SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

SÃO PAULO - BRASIL

"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

FALANDO DA VIDA E DENUNCIANDO A MORTE

“A morte da floresta é o fim da nossa vida”.

Se falar da vida é falar de tudo o que se refere ao ser humano incluindo nossa casa comum, é impossível não falar de Bruno e Dom, duas pessoas comprometidas com uma parte importante da nossa casa, a Amazônia. Não são apenas as respectivas famílias que estão chorando a sua ausência, mas também as florestas com os seus animais, os rios, os peixes, os indígenas, a natureza, enfim, todos nós choramos. Morreram porque cometeram o “delito” de denunciar a pesca ilegal, a mineração que contamina as águas, destrói as matas e traz a doença e a morte para os povos isolados; morreram porque defendiam a natureza.

Se falar da vida é informar, Dom Phillips era jornalista inglês e estava no Brasil desde 2007 com o objetivo inicial de escrever artigos sobre música para jornais ingleses. Dava aula de inglês como voluntário num projeto social na Bahia e quando conheceu a Amazônia mudou totalmente o seu enfoque e passou a escrever sobre desmatamento e a degradação do meio ambiente naquela região. Estava escrevendo um livro sobre a floresta a fim de revelar as riquezas naturais e o grande perigo de destruir esse importante bioma. Já havia escrito quatro capítulos, mas o livro não será concluído. Seu sonho foi interrompido com tiros de arma de caça.

A morte recente de Bruno e Dom faz reavivar em nossa memória a morte de Chico Mendes, líder dos seringueiros que foi assassinado em 1988 e da irmã Dorothy Stang, freira americana assassinada brutalmente em 2005. Irmã Dorothy vestia sempre uma camiseta com uma frase estampada: “A morte da floresta é o fim da nossa vida”. Todas essas pessoas tinham em comum, o amor pela natureza e morreram como mártires lutando pela mesma causa. Mas aqueles que tentam calar a voz dos que lutam, usando tiros de fuzis, não sabem que não existe no mundo arma capaz de matar uma causa e sepultar um ideal. Certamente eles continuarão vivos e as suas vozes ecoarão pela floresta motivando mais pessoas.

Mas, se falar da vida é agradecer, não posso deixar de destacar aqui, minha alegria em poder contribuir com esse precioso meio de comunicação chamado Folha Diocesana, especialmente nesta 300ª edição. Sinto-me honrado e agradecido em fazer parte desde as primeiras publicações. Que Deus abençoe e gratifique todos aqueles que trabalham arduamente para levar essa mensagem aos mais diferentes lugares da nossa cidade. Que continuemos todos unidos, falando da vida.

 

Romildo R. Almeida – Psicólogo clínico

NO DESERTO: OS DESVIOS DA FÉ

Resumindo Ex 3 – 15, aprendemos que:

– o povo hebreu era escravo no Egito;

– o povo clamou, Deus o ouviu e viu o sofrimento do povo;

– Deus libertou, entre muitos prodígios (pragas), o povo hebreu das garras do Faraó.

Porém, já no começo e ao logo da travessia pelo deserto, o povo hebreu cometeu desvios na sua caminhada de fé. A dúvida, a rebeldia e a revolta prevaleceram, muitas vezes, na caminhada, nas escolhas e nas atitudes:

– junto a Mara, murmuraram contra Deus e Este os pôs à prova (Ex 15, 22 – 27) com as águas amargas;

– reclamaram de fome e Deus lhes providenciou o MANÁ e as codornizes (veja Ex 16, 1 – 35 e Nm 11, 31 – 35);

– mais uma vez o povo sentiu sede, reclamou e Deus fez brotar a água da rocha (Ex 17, 8 – 16);

– em Cibrot-ataava o povo se queixou  (Nm 11, 4 – 9), Moisés intercedeu (Nm 11, 10 – 15) e Deus agiu em favor do seu povo (Nm 11, 16 – 23);

– até Maria e Aarão se rebelaram contra Moisés e enfrentaram as consequências (Nm 12, 1 – 10).

Tanto Moisés (Nm 14, 1 – 38) como Aarão  (Nm 17, 6 – 26) intercediam pelo povo livrando-o do castigo quando o povo se rebelava.

Entretanto, certas atitudes do povo hebreu trouxeram consequências terríveis:

– o bezerro de ouro (Ex 32): o papel de Aarão foi reprovado, muitos adoradores do bezerro de ouro foram exterminados e Moisés chegou a quebrar as tábuas da Lei de Deus, tamanha foi sua fúria diante da idolatria do povo;

– a rebelião de Coré, Datã e Abiram (Nm 16, 1 – 35) trouxe terrível consequência aos envolvidos;

– junto às aguas de Meriba (Nm 20, 1 – 11) o povo tentou a Deus e até Moisés e Aaarão sofreram as consequências (Nm 20, 12 – 13);

– a serpente de bronze (Nm 21, 4 – 9): neste episódio o povo blasfemou mesmo contra Deus, com nojo do MANÁ; o castigo foi terrível e Deus acabou perdoando, graças a intercessão de Moisés, mais uma vez;

Além dos desvios na sua caminhada rumo a terra prometida, o povo de Deus também enfrentou obstáculos muito difíceis:

– no combate contra Amalec Deus interveio dando vitória ao povo hebreu (Ex 17, 8 – 16);

– quando Edom recusou passagem em seu território para o povo hebreu acessar a terra de Canaã (Nm 20, 14 – 21);

– quando o rei de Moab chegou a contratar o profeta Balaão para amaldiçoar o povo hebreu (Nm 22, 1 – 24, 25), Deus interveio, obrigando Balaão a abençoar o povo hebreu;

– os madianitas, de Madiã, também combateram contra o povo de Deus (Nm 31, 1 – 24).

Vendo os desvios e obstáculos da fé do antigo povo de Deus, enxergamos também os desvios e obstáculos de nossa fé nos dias de hoje: os pecados e as tribulações que enfrentamos.

Há situações da vida que infelizmente nos levam a sermos infiéis, rebeldes e revoltados em relação a Deus, desde as mais mínimas necessidades até às mais fúteis vaidades humanas.

Hoje a idolatria, expressão maior de nossa vaidade humana, atrai para muitos a ilusão da infelicidade, porque negamos a Deus quando o trocamos por coisas ou quando nos colocamos contra seus planos.

O combate da fé exige oração e muito empenho para não cedermos ao inimigo, o demônio. É preciso realmente se aliar a Deus numa verdadeira Aliança de amor, selada no Sangue de Cristo, Filho de Deus, a fim de obtermos vitória em nossos empreendimentos da fé.

O mesmo Deus que nos liberta de toda espécie de escravidão é o mesmo Senhor que nos conduz, nos sustenta e nos corrige na caminhada rumo à pátria definitiva.

Agradeçamos ao Senhor pelos 300 números de nossa Folha Diocesana, que sempre foi expressão de uma caminhada da nossa Igreja particular de Guarulhos e que contemplou nossas vitórias e nossas dificuldades ao longo de vários anos de vida pastoral.

Pe. Éder Aparecido MonteiroVigário Paroquial – Paróquia Sta. Cruz Pres. Dutra

Um coração em Deus

Quão difícil colocar em palavras um momento tão triste, tão difícil como o que vivemos. José Iran, como ser humano era possuidor de falhas, mas chegou a um nível singular de confiança e esperança em Deus que a cada dia mais próximo de Deus se fazia. Sempre trazendo a marca da simplicidade, cortesia e acolhimento. Ele era um homem doce, leve, engraçado e firme. Escrevia uma história forte, contava sua história com leveza, não se atinha a fazer dos problemas mais fortes do que ele, tão pouco maiores do que ele.

Hoje nos resta saudade e o compromisso de rezarmos por ele. Ele preferia servir do que ser servido. Muito capaz de colocar o outro à sua frente. Poderíamos dizer ainda muita coisa, dada a sua grandeza. Para ele o céu e a nós a convicção que estaremos sempre unidos na oração.

Podemos agora afirmar que está feliz: a enfermidade, as dores, a angústia passaram e agora um servidor se torna bem próximo de Deus. Foi levado a ser missionário no céu, certo que está intercedendo por cada um de nós (amigos, familiares, padres, seminaristas).

Deus o abençoe!

 

Padre Francisco G. Veloso Jr – Reitor do Seminário Diocesano Imaculada Conceição

A filosofia no tempo de formação sacerdotal III

Dando continuidade ao itinerário sobre a vocação e a formação sacerdotal, chegamos ao estudo da filosofia. Geralmente, ao chegar à filosofia, o candidato já passou por uma série de discernimentos, trabalhos, crises e confirmações de que a resposta à vocação vai lhe custar nada mais do que a vida. Sim, ao candidato não se negue a conhecer a verdade. Ele será um homem hóstia. Sua vocação se realizará em plenitude quando ele fizer de sua vida um grande sacrifício. Por isso a vocação ao sacerdócio tanto escandaliza o mundo moderno.

Do propedêutico, período de um ano, (tratado na matéria passada) ao primeiro ano de filosofia, o candidato escreve seu discernimento por meio de uma carta, dirigida ao bispo diocesano, pedindo o ingresso nos estudos filosóficos. Este estudo levará, em geral, três anos. Muitas pessoas, até hoje, nos questionam sobre a necessidade do estudo da filosofia para sacerdotes. Recorramos ao magistério eclesiástico. São João Paulo, na Fides et Ratio diz que: “Fé e Razão são duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”.

O sacerdote, como amante da verdade, jamais se contentará em conhecer as coisas pelo ouvir dizer ou pelas impressões apresentadas pelos outros. Serve para nós o dito por São Tomás: “a filosofia busca a natureza das coisas mesmas e não do que as pessoas acham”. Em seu período de estudos filosóficos, o candidato se deparará com os grandes questionamentos e se debruçará sobre a verdade. Aprenderá a construir raciocínios lógicos obtendo conhecimento sólido que lhe permitirá dialogar também com o mundo intelectual.

“É preciso dar razões da fé”, os dramas humanos e a mística da religião se dão as mãos. Mesmo a fé se expressando misticamente, ela carece de conceitos humanos para serem demonstrados. A razão é, pois, instrumento no conhecimento e na apresentação dos conceitos. Mesmo que insuficientes, os conceitos nos ajudam a dar um passo.

Quais são os maiores dramas da humanidade? Quais foram até hoje os maiores dramas? Como o sacerdote é o hábil médico das almas, nenhum drama pode lhe ser desconhecido. No emaranhado da vida, o sacerdote apresenta o Cristo, A ÚNICA VERDADE. Se a filosofia se empenha na busca da Verdade e da Felicidade, não pode se deparar senão com Cristo. Por isso, temos dentro da filosofia os grandes pensadores que são também santos: Santo Agostinho, Santo Anselmo, Santo Alberto Magno, São João Paulo II, Santa Teresa Benedita da Cruz, Bem-aventurado Duns Scotus.

Imagine a fé não se preocupar com as questões que inquietam o homem? A Revelação, nossa maior riqueza, apresenta um Deus que não somente olhou as inquietações do homem, mas as assumiu. Sim, o sacerdote que prega o Verbo Encarnado, manifesta que a razão humana pode sim se aproximar do mistério e dizer palavras sobre O Mesmo.

Olhemos para os nossos seminários e rezemos para que ali sejam formados santos homens, envolvidos com os anseios e dramas do homem assumidos por Cristo. Colaboremos com o nosso seminário. A faculdade de filosofia, assim como todo o estudo dos nossos seminaristas, é custeada pela divina providência que passa pelas suas santas mãos. É amigo do seminário? Não? Se torne um amigo do Seminário, contribua e reze pelas vocações. Conheci uma senhora que contribuía e rezava. Ela dizia: “padre eu rezo pelos seminaristas principalmente por aqueles que não têm vocação, para que Deus os tire logo de lá”. Rezemos pelo discernimento de todos eles, para que possam descobrir e fazer a vontade de Deus!

 

Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros

Política e o Dever do Cristão

Estamos próximos à homologação e oficialização das candidaturas para as eleições 2022. Discussões, opiniões já estão circulando há certo tempo. Nesta minha palavra deste mês quero de maneira bem simples dar alguns “conselhos”, que julgo importantes para que possamos viver uma festa da democracia e, ao mesmo tempo, utilizar aquilo que é bem peculiar ao cristão: o discernimento.

  1. Não é correto dizer que a Igreja não faz política e que não faz política partidária.

a) Sendo a política uma forma sublime de amor, a Igreja não pode estar distante da política. Faz parte da dimensão socio transformadora do Evangelho zelar pela dignidade da pessoa humana em todas as dimensões. Isso não significa a defesa de um partido político, mesmo quando, em pronunciamentos oficiais, critica-se ou elogia-se esta ou aquela ação de um partido.

b) A Igreja faz, sim, política partidária. Ao clero é proibido fazer política partidária. Um padre ou um bispo não pode nem mesmo inscrever-se num partido. Não faz parte da missão dos pastores da Igreja. Aos leigos e leigas – QUE TAMBÉM SÃO IGREJA – cabe, sim, a missão e até mesmo o dever de fazerem política partidária, bem como, candidatarem-se a cargos eletivos através de um partido, caso se sintam chamados a viverem este serviço. Evidentemente, tudo deve ser feito dentro de um discernimento verdadeiramente cristão. Cabe também aos leigos promoverem espaços de diálogo e busca de comunhão no mundo político e político-partidário. Não se trata de promover batalha de ódio e desrespeito. Importante também é a participação dos leigos nos Conselhos paritários em todas as esferas, bem como a militância por maior atuação das políticas públicas.

2.  Nosso Salvador é Jesus Cristo: Ele, o único sem pecado, e que nos redimiu pelo sangue derramado na Cruz. Nenhum candidato, nenhuma candidata pode arvorar-se em se apresentar como salvador ou salvadora. Muito menos apresentar-se como impecável. Não procuremos impecáveis, pois não encontraremos.

Temos, sim, que discernir entre candidatos e partidos que apresentem propostas (não promessas) e projetos  (não compra de votos) que expressem maiormente aqueles valores que tornam presentes os valores do Reino. Aqui precisa o discernimento. Nem todos os candidatos e partidos apresentam valores totalmente evangélicos. Isso não é motivo para votar em branco ou nulo. Temos que escolher candidatos ou partidos que mais abram perspectivas de diálogo, ainda que proponham valores que não condizem com nossa fé.  Já disse: Nosso Salvador é Jesus Cristo, não precisamos de outro ou outra.

  1. Atualmente as “fake News” – notícias falsas – espalhadas nos mais variados meios de comunicação e compartilhadas indistintamente, têm feito muito mal à democracia. São fontes de ódio, vingança e até mesmo de atentados contra a vida. Antes de compartilhar, procure saber se a notícia é verdadeira e clara. Procure os caminhos corretos para identificar se uma notícia é verdadeira ou falsa. Na dúvida, não compartilhe.
  2. Caso não esteja em um momento de reflexão à luz da Palavra de Deus na comunidade, não entre em discussão sobre candidatos, partidos e propostas políticas. Procuremos sempre conservar a unidade pelo vínculo da paz, o que não quer dizer sinceridade e verdade; quer dizer fraternidade. Vivamos o ser irmãos. “Fratelli Tutti”. O mesmo “conselho” vale para o ambiente familiar. Cuidado para que os grupos de família nas redes sociais não se tornem “campo de batalha” , como nas eleições de 2018,

Espero poder dar mais “conselhos” no próximo mês.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.CistBispo diocesano

A esperança não decepciona (Rm 5,1-5)

Amados diocesanos iniciamos o segundo semestre movidos pela esperança no Senhor, que infunde em nós o seu Epírito e nos enche de alegria e fé. No dia 1 de julho o nosso Bispo Dom Edmilson se reuniu com o Conselho Diocesano de Pastoral e estiveram presentes padres e diáconos assessores, leigos e leigas coordenadores de pastoroais, movimentos, organismos e comunidades de vida. Uma reunião muito produtiva em que o Bispo consultou o Conselho sobre os desdobramentos da XI Assembleia Diocesana de Pastoral e outros assuntos importantes para vivencia dos trabalhos pastorais diocesanos.

O enfoque pastoral que coloco este mês; são as festas juninas já realizadas e as julinas que se realizarão neste mês. É bonito e gratificante ver o povo de Deus se organizado e trabalhando nestas festa, como também nos alegra muito ver a resposta de todo povo enchendo  de alegria os festejos e assim colaborando em suas paróquias.

Quero também destacar a Semana Diocesana de Formação que será no final do mês, nas cinco Foranias. Neste ano retornando ao presencial, e o tema deste ano é: “Família, lugar da palavra, da oração e do partir do pão.” Esta semana faz parte da celebração do Ano da Família Diocesano e teremos até o fim do ano outras atividades.

Quero redender graças ao Senhor por todos os trabalhos de envagelização realizados em nossa Diocese. Pricipalmente pela Folha Diocesana que chega hoje a sua edição de númeto Trezentos. Agradecemos a todos os calaboradores que ao longos dos anos vêm com seus textos enriquecendo este lindo trabalho. Recentemente por conta da pandemia o jornal estava sendo apenas Online, mas este ano voltou a ser impressa. Nossa gratidão especial a toda equipe de edição e revisão.

Bendito seja Deus!

Roguemos a Virgem Maria, que inspire nosso “Sim” a Deus no serviço de evangelização e nossos diversos trabalhos pastorais. E rezemos pelos sacerdotes de nossa Diocese que irão neste mês fazer o seu retiro anual. Que Nossa Senhora, Mãe do sacerdote, guarde todos sob sua proteção.

 

Pe. Marcelo Dias SoaresCoordenador Diocesano de Pastoral

JORNADA PELA VIDA: ENTRE AVANÇOS E RETROCESSOS

A Igreja Católica no Brasil, por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB lamentou, no último dia 24, a morte do bebê da menina de Santa Catarina. “Mais uma vez, infelizmente, veio à tona, outro caso dramático de uma criança que estava gestando um bebê com a idade gestacional de 29 semanas”, diz a nota da CNBB assinada por dom Ricardo Hoepers, bispo de Rio Grande (RS), que reitera a posição da Igreja “em defesa da integralidade, inviolabilidade e dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural”, e ainda, “condena, assim, todas e quaisquer iniciativas que pretendam justificar e impor o aborto no Brasil”.

Na nossa coluna da última edição – Junho 2022 – expusemos um breve histórico do julgamento do caso Roe versus. Wade, pela Suprema Corte Americana, que, em 1973, autorizou o aborto naquele país e foi utilizado como precedente em países ao redor do mundo inteiro. Na ocasião, esclarecemos como a gestante apelidada de Roe foi instrumentalizada pelos movimentos feministas que, com mentiras, tinham o exclusivo objetivo de aprovar o aborto naquele país. Ela, na verdade, jamais se submeteu a um aborto; aliás, sequer tinha sido estuprada, como à época narrado, e toda ajuda que efetivamente precisava, foi-lhe negada. Tentou trazer a verdade a tona: foi silenciada. Convido a você, querido leitor, que não leu o referido artigo, a acessá-lo no site da nossa Diocese.

A semelhança nos métodos adotados pelos promotores da “cultura da morte”, que, ao fim, revelam seus objetivos, é impressionante.

No recente caso de Santa Catarina, tratou-se de uma criança de 11 (onze) anos de idade que havia engravidado de outra criança de 13 (treze) anos de idade, e que no sétimo mês de gestação, foi submetida ao procedimento de expulsão do feto, que segundo fontes não oficiais, fora realizada através de aplicação de cloreto de potássio no coração do feto, ocasionando a sua morte brutal. Ora, com mais de 29ª semana, o nascimento do bebê seria plenamente viável e, diante do impreterível trabalho de parto ou cirurgia cesariana para a remoção da criança, a prática mostra o que a ideologia esconde: a realização do aborto trará sofrimentos e riscos físicos e psicológicos à jovem mãe.

Nesse contexto, o que presenciamos no Brasil foram lamentáveis esforços da mídia comprometida com a promoção da morte, sobretudo com o objetivo de, utilizando-se do caso desta menina, criar precedentes para abortamento de crianças após a 20ª semana de gestação, limite esse previsto na Norma Técnica do Ministério da Saúde, em vigor desde 2012.

Por outro lado, houve importantes avanços em favor da vida: como previmos na última edição da Folha Diocesana, a Suprema Corte dos EUA revogou, também no último dia 24, o precedente Roe versus Wade sendo que, a partir de agora, caberá a cada estado norte-americano legislar sobre o aborto. Segundo a Corte: “A decisão Roe v. Wade foi clamorosamente errada desde o início. Seu fundamento foi excepcionalmente fraco e a decisão teve consequências danosas”.

A proibição ao aborto é de fato expressão de direito natural e encontra positivação no ordenamento jurídico – em nível infraconstitucional e constitucional. A Santa Igreja afirma, desde o século I, a malícia moral de todo o aborto provocado. E esta doutrina não mudou. O aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral: “Não matarás o embrião por meio do aborto, nem farás que morra o recém-nascido” nos diz o Primeiro Catecismo da Igreja, (Didaké 2, 2).

Agradecemos à nossa Mãe, a Igreja, pela sua fidelidade à imutável doutrina e tradição católica que defende e valoriza a vida humana desde a concepção até a sua morte natural, e a veículos de comunicação católicos, como a nossa querida Folha Diocesana, que, na maturidade de sua 300ª edição e sob a responsabilidade jornalística do estimável Padre Marcos Vinícius, consolidou-se como um importante meio de propagação dos valores do Evangelho em nossa Diocese.

Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, Pós-Graduado
em Teologia, Mestre em Direito na PUC-SP

A Santa Missa na formação dos seminaristas

A Santa Missa, centro de toda ação da Igreja, é também fonte de toda vocação. Ela é nascente inesgotável do amor de Deus, que não somente alimenta o corpo e a alma, mas também desenvolve na pessoa humana o desejo de ser toda de Deus e nele e por ele receber a salvação. Partindo desta premissa, faz-se necessário entender que a formação do futuro sacerdote se inicia na Santa Missa, momento em que se identifica “in persona Christi”, ou seja, na pessoa de Cristo, fazendo-se parte integrante do corpo do Senhor.

A Santa Mãe Igreja, preocupada com a formação dos seminaristas, através do Código de Direito Canônico, orienta que “a Celebração Eucarística seja o centro de toda a vida do seminário, de forma que todos os dias os alunos, participando da própria caridade de Cristo, possam haurir, sobretudo desta fonte abundantíssima as forças para o trabalho apostólico e para a sua vida espiritual. (cân. 246 – §1)”. A liturgia e a celebração da Santa Missa são fonte pastoral de inesgotável formação do seminarista, porque contribuem a uma experiência sensível e inteligível do memorial salvífico da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Mediante a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística, o seminarista poderá ser santo e fiel Àquele que é o único e verdadeiro Sacerdote, Altar e Cordeiro. Ensinou o Santo Padre o Papa Francisco, em audiência geral no dia 15 de novembro de 2017, que: “a Missa é oração, aliás, é a oração por excelência, a mais elevada, a mais sublime, e ao mesmo tempo a mais ‘concreta’”.

Portanto, ao compreender a sua vocação através do Santo Sacrifício, o seminarista é formado na oração, na penitência, na caridade e no amor, não somente ao Senhor, mas também aos irmãos e à sua comunidade, pois vivencia diariamente os ensinamentos deixados pelo Cristo por meio de seu exemplo e palavra, especialmente no que diz em João 15: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos” (cf. Jo 15,13-17), os que devem cotidianamente ser imitados para que alcancem aquilo a que foram chamados, serem Sacerdotes para sempre.

 

Markos Monteiro da Silva – Seminário Propedêutico Santo Antônio

ROE X WADE: A PROXIMIDADE DO FIM

Estamos, segundo importantes fontes, as vésperas de que a Suprema Corte Americana reverta um dos seus julgamentos mais emblemáticos sobre o aborto, e que serviu de inspiração e modelo para que muitos países autorizassem essa prática nefasta e desumana, tanto por meio de leis, como de decisões dos seus tribunais.

A reanálise deste assunto deve-se a um recurso contra uma Lei do estado do Mississipi, que possibilita o aborto até a 15ª semana de gestão, e não até a 23ª, como havia decidido a Suprema Corte dos EUA.

Tudo começou no ano de 1970 quando uma garçonete chamada Norma McCorvey, moradora da cidade de Dallas – que posteriormente recebeu autorização para usar o nome de Roe – informou ter sido estuprada e exigiu o direito de abortar. Para tanto, processou o estado do Texas, que foi representado na justiça pelo Promotor Wade. Em 1973 o caso chegou até a Suprema Corte Americana que, por sete votos a dois, decidiu pelo direito ao aborto. Todavia, a esta altura, McCorvey, já havia dado à luz a uma menina que foi encaminhada para adoção.

McCorvey, utilizada pelo movimento feminista norte-americano como grande símbolo do aborto nos Estados Unidos, nunca se submeteu a um. Em 1987 confessou que não havia sido estuprada, mas que a gravidez que marcou a discussão do aborto no país foi fruto de uma relação com um homem com quem estava unida “por algo que pensava que era amor, mas por fim não era”. Em 1994 foi batizada na religião protestante, deixando seu trabalho em uma clínica de aborto, e passando a dedicar-se à defesa da vida. Em 1998, se tornou católica e, em 2004, tentou, sem sucesso que a Suprema Corte revisse seu caso, o que não ocorreu naquela época, vindo a falecer em 2017.

Ela nunca pareceu encontrar a paz, nem antes, nem depois de se transformar involuntariamente em um personagem histórico. Nasceu na Louisiana e cresceu em um ambiente pobre no Texas, entre a ausência da figura paterna e os abusos psicológicos de uma mãe alcoólatra. Deu à luz pela primeira vez aos 16 anos. Depois viria outra filha. Quando, aos 21, e já com um histórico de alcoolismo, vício em drogas e prostituição, ficou grávida pela terceira vez, procurou ajuda. A colocaram em contato com Linda Coffee, uma advogada de 26 anos que procurava uma demandante cujo exemplo permitisse que ela lutasse pela legalização do aborto.

Por várias vezes, McCorvey disse que embarcar naquilo foi o pior erro de sua vida. Ela, ao invés de receber a assistência material, psicológica e espiritual de que necessitava, foi vista como uma oportunidade para avanço das pautas abortistas. Quando aceitaram seu caso, ela estava na décima oitava semana de gestação, o que tornava impossível obter uma sentença a tempo para interrompê-la. Também sequer ofereceram a possibilidade de ajudá-la a abortar, como faziam com outras mulheres pobres, enviadas a Estados como a Califórnia, onde o governador o havia legalizado em 1967. Mais detalhes de sua história constam em seu livro autobiográfico chamado I Am Roe (Eu Sou Roe), de 1994, bem como no livro The Family Roe. An American Story (A família Roe. Uma história americana), do jornalista Joshua Prager.

Este emblemático caso – Roe versus Wade – nos mostra que a denominada “cultura da morte”, fundada na mentira e capitaneada por diversos movimentos feministas favoráveis ao aborto não busca, como prega, defender os direitos da mulher, mas, ao contrário, impor a destruição da vida humana (da criança não nascida e consequentemente da mulher) e também da família (projeto e dom de Deus) em prol de interesses egoístas e diabólicos, utilizando-se no mais das vezes, do próprio Estado – como no presente caso –  que passa a ter suas políticas públicas direcionadas para a morte.

Esperamos, confiantes, que os atuais juízes da Suprema Corte Americana tenham a sabedoria e a coragem de decidir em favor da vida e a humildade de pedir perdão ao mundo pelos erros que a instituição à qual pertencem cometeram e que foram corresponsáveis, direta ou indiretamente, pelo assassinato de milhões de vidas inocentes ao redor de todo mundo.

 

Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, pós-graduando em Teologia, mestre em Direito pela PUC-SP

ESCUTAR COM O CORAÇÃO É UM ATO DE AMOR

Precisamos ouvir menos e escutar mais.

Ela está presente em todas as relações. Entre pais e filhos é a base para a construção do ser; entre casais faz a unidade; no mundo corporativo alavanca negócios e entre nações sela acordos promovendo a paz. A ausência dela, no entanto, gera discórdia, cria desconfiança, faz separações e promove a guerra. Estamos falando da comunicação. As sociedades só se formaram porque o ser humano foi capaz de se comunicar a partir das suas necessidades comuns, cooperando por segurança e subsistência. Os meios de comunicação permitem a troca de informações em tempo real, mas apesar de tantos avanços tecnológicos ainda não aprendemos a escutar.

Diferença entre ouvir e escutar.

Na era dos aplicativos para smartphone o ouvido tornou-se um órgão essencial. É quase impossível não ver alguém nos transportes coletivos portando um fone de ouvido. Ouve-se de tudo: música, cultura, esportes, audiolivros, etc. Nossos ouvidos são estimulados constantemente, mas apesar disso ainda não aprendemos a escutar. Quando nos referimos a ouvir e escutar, não estamos falando da mesma coisa. Ouvir se refere ao sentido biológico da audição; é uma atividade puramente mecânica e automática, ou seja, você não tem o controle sobre ela a menos que tape os ouvidos. Ao contrário disso, escutar é um ato consciente que depende da sua vontade. Infelizmente as pessoas estão ouvindo muito, mas escutando pouco.

O padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do povo de rua de São Paulo, nos dá uma verdadeira lição sobre esse tema, através do seu trabalho junto ao povo que vive nas ruas. Com carinho e afeto ele escuta com o coração a história de cada um deles. Segundo ele, essas pessoas precisam ser tratadas com humanidade. De fato, só percebemos a miséria material que se apresenta aos nossos olhos, mas ignoramos que aquelas pessoas são seres humanos como nós. Além de abrigo e comida, elas precisam de um olhar compassivo, um abraço e serem alvos não do nosso julgamento carregado de preconceito, mas sim da nossa empatia e solidariedade.

Escutar é um ato de amor.

Se você pensa que não tem nada para dar a alguém que sofre, saiba que escutá-lo com atenção é um ato que revela amor e caridade. Para escutar o outro, você precisa abandonar um pouco a si mesmo numa atitude de pura doação. Você deve escutar sem julgar, sem criticar, apenas receber, aceitar e acolher reconhecendo que aquela pessoa é um ser igual a você. Ele também tem uma história, família e tal como você, também quer ser feliz, não quer o sofrimento. Escutar com o coração é partilhar nossa bondade e fazer uma imersão autêntica e reveladora na maravilhosa experiência de ser humano.

 

Romildo R. Almeida – Psicólogo clínico