. Existe, efetivamente, uma correspondência entre pobreza, humildade e confiança. O verdadeiro pobre é o humilde, como afirmava o santo bispo Agostinho: «O pobre não tem de que se orgulhar, o rico tem o orgulho para combater. Portanto, escuta-me: sê um verdadeiro pobre, sê virtuoso, sê humilde» (Discursos, 14, 4). O homem humilde não tem nada de que se vangloriar nem nada a reclamar, sabe que não pode contar consigo próprio, mas acredita firmemente que pode recorrer ao amor misericordioso de Deus, diante do qual se encontra como o filho pródigo que regressa a casa arrependido para receber o abraço do pai (cf. Lc 15, 11-24). O pobre, sem nada em que se apoiar, recebe a força de Deus e coloca n’Ele toda a sua confiança. Com efeito, a humildade gera a confiança de que Deus nunca nos abandonará e não nos deixará sem resposta.

  1. Aos pobres que habitam as nossas cidades e fazem parte das nossas comunidades, recomendo que não percam esta certeza: Deus está atento a cada um de vós e está perto de vós. Ele não se esquece de vós, nem nunca o poderia fazer. Todos nós fazemos orações que parecem não ter resposta. Por vezes, pedimos para sermos libertados de uma miséria que nos faz sofrer e nos humilha, e Deus parece não ouvir a nossa invocação. Mas o silêncio de Deus não significa distração face ao nosso sofrimento; pelo contrário, contém uma palavra que pede para ser acolhida com confiança, abandonando-nos a Ele e à sua vontade. É ainda Ben-Sirá que o testemunha: “O juízo de Deus será em favor dos pobres” (cf. 21, 5). Da pobreza, portanto, pode brotar o canto da mais genuína esperança. Lembremo-nos de que «quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. […] Esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2).
  2. Dia Mundial dos Pobrestornou-se um compromisso na agenda de cada comunidade eclesial. É uma oportunidade pastoral que não deve ser subestimada, porque desafia cada fiel a escutar a oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas necessidades. É uma ocasião propícia para realizar iniciativas que ajudem concretamente os pobres, e também para reconhecer e apoiar os numerosos voluntários que se dedicam com paixão aos mais necessitados. Devemos agradecer ao Senhor pelas pessoas que se disponibilizam para escutar e apoiar os mais pobres: sacerdotes, pessoas consagradas e leigos que, com o seu testemunho, são a voz da resposta de Deus às orações daqueles que a Ele recorrem. Portanto, o silêncio quebra-se sempre que se acolhe e abraça um irmão necessitado. Os pobres têm ainda muito para ensinar, porque numa cultura que colocou a riqueza em primeiro lugar e que sacrifica muitas vezes a dignidade das pessoas no altar dos bens materiais, eles remam contra a corrente, tornando claro que o essencial da vida é outra coisa.

A oração, por conseguinte, encontra o certificado da sua autenticidade na caridade que se transforma em encontro e proximidade. Se a oração não se traduz em ações concretas, é vã; efetivamente, «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26). Contudo, a caridade sem oração corre o risco de se tornar uma filantropia que rapidamente se esgota. «Sem a oração quotidiana, vivida com fidelidade, o nosso fazer esvazia-se, perde a alma profunda, reduz-se a um simples ativismo» (BENTO XVI, Catequese, 25 de abril de 2012). Devemos evitar esta tentação e estar sempre vigilantes com a força e a perseverança que nos vem do Espírito Santo, que é dador de vida.

  1. Neste contexto, é bom recordar o testemunho que nos deixou Madre Teresa de Calcutá, uma mulher que deu a vida pelos pobres. Esta santa repetia continuamente que a oração era o lugar dondetirava força e fépara a sua missão de serviço aos últimos. Quando falou na Assembleia Geral da ONU, a 26 de outubro de 1985, mostrando a todos as contas do terço que trazia sempre na mão, disse: «Sou apenas uma pobre freira que reza. Ao rezar, Jesus põe o seu amor no meu coração e eu vou dá-lo a todos os pobres que encontro no meu caminho. Rezai vós também! Rezai, e sereis capazes de ver os pobres que tendes ao vosso lado. Talvez no mesmo andar da vossa casa. Talvez até nas vossas próprias casas há quem espera pelo vosso amor. Rezai, e abrir-se-ão os vossos olhos e encher-se-á de amor o vosso coração».

E como não recordar aqui, na cidade de Roma, São Bento José Labre (1748-1783), cujo corpo jaz e é venerado na igreja paroquial de Santa Maria ai Monti. Peregrino desde França até Roma, rejeitado em muitos mosteiros, viveu os seus últimos anos pobre entre os pobres, passando horas e horas em oração diante do Santíssimo Sacramento, com o terço, recitando o breviário, lendo o Novo Testamento e a Imitação de Cristo. Não tendo sequer um pequeno quarto para se alojar, dormia habitualmente num canto das ruínas do Coliseu, como “vagabundo de Deus”, fazendo da sua existência uma oração incessante que subia até Ele.

  1. No caminho para o Ano Santo, exorto todos a fazerem-se peregrinos da esperança, dando sinais concretos de um futuro melhor. Não nos esqueçamos de guardar «os pequenos detalhes do amor» (Exort. ap.Gaudete et Exsultate, 145): parar, aproximar-se, dar um pouco de atenção, um sorriso, uma carícia, uma palavra de conforto… Estes gestos não podem ser improvisados; antes, exigem uma fidelidade quotidiana, muitas vezes escondida e silenciosa, mas fortalecida pela oração. Neste momento, em que o canto da esperança parece dar lugar ao ruído das armas, ao grito de tantos inocentes feridos e ao silêncio das inúmeras vítimas das guerras, dirijamos a Deus a nossa invocação de paz. Somos pobres de paz e, para a acolher como um dom precioso, estendemos as mãos, ao mesmo tempo que nos esforçamos por costurá-la no dia-a-dia.
  2. Em todas as circunstâncias, somos chamados a ser amigos dos pobres, seguindo os passos de Jesus, que foi o primeiro a solidarizar-se com
    Fonte de Nossa Senhora de Banneux, na Bélgica – Virgem dos Pobres

    os últimos. Que a Santa Mãe de Deus, Maria Santíssima, nos sustente neste caminho; ela que, aparecendo em Banneux, nos deixou uma mensagem a não esquecer: «Eu sou a Virgem dos pobres». A ela, a quem Deus olhou pela sua humilde pobreza e em quem realizou grandes coisas com a sua obediência, confiemos a nossa oração, convictos de que subirá até ao céu e será ouvida.

 

Roma – São João de Latrão, na Memória de Santo António, Patrono dos pobres, 13 de junho de 2024.

FRANCISCO

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Artigos Voz do Pastor

‘‘Santificado seja vosso nome’’

Nas reflexões anteriores foram colocadas as disposições essenciais para podermos dizer “Pai Nosso que estais nos céus”. As petições do Pai Nosso estão intimamente relacionadas com estas disposições.

            “Santificado seja o vosso nome”.  Pedir que o nome de Deus seja santificado é o mesmo que pedir que isso aconteça através de nós. Pedimos também que ele seja santificado em todos os homens. Aqui está implícito o amor ao inimigo.

            “Venha a nós o vosso Reino. Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.” Pedir que venha o Reino é o mesmo que pedir que a vontade de Deus seja feita. O Pai Nosso possui também uma dimensão escatológica. O Reino já está no meio de nós, mas não chegou à plenitude. É preciso vivenciar os valores do Reino proclamado por Jesus, até “vermos a Deus tal como Ele é” (cf. 1 Jo 3,12). Para conquistar o Reino é preciso “fazer-se violência”: “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sore violência os violentos se apoderam dele.” (Mt 11,12) O que é “fazer-se violência?”: negar-se a si mesmo, tomar sua cruz; ser pobre em espírito; pedir também por aqueles que não creem ; que o nosso corpo não esteja a serviço da iniquidade; não servir a Deus e ao dinheiro; combater a soberba que faz com que nos erijamos em deus de nós mesmos…

            “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Pedir o pão cotidiano é um gesto de humildade e pobreza, pois buscamos o necessário para o nosso sustento. Expressa confiança na Providência e ao mesmo tempo uma renúncia ao “deus” deste mundo que é o dinheiro. Quando Deus dá o maná ao seu povo no deserto, ordena que recolham o necessário para cada dia. Quando, por ganância, recolhem mais que o necessário, o maná apodrece (cf. Ex 16,1-20). Convém reportar aqui um precioso ensinamento do Catecismo da Igreja Católica: “De cada dia”. Esta palavra, ‘epiousios’ (em grego), não é usada em nenhum outro lugar no Novo Testamento…Tomada em sentido qualitativo, significa o necessário à vida, e, em sentido mais amplo, todo bem suficiente para a subsistência. Literalmente (supersubstancial), designa diretamente o Pão da vida, o Corpo de Cristo. ‘remédio de imortalidade’, sem o qual não temos Vida em nós… “A Eucaristia é o nosso pão cotidiano. A virtude própria deste alimento divino é uma força de união que nos vincula ao Corpo do Salvador e nos faz seus membros, a fim de que nos transformemos naquilo que recebemos… Este pão cotidiano está ainda nas leituras que ouvis cada dia na Igreja, nos hinos que são cantados e que vós cantais. Tudo isso é necessário à nossa peregrinação. O Pai do céu nos exorta a pedir, como filhos do céu, o Pão do céu. Cristo é ele mesmo o pão que, semeado na virgem, levedado na carne, amassado na paixão, cozido no forno do sepulcro, colocado em reserva na Igreja, levado aos altares, proporciona cada dia aos fiéis um alimento celeste.” (CIC 2837).

Deste modo o próprio Cristo é o alimento que precisamos para segui-Lo, cada dia. Afinal, Ele exige: “se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo e tome sua cruz, cada dia…” (Lc 9,23)

Na próxima reflexão, já proximamente antecedendo a abertura do Ano Santo, refletiremos sobre as últimas petições do Pai Nosso.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O. Cist.

Bispo diocesano

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Artigos Editorial

Ouvir os clamores através das provocações Eclesiais e Sociais do Mundo

Caríssimos irmãos e irmãs, somos provocados nesta edição a refletirmos sobre as nossas atitudes no mundo diante das diversas realidades e necessidades. É urgente a revisão de vida pessoal eclesial a partir dos alertas do Espírito Santo.

A provocação vem através da Mensagem do Papa Francisco para o VIII Dia Mundial dos Pobres, que ressalta a urgência de ouvirmos o clamor dos pobres. O mesmo mensageiro que é o Papa Francisco nos provoca na homilia de encerramento do Sínodo dos Bispos diante da Cátedra de Pedro, demostrando a continuidade da história e as diversas formas de agir conforme os sinais dos tempos no mundo. Podemos afirmar diante destas provocações que: Ouvir o clamor do pobre é fortalecer a proposta de que não precisamos de uma sentada e desistente, mas de uma Igreja que acolhe o grito do mundo e suja as mãos para servir ao Senhor. Concretamente na Diocese de Guarulhos é urgente escutar o clamor das pastorais sociais pelo aumento dos agentes de pastorais, por mais apoio financeiro e por mais abertura de diálogo entre Igreja e os poderes executivo e legislativo do município de Guarulhos.

Outra provocação nasce do artigo Voz do Pastor escrito por Dom Edmilson, sobre a necessidade da prática da oração que o Senhor nos ensinou, de modo especial este mês sobre o trecho Santificado seja o vosso nome. Não basta apenas conhecer a bela oração, mas torná-la concreta na vida pessoal e comunitária. Para responder as provocações é necessário citar e valorizar os bons exemplos motivando a tantos outros como fez o Papa Francisco ao nomear Dom Jaime para ser cardeal da Igreja no Brasil, quanto carinho e reconhecimento do santo padre para com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, enquanto tantos influenciados digitais e na Igreja negam e propagam a desvalorização da CNBB, o sucessor de Pedro reconhece o belo trabalho de ação evangelizadora realizado nesta maravilhosa terra de Santa Cruz.

Outro lindo exemplo é a presença do Padre Salvador em terras brasileiras de modo específico em Mato Grosso, nos ensinando de fato que a missão é uma grande escola. Na formação permanente do clero, também houve provocação para que os padres possam sempre melhor conhecer a Sagrada Escritura e preparar as pregações conhecendo e adaptando suas palavras ao público que o escuta como os Ricos, Pobres, Alegres, Tristes, Pacíficos, Iracundos, Sábios, Simples, Audazes, Tímidos, Pacientes, Impacientes, Sadios, Enfermos, Governantes, Subordinados, Intemperantes, Sóbrios, Humildes e Soberbos. Muito bom poder ser uma Igreja atenta aos sinais dos tempos e aos fiéis de cada tempo na história. Além das questões eclesiais somos provocados a saber envelhecer com os ensinamentos do psicólogo Romildo. Saber ouvir o clamor dos idosos para que vivam bem e clamar aos jovens para que se cuidem afim de também envelhecerem bem. Enfim, espero que todas essas provocações sejam motivos de reflexão e motive nossa participação nos tríduos e cerimônia de ordenação sacerdotal; na abertura da novena de natal nas Foranias; na participem da Festa da Imaculada Conceição, padroeira Diocesana e na Campanha para a Evangelização 2024.

Boa leitura e não esqueça de ler, curtir e compartilhar!

 

Padre Marcos Vinicius Clementino

Jornalista e Diretor Geral

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Atualização do Clero 2024

“TRADIÇÃO, ESCRITURA E HOMILÉTICA NO CRISTIANISMO DAS ORIGENS.”

A Semana de Atualização do Clero da Diocese de Guarulhos é uma realidade anual e têm por finalidade promover o estudo de temas urgentes na realidade da Igreja, contribuindo com a missão sacerdotal de ensinar, governar e santificar através da ação evangelizadora do Povo de Deus e também promover a confraternização entre bispo, padres e diáconos.

O tema deste ano esteve em consonância com a Semana de Formação Diocesana sobre a Palavra de Deus e aconteceu no período de 04 a 07 de novembro na cidade de Passa Quatro em Minas Gerais. As palestras foram conduzidas pelo professor Padre Leonardo Henrique da Silva. O tema central foi “Tradição, Escritura e Homilética no cristianismo das origens.”  O padre Leonardo percorreu o seguinte itinerário:

1.Testemunho oral, fragmentos de memória e depósito da Fé, 2. Regra de Fé ou regra de verdade, 3. A sucessão apostólica, 4. Os símbolos, 5. As tradições não escritas, 6. A Revelação progressiva, 7. A questão do cânone bíblico, 8. A exegese dogmática do século IV, 9. Alguns aspectos do De doctrina Christiana de Santo Agostinho, 10. Homilética, Magno e a preparação conforme os vários tipos de situação humana.

As manhãs de formação foram encerradas com a santa missa presidida por Dom Edmilson Amador Caetano e preparada por padres de cada Forania da Diocese de Guarulhos.

No encerramento das reflexões, Padre Romualdo Nunes, representante dos presbíteros, agradeceu ao Padre Leonardo e todos os participantes e anunciou a data da próxima Semana de Formação do Clero que acontecerá no período de 03 a 06 de novembro de 2025.

Do início ao fim da formação foi possível comprovar o que lemos em 2Tm 2,2: “Guarda o precioso depósito a ti confiado com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós.”

Confira algumas fotos da semana de Atualização do Clero:

Atualização dos Presbíteros 2024
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Criança feliz, sem celular!

Os riscos dos Smarphones para crianças

Parece que o mundo finalmente está descobrindo algo que parecia claro, isto é, o uso indiscriminado de Smartphone por crianças e adolescentes é prejudicial ao seu desenvolvimento físico e mental. Quase um quarto dos países já proibiram os smartphones nas escolas e alguns estados brasileiros criaram restrições ao seu uso. É indiscutível que o emprego de tecnologias pode auxiliar no desempenho de tarefas escolares, porém o uso de celulares perdeu a sua função principal e está causando sérios problemas nas crianças. Queda do aprendizado, dificuldades de concentração, redução da interação social, insônia, depressão e ansiedade.

Felizmente o debate que discute o banimento do uso do celular no ambiente escolar ganha corpo e alguns países já proíbem o seu uso. É o caso de França, Espanha Grécia, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Itália e Suíça. No Brasil, o MEC (Ministério da Educação e Cultura) está trabalhando num projeto para proibir o uso de telefones celulares em sala de aula em todas as escolas, devendo ser anunciado brevemente.

Menos celular mais qualidade. Estudos recentes realizados no Reino Unido mostram que a proibição dos celulares aumentou significativamente as notas dos alunos, especialmente entre aqueles que tinham menor desemprenho. No Japão e na Coreia do Sul, os celulares são preparados com tecnologia especial para serem usados somente para fins pedagógicos, não permitindo o acesso às redes sociais. Em matéria exibida na Folha de São Paulo em 07/09/2024, os próprios alunos da escola Martin Luther King, no Rio de Janeiro, relataram significativa melhora, tanto no desempenho, como no relacionamento social, depois que deixaram o celular.

Proibição soa sempre como uma palavra pesada em relação à liberdade que a maioria das pessoas defende numa sociedade democrática. Mas no caso de crianças e adolescentes, o uso indiscriminado de tecnologias como smartphones, tem se tornado um assunto que envolve não só uma questão de desempenho escolar, mas sim, de saúde mental e física. Algo precisa ser feito com urgência e a mudança pode começar em casa com os adultos que são os modelos mais importantes.

Desconectando: Por que trocar a vida real que está se revelando à nossa frente por uma falsa experiência de mundo paralelo que a tela nos impõe? Evite o uso do celular na presença das crianças, priorize interações face a face e atividades que envolvam o mundo físico. Esteja sempre conectado, não com o celular, mas consigo mesmo e com o que acontece ao seu redor, afinal, essa é a única vida que importa: a vida real.

 

Romildo R. Almeida

Psicólogo clínico

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Bateria e percussão na Igreja

Na liturgia é importante levar em conta o rito e seus ritmos: o ritmo da Palavra que integra os nossos sentidos; o ritmo dos tempos litúrgicos em suas várias dimensões; as partes do rito com sua densidade e significação; o ritmo dos instrumentos musicais que se integra ao cantar da assembleia reunida; o ritmo dos passos, das vozes, dos gestos e ações simbólicas… O ritmo povoa o rito, de modo especial, quando se toca e canta.

Entre os instrumentos musicais de que a liturgia se apropriou estão os de percussão. Os instrumentos de percussão, emitem sons que se destacam dos demais e por essa razão, têm a função de manter o andamento, de expor as subdivisões rítmicas de um estilo em particular. São muitos timbres, cada um com sua especificidade e com eles, o ritmo pode exercer um grande serviço ao Mistério.

As palavras ritmo e rito possuem uma raiz comum. Nelas estão contidas a ideia de organização e harmonia. A vibração dos instrumentos, principalmente percussivos, entra em contato com as frequências do corpo, altera sensações e direciona pensamentos e atenções. Os instrumentos de percussão “falam” com o povo, e “cantam” com a assembleia celebrante. A ordenação desses sons ativa a nossa inteireza e nos coloca em sintonia com o ritmo do universo.

A música ritual tem espaço garantido para os vários instrumentos musicais, sejam melódicos, harmônicos ou percussivos. Todos os instrumentos podem ser utilizados na celebração litúrgica. Porém, o que já foi dito sobre a formação dos músicos e instrumentistas vale para os percussionistas. Não há restrição ao tipo de instrumento na ação ritual, mas há regras importantes a serem seguidas para não tornar o instrumento mais importante do que a voz cantada. Os instrumentos de percussão, por sua natureza, têm uma sonoridade mais vibrante e com uma intensidade maior que outros. Por esta razão o percussionista litúrgico necessita conhecer o que é próprio de cada rito para não exagerar na sua execução, respeitar não somente os momentos do rito mas também o tempo litúrgico. Cantar a quaresma, por exemplo, é, antes de tudo, cantar a dor que se sente pelo pecado do mundo que, em todos os tempos e de tantas maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga, assim, a Paixão de Cristo. Pensando nisso, a instrução do missal nos orienta que no tempo da quaresma só é permitido o toque dos instrumentos musicais para sustentar o canto1, e sustentar o canto quer dizer utilizar apenas um instrumento harmônico como o violão ou um teclado e, se necessário, um instrumento de percussão para marcar o pulso. Recomenda-se que se deixe para a alegria da Páscoa a soma de outros instrumentos.

Não é demais repetir que os músicos fazem parte da assembleia litúrgica, e não são um grupo à parte no serviço que realizam. Que o seu serviço fortaleça a espiritualidade litúrgica e sejam participantes ativos de cada momento da celebração, mesmo quando não estiverem tocando.

 

Caetana Cecília | Pe. Jair Costa

Comissão Diocesana de Liturgia / Música Litúrgica

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MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES 2024

Ide e convidai a todos para o banquete (cf. Mt 22, 9)

Queridos irmãos e irmãs!

Para o Dia Mundial das Missões deste ano, tirei o tema da parábola evangélica do banquete nupcial (cf. Mt 22, 1-14). Depois que os convidados recusaram o convite, o rei – protagonista da narração – diz aos seus servos: «Ide às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes» (22, 9). Refletindo sobre esta frase-chave, no contexto da parábola e da vida de Jesus, podemos ilustrar alguns aspetos importantes da evangelização. Tais aspetos revelam-se particularmente atuais para todos nós, discípulos-missionários de Cristo, nesta fase final do percurso sinodal que, de acordo com o lema «Comunhão, participação, missão», deverá relançar na Igreja o seu empenho prioritário, isto é, o anúncio do Evangelho no mundo contemporâneo.

1. «Ide e convidai»: a missão como ida incansável e convite para a festa do Senhor

No início da ordem do rei aos seus servos, há dois verbos que expressam o núcleo da missão: «ide» e chamai, «convidai».

Quanto ao primeiro verbo, convém recordar que antes os servos tinham sido já enviados para transmitir a mensagem do rei aos convidados (cf. 22, 3-4). Daqui se deduz que a missão é ida incansável rumo a toda a humanidade para a convidar ao encontro e à comunhão com Deus. Incansável! Deus, grande no amor e rico de misericórdia, está sempre em saída ao encontro de cada ser humano para o chamar à felicidade do seu Reino, apesar da indiferença ou da recusa. Assim Jesus Cristo, bom pastor e enviado do Pai, andava à procura das ovelhas perdidas do povo de Israel e desejava ir mais além para alcançar também as ovelhas mais distantes (cf. Jo 10, 16). Quer antes quer depois da sua ressurreição, disse aos discípulos «ide», envolvendo-os na sua própria missão (cf. Lc 10, 3; Mc 16, 15). Por isso, a Igreja continuará a ultrapassar todo e qualquer limite, sair incessantemente sem se cansar nem desanimar perante dificuldades e obstáculos, a fim de cumprir fielmente a missão recebida do Senhor.

Aproveito o momento para agradecer aos missionários e missionárias que, respondendo ao chamamento de Cristo, deixaram tudo e partiram para longe da sua pátria a fim de levar a Boa Nova aonde o povo ainda não a recebera ou só recentemente é que a conheceu. Irmãs e irmãos muito amados, a vossa generosa dedicação é expressão tangível do compromisso da missão ad gentes que Jesus confiou aos seus discípulos: «Ide e fazei discípulos de todos os povos» (Mt 28, 19). Por isso continuamos a rezar e a agradecer a Deus pelas novas e numerosas vocações missionárias para esta obra de evangelização até aos confins da terra.

E não esqueçamos que todo o cristão é chamado a tomar parte nesta missão universal com o seu testemunho evangélico em cada ambiente, para que toda a Igreja saia continuamente com o seu Senhor e Mestre rumo às «saídas dos caminhos» do mundo atual. Sim, «hoje o drama da Igreja é que Jesus continua a bater à porta, mas da parte de dentro, para que O deixemos sair! Muitas vezes acabamos por ser uma Igreja (…) que não deixa o Senhor sair, que O retém como “propriedade sua”, quando o Senhor veio para a missão e quer que sejamos missionários» (Discurso aos participantes no Congresso promovido pelo Dicastério para os leigos, a família e a vida, 18/II/2023). Oxalá todos nós, batizados, nos disponhamos a sair de novo, cada um segundo a própria condição de vida, para iniciar um novo movimento missionário, como nos alvores do cristianismo.

Voltando à ordem do rei aos servos na parábola, vemos que caminham lado a lado o «ir» e o chamar ou, mais precisamente, «convidar»: «Vinde às bodas!» (Mt 22, 4). Isto faz-nos vislumbrar outro aspeto, não menos importante, da missão confiada por Deus. Como se pode imaginar, aqueles servos-mensageiros transmitiam o convite do soberano assinalando a sua urgência, mas faziam-no também com grande respeito e gentileza. De igual modo, a missão de levar o Evangelho a toda a criatura deve ter, necessariamente, o mesmo estilo d’Aquele que se anuncia. Ao proclamar ao mundo «a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 36), os discípulos-missionários fazem-no com alegria, magnanimidade, benevolência, que são fruto do Espírito Santo neles (cf. Gal 5, 22); sem imposição, coerção nem proselitismo; mas sempre com proximidade, compaixão e ternura, que refletem o modo de ser e agir de Deus.

2. «Para o banquete»: a perspetiva escatológica e eucarística da missão de Cristo e da Igreja

Na parábola, o rei pede aos seus servos que levem o convite para o banquete das bodas de seu filho. Este banquete reflete o banquete escatológico; é imagem da salvação final no Reino de Deus – já em realização com a vinda de Jesus, o Messias e Filho de Deus, que nos deu a vida em abundância (cf. Jo 10, 10), simbolizada pela mesa preparada com «carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos» –, quando Deus «aniquilar a morte para sempre» (cf. Is 25, 6-8).

A missão de Cristo é missão da plenitude dos tempos, como Ele mesmo declarou no início da sua pregação: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo» (Mc 1, 15). Ora, os discípulos de Cristo são chamados a continuar esta mesma missão do seu Mestre e Senhor. A propósito, recordemos o ensinamento do Concílio Vaticano II sobre o caráter escatológico do compromisso missionário da Igreja: «A atividade missionária desenrola-se entre o primeiro e o segundo advento do Senhor (…). Antes de o Senhor vir, tem de ser pregado o Evangelho a todos os povos» (Decr. Ad gentes, 9).

Sabemos que o zelo missionário, nos primeiros cristãos, possuía uma forte dimensão escatológica. Sentiam a urgência do anúncio do Evangelho. Também hoje é importante ter presente tal perspetiva, porque nos ajuda a evangelizar com a alegria de quem sabe que «o Senhor está perto» e com a esperança de quem propende para a meta, quando estivermos todos com Cristo no seu banquete nupcial no Reino de Deus. Assim, enquanto o mundo propõe os vários «banquetes» do consumismo, do bem-estar egoísta, da acumulação, do individualismo, o Evangelho chama a todos para o banquete divino onde reinam a alegria, a partilha, a justiça, a fraternidade, na comunhão com Deus e com os outros.

Temos esta plenitude de vida, dom de Cristo, antecipada já agora no banquete da Eucaristia, que a Igreja celebra por mandato do Senhor em memória d’Ele. Por isso o convite ao banquete escatológico, que levamos a todos na missão evangelizadora, está intrinsecamente ligado ao convite para a mesa eucarística, onde o Senhor nos alimenta com a sua Palavra e com o seu Corpo e Sangue. Como ensinou Bento XVI, «em cada celebração eucarística realiza-se sacramentalmente a unificação escatológica do povo de Deus. Para nós, o banquete eucarístico é uma antecipação real do banquete final, preanunciado pelos profetas (cf. Is 25, 6-9) e descrito no Novo Testamento como “as núpcias do Cordeiro” (Ap 19, 7-9), que se hão de celebrar na comunhão dos santos» (Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis, 31).

Assim, todos somos chamados a viver mais intensamente cada Eucaristia em todas as suas dimensões, particularmente a escatológica e a missionária. Reafirmo, a este respeito, que «não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens» (Ibid., 84). A renovação eucarística, que muitas Igrejas Particulares têm louvavelmente promovido no período pós-Covid, será fundamental também para despertar o espírito missionário em todo o fiel. Com quanta mais fé e ímpeto do coração se deveria pronunciar, em cada Missa, a aclamação «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!»

Por conseguinte, no Ano dedicado à oração como preparação para o Jubileu de 2025, desejo convidar a todos para intensificarem também e sobretudo a participação na Missa e a oração pela missão evangelizadora da Igreja. Esta, obediente à palavra do Salvador, não cessa de elevar a Deus, em cada celebração eucarística e litúrgica, a oração do Pai Nosso com a invocação «Venha a nós o vosso Reino». E assim a oração quotidiana e de modo particular a Eucaristia fazem de nós peregrinos-missionários da esperança, a caminho da vida sem fim em Deus, do banquete nupcial preparado por Deus para todos os seus filhos.

3. «Todos»: a missão universal dos discípulos de Cristo e a Igreja toda sinodal-missionária

A terceira e última reflexão diz respeito aos destinatários do convite do rei: «todos». Como sublinhei, «no coração da missão, está isto: aquele “todos”. Sem excluir ninguém. Todos. Por conseguinte, cada uma das nossas missões nasce do Coração de Cristo, para deixar que Ele atraia todos a Si» (Discurso aos participantes na Assembleia Geral das Pontifícias Obras Missionárias, 03/VI/2023). Ainda hoje, num mundo dilacerado por divisões e conflitos, o Evangelho de Cristo é a voz mansa e forte que chama os homens a encontrarem-se, a reconhecerem-se como irmãos e a alegrarem-se pela harmonia entre as diversidades. Deus «quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tim 2, 4). Por isso, nas nossas atividades missionárias, nunca nos esqueçamos que somos enviados a anunciar o Evangelho a todos, e «não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 14).

Os discípulos-missionários de Cristo trazem sempre no coração a preocupação por todas as pessoas, independentemente da sua condição social e mesmo moral. A parábola do banquete diz-nos que, seguindo a recomendação do rei, os servos reuniram «todos aqueles que encontraram, maus e bons» (Mt 22, 10). Além disso, os convidados especiais do rei são precisamente «os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos» (Lc 14, 21), isto é, os últimos e os marginalizados da sociedade. Assim, o banquete nupcial do Filho, que Deus preparou, permanece para sempre aberto a todos, porque grande e incondicional é o seu amor por cada um de nós. «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que n’Ele crê não se perca, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). Toda a gente, cada homem e cada mulher, é destinatário do convite de Deus para participar na sua graça que transforma e salva. Basta apenas dizer «sim» a este dom divino gratuito, acolhendo-o e deixando-se transformar por ele, como se se revestisse com um «traje nupcial» (cf. Mt 22, 12).

A missão para todos requer o empenho de todos. Por isso é necessário continuar o caminho rumo a uma Igreja, toda ela, sinodal-missionária ao serviço do Evangelho. De per si a sinodalidade é missionária e, vice-versa, a missão é sempre sinodal. Por conseguinte, hoje, é ainda mais urgente e necessária uma estreita cooperação missionária seja na Igreja universal, seja nas Igrejas Particulares. Na esteira do Concílio Vaticano II e dos meus antecessores, recomendo a todas as dioceses do mundo o serviço das Pontifícias Obras Missionárias, que constituem meios primários «quer para dar aos católicos um sentido verdadeiramente universal e missionário logo desde a infância, quer para promover coletas eficazes de subsídios para bem de todas as missões segundo as necessidades de cada uma» (Decr. Ad gentes, 38). Por esta razão, as coletas do Dia Mundial das Missões em todas as Igrejas Particulares são inteiramente destinadas ao Fundo Universal de Solidariedade, que depois a Pontifícia Obra da Propagação da Fé distribui, em nome do Papa, para as necessidades de todas as missões da Igreja. Peçamos ao Senhor que nos guie e ajude a ser uma Igreja mais sinodal e mais missionária (cf. Homilia na Missa de encerramento da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, 29/X/2023).

Por fim, voltemos o olhar para Maria, que obteve de Jesus o primeiro milagre precisamente numa festa de núpcias, em Caná da Galileia (cf. Jo 2, 1-12). O Senhor ofereceu aos noivos e a todos os convidados a abundância do vinho novo, sinal antecipado do banquete nupcial que Deus prepara para todos no fim dos tempos. Também hoje peçamos a sua intercessão materna para a missão evangelizadora dos discípulos de Cristo. Com o júbilo e a solicitude da nossa Mãe, com a força da ternura e do carinho (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 288), saiamos e levemos a todos o convite do Rei Salvador. Santa Maria, Estrela da evangelização, rogai por nós!

Roma – São João de Latrão, na Festa da Conversão de São Paulo, 25 de janeiro de 2024.

FRANCISCO

Fonte: Vatican News

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Campanha Missionária – Ide, convidai a todos para o banquete

O lema da Campanha Missionária será “Ide, convidai a todos para o banquete”, frase inspirada no texto de Mateus 22,9 e escolhida pela Papa Francisco. O tema será “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo”, nos fazendo permanecer em comunhão com a Igreja da América que se prepara para viver o 6º Congresso Missionário Americano, o CAM6, em novembro deste ano, em Porto Rico.

No ano passado, tivemos a alegria de viver na cidade de Manaus, o 5º Congresso Missionário Nacional. Com os corações ardentes e os pés a caminho reafirmamos nosso desejo de partir da Igreja local aos confins do mundo.

Este ano, queremos permanecer abertos para dialogar com diversos acontecimentos que marcam a caminhada da Igreja em nível local e universal. Recordamos da Amizade Social, à qual nos convidou a Campanha da Fraternidade; vivemos o Ano da Oração, em preparação ao Jubileu de 2025; sentimos forte o apelo para caminhar com a Igreja sinodal em missão; recordamos que em novembro de 2025 o Brasil sediará a COP30.

Compreendendo a Arte da Campanha

A arte da Campanha nos ajuda a contemplar a beleza do convite que cada discípulo missionário recebe de Jesus, de convidar todos para o banquete do reino.

Com a força do Espírito…

Dentre as inúmeras imagens que temos para expressar a realidade do Espírito na criação e na história da salvação, uma das mais eloquentes sempre será o ruach entendido como vento, sopro ou mesmo respiração. O Espírito é fonte de vida e criatividade, força de Deus que ordena, fecunda e leva à plenitude todas as coisas.

Na constituição da Igreja, é na força do Espírito que ela descobre sua identidade e sua missão. Pentecoste representa o início da missão oficial da Igreja nascente. Mas esta manifestação do dom de Deus não representa a “estreia” dessa Pessoa e seu agir, mas um momento privilegiado. Sem perder a dimensão da verticalidade deste ruach (do alto) é preciso entender também sua presença “de dentro” da história da salvação, como também é necessário salienta sua liberdade e permeabilidade. O Espírito não está preso ou limitado. Como nos ensina Santo Ambrósio: o homem é servidor (ministro), não temos domínio sobre o Espírito, Ele é liberdade.

Testemunhas de Cristo…

Nesta construção simbólica, temos uma figura circular que indica a fonte de toda a missionariedade da Igreja que é o Próprio Deus em sua vida trinitária (indicada pelo dourado e as cruz mimetizada neste fundo). Temos então três camadas simbólicas: o fundo dourado (Pai), a cruz estilizada (Filho) e a simbologia do vento em movimento (Espírito). Da Trindade recebemos esta força do Espírito que permeia a história e a vida de todos, exatamente por isso a opção por uma representação “horizontal” onde entendemos a ação do Espírito “a partir” de Pentecoste, mas que percorre e alcança todas as estradas pelas quais a Igreja deve ser testemunha de Cristo.

 

O Banquete do Reino…

Na indicação do lema da CM 2024 encontramos uma imagem que se coloca ao centro, alinhando o imperativo do chamado e a natureza deste anúncio:

O Banquete. Nesta imagem encontramos a forte mensagem de comensalidade.

Os momentos celebrativos e da partilha alegre dos alimentos, são mais do que uma prática social. Partilhar o alimento remonta comunhão e compromisso de respeito e afeto, estar à mesa com alguém é considera-lo um irmão, um igual, conceder valor e dignidade de família. Exatamente por isso, a imagem de banquete é tão eloquente na tradição bíblica, pois convidar para o banquete é sempre sinônimo de comunhão de vida e fraternidade.

Na construção visual desta arte para a Campanha Missionária, temos a imagem do banquete do Reino ao centro, ele representa esta comunhão universal que o próprio Deus deseja realizar com cada ser humano. O Reino de Deus será sempre este banquete festivo, ao qual, todos serão sempre convidados. Convite este que pode ser considerado o fundamento da missionariedade da Igreja.

Grande parte desta arte vem ocupada por um horizonte branco, que na verdade tem por objetivo representar as bordas de uma mensa (mesa de partilha). Como comensais temos todos os povos (representados pelas cores dos continentes) convidados a receber e estabelecer comunhão ao redor desta mesa do banquete do Reino. A posição da mão estendida em direção à mesa (repetida por todos) tem por objetivo indicar esta receptividade e ao mesmo tempo relação de vida. A mesa é muito mais ampla do que o número dos participantes e assim deve ser percebido pelo interlocutor da arte. Os espaços vazios devem mostrar a possibilidade que todos têm de fazer parte deste banquete. Nunca será mesa completa, mas sim mesa que se alarga para caber a todos.

Além destes lugares vazios à espera de cada homem e mulher, chamados a fazer parte desta família, a perspectiva do interlocutor diante desta imagem o coloca dentro da cena e diante da própria mesa. Temos uma mesa aberta, estamos diante da cena, mas também dentro dela. Estamos como que “do outro lado desta mesa do banquete”. A circularidade criar harmonia, equilíbrio e respeito pela diferença do outro, não há cantos, pois estão todos equidistantes deste mistério de amor. Estamos todos à mesma distancia e proximidade deste dom, que é o próprio Deus a si doar.

A simbologia do pão e do peixe, além de fazerem referencia clara à Pessoa de Cristo, como aquele que gera comunhão e se entrega para nos permitir fazer parte da festa, também alude a dimensão fraterna do milagre da comunhão. Não existe verdadeira comunhão sem o amor de Deus que nos une, sem o milagre que une as diferenças e preenche os vales que nos separam.

 

Fonte: Portal – pom.org.br

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A Missão revigora a Fé!

A Igreja é missionária por sua essência e tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai (AG 2). Em outubro celebramos o mês dedicado as missões. E em nossas liturgias estaremos refletindo a natureza missionária da Igreja e seus membros: os batizados. O Batismo nos faz “membros do Corpo de Cristo” e participantes de sua missão no mundo: “Ser sacramento de salvação” (LG). O Papa Francisco em sua mensagem para o mês missionário nos diz: “Ide e convidai (Cf Mt 22,9): a missão como ida incansável e convite par a festa do Senhor… Deus, grande no amor e rico de misericórdia, está sempre em saída a  o encontro de cada ser humano para chamar a felicidade do seu Reino, apesar da indiferença ou da recusa”.

A partir da cruz de Jesus, aprendemos a lógica divina da oferta de nós mesmos (1Cor 1,17-25) como anunciadores do Evangelho para a vida do mundo (Jo 3,16). O Mês das Missões deve lembrar a cada um de nós que é missão de todo batizado ser evangelizador. Não é cristão de verdade quem não fala de Cristo e da Igreja. “A Missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá a ela novo entusiasmo e novas motivações. É doando a fé, que se fortalece! A nova evangelização dos cristãos também encontrará inspiração e apoio no empenho pela Missão universal” (São João Paulo II).

“No inicio do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Bento XVI). Jesus constituiu a igreja porque enviou o Espírito Santo a um grupo que tinha se formado, pela fé, em torno Dele e lhe deu sua missão. O Evangelho é uma Pessoa: Jesus Cristo. “Evangelizar, constitui de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na Santa Missa, que é o memorial da sua Morte e Ressurreição.” (Evangelii Nuntiandi, 14)

Em nossa diocese vemos claramente o esforço missionário desempenhado em nossa Cidade desde o seu inicio. Recebemos padres, religiosos e leigos que anunciaram o Evangelho com muita alegria e suscitaram vários trabalhos pastorais e pequenas comunidades, que vieram depois a se tornarem matrizes paroquiais. Neste mês missionário é tempo de reanimar a missão em nossa Igreja e também tempo de agradecer. Hoje os frutos da missão aqui realizada impulsiona a nossa Igreja particular de Guarulhos para o mundo, enviando missionários para anunciarem com alegria o Evangelho.

Neste Mês da Padroeira do Brasil, todas as nossas paróquias celebram a Imaculada Conceição Aparecida em 12 de outubro e inspiram-se em Maria no seu SIM fecundo e missionário. Roguemos a Deus, por sua maternal intercessão, as bênçãos de Deus sobre o povo brasileiro, sobre os nossos governantes e sobre a nossa jornada missionária que durará até a vinda definitiva do Senhor. Coragem!

 

Pe. Marcelo Dias Soares

Coordenador Diocesano de Pastoral