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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"A Esperança não decepciona" (Rm 5,5)

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Artigos Falando da Vida

O que a série ‘‘Adolescência’’ pode nos ensinar?

A série Adolescência em cartaz na Netflix, tem alcançado grande repercussão não só na mídia, mas também entre pais e educadores e pode ser um grande auxílio para ampliar o debate em torno da violência contra mulheres. A série é composta de quatro episódios e é centrada em torno de Jamie, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma adolescente da escola em que estudavam. A história, apesar de ser uma ficção, foi inspirada em vários casos que acontecem em todo mundo.

O personagem principal, está fora dos padrões que estamos acostumados a ver quando o tema é violência. Nada de garotos de periferia, filhos de pais separados, ou drogas. Ao contrário, é um adolescente de classe média que recebeu carinho e atenção dos pais, porém com um detalhe: os envolvidos, frequentam comunidades virtuais da internet que difundem informações misóginas, isto é, de ódio contra as mulheres integrando o que se chama de machosfera, (comunidades masculinas que se opõe ao feminismo). Esses jovens pertencem ao grupo “Incel” que significa involuntary celibates e em tradução para o português refere-se à celibatários involuntários.

Os membros do Incel, acreditam que são rejeitados pela maioria das mulheres e por esse motivo, não conseguem se relacionar afetiva ou sexualmente. Eles citam a regra 80/20 que explica que 80% das mulheres só se interessam por 20% dos homens e que por culpa delas, estariam forçados a ser celibatários. Na visão deles, essa ideia dá justificativa para a prática de violência contra as mulheres (Actum Samtum) e aqueles que a praticam não são criminosos e sim heróis. Muitos crimes contra mulheres e até massacres em escolas, são gerados a partir de fóruns de discussão nessas comunidades virtuais.

A série surpreende ao mostrar um universo totalmente desconhecido pelos adultos sejam pais ou educadores. Cercar os filhos de amor e carinho, suprir a maioria de suas necessidades materiais, pode não ser o bastante, pois atualmente as mídias sociais têm um grande poder na formação do caráter e na construção de valores. Influenciadores com milhões de seguidores “falam” com os adolescentes na privacidade dos seus quartos e ditam maneiras de agir e de pensar, enquanto os pais acham que os seus filhos estão seguros, dormindo abraçados com um ursinho de pelúcia.

Os adolescentes, tentam se inserir nos grupos sociais, mas nem sempre são aceitos. A necessidade de pertencimento aliada ao bullying que sofrem, são o pano de fundo para que busquem no mundo virtual, o apoio e a aceitação que não encontram na vida real. Temos que entender essa realidade; uma criança não pode ter acesso a esse mundo perigoso representado pela cultura Incel. As redes sociais carecem de regularização urgente e a principal matéria que precisa ser ensinada e praticada chama-se empatia. Sem ela a sociedade continuará doente. Precisamos nos conscientizar, afinal, tanto na série quanto na vida real, não existem vilões. Todos somos vítimas.

 

Romildo R Almeida

Psicólogo clínico

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Artigos Vocação e Seminário

Um plantão para a vocação?

Desde algumas semanas o Serviço de Animação Vocacional da Diocese organiza a realização do Plantão Vocacional. Em todas as sextas-feiras, os animadores vocacionais da Diocese se prontificam em estar na Catedral de Guarulhos para ouvir, acompanhar e rezar com os vocacionados. Talvez o nome “plantão” pode sugerir para alguns que há uma urgência diante de algum acontecimento – quando ocorre um evento ou fato muito relevante, as mídias recorrem ao plantão para interromper sua programação e noticiar a situação.

De fato, a vocação é uma urgência na Igreja. O próprio Jesus, diante da carência de vocacionados de seu tempo, exortou que “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos; pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” (Mt 9,37-38).

Entretanto, o uso do termo “plantão” é um pouco mais amplo. Segundo o Dicionário Michaelis, a palavra plantão significa “(1) serviço policial distribuído a um soldado; (2) serviço de funcionamento em farmácias, hospitais, redações de jornais, entre outros”. Aqui entra o significado concreto para o Plantão Vocacional.

Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus Vivit direcionada aos jovens, o Papa Francisco nos incentiva dizendo que “há sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos, profissionais e até jovens qualificados, que podem acompanhar os jovens no seu discernimento vocacional. Quando nos toca ajudar o outro a discernir o caminho da sua vida, a primeira coisa a fazer é ouvir (…) O sinal desta escuta é o tempo que dedico ao outro” (nº291-292).

Esse é o papel do Plantão Vocacional: acolher, escutar e direcionar os jovens para o seu discernimento vocacional. É um serviço simples – muitas vezes invisível –, mas necessário. Assim como um vigia está de prontidão em plantão, o Serviço de Animação quer estar despertada para ouvir ou rezar pelas vocações.

 

Padre Edson Vitor

Coordenador Serviço de Animação Vocacional (SAV/PV)

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Artigos Bíblia

O profeta Ezequiel crítica a prática dos falsos pastores

Deportado, já, na primeira leva à Babilônia, no ano de 597 a.C., por ocasião do cerco imposto ao governo do reino de Judá, Ezequiel não poupa tintas para criticar o modo da elite judaíta fazer política. Estamos nos anos de 597 a 587 a.C., período em que a província é governada por uma junta administrativa liderada por Sedecias.

Sedecias, frágil e manipulado pelas lideranças ao seu redor, mostra-se incapaz de evitar a catástrofe imposta pelos exércitos caldeus, no ano de 587 a.C. Sua morte é um exemplo da violência que se abateu sobre os habitantes, quando Nabucodonosor, em pessoa, comanda seu exército impondo total ruína da província, conforme o relato exposto em 2Rs 25,8-10:

“No quinto mês, no dia sete – era o décimo nono ano de Nabucodonosor, rei da Babilônia, -, Nabuzardã, comandante da guarda, oficial do rei de Babilônia, fez sua entrada em Jerusalém. Incendiou o Templo de Javé, o palácio real e todas as casas de Jerusalém. E todo o exército caldeu que acompanhava o comandante da guarda destruiu as muralhas que rodeavam Jerusalém”.

Juntamente com a corte do rei Joaquin, Ezequiel parte à região de Tel-Abib, às margens do rio Cobar, afluente do Eufrates, no ano de 597 a.C. Para os redatores do livro dos Reis, dez mil notáveis e mil artesãos – entalhadores, marceneiros, ourives, padeiros – formam a comunidade dos exilados (2Rs 24,14-16), que será nutrida pelas mensagens catequéticas dos profetas Jeremias, Ezequiel e Isaías (Ez 1,3; 3,15-21; 16; 22; Is 42,22-45; 44,9-20; Jr 28,2-17; Sl 137). Mesmo na condição de rei derrotado e deportado, Joaquin e seus mais diretos colaboradores, não perderam seus títulos e nem deixaram de ser tratados como membros da realeza do reino de Judá. Nas escavações arqueológicas de 1930, próximas da porta da deusa Ishtar, foi encontrada uma inscrição com o seguinte registro: “6 litros de óleo para Joaquin, rei da terra de Judá, 2½ litros para os 5 príncipes de Judá e mais 4 litros para os 8 homens de Judá”. O profeta Jeremias indica benevolência ao rei Joaquin sob os comandos do rei Evil-Merodac que “falou-lhe com bondade e lhe concedeu um assento superior ao dos outros reis que estavam com ele na Babilônia” (Jr 52, 31-34).

Com a destruição da cidade e do seu templo, as instâncias de poder deixam de existir, agora, no arrasado reino de Judá.  A interferência bélica babilônica foi precisa e planejada, pois as pequenas e médias cidades, que davam proteção a capital Jerusalém, não foram destruídas. A região de Benjamim e as cidades de Gibeon, Masfa, Betel, Ramat Rahel e Belém, promissoras na produção agrícola, cultivo de oliveiras, criação de ovelhas e tâmaras serão preservadas. Ramat Rahel, Masfa, Belém sediarão importantes centros de arrecadação tributária, produção de cerâmicas, sede de governo regional e subvenção de alimentos, integrando-se ao grande Império.

É nesse contexto de dez anos de governo chefiado por Sedecias, que encontramos a conjuntura social capaz de justificar as denúncias de abandono do “rebanho de Israel”, tão fortemente exposta na profecia de Ezequiel 34,1-16. A falta de tática e honestidade política de Sedecias estão presentes nas palavras do profeta. Pertencente ao grupo de sacerdotes exilados na primeira deportação, não é difícil imaginar que as tratativas espalhafatosas de Sedecias na esfera da administração da província de Judá, não chegaram ao conhecimento do profeta Ezequiel. A elite e seu governante se deixam levar pelos caminhos do assédio político. Inebriados pelas vantagens oferecidas pelo poder, agora, encontram-se cegos diante do sofrimento do povo. Aqui entre a denúncia de Ezequiel contra os pastores de si mesmo instalados em Israel.

O rebanho sofre. Padece por falta de pastor. Encontra-se abandonado e, assim, entregue como alimento às feras do campo que, sem proteção, agora, disperso entre “montes e colinas elevados” (v. 6), amarga os anos vividos no exílio babilônico:

“Ai dos pastores de Israel que pastoreiam a si mesmos! Não é do rebanho que os pastores deveriam cuidar? A gorda [ovelha] vós comeis  e a lã vós vestis a gorda sacrificais, do rebanho não cuidais. As enfraquecidas não fortalecestes, as que adoeceram não procurastes curar, as que se fraturaram, não enfaixastes, as que se dispersaram, não trouxestes de volta, as que se perderam, não fostes procurar, as dominais com violência e brutalidade. Elas se dispersaram, por falta de pastor. E se tornaram alimento para todas as feras dispersas no campo. O meu rebanho se dispersou por todos os montes”. (Ez 34,2-6).

Nota-se que ao descrever a penosa situação do rebanho a insistência no uso do verbo dispersar, três vezes recorrente (v. 5a-b, 6), abre e conclui esta parte da narrativa.  O rebanho sofre. Padece por falta de pastor. Encontra-se abandonado e, assim, entregue como alimento às feras do campo que, sem proteção, agora, disperso entre “montes e colinas elevados” (v. 6), amarga os anos vividos no exílio babilônico.

Sedecias em nada amenizou nas taxas de impostos cobradas junto aos grupos de agricultores e criadores de gados. Na sua estratégia política de aproximação com o Egito, no dia a dia, camponeses e agricultores sentiram o peso das elevadas taxas tributárias. O profeta Jeremias, árduo defensor de uma constante submissão aos planos traçados pelo Império Babilônico às regiões da Síria e Palestina, não só teria alertado, como presenciou anos de forte sofrimento imposto ao povo, durante e após os dias que sucederam a administração de Sedecias:

Os pastores perderam o bom senso e deixaram de procurar Javé. Por isso não tiveram sucesso, e o rebanho que eles conduziam se espalhou. Ouçam o barulho que avança do norte. Ele vem fazer das cidades de Judá um lugar arrasado, um abrigo de chacais. (Jr 10,21-22).

O trabalho de cuidar, oferecer boas pastagens, garantir ao rebanho segurança e água, legitima uma profissão muito conhecida na cultura dos povos mesopotâmicos. A profissão de pastor é compreendida como sinônimo de zelador, cuidador. O sentimento nacional de pertença à realeza exilada, ao deus que os acompanhou mudando sua tenda para junto dos exilados, justificam as severas críticas aos planos gananciosos da classe dirigente de Jerusalém, nos anos vividos pelo profeta Ezequiel.

 

Pe. Frizzo

acfrizzo@uol.com.br

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Artigos CNBB

Entrevista do Secretário Geral da CNBB sobre a recepção do Sínodo no Brasil

O Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam) encerrou sua agenda de Encontros Regionais 2025 na Argentina, com um encontro que reuniu mais de 30 representantes das Conferências  episcopais do Cone Sul. O encontro aconteceu de 24 a 28 de março, em Buenos Aires.

O objetivo principal é identificar as necessidades dos episcopados em relação à sua missão, fortalecer a articulação entre as Igrejas locais e compartilhar o Plano Pastoral 2023-2027 do Celam. Além disso, pretende-se acompanhar a implementação dos clamores que surgiram na Assembleia Eclesial e sua integração no caminho sinodal promovido pelo Papa Francisco.

A Igreja no Brasil assumiu com entusiasmo o processo sinodal, empenhando-se em sua implementação em todas as regiões do país. O bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers, concedeu uma entrevista para a ADN Celam sobre como a terceira etapa do Sínodo continuará na Igreja do Brasil e como os desafios pastorais serão enfrentados neste caminho sinodal. O portal da CNBB publica a entrevista abaixo na íntegra.

Igreja comprometida com o processo sinodal

A partir de sua experiência na equipe de animação sinodal da CNBB, dom Hoepers aponta como tarefa principal a articulação e continuidade do processo sinodal: “A Igreja do Brasil se comprometeu desde o início com o processo sinodal de uma forma bela, com representações das diferentes regiões do Brasil, respondendo em todas as etapas e compartilhando suas alegrias e tristezas. Hoje o Brasil se sente identificado com o que resultou do processo sinodal”.

Um dos maiores desafios é a aplicação das conclusões do Sínodo na ação evangelizadora: “Talvez o maior desafio seja retomar as conclusões do Sínodo e aplicá-las nas orientações para a ação evangelizadora que serão votadas na próxima Assembleia”, disse ele. Para isso, o exercício sinodal será realizado nas comunidades de base, paróquias e conselhos, adaptando-o à realidade de um país tão grande e diverso como o Brasil.

“O tamanho do Brasil é o nosso maior desafio, mas, ao mesmo tempo, vemos que todas as dioceses estão comprometidas. Com a Assembleia Geral, esperamos fortalecer ainda mais esse retorno e nos comprometemos com o processo sinodal e a Assembleia Eclesial”, acrescentou.

Documento Final do Sínodo no Brasil

A atual fase de implementação requer um trabalho conjunto nos níveis diocesano, regional e nacional: “Em todas as áreas queremos exercer este processo sinodal. É a única maneira pela qual o Brasil pode realmente assumir esse compromisso, desde as bases até os grandes organismos e organizações, das comunidades eclesiásticas, dos missionários às instituições, aos conselhos e, digamos, a todos aqueles que estão comprometidos com a Igreja, todos podem assumir o processo sinodal”, explicou.

Neste contexto, destacou que será feito um trabalho sobre a formação permanente e contínua de líderes na animação do processo sinodal “para que possam motivar as regiões e dioceses a se comprometerem com o processo sinodal. A liderança é o pároco, o coordenador pastoral, o catequista. Então, tudo em chave sinodal, para que possamos sentir também que os líderes são os protagonistas, os jovens são os protagonistas desse processo”, disse.

Da mesma forma, um dos pilares do Sínodo é a inclusão de todas as vozes, especialmente das comunidades mais vulneráveis. Dom Ricardo expressou o valor do aprendizado que a Igreja no Brasil obteve ao se aproximar dos povos tradicionais, comunidades indígenas, presos, setores marginalizados e periferias.

Viver em harmonia com a natureza

“A Igreja no Brasil tem a facilidade de chegar a todos os lugares porque temos comunidades em todos os cantos do país. Isso nos permitiu ouvir e aprender com eles. Os povos tradicionais têm dado grandes lições sobre uma ecologia integral. Uma coisa é falar em defesa da natureza, outra coisa é quem tem sabedoria para entender o significado. Então, esse processo sinodal também nos fez chegar a esses grupos vulneráveis, a esses grupos que estavam distantes”, disse ele.

Além disso, ele enfatizou que este processo sinodal tem sido uma oportunidade de conversão e formação tanto para a Igreja quanto para esses grupos historicamente distantes.

Sinodalidade e Pastoral Familiar

Dom Ricardo, que foi presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB, destacou a conexão entre sinodalidade e Pastoral Familiar: “Estamos falando de uma catequese desde o ventre materno, aquele pré-matrimônio em que os noivos se preparam para o sacramento, depois do itinerário nupcial de encontros para perseverar na fé; também sobre a questão dos casos especiais, novas uniões e outras situações que a Igreja acolheu”.

A Pastoral Familiar também deve responder a novas realidades e desafios, como casos de novas uniões e outras situações complexas: “Estamos pensando em itinerários para que a família tenha sempre apoio espiritual em todas as etapas: antes do casamento, durante a vida conjugal e na velhice, onde as relações intergeracionais são fortalecidas”, disse ele.

E afirmou que “a família é a base de tudo e, portanto, uma das prioridades da Igreja no Brasil”.

Presença misericordiosa a quem mais precisa

Referindo-se à crise social e à desigualdade, o secretário-geral da CNBB disse que, no Brasil, essa renovação se traduz em um compromisso com os mais vulneráveis, denunciando as estruturas que perpetuam a injustiça e oferecendo espaços de acolhimento e cura.

Dom Ricardo Hoepers expressou que a Igreja deve ser profética, apontando as raízes da desigualdade e da corrupção que afetam a dignidade de milhões de pessoas: “Há um grande sofrimento, há dor, há uma grande exclusão em nosso país. Os problemas sociais continuam a ser estridentes, têm impacto. A desigualdade corrói nossos relacionamentos. A Igreja será sempre profética a este respeito. Primeiro, denunciando a corrupção e tudo o que é a fonte dessa desigualdade. E em segundo lugar, é a casa que acolhe a todos, que cuida de todos”.

Nas comunidades atingidas pela pobreza, violência ou exclusão, a Igreja torna-se um refúgio, um “hospital de campanha” que oferece acompanhamento e esperança. Das periferias às grandes cidades, sua presença se manifesta em cada gesto de solidariedade e serviço aos esquecidos.

“Onde há dor humana, comunitária, social, há a Igreja. Lá, porque talvez não resolvamos tudo e não é nossa intenção resolvê-lo, mas ser a presença misericordiosa de Jesus Cristo para aqueles que foram esquecidos, invisibilizados, deixados de lado. A Igreja quer ser aquela presença que acolhe e dá apoio a todos aqueles que mais precisam e nunca deixar de lutar por uma sociedade mais justa, mais solidária e mais fraterna”, concluiu.

Com informações ADN Celam 
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Artigos Enfoque Pastoral

Ungidos pelo bálsamo da Alegria (Ez 16,9)

Cristo Jesus ungiu-nos com o óleo da alegria e nos fez participarmos de sua glória. Na Páscoa do Senhor, celebramos o mistério central da nossa fé, somos a cada ano renovados na Misericórdia de Deus, que nos toca com ternura e amor. Neste tempo de graça, o Senhor nos acompanha com muitos sinais pascais em nossa Diocese.

Neste tempo quaresmal o Senhor foi nos curando e preparando para vivermos o tempo pascal, renovados na força de Sua Santa Palavra, que faz arder o coração e nos enche de Alegria com sua presença gloriosa (Lc 24,32). Em várias paróquias de nossa Diocese foram celebradas as missas penitenciais na madrugada, iniciativa pastoral que leva os paroquianos a experiência profunda da oração, jejum e caridade. Também vivemos a Campanha da fraternidade deste ano: “Fraternidade e Ecologia Integral”, presente nas atividades pastorais, como a catequese, grupos de rua e liturgia, com o apelo: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Vivendo o Jubileu de Esperança, muitas paróquias já estão fazendo sua peregrinação as Igrejas Santuários.

Grandes alegrias e sinais do Ressuscitado na vida de nossa Igreja particular de Guarulhos, que comemorou no dia 16 de março, onze anos sobre a condução Apostólica de Dom Edmilson Amador Caetano, 4º bispo diocesano da diocese de Guarulhos, que no dia 28 de março celebrou 17 anos de sua ordenação episcopal. E nossa Diocese celebrará no dia 5 de abril aniversário de 44 anos de fundação. Muitas alegrias e conquistas o Senhor têm concedido a todos nós! Caminhemos com o Senhor Ressuscitado, que permanece conosco e realiza através de sua Santa Igreja a Salvação dos homens.

Alegremo-nos e exultemos com a presença do Senhor em nossa Diocese, que cuida do seu povo e continua sua obra salvífica por meio de seus ministros e seu povo fiel na obra da evangelização. Que Maria, mãe da Igreja, interceda por todos nós e nos ajude a acolher em nossas vidas o Senhor Ressuscitado.

 

Pe. Marcelo Dias Soares

Coordenador Diocesano de Pastoral

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Artigos Voz do Pastor

Peregrinos da Esperança ou Peregrinos de Esperança? Continuação…

A nossa reflexão continua a do último mês. Seria bom relê-la.

Leia: (Artigo – Março 2025)

Retomemos o texto inspirador do Jubileu da Esperança:

“…justificados pela fé, estamos em paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não é só. Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança a virtude comprovada, a virtude comprovada a esperança. E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. (Rm 5,1-5)

O dom infuso da fé não pode estar desunido daquele da esperança. Faz parte do conteúdo da nossa fé gloriar-se “na esperança da glória de Deus”. A adesão e a vivência da nossa fé nos colocam em perspectiva escatológica, pois “se temos esperança em Cristo somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens.” (1Cor 15,19) A vitória de Cristo em tudo e em todos é a esperança que nos move ao combate pela fé a cada dia. Nos faz ter sempre disposição renovada em realizar os sinais de esperança. É a nossa segurança. De fato, uma das imagens mais antigas para indicar a esperança é a âncora. Uma embarcação firmemente ancorada não soçobra mesmo nas mais furiosas tempestades.

A esperança da glória de Deus faz parte do conteúdo da fé exatamente pelo fato de não nos deixar inertes diante da situações que devemos enfrentar com a luz da fé. Entretanto, a virtude teologal da esperança torna-se completa em nós, exatamente, quando nos movemos pela fé, afinal nos recorda o apóstolo Tiago que a fé sem obras é morta. Esta é uma forma de entendermos a continuidade do texto da carta aos Romanos: “E não é só. Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança a virtude comprovada, a virtude comprovada a esperança.”

Para “ativar” em nós a virtude teologal infusa da esperança não podemos deixar-nos cair no imobilismo diante das respostas que somos chamados a dar, nas mais variadas e adversas situações. Combater pela fé e defender a fé fazem parte desta “ativação”.

O pecado da omissão, nas palavras, nas atitudes e nos atos, nos impede de ser Peregrinos de Esperança.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O. Cist.

Bispo diocesano

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Artigos Editorial

Recuperar e sustentar a Esperança é a Missão da Igreja no Mundo!

Caríssimos peregrinos e peregrinas de esperança, nesta edição a palavra esperança ganha destaque em todos os artigos seja de forma direta, ou indiretamente, com a finalidade de animar nossa caminhada terrena em meio a tantas situações de desesperança.

Aliás “esperançar” é uma expressão utilizada pelo Papa Francisco que diz: “O cristão não pode contentar-se com ter esperança; deve também irradiar esperança, ser semeador de esperança”. Assim é o que reforça Dom Edmilson Amador Caetano com sua voz de pastor e mensagem de Páscoa para a cidade de Guarulhos. Pastoralmente, a esperança se renova também nas diversas atividades elencadas pelo coordenador diocesano de pastoral. Nos chama atenção de maneira especial o evento 24 horas para o Senhor que têm por objetivo: “voltar a colocar no centro da vida pastoral da Igreja, portanto das nossas comunidades, das nossas paróquias, de todas as realidades eclesiais, o sacramento da reconciliação. Este é o centro da mensagem evangélica: a Misericórdia de Deus, que nos dá a certeza de que diante do Senhor ninguém encontrará um juiz, mas sim um pai que acolhe, consola e indica também o caminho para a renovação. Portanto, como afirmou o Papa Francisco, «a misericórdia suscita alegria, porque o coração se abre à esperança duma vida nova». (Misericordia et misera, nº 3).”

Infelizmente nem todas as pessoas devido a proporção do problema e questões psicológicas, conseguem ver os sinais de esperança em sua vida, por isso entram em desespero, intensificando o sofrimento e gerando consequências dolorosas da perca do sentido da vida, por isso é fundamental a iniciativa de “Um plantão para a vocação” desenvolvido pelo serviço de animação vocacional da diocese. É necessário parar, olhar, acolher, escutar e orientar as pessoas. Esse caminho também deve ser percorrido diante das dificuldades especialmente dos adolescentes em sua relação com as redes sociais, como alerta o psicólogo Romildo Almeida em seu artigo sobre uma série da Netflix, plataforma muito conhecida em nossos lares. A missão de recuperar a esperança através da busca de relações verdadeiras, saudáveis e reais é urgente na sociedade em que vivemos.

A você eu faço um apelo: gaste tempo dando atenção ao outro, e lembre-se você não precisa ser um profissional da psicologia, psiquiatria ou agente de pastoral, basta ser alguém disposto a viver e querer que os outros vivam. E para nós que somos Igreja e de Igreja, recuperar a esperança é percorrer o caminho sinodal de comunhão, participação e missão, afinal “ A Igreja existe para testemunhar ao mundo o acontecimento decisivo da história: a Ressurreição de Jesus. O Ressuscitado traz a paz ao mundo e nos dá o dom do seu Espírito. Cristo vivo é a fonte da verdadeira liberdade, o fundamento da esperança que não engana, a revelação do verdadeiro rosto de Deus e o destino último do homem. Os Evangelhos nos dizem que, para entrar na fé pascal e nos tornarmos testemunhas dela, é necessário reconhecer o próprio vazio interior, as trevas do medo, da dúvida e do pecado. Mas aqueles que, na escuridão, têm a coragem de sair e de pôr-se á procura descobrem, na realidade, que são procurados, chamados pelo nome, perdoados e enviados juntos aos irmãos e às irmãs.” (n.14 do Documento Final do Sínodo dos Bispos).

Desejo a todos uma bela experiência pessoal e comunitária da fé na Semana Santa e Feliz Páscoa com plena renovação da esperança.

Padre Marcos Vinicius Clementino

Jornalista e Diretor Geral

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Artigos Falando da Vida

Aquecimento Global e Saúde Mental

O planeta está com febre, mas os doentes somos nós!

A Campanha da fraternidade deste ano cujo tema é Fraternidade e ecologia integral, nos convida a refletir sobre um problema que afeta a todos independente da sua posição ideológica. As mudanças climáticas, já são visíveis na forma de deslizamentos de terra, enchentes, seca, incêndios florestais, etc. Em meio a esses fenômenos, um problema tem gerado preocupações e já se torna também visível. Estamos falando da saúde mental das pessoas envolvidas com essas mudanças. Pessoas que habitam locais vulneráveis a eventos climáticos, são inseguras, vivem em constante estresse, condições propícias para desenvolverem problemas de depressão e ansiedade.

Muitas pessoas buscam atendimento psicológico, depois de ter a casa invadida pela enchente e perder todos os bens. Essas pessoas podem desenvolver um quadro chamado de Transtorno de Estresse Pós-traumático. Os sintomas típicos incluem a revivescência repetida do evento traumático, sob a forma de lembranças invasivas (“flashbacks”), de sonhos ou de pesadelos. Fora isso, o transtorno gera um retraimento social, ou seja, a vítima evita contatos, perde o interesse pela vida, pois na sua mente existe sempre a ameaça de que tudo vai acontecer novamente.

As ondas de calor que ultimamente têm assolado o país de norte a sul, trazem consequências danosas a todos, mas crianças que estudam em escolas públicas têm sofrido muito mais com altas temperaturas no interior das salas de aula, que chegam a atingir 40 graus. Se essas temperaturas combinadas com a alta umidade já são inviáveis para o funcionamento do organismo, o que dirá para o aprendizado? Sem dúvida, as crianças pobres são as principais vítimas e certamente sua formação ficará comprometida, diferentemente das escolas particulares que contam com ar condicionado.

O Papa Francisco encontra-se internado em um hospital em Roma, lutando bravamente pela vida. É oportuno lembrar as suas palavras proferidas em 30/08 de 2024 a respeito do aquecimento global: “Se medirmos a temperatura do planeta, isso nos dirá que ele está com febre, que ele está doente. Precisamos nos comprometer com a proteção da natureza, mudando nossos hábitos pessoais e comunitários”. Há um consenso por parte da ciência de que a vida do planeta está ameaçada e que se algo não for feito agora, não haverá futuro para as próximas gerações. Certos governantes, porém, preferem julgar essa questão por um prisma ideológico. Não importa se você é católico, protestante ou ateu, se é de direita ou esquerda, capitalista ou comunista, o planeta está com febre, mas os doentes somos nós.

 

Romildo R. Almeida

Psicólogo clínico

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Artigos Movimentos Diocesanos

XIII Encontro Nacional da Pastoral da Juventude (ENPJ) 2025

Um Chamado à Fé, Esperança e Protagonismo Juvenil

Entre os dias 12 e 19 de janeiro, aconteceu em São Luís do Maranhão um dos mais importantes encontros da juventude católica brasileira: o XIII Encontro Nacional da Pastoral da Juventude (ENPJ). O evento teve como tema “Na toada do grupo de jovens, o guarnicê da esperança”, que serviu de base para toda a programação, e como lema “Gritar a utopia do Reino em toda parte”, inspirado no pensamento do padre Hilário Dick. Além disso, fomos iluminados pela leitura de João 6,24: “Senhor, dá-nos sempre deste pão.”

O encontro reuniu mais de 500 jovens de todas as regiões do Brasil. A Diocese de Guarulhos teve a oportunidade de enviar seis jovens que atuam na Pastoral da Juventude em nosso território. Foram eles: Beatriz Punça (Coordenação Diocesana 2022-2024), Evelyn Arantes (Secretária Diocesana), Larissa Wiviny (Coordenadora de Base), Lays Santos (Secretária Diocesana), Luana Salvador (Vice Coordenadora Diocesana) e Thiago Anthony (Coordenador Diocesano).

O ENPJ é um espaço de vivência da fé, da espiritualidade e do compromisso social. Realizado a cada três anos, o encontro reúne jovens, assessores, padres, religiosos e lideranças da PJ para refletir, celebrar e planejar ações que fortaleçam a missão evangelizadora da juventude. É um momento de encontro com Deus, consigo mesmo e com os outros, além de uma oportunidade para discutir temas relevantes para a sociedade e para a Igreja. Este encontro foi ainda mais especial devido à expectativa dos jovens para sua realização, uma vez que o último ocorreu em 2018 e, por conta da pandemia, foi necessário adiá-lo até este ano.

No primeiro dia do evento, ocorreu a abertura com a Santa Missa, presidida por Dom Vilson Basso, que lidera a Comissão Episcopal para Juventudes da CNBB. Esse foi um momento de encontro e esperança diante de tudo o que ainda seríamos chamados a vivenciar. Nos sete dias seguintes, tivemos uma programação intensa com momentos de oração, formação e partilha. O evento contou com quatro mesas de conversa, onde foram debatidas as diferentes realidades juvenis do Brasil, os desafios da Pastoral da Juventude diante dos diversos formatos de grupos e os anseios da juventude nos dias de hoje. Também foram realizadas oficinas e atividades culturais, todas com o objetivo de promover o protagonismo juvenil e reforçar o compromisso social e a evangelização libertadora.

Além disso, tivemos outros dois momentos marcantes no encontro. O primeiro ocorreu no quinto dia, com o lançamento do novo documento “Somos Igreja Jovem”, subsídio essencial para toda a Pastoral da Juventude no Brasil. O segundo momento significativo foi a comemoração, no sétimo dia, dos 20 anos do documento “Ofício Divino”, que guia e ilumina diversos momentos de oração na caminhada pastoral.

Ao final do encontro, saímos com o compromisso renovado de continuar construindo uma Igreja jovem, profética e transformadora. O XIII ENPJ reafirmou a importância da Pastoral da Juventude como espaço de formação e protagonismo juvenil, incentivando os participantes a levarem para suas dioceses a mensagem de esperança, unidade e engajamento social.

O grupo que representou a Diocese de Guarulhos se alegra em levar um pouco da potencialidade deste solo e retorna aos trabalhos pastorais, recarregado por tudo o que foi vivenciado e, especialmente, pela acolhida, energia, cultura e fé maranhense.

Para mais detalhes sobre como foi esse encontro, acesse o Instagram @pjguarulhos.

 

Lays SantosPJ Guarulhos

Confira alguns registros do Encontro:

XIII Encontro Nacional da Pastoral da Juventude (ENPJ) 2025
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Artigos Bíblia

Vamos no Encontro da Leitura Orante?

É provável que você já tenha ouvido falar ou já tenha sido convidada/o para a Leitura Orante da Palavra de Deus ou Lectio Divina!

Lectio Divina quer dizer leitura divina. Outros traduzem leitura orante. Ela indica a prática de leitura que os cristãos fazem da Bíblia para alimentar a sua fé, sua esperança, o seu amor e compromisso.

A Dei Verbum (Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II sobre a Revelação Divina) afirma que “a Lectio Divina é tão antiga quanto a própria Igreja, que vive da Palavra de Deus e dela depende como a água de sua fonte (DV, n. 07.20.21). É a leitura crente e orante da Palavra de Deus, feita a partir da fé em Jesus, que disse: “O Espírito vos recordará tudo o que eu disse e vos introduzirá na verdade plena” (Jo 14,26).

A expressão Lectio Divina vem de Orígenes (+253). Ele diz que, para ler a Bíblia com proveito, é necessário um esforço de atenção e de assiduidade. O monge Guigo (1150) sistematizou a Lectio Divina em quatro degraus, isso no século XII: Leitura, Meditação, Oração e Contemplação. A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com espírito atento. A meditação é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da própria razão, procura o conhecimento da verdade oculta. A oração é o impulso fervoroso do coração para Deus, pedindo que afaste os males e conceda as coisas boas. A contemplação é a elevação da mente sobre si mesma que, suspensa em Deus, saboreia as alegrias da doçura eterna”.

O objetivo da Lectio Divina é o objetivo da própria Bíblia: “Comunicar a sabedoria que leva à salvação ela fé em Jesus Cristo” (2Tm 3,16-17); “proporcionar perseverança, consolo e esperança” (Rm 15,4); ajudar-nos a aprender dos erros dos antepassados (cf. 1Cor 10, 6-10).

A Diocese de Guarulhos, sob a orientação do Bispo Dom Edmilson Amador Caetano, tem a alegria de publicar uma série de encontros dedicados à Leitura Orante da Palavra de Deus. Neste ano, o foco será o Ano Santo do Jubileu Ordinário “Peregrinos de Esperança”.

Encontre o livreto que contém os Encontros previstos para fevereiro, maio e junho nas paróquias e nas comunidades. Organize e participe de reuniões com famílias, pastorais, grupos e a comunidade. A Equipe Diocesana da Leitura Orante está disponível para orientar e apoiar encontros de Lectio Divina.

Para aprofundar o assunto visite os Documentos da Igreja no Brasil: Documentos 97 e 111 da CNBB.

Confira e faça a Leitura Orante:

Leitura Orante

 

Celia Soares de Sousa

Cristã leiga e teóloga