SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

SÃO PAULO - BRASIL

"A Esperança não decepciona" (Rm 5,5)

Categorias
Artigos Vocação e Seminário

“A Igreja precisa de vocações, não tenham medo!”

Foram com essas palavras contidas no título deste artigo que o Papa Leão XIV proferiu sua mensagem após sua primeira oração do Regina Coeli como Sumo Pontífice eleito pela Igreja. A escolha pelo Cardeal Robert Francis Prevost surpreendeu não somente parte do mundo que desconhecia sua pessoa, como também a sua própria história vocacional. Nascido nos Estados Unidos e recebendo também a cidadania peruana, o Cardeal Prevost define sua vida na Igreja como “a minha vocação como cristão é ser missionário”. De fato, trabalhou nas periferias existências e geográficas do mundo, levando o carisma católico – e agostiniano – para os que mais precisavam.

Na mensagem dita em seu primeiro domingo como Leão XIV, Prevost disse que “a Igreja tem grande necessidade de vocações sacerdotais e religiosas! E é importante que os jovens e as jovens encontrem, nas nossas comunidades, acolhimento, escuta e encorajamento no seu caminho vocacional, e que possam contar com modelos críveis de dedicação generosa a Deus e aos irmãos”.

O Papa sublinhou três conceitos muito importantes para a caminhada vocacional: acolhimento, escuta e encorajamento. A acolhida faz-se necessária para receber o jovem e fazê-lo sentir parte da Igreja; a escuta, deixando-o contar sua história de vida e auxilia-lo no discernimento; e no encorajamento, que dispõe em deixar-se ser conduzido por Deus.

Rezemos pelo Papa Leão XIV, por sua vocação por Sumo Pontífice e por tantos jovens para que sigam o seu chamado e aliviem as necessidades da Igreja por santas vocações.

 

Padre Edson Vitor

Coord. Serviço de Animação Vocacional (SAV/PV) da Diocese de Guarulhos

Categorias
Artigos Liturgia

Uma só Igreja, um só Pastor, e a Esperança que não decepciona

Em 21 de abril, segunda-feira da Oitava de Páscoa, o mundo recebia com tristeza a notícia do falecimento do Papa Francisco, um dia depois de ter passado em sua frágil condição de saúde no meio dos fiéis reunidos na praça de São Pedro e dar a benção do dia de Páscoa à cidade de Roma e ao mundo. Naturalmente, com sua partida surgiu uma grande expectativa à medida que os fiéis se preparavam para o conclave que escolheria seu sucessor.

A expectativa em torno da escolha de um novo pontífice logo suscitou um renovado interesse pelas tradições da Igreja e questionamentos sobre quem seria o novo papa e quais seriam suas prioridades. Se, por um lado, tais perguntas ecoaram nas paróquias, nas ruas e nas redes sociais, refletindo a esperança do povo católico diante da escolha de seu pastor, por outro, revelaram especulações muitas vezes descompromissadas com a fé e baseadas em visões unilaterais, sensacionalistas e ideológicas.

Mas o que é o papado? É, para início de conversa, uma instituição divina, não humana. Jesus escolheu Simão, pescador galileu, a quem chamou Pedro (pedra), e lhe conferiu a missão de apascentar seu rebanho (Jo 21,17). O Romano Pontífice (construtor de pontes), também conhecido como papa (termo que remete à sua paternidade eclesial), é o sucessor de Pedro, doce Cristo na terra, sinal visível de unidade, servo dos servos de Deus, e enquanto Bispo da diocese de Roma, é cabeça do colégio episcopal, no sentido de ser o primeiro a zelar pelo Depósito da fé e transmiti-lo com fidelidade na caridade do Espírito Santo.

No que diz respeito a eleição papal e ao “conclave” (cum clavis, que significa “com chave”), pode-se dizer que tal eleição remonta aos primeiros sucessores de São Pedro como bispos de Roma, e evoluiu significativamente ao longo dos séculos, refletindo tanto a dinâmica interna da Igreja quanto as influências externas. Inicialmente, os papas eram escolhidos pelo clero e pelo povo de Roma, mas a crescente interferência secular gerou tumultos, como o massacre durante a eleição de São Dâmaso em 366 d.C. Com o tempo, o clero romano assumiu um papel central, levando à criação do conclave por Gregório X no século XI. Uma resposta à necessidade de um processo mais organizado e menos suscetível a influências externas.

Voltando ao presente, depois de um conclave relativamente rápido, os cardeais elegeram o purpurado norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, que foi superior geral da Ordem de Santo Agostinho, bispo em Chiclayo, no Peru, e até então ocupava o cargo de prefeito do Dicastério para os bispos da Cúria romana. Ele escolheu o nome de Leão XIV, uma referência a Leão XIII, papa do final do séc. XIX, que abordou importantes questões sociais durante a Revolução Industrial. O novo pontífice quer continuar esse legado, trabalhando pela justiça social e pelos direitos dos trabalhadores, especialmente diante dos desafios da nova revolução tecnológica e da inteligência artificial.

A eleição do Papa Leão trouxe um sopro de esperança renovada para os católicos. Com um nome que inevitavelmente evoca a coragem e a força, o novo papa já pode ser visto como sinal de uma Igreja enraizada em sua Tradição e em diálogo com os desafios contemporâneos. Nesse sentido, ele é chamado, em um mundo marcado por desigualdades, crises, guerras, polarizações, e sobretudo, pela crise de fé e da própria existência, a trabalhar incansavelmente em prol da evangelização, da justiça social e da dignidade humana. Ele deverá abordar temas atuais, como a crise ambiental, a paz entre os povos e o acolhimento dos migrantes, sempre à luz do Evangelho.

Além disso, o Papa Leão é chamado a dialogar com todos, independentemente de crenças e culturas, construindo pontes e promovendo a unidade em um mundo frequentemente dividido. Que ele possa ser um líder que não apenas proclama, mas também escuta, compreende e acolhe.

A pregação da unidade será um dos grandes desafios do novo Papa. Em um tempo em que as divisões parecem crescer, ele deve ser um farol de esperança – ainda mais nesse ano jubilar no qual somos chamados a refletir a esperança que não decepciona (Rm 5,5) e comemorar o 1700° aniversário do primeiro concílio ecumênico da história, realizado em Niceia, testemunho eclesial de unidade – convidando todos os católicos a se unirem em torno da missão de anunciar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo.

Outro desafio do Papa Leão XIV é dar continuidade ao processo sinodal iniciado pelo Papa Francisco, promovendo o diálogo e a participação ativa de todos os membros da Igreja. Essa abordagem sinodal visa fortalecer a comunhão e a colaboração dentro da Igreja, buscando uma maior inclusão e escuta dos fiéis.

Neste novo capítulo da história da Igreja, a eleição do Papa Leão XIV é um convite a renovação da fé e à vivência do amor cristão. Que ele, guiado pelo Espírito Santo, possa conduzir a Igreja sempre com um coração aberto e disposto a servir. Que sua liderança traga esperança, não só para os católicos, mas para toda pessoa humana de boa vontade, reafirmando o compromisso da Igreja com a verdade do Evangelho e a promoção da vida em abundância para todos.

 

Padre Leonardo Henrique

Comissão de Liturgia

Categorias
Artigos Enfoque Pastoral

Alegria, serviço e tradição!

No mês de junho, em nossas comunidades, acompanhamos a disponibilidade e a alegria dos agentes de pastoral e de muitos leigos que se unem para a realização das quermesses. Um serviço simples, mas muito valoroso! Os recursos gerados nessas festas são destinados à construção e manutenção de nossas igrejas e de outros espaços essenciais para a evangelização. As quermesses podem ser realizadas em várias épocas do ano nas igrejas, mas acontecem principalmente em junho. A palavra “quermesse”, em sua origem flamenga (kerkmesse), significa “feira de igreja” ou “feira beneficente” e teve origem como festa do padroeiro de paróquias ou até mesmo no aniversário da igreja.

As festas juninas, que também nasceram em berço católico na Europa, são uma forma de homenagem aos santos do mês: Santo Antônio, São João e São Pedro. Ambas as festas tomaram grande proporção por todo o mundo e possuem várias formas de entretenimento. As festas nas comunidades não são meros eventos culturais ou apenas ações entre amigos, mas sim a expressão da presença do Espírito Santo que, na unidade, se desvela nas ações da Igreja de Jesus como um momento de graça. O leigo é convidado a viver esse período de festas na Alegria do Evangelho, buscando a compreensão e a fraternidade, servindo e colocando-se como porta aberta aos demais membros da comunidade eclesial. Como nos recorda o Papa Francisco: “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus.” (Evangelii Gaudium, 1). Esse encontro se manifesta também no serviço e na comunhão de nossas festas.

Neste mês, no dia 19 de junho, também celebraremos o dia de Corpus Christi e colocamos em destaque pastoral. Esta data é comemorada anualmente 60 dias depois da Páscoa, sempre na quinta-feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade. A celebração de Corpus Christi é marcada por procissões nas ruas em torno de nossas paróquias e comunidades, onde as pessoas podem testemunhar e adorar o Corpo e Sangue de Cristo. O Papa Francisco nos exorta a viver a Eucaristia como um chamado à caridade: “A Eucaristia nos leva à solidariedade, nos impulsiona a partilhar com os outros o que somos e o que temos.” (Homilia, Corpus Christi, 2020).

Realizemos com zelo e amor os diversos trabalhos que o Espírito Santo nos ilumina a fazer em nossas igrejas e no mundo. Sempre na certeza de que “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que Ele nos deu” (Rm 5,5). Inspirados em Maria, Mãe de Deus e da Igreja, possamos bendizer a Deus por sua bondade e misericórdia manifestadas em nós quando servimos com amor e alegria o Seu Reino. O Papa Francisco nos lembra que “a evangelização alegre é a beleza de levar a mensagem de Jesus e a beleza de nos deixar levar por Ele, não por nós mesmos.” (Discurso, 2013). Que possamos viver essa alegria em cada festa, em cada serviço, em cada tradição em nossa Igreja.

Pe. Marcelo Dias Soares

Coordenador Diocesano de Pastoral

Categorias
Artigos Editorial

“Igreja de Cristo, una, Santa, Católica e Apostólica”

Caríssimos irmãos e irmãs, peregrinos de esperança! Nesta edição o tema central é a força da unidade na diversidade que compõe a Santa Igreja. Os artigos ressaltam a repercussão mundial da eleição do Papa Leão XIV e as expectativas do futuro da Igreja nas mãos no novo papa.

Os meios de comunicação foram fundamentais para desenvolver a reflexão, seja com publicações positivas ou negativas sobre o processo do conclave que é uma enorme expressão da unidade na diversidade. O catecismo da Igreja Católica no seu artigo número 820 diz: “A Unidade, Cristo concedeu, desde o início, à sua Igreja, e nós cremos que ela subsiste sem possibilidade de ser perdida na Igreja católica e esperamos cresça, dia após dia, até a consumação dos séculos.

Cristo dá sempre à Igreja o dom da unidade, mas a Igreja deve sempre orar e trabalhar para manter, reforçar e aperfeiçoar a unidade que Cristo quer para ela. Por isso Jesus mesmo orou na hora da sua Paixão, e não cessa de orar ao Pai pela unidade dos seus discípulos: “… Que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). O desejo de reencontrar a unidade de todos os cristãos é um dom de Cristo e convite do Espírito Santo”.

Os sentimentos da morte do Papa Francisco e da sé vacante foram diversos para cada cristão católico, porém eu creio que o testemunho de Dom Edmilson na edição voz do pastor, expressa perfeitamente os sentimentos em comum.

Um testemunho lindo do bispo sobre a necessidade da unidade para manter a missão por Cristo confiada. Convido a cada um, também manifestar seus sentimentos nas redes sociais e em grupos utilizando a reflexão de Dom Edmilson para fortalecer a missão de cada um nesta Igreja, de modo especial na Diocese de Guarulhos. Além do processo da eleição do Papa Leão XIV, a unidade nesta edição pode ser comprovada com a ordenação diaconal de nossos seminaristas, que é uma belíssima oportunidade de reunir toda a Diocese para este momento vocacional, pessoas da mesma Igreja, com carismas diversos, porém quase nunca estão juntas no mesmo espaço geográfico, mas unidos na mesma missão sob o mesmo pastoreio e orientações de ação evangelizadora.

Veja a força da unidade na diversidade: celebrar a vitória do caminho percorrido de um irmão, mesmo sem ter feito parte diretamente desta caminhada. Parabéns aos novos diáconos e suas comunidades familiares e eclesiais. E como ressaltou o Papa Leão XIV: “A Igreja precisa de vocações, não tenham medo”.

Outro momento de unidade marcante foi a missa diocesana da Pastoral da Comunicação realizada na Paróquia Santa Luzia, Parque Alvorada. Celebração eucarística presidida com carinho por Dom Edmilson, que reuniu agentes da pastoral da comunicação de toda a Diocese de Guarulhos, que mesmo uniformizados demostram a sua diversidade sem necessidade de uniformidade.

Cada equipe com suas características, suas conquistas e desafios, foram acolhidas e experimentaram na prática o lema do 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais: “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações (cf. 1 Pd 3,15-16). Que sejamos propagadores da unidade na diversidade por uma Igreja cada vez mais una, santa, católica e apostólica.

Sejam bem-vindos Papa Leão XIV; diáconos Ailton Correia e Leonardo Lopes, e a todos, bem como aos leigos e leigas envolvidos na ação evangelizadora da Igreja no mundo, recebam a gratidão e a oração de toda a Igreja.

Padre Marcos Vinicius Clementino

Jornalista e Diretor Geral

Categorias
Artigos Voz do Pastor

O Bispo e o Papa

Durante este Tempo Pascal Deus nos permitiu viver acontecimentos especiais com a morte do saudoso Papa Francisco e a eleição e primícias do Pontificado de Leão XIV.

Naquela manhã de segunda-feira, 21 de abril, oitava da Páscoa fomos surpreendidos com a morte do Papa Francisco. O sentimento que experimentei foi surpresa até para mim mesmo, pois me senti órfão e ao mesmo tempo perguntando-me: para onde vou?  Eu mesmo me censurava dizendo-me: o que é isso? Que apego desnecessário! As horas daquele dia foram passando e então fui diagnosticando em mim aquele sentimento.

É verdade: o Pontificado do Papa Franciso foi marcante para mim. Os desafios lançados desde as suas primeiras palavras como Papa, a Evangelii Gaudium (com uma linguagem diferente), as Encíclicas sociais, os Sínodos…Tudo isso sempre foi para mim um apelo à conversão pessoal e pastoral. Algumas coisas não entendiam “de primeira”, mas depois refletindo entendia que não era heresia, que estava em comunhão com a fé e Tradição da Igreja.

No entanto, aquele sentimento, no dia 21 de abril, não era somente algo afetivo, mas também efetivo. Tenho 17 anos de serviço episcopal, dos quais 12 sob o Pontificado de Francisco. Não fiquei com medo do futuro, absolutamente. Tratava-se de um momento que, apesar de continuar sendo Sucessor dos Apóstolos, o Colégio Episcopal, estava sem a sua Cabeça visível nesta terra. O Ministério do Sucessor de Pedro estava temporariamente ausente. Foi aquela sensação que o meu ministério episcopal não estava, diria, pleno.

De fato, nos ensina a Lumen Gentium, Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II: “O Senhor Jesus, depois ter orado ao Pai, chamou a si os que ele quis e escolheu os doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar o Reino de Deus (Cf Mc 3,13-10; Mt 10,1-42); a estes os constituiu apóstolos (cf. Lc 6,13) sob a forma de colégio, isto é, de grupo estável, cuja presidência entregou a Pedro, escolhido dentre eles.  (cf Jo 21,15-17) (Lumen Gentium 19) Tal como, por disposição do Senhor, São Pedro e os demais apóstolos formam um só colégio apostólico, de maneira semelhante o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, e os bispos, sucessores dos apóstolos, estão unidos entre si. (…). Mas o colégio episcopal não tem autoridade, se nele não se considera incluído, como cabeça, o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, permanecendo sempre íntegro o seu poder primacial sobre todos, tanto pastores como fiéis.”  (Lumen Gentium 22).

Para corroborar com esta doutrina explicitada no Vaticano II, temos a Exortação Apostólica “Pastores Gregis” de São João Paulo II, que foi publicada a partir do Sínodo dos Bispos sobre o serviço episcopal: “De igual modo, através da sucessão pessoal do Bispo de Roma ao bem-aventurado Pedro e de todos os bispos no seu conjunto aos apóstolos, o Romano Pontífice e os Bispos estão unidos entre si como um Colégio. (…) De fato, ele é (o bispo) constituído na plenitude do ministério episcopal pela consagração episcopal e pela comunhão hierárquica com a Cabeça do Colégio e com os membros, isto é, com o Colégio que sempre inclui sua Cabeça. (…). Porém, o afeto colegial só se realiza e exprime, de modo pleno, na ação colegial em sentido estrito, isto é, na ação de todos os Bispos unidos com a sua Cabeça pela qual exercem o poder pleno e supremo sobre toda a Igreja. Esta natureza colegial do ministério apostólico é querida pelo próprio Cristo. Por isso, o afeto colegial ou colegialidade afetiva vigora sempre entre os bispos como communio episcoporum e em alguns atos se exprime como colegialidade efetiva. (…). Princípio e fundamento desta unidade, tanto da Igreja como do Colégio dos Bispos, é o Romano Pontífice. (…) Cada Bispo – sempre em união com todos os irmãos no episcopado e com o Romano Pontífice – representa Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja.”

(Pastores Gregis, 8)

Esta compreensão, existencial e sacramental, tornou-se para mim mais clara ainda, quando na tarde de 08 de maio, foi anunciada a eleição de Leão XIV. Naqueles momentos, antes mesmo do anúncio do eleito e do nome que ele havia escolhido, senti voltar aquela sensação do ministério “pleno”. Depois, sabendo quem era o eleito, sabendo um pouco da história, fui intuindo os caminhos de Deus na história. Não somente as suas primeiras palavras no balcão da Basílica de São Pedro, mas principalmente a sua homilia, na Sistina, com os cardeais, no dia 09 de maio, fizeram-me experimentar um sentimento de comunhão efetiva e afetiva.

Ainda que, após o assentimento à sua eleição, o Papa eleito, sendo já bispo, torna-se bispo de Roma, com tudo aquilo que está intimamente ligado a esta missão, a celebração de 18 de maio, “início do Pontificado”, é também cheia de significado nesta união afetiva e efetiva. “…a unidade da Igreja está radicada na unidade do episcopado, o qual, para ser uno, requer uma Cabeça do Colégio. De forma análogo a Igreja para ser una exige uma Igreja como Cabeça das Igreja, a de Roma, cujo bispo – sucessor de Pedro – é a Cabeça do Colégio. (…)O primado do bispo de Roma e o Colégio Episcopal são elementos próprios da Igreja universal, não derivados da particularidade das Igrejas, mas interiores a cada Igreja Particular. O fato de o ministério do Sucessor de Pedro ser interior a cada Igreja Particular é expressão necessária dessa fundamental e mútua interioridade entre Igreja universal e Igreja Particular.”  (Pastores Gregis 56)

Então, todos os meus sentimentos como bispo, não são coisas que podem ser chamadas banalmente de sentimentais. Tratam-se de sentimentos que denotam uma realidade existencial e sacramental – ousaria dizer ôntica. Visto, ainda, que sou um bispo diocesano, toda a Igreja Particular de Guarulhos, deve unir-se a este sentimento, para estarmos plenamente na comunhão e unidade da Igreja.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O. Cist.

Bispo diocesano

Categorias
Artigos Falando da Vida

‘‘Quem sou eu para julgar?’’

Quando a humildade se torna sinônimo de grandeza.

No dia 21 de abril deste ano, o mundo acordou com a triste notícia do falecimento do Papa Francisco. Ele se destacou pela coragem e habilidade de comunicação, enfrentando temas difíceis de serem abordados, sobretudo por ser o líder máximo da igreja católica. Quando questionado sobre assuntos conflitantes com a doutrina católica, buscava sempre enfatizar os valores da vida humana. Uma das suas maiores características era a solidariedade e a promoção dos direitos de todos, sempre com a postura de acolhimento e empatia.

Quem sou eu para julgar? Essa frase define bem a essência do Papa Francisco e se tornou título de um livro de sua autoria, que reúne suas reflexões e ensinamentos sobre o tema do julgamento e da misericórdia. O livro se baseia em suas homilias e discursos, abordando a importância de não julgar os outros e de promover uma cultura de acolhimento e compaixão. Exemplo disso, foi quando questionado sobre a posição da igreja em relação aos homossexuais, ele respondeu: “Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la”?

Essa frase é uma aula sobre humildade e tolerância, principalmente na época em que estamos vivendo o retorno de ideias fascistas que ameaçam o mundo. Discursos de ódio e intolerância, têm se tornado frequentes em quase todos os países e se propagam nas redes sociais, colocando em risco democracias históricas e a convivência pacífica entre povos e nações. Quem julga se reveste de arrogância e se supõe melhor do que o outro. Ideias desse tipo, não levam em consideração que somos todos humanos, habitamos o mesmo planeta e somos filhos de um mesmo Deus.

Creio que a associação do Papa Francisco à São Francisco de Assis não esteja só no nome. Podemos ver a sua identidade franciscana na sua simplicidade, humildade e senso de justiça. Também na sua coragem na defesa das minorias, na promoção da paz e no diálogo com outras religiões. A sua Encíclica Laudato si é um verdadeiro tesouro que todas as pessoas deveriam ler e estudar. Lá, podemos ver São Francisco no Papa Francisco, denunciando os crimes que estamos cometendo contra a natureza, podemos entender que a ambição humana está destruindo a vida. Como seria bom se tivéssemos um pouco de Francisco em cada um de nós. A mãe terra, agradeceria e como verdadeiros irmãos, poderíamos cantar: Laudato si, Louvado Seja.

 

Romildo R. Almeida

Psicólogo clínico

Categorias
Artigos Bíblia

“Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!” (Lc 1,28)

O objetivo do presente artigo é tratar sobre a saudação do enviado de Deus a Maria: “Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Além disso, aborda a importância de manter a esperança e a alegria, fundamentadas em Cristo Jesus, diante de um cenário social marcado pelo individualismo, isolamento e desvalorização dos valores comunitários. Traz palavras do Papa Francisco que motivam os cristãos a serem mensageiros da Alegria do Evangelho.

Para dar sentido e renovar a alegria dos missionários/as do Caminho, como verdadeiros sujeitos eclesiais, “os cristãos precisam recomeçar a partir de Cristo, a partir da contemplação de quem nos revelou em seu mistério a plenitude do cumprimento da vocação humana e de seu sentido” (Documento de Aparecida, 41).

A Bem-Aventurada Virgem Maria escutou a Palavra, acolheu-a no coração e deu frutos. Ela é a primeira discipula-missionária cristã. A discípula mais perfeita do Senhor. Seu itinerário é a partir de Cristo. “Ela viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e depois dos discípulos, sem estar livre da incompreensão e da busca constante do projeto do Pai” (Documento de Aparecida, 266).

Diante disso, Maria, quando foi saudada pelo enviado de Deus, tentou  entender o significado daquela saudação (cf. Lc 1,29): “Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!” (Lc 1,28).

A saudação que está no Evangelho de Lucas 1,28: “Alegra-te”, é bem conhecida pelos cristãos, por estar no início da Oração da Ave-Maria. A saudação usual em grego (chaíre) corresponde ao latim ave (seja próspero) e ao hebraico shalom (paz) – tem a mesma raiz de “se alegrar” e “encontrar graça” (Lc 1,28.30). Em grego, as palavras “graça”, “gratuidade”, “bondade”, “beleza” e “dom” são aparentadas entre si: descrevem Deus e o seu relacionamento conosco.

“Alegre-se, Maria” (cf. Lc, 1,28) está no contexto da Encarnação de Jesus e também mostra a vocação de Maria e sua resposta generosa. Maria é chamada a participar da alegria do novo tempo, que começa com a vinda de Jesus (Lc 1,14.44.58;2,10). Compromisso que nasce do Batismo, isto é,  de todos os cristãos – Povo de Deus a caminho.

A alegria não foi somente para Maria, mas para o Povo de Deus que ela representa. “Com razão afirmam os santos Padres que Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e com inteira obediência. Como diz Santo Irineu, ‘pela obediência, ela tornou-se causa de salvação para si mesma e para todo o gênero humano” (Lumen Gentium, 56).

A expressão “o Senhor está contigo” (Lc 1,28) quer dizer: tu terás uma missão exigente, mas o Senhor estará ao teu lado, dando-lhe força para realizar o que ele te pede.

A alegria de Maria, anunciada pelo enviado de Deus, expressa pelo evangelista Lucas, irrompe da ação do Espírito Santo que a faz conceber Jesus. Portanto, a Mãe de Deus, como mulher de fé, ao cantar o seu Magnificat louva a Deus pela salvação recebida ao mesmo tempo que recorda a ação e Deus e a sua fidelidade aos pequenos e aos pobres.

No Magnificat,  os cristãos se deparam com a espiritualidade de Maria. Por isso,  a Bem-Aventurada Virgem Maria, discípula missionária de Jesus Cristo, é modelo para todos os cristãos que, alicerçados na esperança, encontram, na Mãe de Deus, a sua testemunha mais fiel.

Diante do atual contexto social atual, onde a realidade para o ser humano se tornou cada vez mais sem brilho e complexa, verifica-se uma forte tendência ao individualismo. Os meios de comunicação invadiram todos os espaços e conversas, inclusive na intimidade dos lares, estimulando competições e distorções dos valores da vida e dos relacionamentos.

A falta de cuidado com a Ecologia Integral, criação de Deus; a ausência de espírito comunitário que provoca isolamento; o desinteresse pelo zelo e cuidado com a dignidade da pessoa humana; e o medo que paralisa, são alguns dos aspectos que dificultam uma dinâmica frutífera na vida comunitária.

Estes, entre outros, aspectos da atualidade tem tentado “roubar” a alegria e a esperança de muitos cristãos. É preciso resistir às tentações e permanecer com Jesus, na profecia e na resistência.

O Santo padre, Papa Francisco comentou que pouco a pouco, o que ele denominou de “psicologia do túmulo”, transforma os cristãos em múmias de museu. Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração como “o mais precioso elixir do demônio” (Evangelli Gaudium, 83).

Para o pontífice, os cristãos chamados para iluminar e comunicar vida, acabam por se deixar cativar por coisas que só geram escuridão e cansaço interior e corroem o dinamismo apostólico. Por tudo isto, insiste Francisco: “Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização!”. Ao perceber as tristezas e aridez no que se concerne à fé, “Não deixem que lhes nos roubem a esperança” e “Não deixemos que nos roubem a Comunidade” (Evangelli Gaudium 86, 86 e 89). Aos jovens, disse o Pontífice: “Não tenham medo de sonhar grandes coisas”.

Se a alegria que vem do Senhor muitas vezes é substituída por prazeres momentâneos e passageiros, por medos e desafios, “olhemos para Maria, voltemos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto”, enquanto caminhamos neste mundo como Peregrinos de Esperança, rumo a uma Igreja Povo de Deus, em estilo sinodal.

“Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você”. Certamente Maria conhecia o Salmos 100;  Salmo 16,11; Salmo 33,20-22; Salmo 32,11 que tratam sobre a Alegria. Você não os conhece? Será uma excelente oportunidade para ler, meditar e partilhar esta alegria com sua família, seus amigos e na Comunidade: Povo de Deus, missionários da alegria.

 

Celia Soares de Sousa,

Cristã leiga e teóloga

Categorias
Artigos Vocação e Seminário

Um socorro de Maria

O mês de maio é tradicionalmente relacionado com a pessoa e com a presença da Virgem Maria na vida da Igreja e de seu povo. Nossa Senhora “cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira” (Lumen Gentium, 62).

De fato, a Virgem Maria tem sido o refúgio de tantos cristãos ao longo das eras e, em nossa Diocese, ela tem sido um socorro em uma carência muito relevante: quem aqui não conhece a intercessão de Maria, sob o título de Nossa Senhora das Vocações, para que as vocações possam ser frutuosas e santas em nossas comunidades?

Com uma devoção nascida e presente no Seminário Diocesano de Guarulhos em um tempo que a Diocese apresentava poucas vocações sacerdotais, foi a mediação da Senhora das Vocações e a força da oração do Povo de Deus, que reascendeu a chama vocacional nos diversos jovens de nossas comunidades.

A Mãe de Deus sempre socorre seus filhos que pedem com clemência por socorro. E esse socorro pode ser manifestado de diversas urgências – inclusive pela escassez de vocações.

Você já pediu a intercessão da Virgem Maria para que o Senhor da messe envie muitas e santas vocações para a nossa Diocese? Convido todos a nos dirigirmos a Santa Mãe de Deus e pedirmos seu auxílio e amparo para que não faltem operários para a construção do Reino dos Céus através das diversas vocações.

 

Padre Edson Vitor

Coord. Serviço de Animação Vocacional

Categorias
Artigos Vida Presbiteral

Papa Francisco combateu o bom combate da Fé!

“Os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.” (Mt 13, 43)

O dia 21 de abril amanheceu como todos os dias, mas nem tanto assim…
Partiu para junto de Deus, levando na bagagem de sua alma,
Sonhos enraizados nas entranhas de seu coração, eu creio.

Deixou-nos a lembrança de sonhos, o sorriso cândido dos lábios,
Olhar de ternura, de esperança que captava os finos detalhes
Da pureza de uma criança aos de rugas sofridas de um idoso.

Com ele sonhamos um mundo sem conflitos avassaladores,
Que desterram famílias, que partem por vezes para lugar nenhum.
Um grito profético para o fim de uma “guerra mundial em pedaços”.

Memoráveis lições de superação da dor, da enfermidade.
Carregou com serenidade e confiança a cruz cotidiana,
Com fé inquebrantável, esperança enraizada, caridade inflamada.

Sua vida marcada pela simplicidade, despojamento, sem “glamoures”,
Despido de todas honras, e revestido da humildade e simplicidade,
Pescador de homens, de fato, pelo Senhor, coração seduzido.

Seu canto de louvor pela criação ecoará como do outro Francisco,
Nos ajudou a reencantar o mundo, no carinho pela obra do Criador,
Por uma nova Economia e o necessário cuidado de nossa Casa Comum.

Entra Francisco na morada que o Senhor prometeu,
Edificada pelas inúmeras obras de amor vivido,
No Altar do Senhor eternizadas, em cada Eucaristia celebrada.

A Deus rendemos honra, glória, poder e louvor
Aqui ficamos, e enquanto ficamos, em suave Memória.
Edificando uma Igreja Sinodal, Misericordiosa e Missionária.

Somos uma Igreja em saída para as periferias,
Tua exortação gravada como selo para sempre ficou.
Descanse em paz, a coroa da glória receba…

Cremos que o Espírito Santo que te animou e conduziu,
Conosco está, e não nos deixará órfãos.

E há de iluminar para sábia e santa escolha de seu sucessor.

Amém.

Dom Otacílio F. Lacerda

Bispo da Diocese de Guanhães – MG

Categorias
Artigos Destaques Diocese Liturgia PASCOM

Mensagem para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2025

Na mensagem, o Santo Padre ressaltou a necessidade de “desarmar a comunicação”, pois a sua real função é gerar esperança e não “medo e desespero, preconceitos e rancores”.

Outro ponto apontado foi a necessidade de atenção para a “dispersão programada da atenção” que, segundo o Papa Francisco, gera um cenário preocupante de distorção da realidade baseada somente em interesses coletivos e individuais de minorias que querem ser predominantes.

A mensagem representa para nós, pasconeiros e pasconeiras, comunicadores católicos, o combustível para seguir a nossa missão de levar sempre a esperança nas comunicações, no qual não são apenas mensagens sem sentido mas conteúdos que representam a nossa referência de esperança: o rosto do Cristo Ressuscitado.

Confira na íntegra:

Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações (cf. 1 Pd 3,15-16)

Queridos irmãos e irmãs!

Neste nosso tempo marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes, dirijo-me a vós consciente do quanto, hoje mais do que nunca, é necessário o vosso trabalho de jornalistas e comunicadores. Precisamos do vosso compromisso corajoso em colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo.

Ao pensar no Jubileu que estamos a celebrar como um período de graça em tempos tão conturbados, com esta Mensagem gostaria de vos convidar a ser comunicadores de esperança, começando pela renovação do vosso trabalho e missão segundo o espírito do Evangelho.

Desarmar a comunicação

Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir. Já várias vezes insisti na necessidade de “desarmar” a comunicação, de a purificar da agressividade. Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans. Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, todos constatamos o risco de prevalecer o paradigma da competição, da contraposição, da vontade de dominar e possuir, da manipulação da opinião pública.

Há ainda um outro fenómeno preocupante: poderíamos designá-lo como a “dispersão programada da atenção” através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa perceção da realidade. Acontece portanto que assistimos, muitas vezes impotentes, a uma espécie de atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro. Parece que, para a afirmação de si próprio, seja indispensável identificar um “inimigo” a quem atacar verbalmente. E quando o outro se torna um “inimigo”, quando o seu rosto e a sua dignidade são obscurecidos de modo a escarnecê-lo e ridicularizá-lo, perde-se igualmente a possibilidade de gerar esperança. Como nos ensinou D. Tonino Bello, todos os conflitos «encontram a sua raiz no desvanecer dos rostos» [1]. Não podemos render-nos a esta lógica.

Na verdade, ter esperança não é de todo fácil. Georges Bernanos dizia que «só têm esperança aqueles que ousaram desesperar das ilusões e mentiras nas quais encontravam segurança e que falsamente confundiam com esperança. […] A esperança é um risco que é preciso correr. É o risco dos riscos» [2]. A esperança é uma virtude escondida, pertinaz e paciente. No entanto, para os cristãos, a esperança não é uma escolha, mas uma condição imprescindível. Como recordava Bento XVI na Encíclica Spe salvi, a esperança não é um otimismo passivo, antes pelo contrário, é uma virtude “performativa”, capaz de mudar a vida: «Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova» (n. 2).

Dar com mansidão a razão da nossa esperança

Na Primeira Carta de São Pedro (cf. 3, 15-16), encontramos uma síntese admirável na qual se relacionam a esperança com o testemunho e a comunicação cristã: «no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito». Gostaria de me deter em três mensagens que podemos extrair destas palavras.

«No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor». A esperança dos cristãos tem um rosto: o rosto do Senhor ressuscitado. A sua promessa de estar sempre connosco através do dom do Espírito Santo permite-nos esperar contra toda a esperança e ver, mesmo quando tudo parece perdido, as escondidas migalhas de bem.

A segunda mensagem pede-nos para estarmos dispostos a dar razão da nossa esperança. É interessante notar que o Apóstolo convida a dar conta da esperança «a todo aquele que vo-la peça». Os cristãos não são, antes de mais, aqueles que “falam” de Deus, mas aqueles que fazem ressoar a beleza do seu amor, uma maneira nova de viver cada pequena coisa. É o amor vivido que suscita a pergunta e exige uma resposta: porque é que viveis assim? Porque é que sois assim?

Por fim, na expressão de São Pedro encontramos uma terceira mensagem: a resposta a este pedido deve ser dada “com mansidão e respeito”. A comunicação dos cristãos – e eu diria até a comunicação em geral – deve ser feita com mansidão, com proximidade: eis o estilo dos companheiros de viagem, na peugada do maior Comunicador de todos os tempos, Jesus de Nazaré, que ao longo do caminho dialogava com os dois discípulos de Emaús, fazendo-lhes arder os corações através do modo como interpretava os acontecimentos à luz das Escrituras.

Por isso, sonho com uma comunicação que saiba fazer de nós companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs nossos para, em tempos tão conturbados, reacender neles a esperança. Uma comunicação que seja capaz de falar ao coração, de suscitar não reações impetuosas de fechamento e raiva, mas atitudes de abertura e amizade; capaz de apostar na beleza e na esperança mesmo nas situações aparentemente mais desesperadas; de gerar empenho, empatia, interesse pelos outros. Uma comunicação que nos ajude a «reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos da nossa casa comum» (Carta enc. Dilexit nos, 217).

Sonho com uma comunicação que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança. Martin Luther King disse: «Se eu puder ajudar alguém enquanto caminho, se eu puder alegrar alguém com uma palavra ou uma canção… então a minha vida não terá sido vivida em vão» [3]. Para isso, precisamos de nos curar da “doença” do protagonismo e da autorreferencialidade, evitar o risco de falarmos de nós mesmos: o bom comunicador faz com que quem ouve, lê ou vê se torne participante, esteja próximo, possa encontrar o melhor de si e entrar com estas atitudes nas histórias contadas. Comunicar deste modo ajuda a tornarmo-nos “peregrinos de esperança”, como diz o lema do Jubileu.

Esperar juntos

A esperança é sempre um projeto comunitário. Pensemos, por um momento, na grandeza da mensagem deste ano de graça: estamos todos – realmente todos! – convidados a recomeçar, a deixar que Deus nos reerga, nos abrace e inunde de misericórdia. E entrelaçadas com tudo isto estão a dimensão pessoal e a dimensão comunitária. É em conjunto que nos pomos a caminho, peregrinamos com tantos irmãos e irmãs, e, juntos, atravessamos a Porta Santa.

O Jubileu tem muitas implicações sociais. Pensemos, por exemplo, na mensagem de misericórdia e esperança para quem vive nas prisões, ou no apelo à proximidade e à ternura para com os que sofrem e estão à margem. O Jubileu recorda-nos que todos os que se tornam construtores da paz «serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). E, deste modo, abre-nos à esperança, aponta-nos a necessidade de uma comunicação atenta, amável, refletida, capaz de indicar caminhos de diálogo. Encorajo-vos, portanto, a descobrir e a contar tantas histórias de bem escondidas por detrás das notícias; a imitar aqueles exploradores de ouro que, incansavelmente, peneiram a areia em busca duma pequeníssima pepita. É importante encontrar estas sementes de esperança e dá-las a conhecer. Ajuda o mundo a ser um pouco menos surdo ao grito dos últimos, um pouco menos indiferente, um pouco menos fechado. Que saibais sempre encontrar as centelhas de bem que nos permitem ter esperança. Este tipo de comunicação pode ajudar a tecer a comunhão, a fazer-nos sentir menos sós, a redescobrir a importância de caminhar juntos.

Não esqueçais o coração

Queridos irmãos e irmãs, perante as vertiginosas conquistas da técnica, convido-vos a cuidar do coração, ou seja, da vossa vida interior. O que é que isto significa? Deixo-vos algumas pistas.

Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro; falai ao coração das mulheres e dos homens ao serviço de quem desempenhais o vosso trabalho.

Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos.

Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade.

Dai espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida.

Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo.

Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro.

Tudo isto podeis e podemos fazê-lo com a graça de Deus, que o Jubileu nos ajuda a receber em abundância. Por isto, rezo por cada um de vós e pelo vosso trabalho, e vos abençoo.

Roma, São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2025.

Francisco