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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

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Artigos Liturgia

Bateria e percussão na Igreja

Na liturgia é importante levar em conta o rito e seus ritmos: o ritmo da Palavra que integra os nossos sentidos; o ritmo dos tempos litúrgicos em suas várias dimensões; as partes do rito com sua densidade e significação; o ritmo dos instrumentos musicais que se integra ao cantar da assembleia reunida; o ritmo dos passos, das vozes, dos gestos e ações simbólicas… O ritmo povoa o rito, de modo especial, quando se toca e canta.

Entre os instrumentos musicais de que a liturgia se apropriou estão os de percussão. Os instrumentos de percussão, emitem sons que se destacam dos demais e por essa razão, têm a função de manter o andamento, de expor as subdivisões rítmicas de um estilo em particular. São muitos timbres, cada um com sua especificidade e com eles, o ritmo pode exercer um grande serviço ao Mistério.

As palavras ritmo e rito possuem uma raiz comum. Nelas estão contidas a ideia de organização e harmonia. A vibração dos instrumentos, principalmente percussivos, entra em contato com as frequências do corpo, altera sensações e direciona pensamentos e atenções. Os instrumentos de percussão “falam” com o povo, e “cantam” com a assembleia celebrante. A ordenação desses sons ativa a nossa inteireza e nos coloca em sintonia com o ritmo do universo.

A música ritual tem espaço garantido para os vários instrumentos musicais, sejam melódicos, harmônicos ou percussivos. Todos os instrumentos podem ser utilizados na celebração litúrgica. Porém, o que já foi dito sobre a formação dos músicos e instrumentistas vale para os percussionistas. Não há restrição ao tipo de instrumento na ação ritual, mas há regras importantes a serem seguidas para não tornar o instrumento mais importante do que a voz cantada. Os instrumentos de percussão, por sua natureza, têm uma sonoridade mais vibrante e com uma intensidade maior que outros. Por esta razão o percussionista litúrgico necessita conhecer o que é próprio de cada rito para não exagerar na sua execução, respeitar não somente os momentos do rito mas também o tempo litúrgico. Cantar a quaresma, por exemplo, é, antes de tudo, cantar a dor que se sente pelo pecado do mundo que, em todos os tempos e de tantas maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga, assim, a Paixão de Cristo. Pensando nisso, a instrução do missal nos orienta que no tempo da quaresma só é permitido o toque dos instrumentos musicais para sustentar o canto1, e sustentar o canto quer dizer utilizar apenas um instrumento harmônico como o violão ou um teclado e, se necessário, um instrumento de percussão para marcar o pulso. Recomenda-se que se deixe para a alegria da Páscoa a soma de outros instrumentos.

Não é demais repetir que os músicos fazem parte da assembleia litúrgica, e não são um grupo à parte no serviço que realizam. Que o seu serviço fortaleça a espiritualidade litúrgica e sejam participantes ativos de cada momento da celebração, mesmo quando não estiverem tocando.

 

Caetana Cecília | Pe. Jair Costa

Comissão Diocesana de Liturgia / Música Litúrgica

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Artigos Bíblia CNBB

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES 2024

Ide e convidai a todos para o banquete (cf. Mt 22, 9)

Queridos irmãos e irmãs!

Para o Dia Mundial das Missões deste ano, tirei o tema da parábola evangélica do banquete nupcial (cf. Mt 22, 1-14). Depois que os convidados recusaram o convite, o rei – protagonista da narração – diz aos seus servos: «Ide às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes» (22, 9). Refletindo sobre esta frase-chave, no contexto da parábola e da vida de Jesus, podemos ilustrar alguns aspetos importantes da evangelização. Tais aspetos revelam-se particularmente atuais para todos nós, discípulos-missionários de Cristo, nesta fase final do percurso sinodal que, de acordo com o lema «Comunhão, participação, missão», deverá relançar na Igreja o seu empenho prioritário, isto é, o anúncio do Evangelho no mundo contemporâneo.

1. «Ide e convidai»: a missão como ida incansável e convite para a festa do Senhor

No início da ordem do rei aos seus servos, há dois verbos que expressam o núcleo da missão: «ide» e chamai, «convidai».

Quanto ao primeiro verbo, convém recordar que antes os servos tinham sido já enviados para transmitir a mensagem do rei aos convidados (cf. 22, 3-4). Daqui se deduz que a missão é ida incansável rumo a toda a humanidade para a convidar ao encontro e à comunhão com Deus. Incansável! Deus, grande no amor e rico de misericórdia, está sempre em saída ao encontro de cada ser humano para o chamar à felicidade do seu Reino, apesar da indiferença ou da recusa. Assim Jesus Cristo, bom pastor e enviado do Pai, andava à procura das ovelhas perdidas do povo de Israel e desejava ir mais além para alcançar também as ovelhas mais distantes (cf. Jo 10, 16). Quer antes quer depois da sua ressurreição, disse aos discípulos «ide», envolvendo-os na sua própria missão (cf. Lc 10, 3; Mc 16, 15). Por isso, a Igreja continuará a ultrapassar todo e qualquer limite, sair incessantemente sem se cansar nem desanimar perante dificuldades e obstáculos, a fim de cumprir fielmente a missão recebida do Senhor.

Aproveito o momento para agradecer aos missionários e missionárias que, respondendo ao chamamento de Cristo, deixaram tudo e partiram para longe da sua pátria a fim de levar a Boa Nova aonde o povo ainda não a recebera ou só recentemente é que a conheceu. Irmãs e irmãos muito amados, a vossa generosa dedicação é expressão tangível do compromisso da missão ad gentes que Jesus confiou aos seus discípulos: «Ide e fazei discípulos de todos os povos» (Mt 28, 19). Por isso continuamos a rezar e a agradecer a Deus pelas novas e numerosas vocações missionárias para esta obra de evangelização até aos confins da terra.

E não esqueçamos que todo o cristão é chamado a tomar parte nesta missão universal com o seu testemunho evangélico em cada ambiente, para que toda a Igreja saia continuamente com o seu Senhor e Mestre rumo às «saídas dos caminhos» do mundo atual. Sim, «hoje o drama da Igreja é que Jesus continua a bater à porta, mas da parte de dentro, para que O deixemos sair! Muitas vezes acabamos por ser uma Igreja (…) que não deixa o Senhor sair, que O retém como “propriedade sua”, quando o Senhor veio para a missão e quer que sejamos missionários» (Discurso aos participantes no Congresso promovido pelo Dicastério para os leigos, a família e a vida, 18/II/2023). Oxalá todos nós, batizados, nos disponhamos a sair de novo, cada um segundo a própria condição de vida, para iniciar um novo movimento missionário, como nos alvores do cristianismo.

Voltando à ordem do rei aos servos na parábola, vemos que caminham lado a lado o «ir» e o chamar ou, mais precisamente, «convidar»: «Vinde às bodas!» (Mt 22, 4). Isto faz-nos vislumbrar outro aspeto, não menos importante, da missão confiada por Deus. Como se pode imaginar, aqueles servos-mensageiros transmitiam o convite do soberano assinalando a sua urgência, mas faziam-no também com grande respeito e gentileza. De igual modo, a missão de levar o Evangelho a toda a criatura deve ter, necessariamente, o mesmo estilo d’Aquele que se anuncia. Ao proclamar ao mundo «a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 36), os discípulos-missionários fazem-no com alegria, magnanimidade, benevolência, que são fruto do Espírito Santo neles (cf. Gal 5, 22); sem imposição, coerção nem proselitismo; mas sempre com proximidade, compaixão e ternura, que refletem o modo de ser e agir de Deus.

2. «Para o banquete»: a perspetiva escatológica e eucarística da missão de Cristo e da Igreja

Na parábola, o rei pede aos seus servos que levem o convite para o banquete das bodas de seu filho. Este banquete reflete o banquete escatológico; é imagem da salvação final no Reino de Deus – já em realização com a vinda de Jesus, o Messias e Filho de Deus, que nos deu a vida em abundância (cf. Jo 10, 10), simbolizada pela mesa preparada com «carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos» –, quando Deus «aniquilar a morte para sempre» (cf. Is 25, 6-8).

A missão de Cristo é missão da plenitude dos tempos, como Ele mesmo declarou no início da sua pregação: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo» (Mc 1, 15). Ora, os discípulos de Cristo são chamados a continuar esta mesma missão do seu Mestre e Senhor. A propósito, recordemos o ensinamento do Concílio Vaticano II sobre o caráter escatológico do compromisso missionário da Igreja: «A atividade missionária desenrola-se entre o primeiro e o segundo advento do Senhor (…). Antes de o Senhor vir, tem de ser pregado o Evangelho a todos os povos» (Decr. Ad gentes, 9).

Sabemos que o zelo missionário, nos primeiros cristãos, possuía uma forte dimensão escatológica. Sentiam a urgência do anúncio do Evangelho. Também hoje é importante ter presente tal perspetiva, porque nos ajuda a evangelizar com a alegria de quem sabe que «o Senhor está perto» e com a esperança de quem propende para a meta, quando estivermos todos com Cristo no seu banquete nupcial no Reino de Deus. Assim, enquanto o mundo propõe os vários «banquetes» do consumismo, do bem-estar egoísta, da acumulação, do individualismo, o Evangelho chama a todos para o banquete divino onde reinam a alegria, a partilha, a justiça, a fraternidade, na comunhão com Deus e com os outros.

Temos esta plenitude de vida, dom de Cristo, antecipada já agora no banquete da Eucaristia, que a Igreja celebra por mandato do Senhor em memória d’Ele. Por isso o convite ao banquete escatológico, que levamos a todos na missão evangelizadora, está intrinsecamente ligado ao convite para a mesa eucarística, onde o Senhor nos alimenta com a sua Palavra e com o seu Corpo e Sangue. Como ensinou Bento XVI, «em cada celebração eucarística realiza-se sacramentalmente a unificação escatológica do povo de Deus. Para nós, o banquete eucarístico é uma antecipação real do banquete final, preanunciado pelos profetas (cf. Is 25, 6-9) e descrito no Novo Testamento como “as núpcias do Cordeiro” (Ap 19, 7-9), que se hão de celebrar na comunhão dos santos» (Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis, 31).

Assim, todos somos chamados a viver mais intensamente cada Eucaristia em todas as suas dimensões, particularmente a escatológica e a missionária. Reafirmo, a este respeito, que «não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens» (Ibid., 84). A renovação eucarística, que muitas Igrejas Particulares têm louvavelmente promovido no período pós-Covid, será fundamental também para despertar o espírito missionário em todo o fiel. Com quanta mais fé e ímpeto do coração se deveria pronunciar, em cada Missa, a aclamação «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!»

Por conseguinte, no Ano dedicado à oração como preparação para o Jubileu de 2025, desejo convidar a todos para intensificarem também e sobretudo a participação na Missa e a oração pela missão evangelizadora da Igreja. Esta, obediente à palavra do Salvador, não cessa de elevar a Deus, em cada celebração eucarística e litúrgica, a oração do Pai Nosso com a invocação «Venha a nós o vosso Reino». E assim a oração quotidiana e de modo particular a Eucaristia fazem de nós peregrinos-missionários da esperança, a caminho da vida sem fim em Deus, do banquete nupcial preparado por Deus para todos os seus filhos.

3. «Todos»: a missão universal dos discípulos de Cristo e a Igreja toda sinodal-missionária

A terceira e última reflexão diz respeito aos destinatários do convite do rei: «todos». Como sublinhei, «no coração da missão, está isto: aquele “todos”. Sem excluir ninguém. Todos. Por conseguinte, cada uma das nossas missões nasce do Coração de Cristo, para deixar que Ele atraia todos a Si» (Discurso aos participantes na Assembleia Geral das Pontifícias Obras Missionárias, 03/VI/2023). Ainda hoje, num mundo dilacerado por divisões e conflitos, o Evangelho de Cristo é a voz mansa e forte que chama os homens a encontrarem-se, a reconhecerem-se como irmãos e a alegrarem-se pela harmonia entre as diversidades. Deus «quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tim 2, 4). Por isso, nas nossas atividades missionárias, nunca nos esqueçamos que somos enviados a anunciar o Evangelho a todos, e «não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 14).

Os discípulos-missionários de Cristo trazem sempre no coração a preocupação por todas as pessoas, independentemente da sua condição social e mesmo moral. A parábola do banquete diz-nos que, seguindo a recomendação do rei, os servos reuniram «todos aqueles que encontraram, maus e bons» (Mt 22, 10). Além disso, os convidados especiais do rei são precisamente «os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos» (Lc 14, 21), isto é, os últimos e os marginalizados da sociedade. Assim, o banquete nupcial do Filho, que Deus preparou, permanece para sempre aberto a todos, porque grande e incondicional é o seu amor por cada um de nós. «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que n’Ele crê não se perca, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). Toda a gente, cada homem e cada mulher, é destinatário do convite de Deus para participar na sua graça que transforma e salva. Basta apenas dizer «sim» a este dom divino gratuito, acolhendo-o e deixando-se transformar por ele, como se se revestisse com um «traje nupcial» (cf. Mt 22, 12).

A missão para todos requer o empenho de todos. Por isso é necessário continuar o caminho rumo a uma Igreja, toda ela, sinodal-missionária ao serviço do Evangelho. De per si a sinodalidade é missionária e, vice-versa, a missão é sempre sinodal. Por conseguinte, hoje, é ainda mais urgente e necessária uma estreita cooperação missionária seja na Igreja universal, seja nas Igrejas Particulares. Na esteira do Concílio Vaticano II e dos meus antecessores, recomendo a todas as dioceses do mundo o serviço das Pontifícias Obras Missionárias, que constituem meios primários «quer para dar aos católicos um sentido verdadeiramente universal e missionário logo desde a infância, quer para promover coletas eficazes de subsídios para bem de todas as missões segundo as necessidades de cada uma» (Decr. Ad gentes, 38). Por esta razão, as coletas do Dia Mundial das Missões em todas as Igrejas Particulares são inteiramente destinadas ao Fundo Universal de Solidariedade, que depois a Pontifícia Obra da Propagação da Fé distribui, em nome do Papa, para as necessidades de todas as missões da Igreja. Peçamos ao Senhor que nos guie e ajude a ser uma Igreja mais sinodal e mais missionária (cf. Homilia na Missa de encerramento da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, 29/X/2023).

Por fim, voltemos o olhar para Maria, que obteve de Jesus o primeiro milagre precisamente numa festa de núpcias, em Caná da Galileia (cf. Jo 2, 1-12). O Senhor ofereceu aos noivos e a todos os convidados a abundância do vinho novo, sinal antecipado do banquete nupcial que Deus prepara para todos no fim dos tempos. Também hoje peçamos a sua intercessão materna para a missão evangelizadora dos discípulos de Cristo. Com o júbilo e a solicitude da nossa Mãe, com a força da ternura e do carinho (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 288), saiamos e levemos a todos o convite do Rei Salvador. Santa Maria, Estrela da evangelização, rogai por nós!

Roma – São João de Latrão, na Festa da Conversão de São Paulo, 25 de janeiro de 2024.

FRANCISCO

Fonte: Vatican News

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Artigos Bíblia

Campanha Missionária – Ide, convidai a todos para o banquete

O lema da Campanha Missionária será “Ide, convidai a todos para o banquete”, frase inspirada no texto de Mateus 22,9 e escolhida pela Papa Francisco. O tema será “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo”, nos fazendo permanecer em comunhão com a Igreja da América que se prepara para viver o 6º Congresso Missionário Americano, o CAM6, em novembro deste ano, em Porto Rico.

No ano passado, tivemos a alegria de viver na cidade de Manaus, o 5º Congresso Missionário Nacional. Com os corações ardentes e os pés a caminho reafirmamos nosso desejo de partir da Igreja local aos confins do mundo.

Este ano, queremos permanecer abertos para dialogar com diversos acontecimentos que marcam a caminhada da Igreja em nível local e universal. Recordamos da Amizade Social, à qual nos convidou a Campanha da Fraternidade; vivemos o Ano da Oração, em preparação ao Jubileu de 2025; sentimos forte o apelo para caminhar com a Igreja sinodal em missão; recordamos que em novembro de 2025 o Brasil sediará a COP30.

Compreendendo a Arte da Campanha

A arte da Campanha nos ajuda a contemplar a beleza do convite que cada discípulo missionário recebe de Jesus, de convidar todos para o banquete do reino.

Com a força do Espírito…

Dentre as inúmeras imagens que temos para expressar a realidade do Espírito na criação e na história da salvação, uma das mais eloquentes sempre será o ruach entendido como vento, sopro ou mesmo respiração. O Espírito é fonte de vida e criatividade, força de Deus que ordena, fecunda e leva à plenitude todas as coisas.

Na constituição da Igreja, é na força do Espírito que ela descobre sua identidade e sua missão. Pentecoste representa o início da missão oficial da Igreja nascente. Mas esta manifestação do dom de Deus não representa a “estreia” dessa Pessoa e seu agir, mas um momento privilegiado. Sem perder a dimensão da verticalidade deste ruach (do alto) é preciso entender também sua presença “de dentro” da história da salvação, como também é necessário salienta sua liberdade e permeabilidade. O Espírito não está preso ou limitado. Como nos ensina Santo Ambrósio: o homem é servidor (ministro), não temos domínio sobre o Espírito, Ele é liberdade.

Testemunhas de Cristo…

Nesta construção simbólica, temos uma figura circular que indica a fonte de toda a missionariedade da Igreja que é o Próprio Deus em sua vida trinitária (indicada pelo dourado e as cruz mimetizada neste fundo). Temos então três camadas simbólicas: o fundo dourado (Pai), a cruz estilizada (Filho) e a simbologia do vento em movimento (Espírito). Da Trindade recebemos esta força do Espírito que permeia a história e a vida de todos, exatamente por isso a opção por uma representação “horizontal” onde entendemos a ação do Espírito “a partir” de Pentecoste, mas que percorre e alcança todas as estradas pelas quais a Igreja deve ser testemunha de Cristo.

 

O Banquete do Reino…

Na indicação do lema da CM 2024 encontramos uma imagem que se coloca ao centro, alinhando o imperativo do chamado e a natureza deste anúncio:

O Banquete. Nesta imagem encontramos a forte mensagem de comensalidade.

Os momentos celebrativos e da partilha alegre dos alimentos, são mais do que uma prática social. Partilhar o alimento remonta comunhão e compromisso de respeito e afeto, estar à mesa com alguém é considera-lo um irmão, um igual, conceder valor e dignidade de família. Exatamente por isso, a imagem de banquete é tão eloquente na tradição bíblica, pois convidar para o banquete é sempre sinônimo de comunhão de vida e fraternidade.

Na construção visual desta arte para a Campanha Missionária, temos a imagem do banquete do Reino ao centro, ele representa esta comunhão universal que o próprio Deus deseja realizar com cada ser humano. O Reino de Deus será sempre este banquete festivo, ao qual, todos serão sempre convidados. Convite este que pode ser considerado o fundamento da missionariedade da Igreja.

Grande parte desta arte vem ocupada por um horizonte branco, que na verdade tem por objetivo representar as bordas de uma mensa (mesa de partilha). Como comensais temos todos os povos (representados pelas cores dos continentes) convidados a receber e estabelecer comunhão ao redor desta mesa do banquete do Reino. A posição da mão estendida em direção à mesa (repetida por todos) tem por objetivo indicar esta receptividade e ao mesmo tempo relação de vida. A mesa é muito mais ampla do que o número dos participantes e assim deve ser percebido pelo interlocutor da arte. Os espaços vazios devem mostrar a possibilidade que todos têm de fazer parte deste banquete. Nunca será mesa completa, mas sim mesa que se alarga para caber a todos.

Além destes lugares vazios à espera de cada homem e mulher, chamados a fazer parte desta família, a perspectiva do interlocutor diante desta imagem o coloca dentro da cena e diante da própria mesa. Temos uma mesa aberta, estamos diante da cena, mas também dentro dela. Estamos como que “do outro lado desta mesa do banquete”. A circularidade criar harmonia, equilíbrio e respeito pela diferença do outro, não há cantos, pois estão todos equidistantes deste mistério de amor. Estamos todos à mesma distancia e proximidade deste dom, que é o próprio Deus a si doar.

A simbologia do pão e do peixe, além de fazerem referencia clara à Pessoa de Cristo, como aquele que gera comunhão e se entrega para nos permitir fazer parte da festa, também alude a dimensão fraterna do milagre da comunhão. Não existe verdadeira comunhão sem o amor de Deus que nos une, sem o milagre que une as diferenças e preenche os vales que nos separam.

 

Fonte: Portal – pom.org.br

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A Missão revigora a Fé!

A Igreja é missionária por sua essência e tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai (AG 2). Em outubro celebramos o mês dedicado as missões. E em nossas liturgias estaremos refletindo a natureza missionária da Igreja e seus membros: os batizados. O Batismo nos faz “membros do Corpo de Cristo” e participantes de sua missão no mundo: “Ser sacramento de salvação” (LG). O Papa Francisco em sua mensagem para o mês missionário nos diz: “Ide e convidai (Cf Mt 22,9): a missão como ida incansável e convite par a festa do Senhor… Deus, grande no amor e rico de misericórdia, está sempre em saída a  o encontro de cada ser humano para chamar a felicidade do seu Reino, apesar da indiferença ou da recusa”.

A partir da cruz de Jesus, aprendemos a lógica divina da oferta de nós mesmos (1Cor 1,17-25) como anunciadores do Evangelho para a vida do mundo (Jo 3,16). O Mês das Missões deve lembrar a cada um de nós que é missão de todo batizado ser evangelizador. Não é cristão de verdade quem não fala de Cristo e da Igreja. “A Missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá a ela novo entusiasmo e novas motivações. É doando a fé, que se fortalece! A nova evangelização dos cristãos também encontrará inspiração e apoio no empenho pela Missão universal” (São João Paulo II).

“No inicio do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Bento XVI). Jesus constituiu a igreja porque enviou o Espírito Santo a um grupo que tinha se formado, pela fé, em torno Dele e lhe deu sua missão. O Evangelho é uma Pessoa: Jesus Cristo. “Evangelizar, constitui de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na Santa Missa, que é o memorial da sua Morte e Ressurreição.” (Evangelii Nuntiandi, 14)

Em nossa diocese vemos claramente o esforço missionário desempenhado em nossa Cidade desde o seu inicio. Recebemos padres, religiosos e leigos que anunciaram o Evangelho com muita alegria e suscitaram vários trabalhos pastorais e pequenas comunidades, que vieram depois a se tornarem matrizes paroquiais. Neste mês missionário é tempo de reanimar a missão em nossa Igreja e também tempo de agradecer. Hoje os frutos da missão aqui realizada impulsiona a nossa Igreja particular de Guarulhos para o mundo, enviando missionários para anunciarem com alegria o Evangelho.

Neste Mês da Padroeira do Brasil, todas as nossas paróquias celebram a Imaculada Conceição Aparecida em 12 de outubro e inspiram-se em Maria no seu SIM fecundo e missionário. Roguemos a Deus, por sua maternal intercessão, as bênçãos de Deus sobre o povo brasileiro, sobre os nossos governantes e sobre a nossa jornada missionária que durará até a vinda definitiva do Senhor. Coragem!

 

Pe. Marcelo Dias Soares

Coordenador Diocesano de Pastoral

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Artigos Voz do Pastor

‘‘Pai Nosso que estais nos Céus’’ 2

Faço algumas últimas considerações sobre algumas exigências para poder rezar o Pai Nosso.

Como Jesus, elevar os olhos aos céus. Não fisicamente, pois os céus não estão dentro do nosso espaço físico-temporal. Estamos diante do Deus onipresente e onisciente. Aquele que é perfeito e misericordioso. (cf Mt 5 e Lc 6). Não podemos sequer comparar o Pai que está nos céus com o nosso pai terreno. Pode ser até que muitos de nós possamos ter experiências traumáticas em relação ao nosso pai terreno, o que pode provocar uma imagem distorcida  do Pai que está nos céus. E, assim, desta maneira, duvidarmos do amor do Pai e rezarmos desacreditados do amor e  ouvintes da catequese do pai da mentira, que fez a humanidade não acreditar no amor e que em tantas circunstâncias diante da nossa história, nos faz duvidar que o amor do Pai esteja presente: “Jesus respondeu: Se Deus fosse vosso pai, certamente  me amaríeis, pois é da parte de Deus que eu saí e vim. Eu não vim de mim mesmo; foi Deus quem me enviou. Por que não entendeis minha fala? É porque não sois capazes de escutar minha palavra. Vós tendes por pai o diabo, e quereis fazer o que o vosso pai deseja. Ele era homicida desde o princípio  e não permaneceu na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele fala mentira, fala do que é próprio dele, pois ele é mentiroso e pai da mentira.” (Jo 8, 42-44) Portanto, elevar os olhos aos céus é ter uma atitude interior de total entrega e confiança no amor do Pai.

Erguer mãos puras. “Quero, pois, que, em toda parte, os homens orem, erguendo mãos santas, sem ira nem contenda.” (1Tm 2,8) O Pai que está nos céus, não é o Deus da vingança, que faz a história mover-se pela economia do ódio. Em Mt 5,21-48, temos os vários “ouvistes o que foi dito…eu porém vos digo”. É Jesus mostrando o pleno cumprimento da Lei, não a abolindo. O versículo 48 conclui esta seção dizendo: “Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” e Lucas em 6,36, conclui os mesmos ensinamentos, traduzindo e esclarecendo a perfeição com a misericórdia: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”.

Erguer mãos puras, portanto, significa aceitar o mistério da Cruz de Jesus e estar concorde que o amor nesta dimensão de Cruz traduz a perfeição e a misericórdia do Pai. Até o gesto de erguer as mãos para a oração do Pai Nosso faz com que nosso corpo assuma a forma de cruz e mostrar as palmas das mãos, rezando como o Senhor nos ensinou, deve expressar, ao menos, o desejo de não termos ódio no coração e que chamamos a Deus de Pai, no mesmo espírito do amor de Jesus, erguendo mãos puras.  Que a intensidade deste desejo seja realmente sincera, pois nem sempre nossas mãos estão puras!

O evangelista Mateus várias vezes usa as expressões “o Pai que está no céus”, “vosso Pai celeste”. Parece querer ensinar que a comunidade dos discípulos de Jesus é a comunidade do Pai que está nos céus. Somente no capítulo 18 aparece  sete vezes a expressão. No término do ensino do Pai Nosso em Mateus, aparece a condição para que oração do Senhor seja, digamos, “bem rezada: “Com efeito, se perdoardes as faltas aos outros, também vos perdoará o vosso Pai que está nos céus. Se vós, porém, não perdoardes aos outros, vosso Pai também não perdoará as vossas faltas.” (Mt 6, 14-15)

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.

Bispo diocesano

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Artigos Editorial

O convite está feito, basta aceitar com alegria!

Caríssimos missionários e missionárias, bem-vindos e bem-vindas! A edição de outubro destaca a mensagem do Papa Francisco para o mês das missões 2024 com o tema: “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo” e o lema: “Ide, convidai a todos para o banquete.” É fundamental que possamos ler com atenção e propagar o conteúdo desta mensagem entre os diversos grupos da Igreja e sem esquecer os que participamos fora da Igreja como a família, amizade e outras realidades sociais.

Com o lema: “Ide, convidai a todos para o banquete”, nesta edição encontramos propostas concretas deste convite, como a compreensão e valorização da oração do Pai-Nosso que estais nos céus para bem rezar e viver o conteúdo desta oração ensinada pelo próprio Jesus Cristo. Através da Liturgia somos convidados a colocar os dons a serviço, e isso não pode ser do modo que eu quero, mas conforme a orientação litúrgica da Santa Igreja, como por exemplo o dom do uso dos instrumentos de percussão, um dom que exercido de maneira adequada na Igreja, enriquece a missão da equipe de canto na liturgia. Quanto ao uso da tecnologia, especificamente o celular, é missão rever como este uso tem instrumentalizado nossas crianças e compromete o futuro das relações humanas, por isso é urgente a restrição deste uso.

A missão de evangelização ganha reforço com a ordenação de novos diáconos permanentes que juntamente com os membros da sua família fortalece as atividades diocesanas e paroquiais, assim como uma das principais atividades do ano que é a Romaria Diocesana ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, expressão da unidade e força de mobilização da Igreja Católica em Guarulhos. Neste mês não podemos esquecer de ressaltar a presença missionária da Virgem Maria nas terras deste Brasil, com o título popular de Nossa Senhora Aparecida, “a estrela da evangelização” a quem pedimos como nos ensinou o Papa Francisco: “ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até os confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz.” ( Documento de Aparecida,288 )
Por fim, que possamos em todas as paróquias assumir a novena e a coleta missionária em comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que através do Secretário Geral Dom Ricardos Hoepers afirma: a vivência do mês missionário é um convite do próprio Cristo a cada um de nós. “Cristo nos convida para seu banquete! São os sinais do Reino de Deus no meio de nós!

O mês missionário nos convida a partilharmos o que temos na mesa de nossas comunidades testemunhando como será o banquete no céu.”

Desejo excelente leitura e não esqueça de curtir e compartilhar nossa Revista Diocesana.

 

Padre Marcos Vinicius Clementino

 Jornalista e Diretor Geral

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Artigos Falando da Vida

A Saúde Mental está em Jogo

O vício em apostas é um transtorno psicológico perigoso

 Os cassinos foram proibidos no Brasil em 1946 por iniciativa do general Eurico Gaspar Dutra, na época, presidente da República. A proibição tinha como objetivo, proteger a “tradição moral jurídica e religiosa” e contra os “abusos nocivos à moral e aos bons costumes”. A publicação do decreto lei, n⁰ 9.215 de 30 de abril de 1946, acabou com a chamada farra do ouro em que, nos salões lotados de pessoas da alta sociedade, se gastavam fortunas em jogos de roleta e cartas de baralho, regados a bebidas caras e charutos importados.

Se o objetivo da referida lei era proteger a população brasileira dos males produzidos pelo vício em jogos de azar, temos que admitir que ela só protegeria as camadas mais abastadas da população que tinham condições de se locomover até os grandes cassinos. No entanto, a lei não protegeu, os pobres em relação aos jogos de apostas promovidos pelo próprio governo como: Mega-sena, Lotofácil, Lotomania, etc. As “Bets online”, jogo do tigrinho, somados às outras modalidades de apostas, tornaram-se um grande perigo para a saúde mental, dada a facilidade em apostar pela internet.  Todos esses fatores somados, podem resultar numa patologia chamada de transtorno de jogos.

O que leva as pessoas ao vício é o sistema de recompensa do cérebro que libera uma substância chamada dopamina produzindo sensações de prazer. O indivíduo nessa condição passa a gastar compulsivamente acreditando que em algum momento vai atingir a sorte grande e se tornar rico. Aqui, existe um componente psicossocial importante, a maioria dos apostadores são pobres, sem expectativa de melhorar de vida através do trabalho e do esforço pessoa, para essas pessoas, os jogos são a única chance.

Estamos vivendo a Campanha do “Setembro amarelo” que trata da prevenção ao suicídio, portanto, momento oportuno para refletir sobre esse grave problema. Muitas pessoas têm perdido emprego, dinheiro, família e até praticado suicídio por causa do Transtorno de jogos. Desde 2018, a OMS – Organização Mundial da Saúde, considera esse vício como doença. Se você conhece alguém que esteja envolvido com apostas online alerte-o sobre os riscos, pois essa atividade aparentemente recreativa, pode se tornar um vício perigoso. A verdade é que quanto mais o indivíduo acredita na sorte, menos acredita em si mesmo. Por fim, a melhor aposta que podemos fazer é na busca pela serenidade e pela paz interior. De posse delas, não precisaremos de mais nada, pois já teremos o essencial para construir a verdadeira felicidade.

 

Romildo R.  Almeida

Psicólogo clínico

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…pois tive fome e me destes de comer (Mt 25,35)

A realidade humana encontra-se profundamente ferida em sua capacidade de relação, que é uma de suas maiores dignidades e a torna imagem e semelhança de Deus. Os seres humanos, especialmente na era moderna, enfrentam grandes dificuldades em estabelecer relações com Deus, consigo mesmos, com os outros e com a criação da qual fazem parte. É nesse contexto que as pastorais sociais são chamadas a atuar á luz das sagradas escrituras, da tradição do magistério nos orientam neste novo tempo e desafios.

Assim sendo, tendo em vista estas considerações, a nossa reflexão visa mostrar a esse homem alienado, perdido, que no modo de ser de Jesus Cristo está a resposta do enigma da humanidade. Jesus, o Filho muito amado do Pai, ao assumir nossa natureza humana restaura a humanidade em todas as suas dimensões, mas não faz isso sem a cooperação do próprio homem. Por isso, no seu modo humano de existir nos revela e nos ensina como restaurar a nossa capacidade de relação.

Por muito tempo a Igreja se debruça sobre o homem concreto, constatando e denunciando situações desumanas como aquelas vividas pelos mais frágeis e esquecidos que, em vez de serem resolvidas, se torna cada dia ainda mais graves e questiona a Igreja, em sua voz profética, onde temos cada vez mais a impressão de que a voz do deus do lucro e do dinheiro, tem mais adoradores e conquista mais os corações e consciências de nossa gente.

Vemos uma situação de exclusão, pobreza, violência, perda de valores éticos e religiosos que nos deixa intimidar, fazendo com que o Evangelho de Jesus e o magistério da Igreja não sejam ouvidos e mesmo diante de tanta profecia e denúncia eclesial de opressões sociais, econômicas e políticas, parece não haver tanta firmeza no anúncio do Reino de Deus, como realidade de paz e justiça, acontecendo no aqui e no agora, nos perguntamos em que situação nos estaríamos sem a presença do Evangelho e da Igreja, a realidade atual seria bem mais triste e desumana.

“no seguimento de Jesus Cristo, aprendemos e praticamos as bem- aventuranças do Reino, o estilo de vida do próprio Jesus: seu amor e obediência filial ao Pai, sua compaixão entranhável frente à dor humana, sua proximidade aos pobres e aos pequenos, sua fidelidade à missão encomendada, seu amor serviçal até a doação de sua vida. Hoje, contemplamos a Jesus Cristo tal como os Evangelhos nos transmitiram para conhecer o que Ele fez e para discernir o que nós devemos fazer nas atuais circunstâncias” (Documento de Aparecida, n 139).

Diante desta realidade, os diáconos são chamados como Igreja a um ministério verdadeiramente social , sobretudo nas áreas de missão, para explicar mais frutuosamente seu ministério com a ajuda da graça sacramental do diaconato (LG 29).

A espiritualidade diaconal se caracteriza pela descoberta e partilha do amor de Cristo servo, que veio para servir e não para ser servido. O candidato deve adquirir atitudes como simplicidade de coração, doação total de si mesmo, amor humilde e de serviço aos irmãos, especialmente aos mais pobres e necessitados, e escolha por um estilo de partilha e pobreza. A articulação do corpo diaconal tem como finalidade principal fazer a vida diaconal circular entre todos os membros, vivenciando dores e alegrias, angústias e esperanças, fracassos e vitórias, oração, espiritualidade, partilha, encontros e reuniões, amor e entrega pelos irmãos na rua ou em qualquer outra situação de miséria humana, sem medir esforços.

A Igreja tem a responsabilidade de cuidar dos mais vulneráveis e o diácono deve estar atento às necessidades dessas pessoas e apoiar as pastorais sociais que trabalham para oferecer cuidados de saúde, moradia, alimentação e vestuário, além de palavras de conforto e orientação espiritual e que atuem oficialmente em nome da Igreja, levando a presença sacramental aos diferentes lugares onde os excluídos se encontram. O diácono pode ser um guia seguro para esses irmãos, conduzindo-os ao Reino do Senhor, onde poderão encontrar segurança, alívio para suas necessidades mais profundas e cuidados para suas feridas.

“Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal

A miséria humana e suas consequências deveria sensibilizar todos crentes, assim como sensibilizou o samaritano frente ao sofrimento de outro que nem conhecia e não somente parou, mas o levantou, levou e pagou para ser cuidado e curado. Diante da cruz de Cristo, nenhum cristão que comunga, pode se omitir e achar que não é com ele e que cabe ao outro cuidar. O alimento recebido semanalmente na eucaristia e na palavra de Deus durante a Santa Missa deve nos direcionar à compaixão, a reflexão que a melhora deste mundo e das pessoas, passa por sua ação concreta diante de todos os desafios sociais.

Você já parou para analisar o olhar e a forma como os mais necessitados olham pra você, muitas vezes com medo e com receio, com a incerteza se será percebido ou se conseguirá ao menos um pouco do que está pedindo. Já parou para pensar que levou-o a uma pensão, onde cuidou dele”, Lc 10,32 há dias na vida sofrida que ele leva e tem que driblar a fome e a dor com bebidas alcoólicas e drogas, muitas vezes como a única alternativa que restou porque todos lhe deram as costas.

Que se ele saiu de uma casa que tinha conforto e preferiu a vergonha e as dificuldades da rua ou de outros cantos, é porque ele precisava mais do que nunca de alguém que pudesse escutá-lo e entender seus problemas e angústias. A Igreja conta com a sabedoria herdada da Tradição e da revelação dada nas Sagradas Escrituras, com autoridade de interpretar e colocar em prática todo ensinamento contido e querido por Deus.

“Pois tive fome e me destes de comer.Tive se e me destes de beber.Era forasteiro e me acolheste.Estive nú e mes vestistes, preso e vieste ver-me” Mt 25 35,36

O evangelista Mateus narra o último julgamento, onde o próprio Cristo nos mostra as condições para entrar no reino dos céus em uma linguagem clara e objetiva. Fica fácil entender que a missão de todo cristão sempre deve ser em favor dos pobres, dos órfãos e da viúva.

Já se passaram muitos séculos e na contemporaneidade ainda não foram contemplados os verdadeiros destinatários do reino que ainda sofrem, perambulam e insistem em viver. Somos chamados a missão de fazer acontecer o reino de Deus aqui e agora nestes dias difíceis, onde parecem despontar os sinais dos tempos, somos chamados a dar uma resposta de amor a Deus.

“Iluminados pelo Cristo, o sofrimento, a injustiça e a cruz nos desafiam a viver como Igreja samaritana (cf. Lc 10,25-37), recordando que “a evangelização vai unida sempre à promoção humana e à autêntica libertação cristã”20. Damos graças a Deus e nos alegramos pela fé, solidariedade e alegria características de nossos povos, transmitidas ao longo do tempo pelas avós e avôs, as mães e pais, os catequistas, os rezadores e tantas pessoas anônimas, cuja caridade mantém viva a esperança em meio às injustiças e adversidades” (Documento de Aparecida, 27)

Esta reflexão me fez descobrir o que já carregava dentro de mim e me incomoda ao ver o sofrimento nas ruas de minha comunidade, após cada Missa e comunhão recebida no conforto de minha Paróquia e ao lado de irmãos que poderiam retribuir aos bens recebidos sem enxergar aqueles que já não podiam, porque o tempo e as circunstâncias os afastaram do nosso meio e já ficara mais difícil de se reaproximar.

Fundada e querida por Cristo, a Igreja fez uma opção pelos pobres e fracos e a Igreja da América Latina procura viver com intensidade esta preferência tendo como ferramenta principal as pastorais sociais em seus diversos campos de atuação em busca do bem-estar social e comunitário.

Os anos vividos em comunidade, as experiencias positivas e as com menos êxito formaram ingredientes a continuar buscando, seja pela convivência em comunidade, seja pela atividade acadêmica que apesar das limitações, do tempo e da compreensão nos trouxe até aqui, com uma nova missão diante da miséria humana e agora em um novo tempo pós pandemia, que exige a necessidade de readaptação e diante das novas exigências impostas pela sociedade, estado e do novo homem que surge nesta nova etapa. Será que a pandemia transformou o homem, ou somente uma parte foi tocada e fará a grande diferença na sua vida e em consequência na do outro.

Há um paradigma e uma equação difícil de responder, enquanto o homem insistir em ser apenas homem e não compreender que se trata de um ser a imagem e semelhança de Deus, que busca a vida integral, digna do ser reconhecido como filho de Deus.

A Igreja peregrina conta com o homem sujeito da sua própria história, a buscar alternativas a sociedade do consumo que busca dia a dia a riqueza, ganância e o poder que distribui mau os bens que deveriam ser comuns e destroem a possibilidade de se haver harmonia e boas relações de fraternidade.

Ao longo dos séculos o homem de boa vontade, passando pelos profetas, apóstolos, pela tradição e por tantos outros que inclusive entregaram a própria vida pela causa da justiça vem ao seu modo e inspiração constituir um novo povo de Deus neste tempo. Neste tempo acadêmico e de discernimento eclesial com várias experiencias e desafios fizeram crescer a vontade de continuar em missão, crendo que é possível diminuir a miséria humana e propor um novo pacto com a sociedade que só terá a ganhar com homens e mulheres novos, reinseridos no convívio social com dignidade. Para tanto, há a necessidade juntar as forços com todos os grupos, independente do credo possam agregar e trazer resultados comuns, cujo benefício seja de todos.

Antonio Calixto Silva
Candidato ao Diaconato Permanente

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Artigos Liturgia

Cantores, bandas, animadores, ministérios

Quando a assembleia litúrgica se reúne para celebrar o Mistério de Cristo, ela precisa de pessoas que desempenhem um papel ministerial, desde a organização do ambiente até a realização ritual, para que aconteça a integração entre presidência e assembleia, presidência e ministros, ministros e assembleia. O Concilio Vaticano II afirmou que a música será sacra quanto mais estiver integrada na liturgia, possibilitou o uso da língua de cada povo e ainda ampliou a utilização de instrumentos na celebração. Várias modalidades de grupos musicais surgiram para atender a esta necessidade. No entanto, com a mesma intensidade com que surgiram muitos grupos de cantores, compositores, bandas, corais e ministérios de música, vieram também as dificuldades de trabalho, falta de integração com a comunidade, de critérios para escolha dos cantos litúrgicos, falta de compreensão do sentido do rito e da liturgia, competição entre grupos e a falta de formação litúrgica e musical. Portanto, independente da denominação que estes grupos recebam, todos precisam ter consciência de sua função ministerial, e que ninguém é mais importante “Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos.”87

Ministério, serviço designado por Deus

A palavra ministério requer uma compreensão significativa de “serviço” designado por Deus para uma comunidade específica. Portanto, o ministério na Igreja não pode ser compreendido apenas como uma execução de tarefas ou privilégio de um pequeno grupo, mas como responsabilidade de batizados, imbuídos da graça de Deus, que exercem uma diaconia numa Igreja Ministerial.

A preparação dos membros da equipe de liturgia, e dela também fazem parte os cantores e músicos-instrumentistas, deve ser constante para que o diálogo entre eles aconteça de maneira sóbria e frutuosa. É necessário compreender que os animadores de canto e os instrumentistas fazem parte da assembleia celebrante e não é possível conceber este serviço sem uma conexão com a pastoral litúrgica e a comunidade. As instruções “Musicam Sacram” e “Inter Oecumenici”, ao falar do local dos cantores, definem também sua participação e sua função ministerial.

87 Mc 9,35

“A própria colocação do coro (lugar dos cantores) deve mostrar a sua real natureza e função. Este grupo, especializado ou não, nada mais é do que uma porção da assembleia dos fiéis em cujo nome desempenha um papel litúrgico particular. Seu melhor lugar é próximo à assembleia, não de costas para ela, voltado para o altar, à direita ou à esquerda, em lugar visível e cômodo, fora do presbitério; de modo que os cantores e músicos possam desempenhar bem sua função e mais facilmente ter acesso à mesa eucarística”.88

A execução dos instrumentos torna a participação da assembleia orante e vibrante. Pode criar um ambiente cheio do espírito, preparando o povo celebrante para ouvir e se alimentar da Palavra de Deus. Por isso, a nossa Igreja ainda tem muito a caminhar nesta expectativa. Conforme a maneira como são tocados os instrumentos, pode dificultar a participação, e o povo fica à mercê de pequenos grupos que ignoram a natureza da liturgia e o sentido real da celebração do povo sacerdotal, convocado pelo batismo, que se reúne para louvar e agradecer. Os ruídos na celebração, que vão desde a movimentação agitada da equipe até a altura demasiada do som, também colaboram para que a assembleia e a própria equipe não participem plenamente da celebração. Outros problemas somam-se às questões técnicas de execução e conhecimento litúrgico, como a acústica nas Igrejas, o número exagerado de microfones, má equalização dos instrumentos, a falta de postura da equipe.

O uso adequado da intensidade, timbre, volume, interpretação e dinâmica rítmica ajuda na participação do povo e evidencia o sentido próprio da liturgia. “Aprender a ouvir” é o pri-meiro passo na preparação dos músicos e instrumentistas, para descobrir nos vários instrumen-tos os timbres que melhor se adequam para enaltecer a palavra em cada momento. Dependendo da utilização do timbre ou da intensidade utilizada em cada instrumento, a música pode ajudar ou atrapalhar. Lembrando sempre que a voz tem primazia na liturgia, ação do povo de Deus reunido. Um modo de discernir a altura dos instrumentos é perguntar aos instrumentistas se eles conseguem ouvir a voz do povo como voz principal enquanto tocam. Se não conseguem ouvir o povo, é preciso reduzir o volume dos instrumentos.

A adequada interpretação instrumental requer dos músicos conhecimento do que é pró-prio de cada rito. A maneira de acompanhar um ato penitencial, um salmo responsorial ou um Cordeiro de Deus, é muito diferente do acompanhamento de um “glória”, de um “aleluia” na aclamação ou de um “santo”, pois a natureza ritual entre eles é bem diferente.

A liturgia já está pronta, tudo que precisamos para celebrar bem está nos livros litúrgicos de nossa Igreja. Porém, o que não está pronto, e é preciso acontecer, é abrir o caminho para a ação concreta de Deus junto do seu povo, a cada celebração. O maior desafio está em se preparar bem, para vivenciar, edificar e concretizar através da ação litúrgica e do ritual, a compreensão do Mistério de um Deus que se encarna em nossa história.

88 in FONSECA, 2008, p.22

 

Caetana Cecília | Pe. Jair Costa

Comissão Diocesana de Liturgia / Música Litúrgica

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Artigos CNBB

CNBB e MCCE lançam nota sobre PLP n° 192 do Senado que altera a Lei da Ficha Limpa

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) publicaram na segunda-feira, 2 de setembro, uma nota sobre o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 192/2023 que está tramitando no Senado e propõe alterações significativas na Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135, de 2010), uma das mais importantes conquistas democráticas da sociedade brasileira, resultado de uma ampla mobilização popular coordenadas pelas duas organizações.

No documento, a CNBB e o MCCE apontam que o projeto de lei ameaça desfigurar os principais mecanismos de proteção da Lei da Ficha Limpa, beneficiando especialmente aqueles condenados por crimes graves, cuja inelegibilidade poderá ser reduzida ou mesmo anulada antes do cumprimento total das penas.

A CNBB e o MCCE afirmam não ser “possível que uma das únicas leis de iniciativa popular de nosso país seja alterada sem um diálogo com todos os setores da sociedade brasileira” e exige um amplo debate com participação de todos sobre o PLP.

As organizações convidam os senadores a refletirem cuidadosamente sobre as consequências dessa proposta, que será debatida no plenário do Senado Federal e vista do “compromisso com a ética e a justiça, valores fundamentais para a construção de um Brasil mais justo, democrático e solidário.”

Clique aqui para acessar o documento.

Confira a nota na íntegra:

NOTA SOBRE O PLP nº 192/2023, que desfigura a Lei da Ficha Limpa 

“É necessária a política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro bem comum”. (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 154)

O Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 192/2023, que propõe alterações significativas na Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135, de 2010), uma das mais importantes conquistas democráticas da sociedade brasileira, está na pauta do plenário do Senado Federal e representa um grave retrocesso para o país. Esta Lei, fruto da mobilização de milhões de brasileiros e brasileiras, convidados à participação por dezenas de grandes organizações sociais, foi aprovada por unanimidade pelas duas Casas do Congresso Nacional em 2010, representa um marco na luta contra a corrupção e pela transparência e ética na política.

O referido Projeto de Lei ameaça desfigurar os principais mecanismos de proteção da Lei da Ficha Limpa, beneficiando especialmente aqueles condenados por crimes graves, cuja inelegibilidade poderá ser reduzida ou mesmo anulada antes do cumprimento total das penas. Além disso, a proposta visa isentar de responsabilidade aqueles que, mesmo derrotados nas urnas, tenham praticado graves abusos de poder político e econômico, o que enfraquece o combate às práticas corruptas que comprometem a democracia brasileira.

As relações entre os poderes da República merecem todo o respeito. Contudo, as decisões políticas, com o objetivo do bem comum, exigem amplo debate e participação de todos. Não é possível que uma das únicas leis de iniciativa popular de nosso país seja alterada sem um diálogo com todos os setores da sociedade brasileira.

A Conferência Nacional dos Bispos Brasil-CNBB e o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral-MCCE, duas das instituições que contribuíram com a mobilização em torno da Lei da Ficha Limpa, convidam os senhores senadores e as senhoras senadoras a refletir cuidadosamente sobre as consequências dessa proposta, que será debatida no plenário do Senado Federal. Cabe aqui recordar as palavras do Papa Francisco, que soam como alerta: “Atualmente muitos possuem uma má noção da política, e não se pode ignorar que frequentemente, por trás deste fato, estão os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos” (FT 176).

Assim como a vontade do povo é soberana nas eleições, deve ser igualmente respeitada nas leis de iniciativa popular, a sociedade brasileira, que construiu e apoia a Lei da Ficha Limpa, acompanha atentamente esse debate e espera que o PLP nº 192/2023 seja rejeitado, em respeito à vontade popular e à integridade das nossas instituições democráticas. Que prevaleça o compromisso com a ética e a justiça, valores fundamentais para a construção de um Brasil mais justo, democrático e solidário.

Brasília – DF, 2 de setembro de 2024

Dom Jaime Spengler
Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre – RS
Presidente da CNBB

Dom João Justino de Medeiros Silva 
Arcebispo da Arquidiocese de Goiânia – GO
1º Vice-Presidente da CNBB

Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa 
Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife – PE
2º Vice-Presidente da CNBB

Dom Ricardo Hoepers 
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília – DF
Secretário-Geral da CNBB

Assinaturas Diretores do MCCE e entidades que eles representam:

Haroldo Santos Filho 
CFC – Conselho Federal de Contabilidade

Inácio Guedes Borges
CFA – Conselho Federal de Administração e MCCE-AM (Comitê MCCE Amazonas)

Luciano Caparroz P. dos Santos 
CSDDH (Centro Santos Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo) e MCCE-SP (Comitê MCCE São Paulo)

Tania Fernanda P. Pereira 
ADPF – Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal

 

Texto e foto: CNBB