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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

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Artigos Liturgia

A formação ao silêncio na liturgia

O Papa Francisco em sua Carta apostólica Desiderio Desideravi abordou a necessidade de os batizados serem formados para a liturgia e pela liturgia, considerada a fonte e o ápice da vida cristã. De modo particular, no parágrafo 52, sobre a formação ao silêncio orante e litúrgico, que não é uma pausa ou ausência de palavras, mas parte necessária da ação litúrgica, porque move o fiel ao arrependimento e ao desejo de conversão, suscita nele a escuta da Palavra de Deus e prepara-o à oração, dispondo-o também à adoração do Corpo e do Sangue de Cristo.

Fica claro que o Pontífice quer levar os cristãos a refletir sobre a urgência da redescoberta do silêncio como símbolo da presença e da ação do Espírito Santo na celebração litúrgica, em particular da Eucaristia.

É inegável a necessidade da redescoberta do silêncio litúrgico, entendido não como elemento absoluto e significativo em si mesmo, mas um sinal de participação, condição espiritual para uma verdadeira compreensão do mistério celebrado, para a escuta da Palavra de Deus e para a resposta da assembleia, visto que é o Espírito Santo que leva a comunidade reunida a crescer como templo consagrado.

Tal silêncio é também pedagógico, capaz de criar as atitudes espirituais necessárias à vivência litúrgica e de oferecer a cada um dos membros presentes um espaço vital para sua interiorização. Muitas vezes o silêncio não existe porque, provavelmente, se perdeu (ou se foi atenuando) a noção do Sagrado dentro da celebração dos sacramentos. E ele é importantíssimo para o encontro pessoal com o Senhor! Valorizar novamente o silêncio, portanto, é uma das tarefas mais urgentes da Igreja.

O silêncio inspira o diálogo entre Deus e os homens, torna-se manifestação do respeito devido ao Senhor que se revela. Sua importância está ligada à palavra, da qual é um terreno privilegiado, de modo que uma maior busca por ele, na liturgia, é também sinal de uma maior maturidade celebrativa. Silêncio e palavra que se complementam sem se contradizer. Uma celebração que “empilha” um rito sobre o outro, que segue um ritmo frenético sem parar, cansa a comunidade, sem edificá-la. A liturgia é feita de ritmos, de alternâncias, de ritos.

Por fim, ressaltamos que, para além destes momentos específicos previstos para o silêncio, é toda a liturgia, aliás a própria igreja enquanto espaço celebrativo, que precisa recuperar a dimensão ritual do silêncio, evitando-se todo tipo de ruído não somente desnecessário, mas também prejudicial à vida litúrgica, como o alto volume de instrumentos e do sistema de som e imagens, o excesso de comentários, o não infrequente grande número de avisos ao fim da Missa, as conversas dentro do ambiente da igreja, todas essas atitudes que muitas vezes dificultam aos fiéis ouvir a suave voz do Espírito.

 

Pe. Fernando Gonçalves – Comissão Diocesana de Liturgia

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Artigos Vocação e Seminário

E se o coração não arde?

A vocação é o grande chamado de Deus na vida de uma pessoa. A partir da sua experiência com Cristo, a pessoa inicia um envolvimento de comunhão com Aquele que o faz arder o coração. É recordável entender que a transmissão da fé depende do anúncio e o testemunho dos demais cristãos. Com efeito, “o dever de promover as vocações pertence a toda a comunidade cristã, que as deve promover sobretudo mediante uma vida plenamente cristã; principalmente para que isso ocorra nas famílias, que animadas pelo espírito de fé, de caridade e piedade, são como que o primeiro seminário” (Optatam Totius, 2).

Assim, as famílias devem ser o local por primeiro para que o coração do vocacionado seja inflamado no ardor para servir especialmente a Deus. Porém, por diversas problemáticas, as famílias encontram dificuldades em desenvolver as vocações específicas na Igreja doméstica. Se o coração não arde, os pés não caminham. Ou seja, se não existe o testemunho da comunidade – em particular, o da família –, não há a missão, a entrega e o assumir do desejo de Deus na vida do jovem.

Peçamos a graça de sempre Deus inflamar os nossos corações para que possamos, em primeiro lugar, viver mais plenamente a experiência com o Senhor; e, por consequência, darmos o bom testemunho cristão, a fim de nossa juventude, possuindo “os corações ardentes e pés a caminho”, possa se entregar para a vida doada à Igreja.

 

Sem. Edson Vitor – 4º ano de Teologia

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Artigos Bíblia

A esperança na vida eterna e o amor que nos mantêm unidos.

No Antigo Testamento, livro de 2 Mac 12, 38-45, já existe a ideia de que podemos e devemos interceder por aqueles que já partiram para a eternidade. Esse entendimento foi abraçado pelo cristianismo católico, e encontra em cada um de nós um refrigério para continuarmos a interceder por aqueles que não estão mais em nosso convívio aqui na terra. Acreditamos que haja uma conexão direta entre a Igreja Triunfante (os que estão na glória), com a Igreja Militante (nós que estamos militando neste mundo) e, com a Igreja Padecente (aqueles que estão se purificando para entrar na vida eterna).

A dor experimentada por todos que já perderam pessoas queridas, é marcada profundamente e deixa uma sensação de impotência diante da morte, que estabelece uma separação física. Muitos experimentam um vazio tão grande com suas perdas, que chegam a ter sua saúde mental afetada, e que necessitam de ajuda de especialistas para enfrentar os problemas causados pelo luto.

Embora as questões sobre a vida após a morte seja um mistério, podemos sim nos empenhar a conhecer quais os textos bíblicos nos dão ensinamentos sobre o tema e, buscar a luz de esclarecedores estudiosos sobre o tema, um correto entendimento. Nós, católicos, necessitamos conhecer aquilo que o magistério da Igreja trás de estudos e documentos, para assim formarmos um entendimento com uma base sólida. Dentro desta perspectiva, a Carta Encíclica Spe Salvi – “é na esperança que fomos salvos”, de Bento XVI, trata sobre a fé e a esperança, pontuando vários aspectos relacionados com a vida eterna.

A Encíclica Spe Salvi, aborda a esperança cristã em vários tópicos ou temas que podemos sintetizar como: Articulação entre fé e esperança; Dilatar a esperança; A vida eterna como objeto da esperança; A natureza da esperança cristã; Lugares de experiência da esperança; Nova perspectiva para a compreensão das realidades escatológica. Nesta reflexão fixarei o olhar sobre o (n.48) da Encíclica que menciona sobre a prática de que se possa ajudar, através da oração, os defuntos no seu estado intermédio adotada no antigo judaísmo, e que foi adaptada pelos cristãos com grande naturalidade, é comum à Igreja oriental e ocidental. Existe a compreensão de que para as almas dos defuntos, pode ser dado alívio e refrigério, mediante a Eucaristia, a oração e a esmola. Porém, o texto que salta o olhar é apresentado por Bento XVI, como:

 

            “O fato de que o amor possa chegar até ao além, que seja possível um mútuo dar e receber, permanecendo ligados uns aos outros por vínculos de afeto para além das fronteiras da morte, constituiu uma convicção fundamental do cristianismo através de todos os séculos e ainda hoje permanece uma experiência reconfortante. Quem não sentiria a necessidade de fazer chegar aos seus entes queridos, que já partiram para o além, um sinal de bondade, de gratidão ou mesmo de pedido de perdão? Aqui levantar-se-ia uma nova questão: se o « purgatório » consiste simplesmente em ser purificados pelo fogo no encontro com o Senhor, Juiz e Salvador, como pode então intervir uma terceira pessoa ainda que particularmente ligada à outra? Ao fazermos esta pergunta, deveremos dar-nos conta de que nenhum homem é uma mônada fechada em si mesma. As nossas vidas estão em profunda comunhão entre si; através de numerosas interações, estão concatenadas uma com a outra. Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem. Deste modo, a minha intercessão pelo outro não é de forma alguma uma coisa que lhe é estranha, uma coisa exterior, nem mesmo após a morte. Na trama do ser, o meu agradecimento a ele, a minha oração por ele pode significar uma pequena etapa da sua purificação. E, para isso, não é preciso converter o tempo terreno no tempo de Deus: na comunhão das almas fica superado o simples tempo terreno. Nunca é tarde demais para tocar o coração do outro, nem é jamais inútil”.

 

Talvez nossa prática de oração já fosse normal em relação aos falecidos, mas ao ter contato com esses ensinamentos do magistério da Igreja, minha esperança foi renovada e fui inflamado de uma alegria transbordante, pois vejo o quanto podemos beneficiar com nossas intercessões, aqueles que se foram e, quanto o amor que nos une pode estar em comunhão entre si. Nossas orações constituem uma expressão de amor por todos que tanto amamos em vida e, que nem a morte pode impedir que continuemos amando. Como nos afirmou o Papa Francisco em outro contexto da “Laudato si”, “Tudo está interligado”. Podemos fazer um paralelo com os textos da Encíclica Spe Salvi, dizendo que nossas vidas estão sim interligadas com as novas dimensões daqueles que já partiram.

É na esperança que fomos salvos (Rm 8,24).

Celso Rogério San-Tana TeixeiraAluno do 5º Ano de Teologia pela PUC-SP e aspirante ao Diaconato Permanente pela Diocese de Guarulhos

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Artigos CNBB

Homilia do papa Francisco na missa de encerramento do Sínodo da Sinodalidade 2023

A seguir, a homilia pronunciada pelo Papa Francisco:

É precisamente um pretexto que leva o doutor da Lei a apresentar-se a Jesus; pretende unicamente pô-Lo à prova. Todavia a dele é uma pergunta importante, uma pergunta sempre atual, surgindo de vez em quando no nosso coração e na vida da Igreja: «Qual é o maior mandamento?» (Mt 22, 36). Mergulhados no rio vivo da Tradição, também nós nos interrogamos: Qual é a coisa mais importante? Qual é o centro propulsor? Qual é a coisa que conta tanto a ponto de ser o princípio inspirador de tudo? E a resposta de Jesus é clara: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 37-39).

Prezados Cardeais, Bispos e sacerdotes, religiosas e religiosos, irmãs e irmãos, ao concluirmos este pedaço de caminho que percorremos, é importante fixar o «princípio e fundamento», do qual uma vez e outra tudo começa: amar. Amar a Deus com toda a vida e amar o próximo como a si mesmo. Não está nas nossas estratégias, nos cálculos humanos, nem nas modas do mundo, mas no amor a Deus e ao próximo: é aqui que está o coração de tudo. Mas como traduzir tal impulso de amor? Proponho-vos dois verbos, dois movimentos do coração, sobre os quais quero refletir convosco: adorar e servir. Ama-se a Deus com a adoração e o serviço.

O primeiro verbo: adorar. Amar é adorar. A adoração é a primeira resposta que podemos oferecer ao amor gratuito, ao amor surpreendente de Deus. A maravilha própria da adoração é essencial na Igreja, sobretudo neste tempo em que perdemos o hábito da adoração. De fato, adorar significa reconhecer na fé que só Deus é Senhor e que, da ternura do seu amor, dependem as nossas vidas, o caminho da Igreja, as sortes da história. Ele é o sentido do nosso viver.

Ao adorá-Lo, redescobrimo-nos livres. Por isso, na Sagrada Escritura, o amor ao Senhor aparece frequentemente associado à luta contra toda a idolatria. Quem adora a Deus rejeita os ídolos, pois, enquanto Deus liberta, os ídolos tornam-nos escravos. Enganam-nos e nunca realizam o que prometem, porque são «obra das mãos dos homens» (Sal 115, 4). A  Escritura é severa contra a idolatria, porque os ídolos são obra do homem e, por este, manipulados, ao passo que Deus é sempre o Vivente, que está aqui e no além, «que não é feito como eu O penso, que não depende de quanto eu espero d’Ele e pode, por conseguinte, transtornar as minhas expectativas, precisamente porque está vivo. E a prova de que nem sempre temos a ideia certa de Deus é o fato de às vezes ficarmos decepcionados: eu esperava isto, imaginava que Deus Se comportasse assim, mas enganei-me. Deste modo trilhamos de novo o caminho da idolatria, querendo que o Senhor atue segundo a imagem que nós fizemos d’Ele» (C. M. Martini, Os grandes da Bíblia. Exercícios Espirituais com o Antigo Testamento, Florença 2022, 826-827). Isto é um risco que sempre podemos correr: pensar em «controlar Deus», encerrar o seu amor nos nossos esquemas, quando, pelo contrário, o seu agir é sempre imprevisível, ultrapassa-nos e por isso este agir de Deus suscita maravilha e exige adoração. Como é importante este maravilhar-se!

Sempre devemos lutar contra as idolatrias: sejam as mundanas, que muitas vezes derivam da vanglória pessoal, como a ânsia do sucesso, a autoafirmação a todo custo, a ganância do dinheiro (o diabo entra pelos bolsos, não o esqueçamos!), o encanto do carreirismo; sejam as disfarçadas de espiritualidade, como a minha espiritualidade, as minhas ideias religiosas, a minha habilidade pastoral… Vigiemos para não acontecer colocarmo-nos no centro a nós em vez d’Ele. Mas voltamos à adoração… Que esta seja uma atividade central para nós, pastores: dediquemos diariamente um tempo à intimidade com Jesus, Bom Pastor, diante do sacrário. Adorar. Que a Igreja seja adoradora! Adore-se o Senhor em cada diocese, em cada paróquia, em cada comunidade! Porque só assim nos voltaremos para Jesus, e não para nós mesmos; porque só através do silêncio adorador é que a Palavra de Deus habitará as nossas palavras; porque só diante d’Ele seremos purificados, transformados e renovados pelo fogo do seu Espírito. Irmãos e irmãs, adoremos ao Senhor Jesus!

O segundo verbo: servir. Amar é servir. No mandamento maior, Cristo liga Deus e o próximo, para que não apareçam jamais separados. Não existe experiência religiosa autêntica que seja surda ao grito do mundo; falo duma verdadeira experiência religiosa. Não há amor a Deus sem envolvimento no cuidado do próximo, caso contrário corre-se o risco do farisaísmo. Talvez tenhamos de verdade muitas e belas ideias para reformar a Igreja, mas lembremo-nos: adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, esta é a grande e perene reforma. Ser Igreja adoradora e Igreja do serviço, que lava os pés à humanidade ferida, acompanha o caminho dos mais frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura ao encontro dos mais pobres. Assim no-lo ordena Deus, como ouvimos na primeira Leitura.

Irmãos e irmãs, penso naqueles que são vítimas das atrocidades da guerra; nas tribulações dos migrantes, no sofrimento escondido de quem se encontra sozinho e em condições de pobreza; em quem é esmagado pelos fardos da vida; em quem já não tem mais lágrimas, em quem não tem voz. E penso nas vezes sem conta em que, por trás de lindas palavras e eloquentes promessas, se favorecem formas de exploração, ou então nada se faz para as evitar. É um pecado grave explorar os mais frágeis, pecado grave que corrói a fraternidade e destrói a sociedade. Nós, discípulos de Jesus, queremos levar ao mundo outro fermento, o do Evangelho: Deus no primeiro lugar e, juntamente com Ele, aqueles para quem vão as suas predileções, ou seja, os pobres e os mais frágeis.

É esta, irmãos e irmãs, a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama, perdoa, sem nunca exigir antes um atestado de «boa conduta». Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia. «O homem misericordioso – disse Crisóstomo – é um porto para os necessitados: o porto que acolhe e liberta do perigo todos os náufragos; sejam eles malfeitores, bons ou o que quer que sejam (…), o porto abriga-os dentro da sua enseada. Assim também tu, quando vires por terra um homem que sofreu o naufrágio da pobreza, não julgues, não peças contas da sua conduta, mas livra-o da desgraça» (Discursos sobre o pobre Lázaro, II, 5).

Irmãos e irmãs, assim se conclui a Assembleia Sinodal. Nesta «conversação do Espírito», pudemos experimentar a terna presença do Senhor e descobrir a beleza da fraternidade. Ouvimo-nos reciprocamente e sobretudo, na rica variedade das nossas histórias e sensibilidades, pusemo-nos à escuta do Espírito Santo. Hoje não vemos o fruto completo deste processo, mas podemos com clarividência olhar o horizonte que se abre diante de nós: o Senhor guiar-nos-á e ajudar-nos-á a ser Igreja mais sinodal e mais missionária, que adora a Deus e serve as mulheres e os homens do nosso tempo, saindo para levar a todos a alegria consoladora do Evangelho.

Irmãos e irmãs, por tudo o que fizestes no Sínodo e continuais a fazer, digo-vos obrigado! Obrigado pelo caminho que fizemos juntos, pela escuta e pelo diálogo. E, a par do agradecimento, quero formular um voto para todos nós: o voto de que possamos crescer na adoração a Deus e no serviço ao próximo. Adorar e servir. Que o Senhor nos acompanhe. Avante, com alegria!

Papa Francisco

FONTE: https://www.acidigital.com/noticia/56583

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Artigos CNBB

Carta da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos ao Povo de Deus

Queridas irmãs e irmãos,

ao chegar ao fim dos trabalhos da primeira sessão da XVIa Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, queremos, com todos vós, dar graças a Deus pela bela e rica experiência que tivemos. Vivemos este tempo abençoado em profunda comunhão com todos vós. Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo connosco as vossas expectativas, os vossos questionamentos, e também os vossos receios.
Já passaram dois anos desde que, a pedido do Papa Francisco, iniciámos um longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém, para “caminhar juntos”, sob a guia do Espírito Santo, discípulos missionários no seguimento de Jesus Cristo.

A sessão que nos reuniu em Roma desde 30 de setembro foi um passo importante neste processo. Em muitos aspectos, foi uma experiência sem precedentes. Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos.

Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutámos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método do diálogo no Espírito, partilhámos humildemente as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. Assim, experimentámos também a importância de promover intercâmbios mútuos entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão. A participação de delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais enriqueceu profundamente os nossos debates.

A nossa assembleia decorreu no contexto de um mundo em crise, cujas feridas e escandalosas desigualdades ressoaram dolorosamente nos nossos corações e conferiram aos nossos trabalhos uma gravidade peculiar, tanto mais que alguns de nós provinham de países onde a guerra deflagra.

Rezámos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos aqueles que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz.

A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecuménica de abertura, experimentámos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado.

“A cruz é, de facto, a única cátedra d’Aquele que, dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai, para que ‘todos sejam um’ (Jo 17,21)”. Firmemente unidos na esperança que a Sua ressurreição nos dá, confiámos-lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: “Laudate Deum! “, recordou o Papa Francisco logo no início dos nossos trabalhos.

Dia após dia, sentimos um apelo premente à conversão pastoral e missionária. Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si mesma, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf. Jo 3,16).

Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste Sínodo, alguns sem-abrigo que vivem perto da Praça de S. Pedro responderam: “Amor! “. Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus a 15 de outubro, a meio da nossa assembleia. É a “confiança” que nos dá a audácia e a liberdade interior que experimentámos, não hesitando em exprimir livre e humildemente as nossas convergências e as nossas diferenças, os nossos desejos e as nossas interrogações, livre e humildemente.

E agora? Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra “sínodo”. Não se trata de uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo, “Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abstractos se não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (…), promovendo o envolvimento real de todos e de cada um” (9 de outubro de 2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos.
Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres.

Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21)! Trata-se de escutar aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja.

Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer.

A Igreja precisa de escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória.

A Igreja precisa de colocar-se à escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de hoje. Precisa de acolher as vozes daqueles que desejam se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento e de tomada de decisões.

Para progredir no discernimento sinodal, a Igreja tem particular necessidade de recolher ainda mais a palavra e a experiência dos ministros ordenados: os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos mais vulneráveis.

Deve também deixar-se interpelar pela voz profética da vida consagrada, sentinela vigilante dos apelos do Espírito. Precisa ainda de estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a verdade e nos quais o Espírito, que “a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido” (Gaudium et spes 22, 5), também está presente e actua.

“O mundo em que vivemos, e que somos chamados a amar e a servir mesmo nas suas contradições, exige da Igreja o reforço das sinergias em todos os âmbitos da sua missão. É precisamente o caminho da sinodalidade que Deus espera da Igreja do terceiro milénio” (Papa Francisco, 17 de outubro de 2015).

Não tenhamos medo de responder a este apelo. A Virgem Maria, a primeira no caminho, nos acompanha em nossa peregrinação. Nas alegrias e nas fadigas, ela mostra-nos o seu Filho que nos convida à confiança. É Ele, Jesus, a nossa única esperança!

Cidade do Vaticano, 25 de outubro de 2023

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Artigos Voz do Pastor

Leigas e Leigos “nem cá, nem lá”

Estamos vivendo os últimos dias do III Ano Vocacional no Brasil, “Vocação: Graça e Missão – Corações ardentes pés a caminho”. No mês de novembro, de modo especial, recordamos a vocação laical. Entre as solenidades de Cristo Rei 2017-2018, vivemos no Brasil o Ano do Laicato, animado pelas reflexões do documento 2015 da CNBB: Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na sociedade – Sal da terra e luz do mundo.

Prestes a terminar o Ano do Laicato – não me recordo quem –pediram-me para escrever algo sobre o legado do Ano Laicato. Abaixo segue um trecho do que escrevi.

A primeira coisa a destacar é a conscientização e reflexão sobre a vocação laical. O documento 105 da CNBB não trouxe novidades teológicas, e nem poderia. No entanto, os vários eventos nas dioceses trouxeram consigo a afirmação – talvez um pouco esquecida – que ser leigo e leiga na Igreja, não é uma “sub vocação”, mas uma vocação plena e autônoma como a vocação aos ministérios ordenados e à vida consagrada. O grande relevo que o documento 105 da CNBB dá à vocação laical – relevo, não novidade – é o leigo como sujeito eclesial. A tradicional regra gramatical nos ensina que sujeito é aquele que pratica a ação. A vocação laical não é passividade, mas atuação concreta e própria na obra da evangelização. Esta é a missão da Igreja. Leigos e leigas, ministros ordenados, consagrados e consagradas, todos somos sujeitos eclesiais que, dentro do nosso âmbito vocacional, somos chamados atuar concretamente na obra da evangelização, com a autonomia – não independência arbitrária – que se manifesta numa verdadeira espiritualidade de comunhão e participação.

                Ligado a este primeiro ponto fundamental está a responsabilidade dos vocacionados leigos e leigas na obra evangelizadora da Igreja.  Como sujeitos eclesiais, necessitam (ou melhor, a missão da Igreja necessita) participar ativamente nos vários âmbitos da comunhão eclesial. (cf. Doc 105 CNBB 136-160)

                O Ano do Laicato, na sua reflexão teológica, colocou em foco o específico da vocação laical: a sua índole secular. De modo particular, é no mundo que os leigos devem vivenciar a ação transformadora do evangelho. A presença da identidade cristã católica precisa incrementar a sua presença profética e evangelizadora em tantos âmbitos da nossa sociedade e nos modernos areópagos. (cf. Doc 105 CNBB 241-273.) A organização do laicato com os Conselhos de Leigos ou algo similar, deveria ajudar no diálogo com as realidades da sociedade e ação transformadora na sociedade. Trata-se de uma presença profética.

Por último, não exatamente em último lugar, este Ano deixa como legado o sentimento da necessidade da formação espiritual, catequética, teológica e específica para os vários âmbitos e “areópagos modernos”. Tanto para a ação transformadora no âmbito eclesial, como no mundo é necessário formar-se.  É preciso caminhar para um aprimoramento na formação do laicato. Não podemos simplesmente ser uma “Igreja em saída”. Temos que sair com uma identidade, estar presente no mundo com o odor de Cristo.

Um legado importante para a nossa diocese do Ano do Laicato foi a formação do Conselho Nacional de Leigos – CNLB Guarulhos, que tem promovido, especialmente, a formação para a missão da vocação laical na sociedade.

Entretanto, aproximando-se da solenidade de Cristo Rei, dia de celebrar a vocação laical, percebo um desinteresse dos leigos – sem generalizar, por favor – na missão ad intra e ad extra em nossas comunidades. Entre a pandemia e o período pós pandemia, foram sendo manifestados abandono em muitas comunidades dos ministérios exercidos com tanto vigor anteriormente. É verdade que pandemia nos desestruturou em tantos aspectos, mas a fé que vence o mundo sempre nos coloca em pé, quando a buscamos como força no caminhar.

Temos vários leigos “nem nem”. Alguns resolveram “dar um tempo” simplesmente na missão assumida em força do batismo e diante de Deus nos ministérios laicais importantes para a obra da evangelização. Até mesmo nas celebrações dominicais aumentou o absenteísmo. E o que dizer dos momentos formativos para o exercício dos ministérios dentro das comunidades? Os grupos de rua esvaziaram-se. Temos irmãos e irmãs que estão assumindo várias missões nas comunidades em virtude da omissão dos chamados e capacitados que estão “dando um tempo”. Estes são os leigos e leigas “nem cá”.

As formações do CNLB Guarulhos, que tanto tem trabalhado para a vivência da índole secular da vocação laical, têm tido pouca adesão.  Alguns, para não dizer muitos, dos agentes das pastorais sociais – que manifestam um aspecto preponderante da Igreja em saída – abandonaram o seu trabalho e a formação. Em várias paróquias várias pastorais sociais que existiam antes da pandemia, deixaram de existir. Tenho certeza de que estes irmãos e irmãs buscam viver no mundo conforme os valores do evangelho, mas vão aos poucos perdendo a identidade eclesial. Estes são os leigos e leigas “nem lá”.

Este não é uma bronca de pastor. Trata-se de uma reflexão que brota de mim após passar alguns dias pensando sobre o que escrever neste mês para a Folha Diocesana.

Dom Edmilson Amador Caetano, O. Cist.Bispo diocesano

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Artigos Vida Consagrada

Congregação das Filhas de Nossa Senhora Stella Maris

Três jovens enfermeiras italianas, Gilda Tatasciore, Giuseppina Volpi e Paolina Doninelli, chegaram ao Brasil em 1953, motivadas pelo amor a Cristo e com o propósito de servi-lo na pessoa dos mais necessitados, tinham como ideal dedicarem suas vidas aos cuidados dos doentes de hanseníase.

A realização plena do sonho, tão acalentado e sofrido, se realiza: trabalhando no Leprosário Padre Bento, conhecido hoje Hospital Padre Bento, neste cuidado de amor com os enfermos excluídos pela sociedade, deixaram transparecer algo a mais do que serem apenas “simples enfermeiras”.

Percebidas pelo olhar do senhor bispo Dom Antônio Maria Alves de Siqueira, em visita da pastoral ao leprosário, querendo saber os motivos da presença das três jovens italianas no Brasil. Disse Dom Antônio: “Minhas filhas, hoje vocês me deram a maior satisfação e alegria da minha vida. A tempo desejava este movimento a Nossa Senhora, a quem recorria com frequência para a realização de um trabalho desta natureza, hoje me atendeu. Por isso não estarão mais sozinhas pois serei vosso Pai”.

Depois desta conversa com Dom Antônio, Gilda, Giuseppina e Paolina Doninelli foram rezar na catedral, para entender a vinda delas ao Brasil, diante do santíssimo sacramento, Gilda falou a duas companheiras: “Deus está preparando alguma coisa para nós”. Nasceu assim a ideia de formar uma família religiosa, com desenvolvimento da obra, veio sempre mais se acentuado a necessidade de concretiza- lá na estrutura de uma associação com seus estatutos e aprovação eclesiásticas. Dom Antônio considerando o início, sugeriu que se constituísse uma entidade, assim nasceu Sodalício Stella Maris. Ao questionar Gilda sobre o ideal ao vir para o Brasil, respondeu: “Criar almas luminosas no mundo tenebroso de gente abandonada no sofrimento de lepra e de moléstia contagiosa, almas que fossem como estrelas a indicar- lhes o caminho de conforto e salvação, mais ainda e acentuadamente, indicar aos doentes isolados, refugo da humanidade, suas dores num mar de sofrimento de toda espécie, que lá no alto há uma estrela luminosa, uma mãe que compreende seu prolongado martírio que ama, à espera de um dia abraça-los”. Não era preciso mais nada. Dom Antônio com alegria e a contento de todos, determinou a denominação da nova entidade SODALÍCIO STELLA MARIS.

Em 05 de outubro de 1957, sob a proteção de Nossa Senhora Stella Maris e aprovação eclesiástica, foi instalado e mais tarde mudando o título de Congregação das Filhas de Nossa Senhora Stella Maris. Estamos presente em Carapicuíba, Carmo de Cachoeira – Minas Gerais, e em Guarulhos, Casa Mãe Hospital Stella Maris e Pensionato São Francisco.

Com imensa alegria neste mês, em 5 de outubro, estamos fazendo 66 anos de fundação, rendemos graças a Deus e Nossa senhora Stella Maris, perseverança, ser fiel a este chamado, ao exemplo de nosso pai patrono São Camilo Lellis “Contemplar a face de Cristo na pessoa do enfermo, a pupila dos olhos de Deus”.

Estamos no ano vocacional onde o tema “Vocação: Graça e Missão” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24, 32-33). Deus não tem hora e lugar para fazer o convite, no evangelho de são Marcos 3,13-19 nos diz: “Jesus chamou e enviou os que ele mesmo quis”.

Deus nos conhece desde o ventre materno, ali o primeiro chamado à vida, está sempre a nossa espera, nossa vocação, sendo na vida matrimonial, sacerdotal e religiosa. Dentro da igreja tem vários carismas específicos, mesmo conselho evangélicos e sempre com o mesmo ideal a seguir os passos do mestre e seus ensinamentos. Acima está nossa história, nossas irmãs fundadoras onde nosso carisma, a entrega a serviço dos menos favorecidos, os doentes e aqueles que sofrem por toda espécie de males que atinge nossa sociedade: “Em verdade vos digo, cada vez que fizestes a um desses meus pequeninos, a mim fizestes”. (mt. 25,40).

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Deixai vir a mim os Pequeninos!

Uma breve discussão sobre a Erotização da infância.

Outubro é o mês em que as atenções se voltam para as crianças. Essa época tornou-se importante também para o comércio, pois marca o início das vendas de Natal. Em meio às dúvidas naturais sobre o que comprar, surge uma questão mais importante: Do que elas estão precisando efetivamente? Uma breve olhada nos perfis disponíveis nas mídias sociais, nota-se um fenômeno preocupante: As crianças estão deixando de ser crianças; estão se apresentando como se fossem adultos, buscando notoriedade e seguidores. Para atingir esse objetivo, apelam para dancinhas eróticas ao som de músicas com letras pornográficas.

Muitas pessoas podem argumentar que, as crianças estão apenas se divertindo, que não há nada de errado e que a maldade está nos olhos de quem vê. De fato, não teria problema algum se o vídeo fosse apenas para registro particular, mantido em casa. Mas a partir do momento em que eles se tornam públicos e, com o aval dos próprios pais, qualquer pessoa pode copiá-los e utilizá-los como quiserem. É o que tem acontecido ultimamente, quando grupos criminosos alimentam sites de pornografia inserindo imagens de crianças que foram colhidas dos perfis exibidos na mídia social. Essa é a nova face da Pedofilia.

A criança ou até mesmo o adolescente, não possui maturidade suficiente para avaliar as consequências dos seus atos. Tudo o que querem é alcançar reconhecimento e obter poder através do aumento de seguidores e número de curtidas. O problema é que na ambição de ganhar popularidade, acabam reproduzindo o mesmo padrão hipersexualizado encontrado nas páginas dos adultos. Essa hipersexualização, infelizmente, está se tornando cada vez mais precoce e as consequências não são positivas. Podem causar estresse e ansiedade, além de afetar o rendimento escolar. Contudo, o problema mais grave, é a vulnerabilidade dessas crianças diante desse mundo virtual, tornando-as presas fáceis de pessoas mal-intencionadas.

Neste mês de outubro que é o mês Missionário, mas também um mês em que a sociedade coloca a criança como centro, é importante refletir sobre a nossa missão, seja como genitores ou educadores. Temos um desafio que é resgatar a criança que foi atraída e presa nessa realidade virtual. É preciso enxergar nas coreografias insinuantes, um pedido escondido de socorro. São vozes abafadas e inocentes que, de maneira sutil, clamam pelo direito de ser apenas crianças. Afinal, se o Reino dos céus é dos pequeninos, não existe maneira mais pura de seguir a Deus devolvendo a elas a liberdade perdida e a infância roubada.

 

Romildo R. Almeida – Psicólogo Clínico

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Como entender a palavra de Deus com uma base sólida da fé católica, relacionando as fontes da teologia para uma boa argumentação?

Para falarmos das três fontes (Sagrada Escritura, Tradição e Magistério) é necessário esclarecer que abordaremos o tema numa visão da Teologia Católica, pois embora a Teologia Protestante, em algumas denominações tenham além da Sagrada Escritura, também como fonte a Tradição, eles não possuem como fonte o Magistério.

Tendo como fonte primária a Sagrada Escritura, que é a Palavra de Deus enquanto redigida sob inspiração do Espírito Santo, ela é base para toda reflexão em primeiro lugar, pois tanto o Antigo Testamento, como o Novo Testamento formam o conjunto de escritos que instruem o Povo de Deus. O próprio Jesus Cristo, em que toda revelação do Deus altíssimo atinge a sua plenitude, ordenou aos apóstolos que o Evangelho, fosse pregado como fonte de toda verdade salvadora e da disciplina dos costumes, comunicando os seus dons divinos, conforme a Constituição Dogmática Dei Verbum nº 418.

A Tradição que vem dos apóstolos e transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus, e o que receberam por meio do Espírito Santo. A transmissão da Boa Nova no início do cristianismo, por não possuírem ainda o Novo Testamento escrito, tiveram que usar a transmissão oral, que atesta a Tradição viva. A Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas, cabendo ao Magistério da Igreja, sua manutenção, modificação ou abandono, conforme o Catecismo da Igreja Católica menciona no nº 83. A Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição devem ser aceitas e respeitadas com igual reverência.

O Magistério da Igreja, formado pelos bispos (sucessores dos apóstolos), em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma, tem o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou transmitida, mas compreendendo que o Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço. Recebendo dos próprios apóstolos o múnus magisterial, os bispos ensinam apenas aquilo que lhes foi transmitido, ao mesmo tempo que por mandato divino e com o auxílio do Espírito Santo, devotamente a escuta, santamente a guarda e fielmente a expõe, absorvendo tudo aquilo que propõe que se deva crer como divinamente revelado deste único depósito da fé, conforme relata a Constituição Dogmática Dei Verbum nº 426.

As três fontes, portanto, encontram-se fortemente unidas e associadas, formando uma base sólida para toda reflexão Teológica que busca uma argumentação fundamentada e, não a reduzindo a uma interpretação pessoal ou apartada daquilo que a transmissão da Tradição efetivamente nos deixou.

 

Celso Rogério Santana Teixeira – Aluno do 5º Ano de Teologia pela PUC-SP

Aspirante ao Diaconato Permanente pela Diocese de Guarulhos

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O Profetismo em Israel (Reino do Norte)

Temos como primeiros representantes do Profetismo em Israel Elias e Eliseu, sempre em oposição ao rei Acab e à rainha Jesabel, por causa da defesa da Lei (Aliança) e da vida do povo que os soberanos menosprezavam; eles promovem uma verdadeira denúncia dos abusos do poder do rei  e a idolatria promovida por Jesabel. Consequência disso foram as perseguições que Elias sofreu (ver 1Rs 18,3; 19, 10; Jr 18, 18; 26,11)

 

Os PROFETAS, fiéis à Aliança não podiam ser coniventes em relação aos atos do rei. Este era um discernimento difícil, devido aos riscos que os profetas corriam.

 

O CICLO DE ELIAS (veja os Textos: 1Rs 17 – 19; 21; 2Rs 1, 1 – 2, 18).

ELIAS foi o maior representante do profetismo e figura-síntese do profetismo do Antigo Testamento (veja Lc 9, 30 = Mt 17, 4 = Mc 9,4).

Natural de Tesb (Galaad), distanciado do poder político (rei) num nível bem profundo.

Seu lugar é o deserto, refúgio diante das perseguições. Defensor dos pobres e crítico da ganância e do abuso do poder dos ricos e reis, estabelece uma convivência com os pobres: a viúva de Sarepta, em Sidônia (1Rs 17, 7 – 24). Sofreu a feroz perseguição ao ponto de se considerar “o único que sobrou” (1Rs 18 e 19).

Era um “homem de Deus” que trazia a experiência do Deus Libertador, a fé que brota da partilha e a esperança (nuvem) diante da seca. Expressou certa indignação contra a ambição sem medida do rei Acab (1Rs 21).

Traz uma singular experiência de Deus: a “brisa suave” (1Rs 19, 9 – 14); arrebatado aos céus num “carro de fogo” (2Rs 2, 11 – 12). Malaquias anunciou a “volta de Elias” (Ml 3, 23 – 24) e Jesus ofereceu nova interpretação da “volta de Elias” (Mt 17, 9 – 13), tamanha a importância do profeta Elias.

 

O CICLO DE ELISEU:

Foi “Herdeiro” da profecia e do “espírito de Elias” (2Rs 2, 13s). Foi um profeta mais popular (2Rs 2 – 13), chamado por Elias (1Rs 19, 19 – 21). Em sua história, há “causos”: narrativas com tons exagerados, com milagres e ações “esquisitas”. Ex.: “milagres aquáticos” (2Rs 2, 14; 2, 21; 5, 10; 6, 6) e “histórias de cunho popular” (2Rs 2, 23 – 24; 4, 1 – 7; 4, 9 – 44; 13, 21).

Temos que tomar cuidado com o gosto pelo “extraordinário”, pois a mensagem mais profunda do profeta é mais importante.

A ação profética de Eliseu é fundamental no contexto político em que viveu (Eclo 48, 13): veja os envolvimentos do profeta em eventos políticos: 2Rs 3, 4 – 27; 6, 8 – 23; 8, 7 – 15; 6, 24 – 7, 2; 9, 1 – 10 e 13, 14 -20.

Padre Éder Aparecido Monteiro