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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"A Esperança não decepciona" (Rm 5,5)

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Artigos Falando da Vida

‘‘Quem sou eu para julgar?’’

Quando a humildade se torna sinônimo de grandeza.

No dia 21 de abril deste ano, o mundo acordou com a triste notícia do falecimento do Papa Francisco. Ele se destacou pela coragem e habilidade de comunicação, enfrentando temas difíceis de serem abordados, sobretudo por ser o líder máximo da igreja católica. Quando questionado sobre assuntos conflitantes com a doutrina católica, buscava sempre enfatizar os valores da vida humana. Uma das suas maiores características era a solidariedade e a promoção dos direitos de todos, sempre com a postura de acolhimento e empatia.

Quem sou eu para julgar? Essa frase define bem a essência do Papa Francisco e se tornou título de um livro de sua autoria, que reúne suas reflexões e ensinamentos sobre o tema do julgamento e da misericórdia. O livro se baseia em suas homilias e discursos, abordando a importância de não julgar os outros e de promover uma cultura de acolhimento e compaixão. Exemplo disso, foi quando questionado sobre a posição da igreja em relação aos homossexuais, ele respondeu: “Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la”?

Essa frase é uma aula sobre humildade e tolerância, principalmente na época em que estamos vivendo o retorno de ideias fascistas que ameaçam o mundo. Discursos de ódio e intolerância, têm se tornado frequentes em quase todos os países e se propagam nas redes sociais, colocando em risco democracias históricas e a convivência pacífica entre povos e nações. Quem julga se reveste de arrogância e se supõe melhor do que o outro. Ideias desse tipo, não levam em consideração que somos todos humanos, habitamos o mesmo planeta e somos filhos de um mesmo Deus.

Creio que a associação do Papa Francisco à São Francisco de Assis não esteja só no nome. Podemos ver a sua identidade franciscana na sua simplicidade, humildade e senso de justiça. Também na sua coragem na defesa das minorias, na promoção da paz e no diálogo com outras religiões. A sua Encíclica Laudato si é um verdadeiro tesouro que todas as pessoas deveriam ler e estudar. Lá, podemos ver São Francisco no Papa Francisco, denunciando os crimes que estamos cometendo contra a natureza, podemos entender que a ambição humana está destruindo a vida. Como seria bom se tivéssemos um pouco de Francisco em cada um de nós. A mãe terra, agradeceria e como verdadeiros irmãos, poderíamos cantar: Laudato si, Louvado Seja.

 

Romildo R. Almeida

Psicólogo clínico

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Artigos Bíblia

“Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!” (Lc 1,28)

O objetivo do presente artigo é tratar sobre a saudação do enviado de Deus a Maria: “Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Além disso, aborda a importância de manter a esperança e a alegria, fundamentadas em Cristo Jesus, diante de um cenário social marcado pelo individualismo, isolamento e desvalorização dos valores comunitários. Traz palavras do Papa Francisco que motivam os cristãos a serem mensageiros da Alegria do Evangelho.

Para dar sentido e renovar a alegria dos missionários/as do Caminho, como verdadeiros sujeitos eclesiais, “os cristãos precisam recomeçar a partir de Cristo, a partir da contemplação de quem nos revelou em seu mistério a plenitude do cumprimento da vocação humana e de seu sentido” (Documento de Aparecida, 41).

A Bem-Aventurada Virgem Maria escutou a Palavra, acolheu-a no coração e deu frutos. Ela é a primeira discipula-missionária cristã. A discípula mais perfeita do Senhor. Seu itinerário é a partir de Cristo. “Ela viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e depois dos discípulos, sem estar livre da incompreensão e da busca constante do projeto do Pai” (Documento de Aparecida, 266).

Diante disso, Maria, quando foi saudada pelo enviado de Deus, tentou  entender o significado daquela saudação (cf. Lc 1,29): “Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!” (Lc 1,28).

A saudação que está no Evangelho de Lucas 1,28: “Alegra-te”, é bem conhecida pelos cristãos, por estar no início da Oração da Ave-Maria. A saudação usual em grego (chaíre) corresponde ao latim ave (seja próspero) e ao hebraico shalom (paz) – tem a mesma raiz de “se alegrar” e “encontrar graça” (Lc 1,28.30). Em grego, as palavras “graça”, “gratuidade”, “bondade”, “beleza” e “dom” são aparentadas entre si: descrevem Deus e o seu relacionamento conosco.

“Alegre-se, Maria” (cf. Lc, 1,28) está no contexto da Encarnação de Jesus e também mostra a vocação de Maria e sua resposta generosa. Maria é chamada a participar da alegria do novo tempo, que começa com a vinda de Jesus (Lc 1,14.44.58;2,10). Compromisso que nasce do Batismo, isto é,  de todos os cristãos – Povo de Deus a caminho.

A alegria não foi somente para Maria, mas para o Povo de Deus que ela representa. “Com razão afirmam os santos Padres que Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e com inteira obediência. Como diz Santo Irineu, ‘pela obediência, ela tornou-se causa de salvação para si mesma e para todo o gênero humano” (Lumen Gentium, 56).

A expressão “o Senhor está contigo” (Lc 1,28) quer dizer: tu terás uma missão exigente, mas o Senhor estará ao teu lado, dando-lhe força para realizar o que ele te pede.

A alegria de Maria, anunciada pelo enviado de Deus, expressa pelo evangelista Lucas, irrompe da ação do Espírito Santo que a faz conceber Jesus. Portanto, a Mãe de Deus, como mulher de fé, ao cantar o seu Magnificat louva a Deus pela salvação recebida ao mesmo tempo que recorda a ação e Deus e a sua fidelidade aos pequenos e aos pobres.

No Magnificat,  os cristãos se deparam com a espiritualidade de Maria. Por isso,  a Bem-Aventurada Virgem Maria, discípula missionária de Jesus Cristo, é modelo para todos os cristãos que, alicerçados na esperança, encontram, na Mãe de Deus, a sua testemunha mais fiel.

Diante do atual contexto social atual, onde a realidade para o ser humano se tornou cada vez mais sem brilho e complexa, verifica-se uma forte tendência ao individualismo. Os meios de comunicação invadiram todos os espaços e conversas, inclusive na intimidade dos lares, estimulando competições e distorções dos valores da vida e dos relacionamentos.

A falta de cuidado com a Ecologia Integral, criação de Deus; a ausência de espírito comunitário que provoca isolamento; o desinteresse pelo zelo e cuidado com a dignidade da pessoa humana; e o medo que paralisa, são alguns dos aspectos que dificultam uma dinâmica frutífera na vida comunitária.

Estes, entre outros, aspectos da atualidade tem tentado “roubar” a alegria e a esperança de muitos cristãos. É preciso resistir às tentações e permanecer com Jesus, na profecia e na resistência.

O Santo padre, Papa Francisco comentou que pouco a pouco, o que ele denominou de “psicologia do túmulo”, transforma os cristãos em múmias de museu. Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração como “o mais precioso elixir do demônio” (Evangelli Gaudium, 83).

Para o pontífice, os cristãos chamados para iluminar e comunicar vida, acabam por se deixar cativar por coisas que só geram escuridão e cansaço interior e corroem o dinamismo apostólico. Por tudo isto, insiste Francisco: “Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização!”. Ao perceber as tristezas e aridez no que se concerne à fé, “Não deixem que lhes nos roubem a esperança” e “Não deixemos que nos roubem a Comunidade” (Evangelli Gaudium 86, 86 e 89). Aos jovens, disse o Pontífice: “Não tenham medo de sonhar grandes coisas”.

Se a alegria que vem do Senhor muitas vezes é substituída por prazeres momentâneos e passageiros, por medos e desafios, “olhemos para Maria, voltemos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto”, enquanto caminhamos neste mundo como Peregrinos de Esperança, rumo a uma Igreja Povo de Deus, em estilo sinodal.

“Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você”. Certamente Maria conhecia o Salmos 100;  Salmo 16,11; Salmo 33,20-22; Salmo 32,11 que tratam sobre a Alegria. Você não os conhece? Será uma excelente oportunidade para ler, meditar e partilhar esta alegria com sua família, seus amigos e na Comunidade: Povo de Deus, missionários da alegria.

 

Celia Soares de Sousa,

Cristã leiga e teóloga

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Artigos Vocação e Seminário

Um socorro de Maria

O mês de maio é tradicionalmente relacionado com a pessoa e com a presença da Virgem Maria na vida da Igreja e de seu povo. Nossa Senhora “cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira” (Lumen Gentium, 62).

De fato, a Virgem Maria tem sido o refúgio de tantos cristãos ao longo das eras e, em nossa Diocese, ela tem sido um socorro em uma carência muito relevante: quem aqui não conhece a intercessão de Maria, sob o título de Nossa Senhora das Vocações, para que as vocações possam ser frutuosas e santas em nossas comunidades?

Com uma devoção nascida e presente no Seminário Diocesano de Guarulhos em um tempo que a Diocese apresentava poucas vocações sacerdotais, foi a mediação da Senhora das Vocações e a força da oração do Povo de Deus, que reascendeu a chama vocacional nos diversos jovens de nossas comunidades.

A Mãe de Deus sempre socorre seus filhos que pedem com clemência por socorro. E esse socorro pode ser manifestado de diversas urgências – inclusive pela escassez de vocações.

Você já pediu a intercessão da Virgem Maria para que o Senhor da messe envie muitas e santas vocações para a nossa Diocese? Convido todos a nos dirigirmos a Santa Mãe de Deus e pedirmos seu auxílio e amparo para que não faltem operários para a construção do Reino dos Céus através das diversas vocações.

 

Padre Edson Vitor

Coord. Serviço de Animação Vocacional

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Artigos Vida Presbiteral

Papa Francisco combateu o bom combate da Fé!

“Os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.” (Mt 13, 43)

O dia 21 de abril amanheceu como todos os dias, mas nem tanto assim…
Partiu para junto de Deus, levando na bagagem de sua alma,
Sonhos enraizados nas entranhas de seu coração, eu creio.

Deixou-nos a lembrança de sonhos, o sorriso cândido dos lábios,
Olhar de ternura, de esperança que captava os finos detalhes
Da pureza de uma criança aos de rugas sofridas de um idoso.

Com ele sonhamos um mundo sem conflitos avassaladores,
Que desterram famílias, que partem por vezes para lugar nenhum.
Um grito profético para o fim de uma “guerra mundial em pedaços”.

Memoráveis lições de superação da dor, da enfermidade.
Carregou com serenidade e confiança a cruz cotidiana,
Com fé inquebrantável, esperança enraizada, caridade inflamada.

Sua vida marcada pela simplicidade, despojamento, sem “glamoures”,
Despido de todas honras, e revestido da humildade e simplicidade,
Pescador de homens, de fato, pelo Senhor, coração seduzido.

Seu canto de louvor pela criação ecoará como do outro Francisco,
Nos ajudou a reencantar o mundo, no carinho pela obra do Criador,
Por uma nova Economia e o necessário cuidado de nossa Casa Comum.

Entra Francisco na morada que o Senhor prometeu,
Edificada pelas inúmeras obras de amor vivido,
No Altar do Senhor eternizadas, em cada Eucaristia celebrada.

A Deus rendemos honra, glória, poder e louvor
Aqui ficamos, e enquanto ficamos, em suave Memória.
Edificando uma Igreja Sinodal, Misericordiosa e Missionária.

Somos uma Igreja em saída para as periferias,
Tua exortação gravada como selo para sempre ficou.
Descanse em paz, a coroa da glória receba…

Cremos que o Espírito Santo que te animou e conduziu,
Conosco está, e não nos deixará órfãos.

E há de iluminar para sábia e santa escolha de seu sucessor.

Amém.

Dom Otacílio F. Lacerda

Bispo da Diocese de Guanhães – MG

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Artigos Destaques Diocese Liturgia PASCOM

Mensagem para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2025

Na mensagem, o Santo Padre ressaltou a necessidade de “desarmar a comunicação”, pois a sua real função é gerar esperança e não “medo e desespero, preconceitos e rancores”.

Outro ponto apontado foi a necessidade de atenção para a “dispersão programada da atenção” que, segundo o Papa Francisco, gera um cenário preocupante de distorção da realidade baseada somente em interesses coletivos e individuais de minorias que querem ser predominantes.

A mensagem representa para nós, pasconeiros e pasconeiras, comunicadores católicos, o combustível para seguir a nossa missão de levar sempre a esperança nas comunicações, no qual não são apenas mensagens sem sentido mas conteúdos que representam a nossa referência de esperança: o rosto do Cristo Ressuscitado.

Confira na íntegra:

Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações (cf. 1 Pd 3,15-16)

Queridos irmãos e irmãs!

Neste nosso tempo marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes, dirijo-me a vós consciente do quanto, hoje mais do que nunca, é necessário o vosso trabalho de jornalistas e comunicadores. Precisamos do vosso compromisso corajoso em colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo.

Ao pensar no Jubileu que estamos a celebrar como um período de graça em tempos tão conturbados, com esta Mensagem gostaria de vos convidar a ser comunicadores de esperança, começando pela renovação do vosso trabalho e missão segundo o espírito do Evangelho.

Desarmar a comunicação

Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir. Já várias vezes insisti na necessidade de “desarmar” a comunicação, de a purificar da agressividade. Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans. Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, todos constatamos o risco de prevalecer o paradigma da competição, da contraposição, da vontade de dominar e possuir, da manipulação da opinião pública.

Há ainda um outro fenómeno preocupante: poderíamos designá-lo como a “dispersão programada da atenção” através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa perceção da realidade. Acontece portanto que assistimos, muitas vezes impotentes, a uma espécie de atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro. Parece que, para a afirmação de si próprio, seja indispensável identificar um “inimigo” a quem atacar verbalmente. E quando o outro se torna um “inimigo”, quando o seu rosto e a sua dignidade são obscurecidos de modo a escarnecê-lo e ridicularizá-lo, perde-se igualmente a possibilidade de gerar esperança. Como nos ensinou D. Tonino Bello, todos os conflitos «encontram a sua raiz no desvanecer dos rostos» [1]. Não podemos render-nos a esta lógica.

Na verdade, ter esperança não é de todo fácil. Georges Bernanos dizia que «só têm esperança aqueles que ousaram desesperar das ilusões e mentiras nas quais encontravam segurança e que falsamente confundiam com esperança. […] A esperança é um risco que é preciso correr. É o risco dos riscos» [2]. A esperança é uma virtude escondida, pertinaz e paciente. No entanto, para os cristãos, a esperança não é uma escolha, mas uma condição imprescindível. Como recordava Bento XVI na Encíclica Spe salvi, a esperança não é um otimismo passivo, antes pelo contrário, é uma virtude “performativa”, capaz de mudar a vida: «Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova» (n. 2).

Dar com mansidão a razão da nossa esperança

Na Primeira Carta de São Pedro (cf. 3, 15-16), encontramos uma síntese admirável na qual se relacionam a esperança com o testemunho e a comunicação cristã: «no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito». Gostaria de me deter em três mensagens que podemos extrair destas palavras.

«No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor». A esperança dos cristãos tem um rosto: o rosto do Senhor ressuscitado. A sua promessa de estar sempre connosco através do dom do Espírito Santo permite-nos esperar contra toda a esperança e ver, mesmo quando tudo parece perdido, as escondidas migalhas de bem.

A segunda mensagem pede-nos para estarmos dispostos a dar razão da nossa esperança. É interessante notar que o Apóstolo convida a dar conta da esperança «a todo aquele que vo-la peça». Os cristãos não são, antes de mais, aqueles que “falam” de Deus, mas aqueles que fazem ressoar a beleza do seu amor, uma maneira nova de viver cada pequena coisa. É o amor vivido que suscita a pergunta e exige uma resposta: porque é que viveis assim? Porque é que sois assim?

Por fim, na expressão de São Pedro encontramos uma terceira mensagem: a resposta a este pedido deve ser dada “com mansidão e respeito”. A comunicação dos cristãos – e eu diria até a comunicação em geral – deve ser feita com mansidão, com proximidade: eis o estilo dos companheiros de viagem, na peugada do maior Comunicador de todos os tempos, Jesus de Nazaré, que ao longo do caminho dialogava com os dois discípulos de Emaús, fazendo-lhes arder os corações através do modo como interpretava os acontecimentos à luz das Escrituras.

Por isso, sonho com uma comunicação que saiba fazer de nós companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs nossos para, em tempos tão conturbados, reacender neles a esperança. Uma comunicação que seja capaz de falar ao coração, de suscitar não reações impetuosas de fechamento e raiva, mas atitudes de abertura e amizade; capaz de apostar na beleza e na esperança mesmo nas situações aparentemente mais desesperadas; de gerar empenho, empatia, interesse pelos outros. Uma comunicação que nos ajude a «reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos da nossa casa comum» (Carta enc. Dilexit nos, 217).

Sonho com uma comunicação que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança. Martin Luther King disse: «Se eu puder ajudar alguém enquanto caminho, se eu puder alegrar alguém com uma palavra ou uma canção… então a minha vida não terá sido vivida em vão» [3]. Para isso, precisamos de nos curar da “doença” do protagonismo e da autorreferencialidade, evitar o risco de falarmos de nós mesmos: o bom comunicador faz com que quem ouve, lê ou vê se torne participante, esteja próximo, possa encontrar o melhor de si e entrar com estas atitudes nas histórias contadas. Comunicar deste modo ajuda a tornarmo-nos “peregrinos de esperança”, como diz o lema do Jubileu.

Esperar juntos

A esperança é sempre um projeto comunitário. Pensemos, por um momento, na grandeza da mensagem deste ano de graça: estamos todos – realmente todos! – convidados a recomeçar, a deixar que Deus nos reerga, nos abrace e inunde de misericórdia. E entrelaçadas com tudo isto estão a dimensão pessoal e a dimensão comunitária. É em conjunto que nos pomos a caminho, peregrinamos com tantos irmãos e irmãs, e, juntos, atravessamos a Porta Santa.

O Jubileu tem muitas implicações sociais. Pensemos, por exemplo, na mensagem de misericórdia e esperança para quem vive nas prisões, ou no apelo à proximidade e à ternura para com os que sofrem e estão à margem. O Jubileu recorda-nos que todos os que se tornam construtores da paz «serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). E, deste modo, abre-nos à esperança, aponta-nos a necessidade de uma comunicação atenta, amável, refletida, capaz de indicar caminhos de diálogo. Encorajo-vos, portanto, a descobrir e a contar tantas histórias de bem escondidas por detrás das notícias; a imitar aqueles exploradores de ouro que, incansavelmente, peneiram a areia em busca duma pequeníssima pepita. É importante encontrar estas sementes de esperança e dá-las a conhecer. Ajuda o mundo a ser um pouco menos surdo ao grito dos últimos, um pouco menos indiferente, um pouco menos fechado. Que saibais sempre encontrar as centelhas de bem que nos permitem ter esperança. Este tipo de comunicação pode ajudar a tecer a comunhão, a fazer-nos sentir menos sós, a redescobrir a importância de caminhar juntos.

Não esqueçais o coração

Queridos irmãos e irmãs, perante as vertiginosas conquistas da técnica, convido-vos a cuidar do coração, ou seja, da vossa vida interior. O que é que isto significa? Deixo-vos algumas pistas.

Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro; falai ao coração das mulheres e dos homens ao serviço de quem desempenhais o vosso trabalho.

Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos.

Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade.

Dai espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida.

Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo.

Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro.

Tudo isto podeis e podemos fazê-lo com a graça de Deus, que o Jubileu nos ajuda a receber em abundância. Por isto, rezo por cada um de vós e pelo vosso trabalho, e vos abençoo.

Roma, São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2025.

Francisco

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Artigos Enfoque Pastoral

“Bem-aventurada Virgem Maria na vida da Igreja”

Como discípulos fervorosos, nossos corações ecoam o ‘sim’ de Maria, aquela que acolhemos não somente como Mãe amorosíssima, mas também como o modelo sublime do ser Igreja. Nela, agraciada em plenitude, contemplamos o ideal da comunidade dos fiéis, incessantemente renovada pela Páscoa gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo, e enviada ao mundo como testemunha viva do Reino que Ele instaurou.

Nossa amada diocese irradia a graça divina, que flui abundantemente através de Maria, Mãe de Deus e nossa terna Mãe. Assim também nossa cidade, adornada pela proteção de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, reconhece nela seu farol e guia seguro. Com entusiasmo e fé renovada, celebremos este mês mariano em cada uma de nossas comunidades e em todas as nossas ações pastorais.

Em nosso enfoque pastoral deste mês, voltemos nosso olhar para a vida e o ministério do Papa Francisco. Desde 2013, seu pontificado ressoa como um eloquente chamado à misericórdia e à proximidade com os mais necessitados. Sua ênfase na Igreja como um “hospital de campanha” para aqueles feridos pelas tribulações da vida e sua insistente opção preferencial pelos pobres tocam profundamente a consciência da humanidade. Através de encíclicas luminosas como Laudato Si’ sobre o cuidado da Casa Comum e Fratelli Tutti sobre a fraternidade e a amizade social, Francisco desafia as estruturas globais de egoísmo e injustiça, convidando a um diálogo ecumênico e inter-religioso sincero e fraterno. Sua simplicidade evangélica, seus gestos pastorais concretos e sua constante exortação a uma Igreja menos autorreferencial e mais ardentemente missionária marcam um pontificado que buscou reformar e revitalizar a fé no complexo mundo contemporâneo.

Vivenciaremos neste mês mariano um momento de profunda significância para toda a Igreja: a eleição de um novo Papa. O conclave, tempo denso de expectativa e fervorosa oração, concentra os olhares do mundo na austera beleza da Cidade do Vaticano. A solene reunião dos cardeais eleitores na Capela Sistina, sob o olhar eterno do Juízo Final de Michelangelo, é imersa em um ritual milenar, onde a busca pela vontade divina se entrelaça com a grave responsabilidade de escolher o sucessor de Pedro. A atmosfera é carregada de solenidade e profunda reflexão, enquanto os cardeais, em recolhimento e segredo, depositam seus votos, buscando discernir aquele que o Espírito Santo inspirar a liderar a Igreja Católica neste tempo desafiador. A fumaça que emana da chaminé da Capela Sistina, ora densa e negra, ora anunciadora de esperança em sua brancura, simboliza a espera ansiosa da humanidade por um novo pastor, um guia ungido para conduzir o rebanho de Cristo. A eleição do Papa transcende a mera escolha de um líder religioso; representa a viva esperança de um farol espiritual que inspire a fé, promova incansavelmente a paz e defenda, com coragem e profecia, os valores perenes da justiça e da compaixão.

Como nos recorda o Papa São João Paulo II em sua magistral encíclica Redemptoris Mater: “Maria está presente na história da salvação.” Com júbilo, portanto, reconheçamos a presença constante e amorosa de Nossa Senhora em nossa Igreja Católica, aquela que vela incessantemente por cada um de seus filhos e filhas e continua a interceder por nós, com seu amor materno, junto ao seu Filho dileto, Jesus Cristo. Que a alegria transbordante do Cristo Ressuscitado ilumine abundantemente e fortaleça a todos em seus diversos e preciosos trabalhos pastorais em nossa amada Igreja diocesana.

 

Pe. Marcelo Dias Soares

Coordenador Diocesano de Pastoral

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Peregrinos da Esperança ou Peregrinos de Esperança? – Parte 3

Nós, cristãos católicos, neste Ano Jubilar somos chamados a ser, sim, Peregrinos de Esperança. O Peregrino da Esperança é aquele que está em busca da Esperança que não decepciona. O Peregrino de Esperança já possui a Esperança e, portanto, dela transborda e manifesta os sinais da Esperança e a significa para a humanidade.

De fato, “…justificados pela fé, estamos em paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não é só. Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança a virtude comprovada, a virtude comprovada a esperança. E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. (Rm 5,1-5)

Neste texto que inspira o Jubileu da Esperança, a primeira coisa que se nos apresenta e nos diferencia em sermos Peregrinos de Esperança e não Peregrinos da Esperança, é a outra virtude teologal que nele aparece: a fé. Duas vezes aparece a expressão “pela fé”. O próprio apóstolo Paulo em outros textos diz que a fé vem pelo ouvido e pela pregação. A fé que temos foi em nós infusa pela ação do Espírito Santo através da pregação da Igreja que ouvimos com nossos ouvidos.

A fé é a nossa resposta de adesão àquilo que nos foi pregado e entrou de modo avassalador em nossos corações, pois o anúncio da salvação por Jesus Cristo proporcionou-nos o encontro, não como uma ideia ou ideologia, mas com a pessoa deste nosso Deus, Senhor e Salvador e, que, de alguma maneira, transformou a nossa existência. A nossa “justificação” vem através desta fé, pois nossa adesão ao Senhor Jesus, faz-nos sentir amados e perdoados, não obstante a situação de morte e infelicidade que nos colocaram os nossos pecados. Isso, seguramente, não aconteceu somente uma vez, mas várias vezes, sempre que esta pregação reverberou e ainda reverbera dentro de nós.

Então, a primeira coisa que nos faz Peregrinos de Esperança é a nossa fé. A fé que vence o mundo, como nos diz São João. Esta fé tem um conteúdo, possui uma maneira de enxergar o mundo com os olhos de Deus e acreditar no amor do Pai, aquele amor que o “pai da mentira”, desde o princípio tenta fazer com que duvidemos. A vivência da nossa fé nos faz testemunhas do amor que é mais forte do que a morte. Nenhuma situação de morte neste mundo pode destruir este amor que acreditamos.

Convido a cada um e a cada uma a fazer memória em sua vida daquele ou daqueles momentos em que o anúncio de Jesus fez com que você acreditasse no amor, pois se sentiu amado e amada por Deus. Este é um primeiro passo para entendermos a nossa identidade de Peregrinos de Esperança e não de Peregrinos da Esperança.

A convocação e o anúncio deste Jubileu foram feitos pelo grande Peregrino de Esperança do nosso tempo: o Papa Francisco que terminou a sua peregrinação no último 21 de abril, não sem antes, no dia anterior, domingo da Páscoa da Ressurreição, ao se fazer presente na Praça de são Pedro, testemunhar que, mesmo na debilidade, podemos e somos Peregrinos de Esperança.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O. Cist.

Bispo Diocesano

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Artigos Editorial

Uma Igreja “Mãe” e “discípula” de Jesus Cristo

Caríssimos irmãos e irmãs, peregrinos de esperança! Nesta edição o tema central é a presença da Virgem Maria na história da Salvação e na vida da Igreja, com destaque, como não poderia ser diferente, para as mensagens do pontificado do Papa Francisco que encerrou sua missão como sucessor de Pedro na história da Igreja.

Um ser humano com inúmeros atitudes divinas: o testemunho da pobreza: o amor aos necessitados, a capacidade de diálogo com todos; a capacidade de acolher e não julgar; a capacidade de servir e promover inúmeras iniciativas locais e mundiais como a programação do jubileu da esperança. O marco do seu ministério papal também foi escolher uma Igreja dedicada à Nossa Senhora, chamada Basílica de Santa Maria Maggiore para o seu sepultamento, confirmando a necessidade de uma Igreja “Mãe” e “Discípula” como o Senhor quer, expressão utilizada por Dom Andrés Stanonik, bispo de Reconquista, Argentina, na apresentação de um dos documentos da Quinta Conferência do Episcopado Latino- americano e do Caribe realizada em Aparecida, que afirma ainda: Aquela que foi mãe e mestra de Jesus em sua infância continua para nós “ícone da Igreja que é Mãe e Família dos discípulos de seu Filho…, imagem da ternura da Igreja que acolhe os discípulos de Jesus… Mas, se é Mestra, é porque também soube ser discípula: “foi, antes de tudo, a primeira e mais perfeita discípula que desde a Encarnação gravou em seu coração o Evangelho (Lc 2,19).

Quando abrimos os Evangelhos para tentar captar o rosto do discípulo que Jesus queria e alcançar os caminhos traçados por Jesus Mestre, descobrimos que é preciso não somente estudar os textos em suas colocações próprias, mas também contemplar aquela que é o ícone, a imagem que sintetiza o discípulo perfeito: Maria de Nazaré. A contemplação deve estar acompanhada do estudo bíblico, mais ainda, deve partir dele. Deve-se voltar às fontes da Escritura sempre, regressando em cada ocasião com o cântaro cheio de novas intuições e moções do Espírito.”

A partida de Francisco aconteceu em meio a realização da Semana Santa e a Festa da Ressurreição em nossas Paróquias e comunidades, tão bem vivida cada momento como é possível perceber nas imagens divulgadas nas diversas redes sociais, aliás podemos dizer que durante duas semanas consecutivas a Fé ocupou a centralidade das mídias religiosas e laicas, com muita excelência, partilhando com mansidão a esperança que está no coração da Igreja e deve atingir toda a sociedade.

Para isso continuar celebraremos o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais com forte mensagem do Papa Francisco, porém com a presença do novo Santo Padre escolhido pelo Espírito Santo através nos cardeais no Conclave. Sob a Igreja universal em festa pela eleição do novo papa, viveremos a ordenação de novos diáconos para a Diocese de Guarulhos e a festa de Nossa Senhora das Vocações e juntos vamos sob o olhar de Maria, continuar a missão de sermos discípulos de Jesus Cristo.

Vivia Nossa Senhora, Viva a missão do Papa Francisco, Viva a chegada no novo Papa e Viva a Igreja Católica Apostólica Romana.

Padre Marcos Vinicius Clementino

Jornalista e Diretor Geral

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Conclave para eleger o novo Papa começa em 7 de maio

“Extra omnes”. A histórica fórmula em latim que marca o início do fechamento à chave da Capela Sistina será pronunciada pelo mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias na próxima quarta-feira, 7 de maio. Esse é o dia de início do Conclave. A data foi definida na manhã de segunda-feira (28/04) pelos cerca de 180 cardeais presentes (pouco mais de 100 eleitores) reunidos na quinta Congregação Geral no Vaticano.

“Extra omnes”, portanto. “Fora todos” aqueles que não são admitidos na reunião dos cardeais convocados para eleger o próximo Pontífice da Igreja universal. Os purpurados eleitores, com menos de 80 anos de idade, ficarão isolados do resto do mundo dentro da Capela Sistina até a fumaça branca e o “Habemus Papam”, a outra famosa fórmula latina pronunciada da Loggia delle Benedizioni pelo cardeal protodiácono para anunciar ao mundo a escolha do novo Papa.

Não há previsão de conclusão, naturalmente, e entre os próprios cardeais eleitores há aqueles que esperam um Conclave curto, considerando também o Jubileu em andamento, e aqueles que, ao contrário, preveem tempos mais longos para permitir que os cardeais “se conheçam melhor”, tendo Francisco, em seus 10 Consistórios, agregado ao Colégio Cardinalício purpurados de todos os cantos do globo.

As normas da Universi Dominici Gregis

O cronograma para o início do Conclave é estabelecido pelas normas da constituição apostólica de João Paulo II, Universi Dominici Gregis, atualizada por Bento XVI com o Motu Proprio de 11 de junho de 2007 e com a mais recente de 22 de fevereiro de 2013. De acordo com a Constituição, o Conclave – do latim cum clave, que significa fechado à chave – começa entre o 15º e o 20º dia após a morte do Papa, depois dos Novendiali, os 9 dias de celebrações em sufrágio do Pontífice falecido. Mais detalhadamente, a partir do momento em que a Sé Apostólica é legitimamente vacante, os cardeais eleitores presentes devem esperar 15 dias completos pelos ausentes, até um máximo de 20 dias, se houver motivos sérios. O Motu Proprio Normas nonnullas, além disso, dá ao Colégio de Cardeais a faculdade de antecipar o início do Conclave se todos os eleitores estiverem presentes.

Cardeais das partes mais distantes do mundo ainda são esperados em Roma nestes dias. Na Cidade Eterna, eles serão hospedados na Casa Santa Marta, a Domus do Vaticano onde Francisco decidiu morar, renunciando ao apartamento papal.

A missa “pro eligendo Pontifice” e a procissão para a Sistina

Na manhã da quarta-feira, 7 de maio, todos concelebrarão a solene missa “pro eligendo Pontifice”, a celebração eucarística presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, que convidará os irmãos a se dirigirem à Sistina à tarde com estas palavras: “toda a Igreja, unida a nós na oração, invoca constantemente a graça do Espírito Santo, para que seja eleito por nós um digno Pastor de todo o rebanho de Cristo”.

Dali, então, a evocativa procissão até a Capela Sistina, dentro da qual os cardeais entoarão o hino Veni, creator Spiritus e farão o juramento. Será necessária uma maioria qualificada de dois terços para eleger o Papa. Haverá quatro votações por dia, duas pela manhã e duas à tarde, e após a 33ª ou 34ª votação, no entanto, haverá um segundo turno direto e obrigatório entre os dois cardeais que receberam mais votos na última votação. Mesmo nesse caso, no entanto, sempre será necessária uma maioria de dois terços. Os dois cardeais restantes não poderão participar ativamente da votação. Se os votos para um candidato atingirem dois terços dos eleitores, a eleição do Papa será canonicamente válida.

A eleição do novo Papa

Nesse momento, o último da ordem dos Cardeais diáconos convoca o mestre das Celebrações Litúrgicas e o secretário do Colégio Cardinalício. Ao recém-eleito será questionado: Acceptasne electionem de te canonice factam in Summum Pontificem? (Aceita a sua eleição canônica como Sumo Pontífice?) e, em caso afirmativo, será perguntado: Quo nomine vis vocari? (Como quer ser chamado?), pergunta à qual responderá com seu nome pontifício. Após a aceitação, as cédulas são queimadas, de modo que a clássica fumaça branca poderá ser vista da Praça São Pedro. No final do Conclave, o novo Pontífice se retira para a “Sala das Lágrimas”, ou seja, a sacristia da Capela Sistina, onde vestirá pela primeira vez os paramentos papais – preparados em três tamanhos – com os quais se apresentará à multidão de fiéis na Praça São Pedro.

Após a oração pelo novo Pontífice e a homenagem dos cardeais, o Te Deum é entoado, marcando o fim do Conclave. Em seguida, o anúncio da eleição, o Habemus papam e a aparição do Papa que dará a solene bênção Urbi et Orbi.

Salvatore Cernuzio – Vatican News

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O que a série ‘‘Adolescência’’ pode nos ensinar?

A série Adolescência em cartaz na Netflix, tem alcançado grande repercussão não só na mídia, mas também entre pais e educadores e pode ser um grande auxílio para ampliar o debate em torno da violência contra mulheres. A série é composta de quatro episódios e é centrada em torno de Jamie, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma adolescente da escola em que estudavam. A história, apesar de ser uma ficção, foi inspirada em vários casos que acontecem em todo mundo.

O personagem principal, está fora dos padrões que estamos acostumados a ver quando o tema é violência. Nada de garotos de periferia, filhos de pais separados, ou drogas. Ao contrário, é um adolescente de classe média que recebeu carinho e atenção dos pais, porém com um detalhe: os envolvidos, frequentam comunidades virtuais da internet que difundem informações misóginas, isto é, de ódio contra as mulheres integrando o que se chama de machosfera, (comunidades masculinas que se opõe ao feminismo). Esses jovens pertencem ao grupo “Incel” que significa involuntary celibates e em tradução para o português refere-se à celibatários involuntários.

Os membros do Incel, acreditam que são rejeitados pela maioria das mulheres e por esse motivo, não conseguem se relacionar afetiva ou sexualmente. Eles citam a regra 80/20 que explica que 80% das mulheres só se interessam por 20% dos homens e que por culpa delas, estariam forçados a ser celibatários. Na visão deles, essa ideia dá justificativa para a prática de violência contra as mulheres (Actum Samtum) e aqueles que a praticam não são criminosos e sim heróis. Muitos crimes contra mulheres e até massacres em escolas, são gerados a partir de fóruns de discussão nessas comunidades virtuais.

A série surpreende ao mostrar um universo totalmente desconhecido pelos adultos sejam pais ou educadores. Cercar os filhos de amor e carinho, suprir a maioria de suas necessidades materiais, pode não ser o bastante, pois atualmente as mídias sociais têm um grande poder na formação do caráter e na construção de valores. Influenciadores com milhões de seguidores “falam” com os adolescentes na privacidade dos seus quartos e ditam maneiras de agir e de pensar, enquanto os pais acham que os seus filhos estão seguros, dormindo abraçados com um ursinho de pelúcia.

Os adolescentes, tentam se inserir nos grupos sociais, mas nem sempre são aceitos. A necessidade de pertencimento aliada ao bullying que sofrem, são o pano de fundo para que busquem no mundo virtual, o apoio e a aceitação que não encontram na vida real. Temos que entender essa realidade; uma criança não pode ter acesso a esse mundo perigoso representado pela cultura Incel. As redes sociais carecem de regularização urgente e a principal matéria que precisa ser ensinada e praticada chama-se empatia. Sem ela a sociedade continuará doente. Precisamos nos conscientizar, afinal, tanto na série quanto na vida real, não existem vilões. Todos somos vítimas.

 

Romildo R Almeida

Psicólogo clínico