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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"A Esperança não decepciona" (Rm 5,5)

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Papa Francisco combateu o bom combate da Fé!

“Os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.” (Mt 13, 43)

O dia 21 de abril amanheceu como todos os dias, mas nem tanto assim…
Partiu para junto de Deus, levando na bagagem de sua alma,
Sonhos enraizados nas entranhas de seu coração, eu creio.

Deixou-nos a lembrança de sonhos, o sorriso cândido dos lábios,
Olhar de ternura, de esperança que captava os finos detalhes
Da pureza de uma criança aos de rugas sofridas de um idoso.

Com ele sonhamos um mundo sem conflitos avassaladores,
Que desterram famílias, que partem por vezes para lugar nenhum.
Um grito profético para o fim de uma “guerra mundial em pedaços”.

Memoráveis lições de superação da dor, da enfermidade.
Carregou com serenidade e confiança a cruz cotidiana,
Com fé inquebrantável, esperança enraizada, caridade inflamada.

Sua vida marcada pela simplicidade, despojamento, sem “glamoures”,
Despido de todas honras, e revestido da humildade e simplicidade,
Pescador de homens, de fato, pelo Senhor, coração seduzido.

Seu canto de louvor pela criação ecoará como do outro Francisco,
Nos ajudou a reencantar o mundo, no carinho pela obra do Criador,
Por uma nova Economia e o necessário cuidado de nossa Casa Comum.

Entra Francisco na morada que o Senhor prometeu,
Edificada pelas inúmeras obras de amor vivido,
No Altar do Senhor eternizadas, em cada Eucaristia celebrada.

A Deus rendemos honra, glória, poder e louvor
Aqui ficamos, e enquanto ficamos, em suave Memória.
Edificando uma Igreja Sinodal, Misericordiosa e Missionária.

Somos uma Igreja em saída para as periferias,
Tua exortação gravada como selo para sempre ficou.
Descanse em paz, a coroa da glória receba…

Cremos que o Espírito Santo que te animou e conduziu,
Conosco está, e não nos deixará órfãos.

E há de iluminar para sábia e santa escolha de seu sucessor.

Amém.

Dom Otacílio F. Lacerda

Bispo da Diocese de Guanhães – MG

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Mensagem para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2025

Na mensagem, o Santo Padre ressaltou a necessidade de “desarmar a comunicação”, pois a sua real função é gerar esperança e não “medo e desespero, preconceitos e rancores”.

Outro ponto apontado foi a necessidade de atenção para a “dispersão programada da atenção” que, segundo o Papa Francisco, gera um cenário preocupante de distorção da realidade baseada somente em interesses coletivos e individuais de minorias que querem ser predominantes.

A mensagem representa para nós, pasconeiros e pasconeiras, comunicadores católicos, o combustível para seguir a nossa missão de levar sempre a esperança nas comunicações, no qual não são apenas mensagens sem sentido mas conteúdos que representam a nossa referência de esperança: o rosto do Cristo Ressuscitado.

Confira na íntegra:

Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações (cf. 1 Pd 3,15-16)

Queridos irmãos e irmãs!

Neste nosso tempo marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes, dirijo-me a vós consciente do quanto, hoje mais do que nunca, é necessário o vosso trabalho de jornalistas e comunicadores. Precisamos do vosso compromisso corajoso em colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo.

Ao pensar no Jubileu que estamos a celebrar como um período de graça em tempos tão conturbados, com esta Mensagem gostaria de vos convidar a ser comunicadores de esperança, começando pela renovação do vosso trabalho e missão segundo o espírito do Evangelho.

Desarmar a comunicação

Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir. Já várias vezes insisti na necessidade de “desarmar” a comunicação, de a purificar da agressividade. Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans. Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, todos constatamos o risco de prevalecer o paradigma da competição, da contraposição, da vontade de dominar e possuir, da manipulação da opinião pública.

Há ainda um outro fenómeno preocupante: poderíamos designá-lo como a “dispersão programada da atenção” através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa perceção da realidade. Acontece portanto que assistimos, muitas vezes impotentes, a uma espécie de atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro. Parece que, para a afirmação de si próprio, seja indispensável identificar um “inimigo” a quem atacar verbalmente. E quando o outro se torna um “inimigo”, quando o seu rosto e a sua dignidade são obscurecidos de modo a escarnecê-lo e ridicularizá-lo, perde-se igualmente a possibilidade de gerar esperança. Como nos ensinou D. Tonino Bello, todos os conflitos «encontram a sua raiz no desvanecer dos rostos» [1]. Não podemos render-nos a esta lógica.

Na verdade, ter esperança não é de todo fácil. Georges Bernanos dizia que «só têm esperança aqueles que ousaram desesperar das ilusões e mentiras nas quais encontravam segurança e que falsamente confundiam com esperança. […] A esperança é um risco que é preciso correr. É o risco dos riscos» [2]. A esperança é uma virtude escondida, pertinaz e paciente. No entanto, para os cristãos, a esperança não é uma escolha, mas uma condição imprescindível. Como recordava Bento XVI na Encíclica Spe salvi, a esperança não é um otimismo passivo, antes pelo contrário, é uma virtude “performativa”, capaz de mudar a vida: «Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova» (n. 2).

Dar com mansidão a razão da nossa esperança

Na Primeira Carta de São Pedro (cf. 3, 15-16), encontramos uma síntese admirável na qual se relacionam a esperança com o testemunho e a comunicação cristã: «no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito». Gostaria de me deter em três mensagens que podemos extrair destas palavras.

«No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor». A esperança dos cristãos tem um rosto: o rosto do Senhor ressuscitado. A sua promessa de estar sempre connosco através do dom do Espírito Santo permite-nos esperar contra toda a esperança e ver, mesmo quando tudo parece perdido, as escondidas migalhas de bem.

A segunda mensagem pede-nos para estarmos dispostos a dar razão da nossa esperança. É interessante notar que o Apóstolo convida a dar conta da esperança «a todo aquele que vo-la peça». Os cristãos não são, antes de mais, aqueles que “falam” de Deus, mas aqueles que fazem ressoar a beleza do seu amor, uma maneira nova de viver cada pequena coisa. É o amor vivido que suscita a pergunta e exige uma resposta: porque é que viveis assim? Porque é que sois assim?

Por fim, na expressão de São Pedro encontramos uma terceira mensagem: a resposta a este pedido deve ser dada “com mansidão e respeito”. A comunicação dos cristãos – e eu diria até a comunicação em geral – deve ser feita com mansidão, com proximidade: eis o estilo dos companheiros de viagem, na peugada do maior Comunicador de todos os tempos, Jesus de Nazaré, que ao longo do caminho dialogava com os dois discípulos de Emaús, fazendo-lhes arder os corações através do modo como interpretava os acontecimentos à luz das Escrituras.

Por isso, sonho com uma comunicação que saiba fazer de nós companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs nossos para, em tempos tão conturbados, reacender neles a esperança. Uma comunicação que seja capaz de falar ao coração, de suscitar não reações impetuosas de fechamento e raiva, mas atitudes de abertura e amizade; capaz de apostar na beleza e na esperança mesmo nas situações aparentemente mais desesperadas; de gerar empenho, empatia, interesse pelos outros. Uma comunicação que nos ajude a «reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos da nossa casa comum» (Carta enc. Dilexit nos, 217).

Sonho com uma comunicação que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança. Martin Luther King disse: «Se eu puder ajudar alguém enquanto caminho, se eu puder alegrar alguém com uma palavra ou uma canção… então a minha vida não terá sido vivida em vão» [3]. Para isso, precisamos de nos curar da “doença” do protagonismo e da autorreferencialidade, evitar o risco de falarmos de nós mesmos: o bom comunicador faz com que quem ouve, lê ou vê se torne participante, esteja próximo, possa encontrar o melhor de si e entrar com estas atitudes nas histórias contadas. Comunicar deste modo ajuda a tornarmo-nos “peregrinos de esperança”, como diz o lema do Jubileu.

Esperar juntos

A esperança é sempre um projeto comunitário. Pensemos, por um momento, na grandeza da mensagem deste ano de graça: estamos todos – realmente todos! – convidados a recomeçar, a deixar que Deus nos reerga, nos abrace e inunde de misericórdia. E entrelaçadas com tudo isto estão a dimensão pessoal e a dimensão comunitária. É em conjunto que nos pomos a caminho, peregrinamos com tantos irmãos e irmãs, e, juntos, atravessamos a Porta Santa.

O Jubileu tem muitas implicações sociais. Pensemos, por exemplo, na mensagem de misericórdia e esperança para quem vive nas prisões, ou no apelo à proximidade e à ternura para com os que sofrem e estão à margem. O Jubileu recorda-nos que todos os que se tornam construtores da paz «serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). E, deste modo, abre-nos à esperança, aponta-nos a necessidade de uma comunicação atenta, amável, refletida, capaz de indicar caminhos de diálogo. Encorajo-vos, portanto, a descobrir e a contar tantas histórias de bem escondidas por detrás das notícias; a imitar aqueles exploradores de ouro que, incansavelmente, peneiram a areia em busca duma pequeníssima pepita. É importante encontrar estas sementes de esperança e dá-las a conhecer. Ajuda o mundo a ser um pouco menos surdo ao grito dos últimos, um pouco menos indiferente, um pouco menos fechado. Que saibais sempre encontrar as centelhas de bem que nos permitem ter esperança. Este tipo de comunicação pode ajudar a tecer a comunhão, a fazer-nos sentir menos sós, a redescobrir a importância de caminhar juntos.

Não esqueçais o coração

Queridos irmãos e irmãs, perante as vertiginosas conquistas da técnica, convido-vos a cuidar do coração, ou seja, da vossa vida interior. O que é que isto significa? Deixo-vos algumas pistas.

Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro; falai ao coração das mulheres e dos homens ao serviço de quem desempenhais o vosso trabalho.

Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos.

Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade.

Dai espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida.

Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo.

Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro.

Tudo isto podeis e podemos fazê-lo com a graça de Deus, que o Jubileu nos ajuda a receber em abundância. Por isto, rezo por cada um de vós e pelo vosso trabalho, e vos abençoo.

Roma, São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2025.

Francisco

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“Bem-aventurada Virgem Maria na vida da Igreja”

Como discípulos fervorosos, nossos corações ecoam o ‘sim’ de Maria, aquela que acolhemos não somente como Mãe amorosíssima, mas também como o modelo sublime do ser Igreja. Nela, agraciada em plenitude, contemplamos o ideal da comunidade dos fiéis, incessantemente renovada pela Páscoa gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo, e enviada ao mundo como testemunha viva do Reino que Ele instaurou.

Nossa amada diocese irradia a graça divina, que flui abundantemente através de Maria, Mãe de Deus e nossa terna Mãe. Assim também nossa cidade, adornada pela proteção de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, reconhece nela seu farol e guia seguro. Com entusiasmo e fé renovada, celebremos este mês mariano em cada uma de nossas comunidades e em todas as nossas ações pastorais.

Em nosso enfoque pastoral deste mês, voltemos nosso olhar para a vida e o ministério do Papa Francisco. Desde 2013, seu pontificado ressoa como um eloquente chamado à misericórdia e à proximidade com os mais necessitados. Sua ênfase na Igreja como um “hospital de campanha” para aqueles feridos pelas tribulações da vida e sua insistente opção preferencial pelos pobres tocam profundamente a consciência da humanidade. Através de encíclicas luminosas como Laudato Si’ sobre o cuidado da Casa Comum e Fratelli Tutti sobre a fraternidade e a amizade social, Francisco desafia as estruturas globais de egoísmo e injustiça, convidando a um diálogo ecumênico e inter-religioso sincero e fraterno. Sua simplicidade evangélica, seus gestos pastorais concretos e sua constante exortação a uma Igreja menos autorreferencial e mais ardentemente missionária marcam um pontificado que buscou reformar e revitalizar a fé no complexo mundo contemporâneo.

Vivenciaremos neste mês mariano um momento de profunda significância para toda a Igreja: a eleição de um novo Papa. O conclave, tempo denso de expectativa e fervorosa oração, concentra os olhares do mundo na austera beleza da Cidade do Vaticano. A solene reunião dos cardeais eleitores na Capela Sistina, sob o olhar eterno do Juízo Final de Michelangelo, é imersa em um ritual milenar, onde a busca pela vontade divina se entrelaça com a grave responsabilidade de escolher o sucessor de Pedro. A atmosfera é carregada de solenidade e profunda reflexão, enquanto os cardeais, em recolhimento e segredo, depositam seus votos, buscando discernir aquele que o Espírito Santo inspirar a liderar a Igreja Católica neste tempo desafiador. A fumaça que emana da chaminé da Capela Sistina, ora densa e negra, ora anunciadora de esperança em sua brancura, simboliza a espera ansiosa da humanidade por um novo pastor, um guia ungido para conduzir o rebanho de Cristo. A eleição do Papa transcende a mera escolha de um líder religioso; representa a viva esperança de um farol espiritual que inspire a fé, promova incansavelmente a paz e defenda, com coragem e profecia, os valores perenes da justiça e da compaixão.

Como nos recorda o Papa São João Paulo II em sua magistral encíclica Redemptoris Mater: “Maria está presente na história da salvação.” Com júbilo, portanto, reconheçamos a presença constante e amorosa de Nossa Senhora em nossa Igreja Católica, aquela que vela incessantemente por cada um de seus filhos e filhas e continua a interceder por nós, com seu amor materno, junto ao seu Filho dileto, Jesus Cristo. Que a alegria transbordante do Cristo Ressuscitado ilumine abundantemente e fortaleça a todos em seus diversos e preciosos trabalhos pastorais em nossa amada Igreja diocesana.

 

Pe. Marcelo Dias Soares

Coordenador Diocesano de Pastoral

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Peregrinos da Esperança ou Peregrinos de Esperança? – Parte 3

Nós, cristãos católicos, neste Ano Jubilar somos chamados a ser, sim, Peregrinos de Esperança. O Peregrino da Esperança é aquele que está em busca da Esperança que não decepciona. O Peregrino de Esperança já possui a Esperança e, portanto, dela transborda e manifesta os sinais da Esperança e a significa para a humanidade.

De fato, “…justificados pela fé, estamos em paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não é só. Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança a virtude comprovada, a virtude comprovada a esperança. E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. (Rm 5,1-5)

Neste texto que inspira o Jubileu da Esperança, a primeira coisa que se nos apresenta e nos diferencia em sermos Peregrinos de Esperança e não Peregrinos da Esperança, é a outra virtude teologal que nele aparece: a fé. Duas vezes aparece a expressão “pela fé”. O próprio apóstolo Paulo em outros textos diz que a fé vem pelo ouvido e pela pregação. A fé que temos foi em nós infusa pela ação do Espírito Santo através da pregação da Igreja que ouvimos com nossos ouvidos.

A fé é a nossa resposta de adesão àquilo que nos foi pregado e entrou de modo avassalador em nossos corações, pois o anúncio da salvação por Jesus Cristo proporcionou-nos o encontro, não como uma ideia ou ideologia, mas com a pessoa deste nosso Deus, Senhor e Salvador e, que, de alguma maneira, transformou a nossa existência. A nossa “justificação” vem através desta fé, pois nossa adesão ao Senhor Jesus, faz-nos sentir amados e perdoados, não obstante a situação de morte e infelicidade que nos colocaram os nossos pecados. Isso, seguramente, não aconteceu somente uma vez, mas várias vezes, sempre que esta pregação reverberou e ainda reverbera dentro de nós.

Então, a primeira coisa que nos faz Peregrinos de Esperança é a nossa fé. A fé que vence o mundo, como nos diz São João. Esta fé tem um conteúdo, possui uma maneira de enxergar o mundo com os olhos de Deus e acreditar no amor do Pai, aquele amor que o “pai da mentira”, desde o princípio tenta fazer com que duvidemos. A vivência da nossa fé nos faz testemunhas do amor que é mais forte do que a morte. Nenhuma situação de morte neste mundo pode destruir este amor que acreditamos.

Convido a cada um e a cada uma a fazer memória em sua vida daquele ou daqueles momentos em que o anúncio de Jesus fez com que você acreditasse no amor, pois se sentiu amado e amada por Deus. Este é um primeiro passo para entendermos a nossa identidade de Peregrinos de Esperança e não de Peregrinos da Esperança.

A convocação e o anúncio deste Jubileu foram feitos pelo grande Peregrino de Esperança do nosso tempo: o Papa Francisco que terminou a sua peregrinação no último 21 de abril, não sem antes, no dia anterior, domingo da Páscoa da Ressurreição, ao se fazer presente na Praça de são Pedro, testemunhar que, mesmo na debilidade, podemos e somos Peregrinos de Esperança.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O. Cist.

Bispo Diocesano

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Uma Igreja “Mãe” e “discípula” de Jesus Cristo

Caríssimos irmãos e irmãs, peregrinos de esperança! Nesta edição o tema central é a presença da Virgem Maria na história da Salvação e na vida da Igreja, com destaque, como não poderia ser diferente, para as mensagens do pontificado do Papa Francisco que encerrou sua missão como sucessor de Pedro na história da Igreja.

Um ser humano com inúmeros atitudes divinas: o testemunho da pobreza: o amor aos necessitados, a capacidade de diálogo com todos; a capacidade de acolher e não julgar; a capacidade de servir e promover inúmeras iniciativas locais e mundiais como a programação do jubileu da esperança. O marco do seu ministério papal também foi escolher uma Igreja dedicada à Nossa Senhora, chamada Basílica de Santa Maria Maggiore para o seu sepultamento, confirmando a necessidade de uma Igreja “Mãe” e “Discípula” como o Senhor quer, expressão utilizada por Dom Andrés Stanonik, bispo de Reconquista, Argentina, na apresentação de um dos documentos da Quinta Conferência do Episcopado Latino- americano e do Caribe realizada em Aparecida, que afirma ainda: Aquela que foi mãe e mestra de Jesus em sua infância continua para nós “ícone da Igreja que é Mãe e Família dos discípulos de seu Filho…, imagem da ternura da Igreja que acolhe os discípulos de Jesus… Mas, se é Mestra, é porque também soube ser discípula: “foi, antes de tudo, a primeira e mais perfeita discípula que desde a Encarnação gravou em seu coração o Evangelho (Lc 2,19).

Quando abrimos os Evangelhos para tentar captar o rosto do discípulo que Jesus queria e alcançar os caminhos traçados por Jesus Mestre, descobrimos que é preciso não somente estudar os textos em suas colocações próprias, mas também contemplar aquela que é o ícone, a imagem que sintetiza o discípulo perfeito: Maria de Nazaré. A contemplação deve estar acompanhada do estudo bíblico, mais ainda, deve partir dele. Deve-se voltar às fontes da Escritura sempre, regressando em cada ocasião com o cântaro cheio de novas intuições e moções do Espírito.”

A partida de Francisco aconteceu em meio a realização da Semana Santa e a Festa da Ressurreição em nossas Paróquias e comunidades, tão bem vivida cada momento como é possível perceber nas imagens divulgadas nas diversas redes sociais, aliás podemos dizer que durante duas semanas consecutivas a Fé ocupou a centralidade das mídias religiosas e laicas, com muita excelência, partilhando com mansidão a esperança que está no coração da Igreja e deve atingir toda a sociedade.

Para isso continuar celebraremos o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais com forte mensagem do Papa Francisco, porém com a presença do novo Santo Padre escolhido pelo Espírito Santo através nos cardeais no Conclave. Sob a Igreja universal em festa pela eleição do novo papa, viveremos a ordenação de novos diáconos para a Diocese de Guarulhos e a festa de Nossa Senhora das Vocações e juntos vamos sob o olhar de Maria, continuar a missão de sermos discípulos de Jesus Cristo.

Vivia Nossa Senhora, Viva a missão do Papa Francisco, Viva a chegada no novo Papa e Viva a Igreja Católica Apostólica Romana.

Padre Marcos Vinicius Clementino

Jornalista e Diretor Geral

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Conclave para eleger o novo Papa começa em 7 de maio

“Extra omnes”. A histórica fórmula em latim que marca o início do fechamento à chave da Capela Sistina será pronunciada pelo mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias na próxima quarta-feira, 7 de maio. Esse é o dia de início do Conclave. A data foi definida na manhã de segunda-feira (28/04) pelos cerca de 180 cardeais presentes (pouco mais de 100 eleitores) reunidos na quinta Congregação Geral no Vaticano.

“Extra omnes”, portanto. “Fora todos” aqueles que não são admitidos na reunião dos cardeais convocados para eleger o próximo Pontífice da Igreja universal. Os purpurados eleitores, com menos de 80 anos de idade, ficarão isolados do resto do mundo dentro da Capela Sistina até a fumaça branca e o “Habemus Papam”, a outra famosa fórmula latina pronunciada da Loggia delle Benedizioni pelo cardeal protodiácono para anunciar ao mundo a escolha do novo Papa.

Não há previsão de conclusão, naturalmente, e entre os próprios cardeais eleitores há aqueles que esperam um Conclave curto, considerando também o Jubileu em andamento, e aqueles que, ao contrário, preveem tempos mais longos para permitir que os cardeais “se conheçam melhor”, tendo Francisco, em seus 10 Consistórios, agregado ao Colégio Cardinalício purpurados de todos os cantos do globo.

As normas da Universi Dominici Gregis

O cronograma para o início do Conclave é estabelecido pelas normas da constituição apostólica de João Paulo II, Universi Dominici Gregis, atualizada por Bento XVI com o Motu Proprio de 11 de junho de 2007 e com a mais recente de 22 de fevereiro de 2013. De acordo com a Constituição, o Conclave – do latim cum clave, que significa fechado à chave – começa entre o 15º e o 20º dia após a morte do Papa, depois dos Novendiali, os 9 dias de celebrações em sufrágio do Pontífice falecido. Mais detalhadamente, a partir do momento em que a Sé Apostólica é legitimamente vacante, os cardeais eleitores presentes devem esperar 15 dias completos pelos ausentes, até um máximo de 20 dias, se houver motivos sérios. O Motu Proprio Normas nonnullas, além disso, dá ao Colégio de Cardeais a faculdade de antecipar o início do Conclave se todos os eleitores estiverem presentes.

Cardeais das partes mais distantes do mundo ainda são esperados em Roma nestes dias. Na Cidade Eterna, eles serão hospedados na Casa Santa Marta, a Domus do Vaticano onde Francisco decidiu morar, renunciando ao apartamento papal.

A missa “pro eligendo Pontifice” e a procissão para a Sistina

Na manhã da quarta-feira, 7 de maio, todos concelebrarão a solene missa “pro eligendo Pontifice”, a celebração eucarística presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, que convidará os irmãos a se dirigirem à Sistina à tarde com estas palavras: “toda a Igreja, unida a nós na oração, invoca constantemente a graça do Espírito Santo, para que seja eleito por nós um digno Pastor de todo o rebanho de Cristo”.

Dali, então, a evocativa procissão até a Capela Sistina, dentro da qual os cardeais entoarão o hino Veni, creator Spiritus e farão o juramento. Será necessária uma maioria qualificada de dois terços para eleger o Papa. Haverá quatro votações por dia, duas pela manhã e duas à tarde, e após a 33ª ou 34ª votação, no entanto, haverá um segundo turno direto e obrigatório entre os dois cardeais que receberam mais votos na última votação. Mesmo nesse caso, no entanto, sempre será necessária uma maioria de dois terços. Os dois cardeais restantes não poderão participar ativamente da votação. Se os votos para um candidato atingirem dois terços dos eleitores, a eleição do Papa será canonicamente válida.

A eleição do novo Papa

Nesse momento, o último da ordem dos Cardeais diáconos convoca o mestre das Celebrações Litúrgicas e o secretário do Colégio Cardinalício. Ao recém-eleito será questionado: Acceptasne electionem de te canonice factam in Summum Pontificem? (Aceita a sua eleição canônica como Sumo Pontífice?) e, em caso afirmativo, será perguntado: Quo nomine vis vocari? (Como quer ser chamado?), pergunta à qual responderá com seu nome pontifício. Após a aceitação, as cédulas são queimadas, de modo que a clássica fumaça branca poderá ser vista da Praça São Pedro. No final do Conclave, o novo Pontífice se retira para a “Sala das Lágrimas”, ou seja, a sacristia da Capela Sistina, onde vestirá pela primeira vez os paramentos papais – preparados em três tamanhos – com os quais se apresentará à multidão de fiéis na Praça São Pedro.

Após a oração pelo novo Pontífice e a homenagem dos cardeais, o Te Deum é entoado, marcando o fim do Conclave. Em seguida, o anúncio da eleição, o Habemus papam e a aparição do Papa que dará a solene bênção Urbi et Orbi.

Salvatore Cernuzio – Vatican News

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O que a série ‘‘Adolescência’’ pode nos ensinar?

A série Adolescência em cartaz na Netflix, tem alcançado grande repercussão não só na mídia, mas também entre pais e educadores e pode ser um grande auxílio para ampliar o debate em torno da violência contra mulheres. A série é composta de quatro episódios e é centrada em torno de Jamie, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma adolescente da escola em que estudavam. A história, apesar de ser uma ficção, foi inspirada em vários casos que acontecem em todo mundo.

O personagem principal, está fora dos padrões que estamos acostumados a ver quando o tema é violência. Nada de garotos de periferia, filhos de pais separados, ou drogas. Ao contrário, é um adolescente de classe média que recebeu carinho e atenção dos pais, porém com um detalhe: os envolvidos, frequentam comunidades virtuais da internet que difundem informações misóginas, isto é, de ódio contra as mulheres integrando o que se chama de machosfera, (comunidades masculinas que se opõe ao feminismo). Esses jovens pertencem ao grupo “Incel” que significa involuntary celibates e em tradução para o português refere-se à celibatários involuntários.

Os membros do Incel, acreditam que são rejeitados pela maioria das mulheres e por esse motivo, não conseguem se relacionar afetiva ou sexualmente. Eles citam a regra 80/20 que explica que 80% das mulheres só se interessam por 20% dos homens e que por culpa delas, estariam forçados a ser celibatários. Na visão deles, essa ideia dá justificativa para a prática de violência contra as mulheres (Actum Samtum) e aqueles que a praticam não são criminosos e sim heróis. Muitos crimes contra mulheres e até massacres em escolas, são gerados a partir de fóruns de discussão nessas comunidades virtuais.

A série surpreende ao mostrar um universo totalmente desconhecido pelos adultos sejam pais ou educadores. Cercar os filhos de amor e carinho, suprir a maioria de suas necessidades materiais, pode não ser o bastante, pois atualmente as mídias sociais têm um grande poder na formação do caráter e na construção de valores. Influenciadores com milhões de seguidores “falam” com os adolescentes na privacidade dos seus quartos e ditam maneiras de agir e de pensar, enquanto os pais acham que os seus filhos estão seguros, dormindo abraçados com um ursinho de pelúcia.

Os adolescentes, tentam se inserir nos grupos sociais, mas nem sempre são aceitos. A necessidade de pertencimento aliada ao bullying que sofrem, são o pano de fundo para que busquem no mundo virtual, o apoio e a aceitação que não encontram na vida real. Temos que entender essa realidade; uma criança não pode ter acesso a esse mundo perigoso representado pela cultura Incel. As redes sociais carecem de regularização urgente e a principal matéria que precisa ser ensinada e praticada chama-se empatia. Sem ela a sociedade continuará doente. Precisamos nos conscientizar, afinal, tanto na série quanto na vida real, não existem vilões. Todos somos vítimas.

 

Romildo R Almeida

Psicólogo clínico

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Um plantão para a vocação?

Desde algumas semanas o Serviço de Animação Vocacional da Diocese organiza a realização do Plantão Vocacional. Em todas as sextas-feiras, os animadores vocacionais da Diocese se prontificam em estar na Catedral de Guarulhos para ouvir, acompanhar e rezar com os vocacionados. Talvez o nome “plantão” pode sugerir para alguns que há uma urgência diante de algum acontecimento – quando ocorre um evento ou fato muito relevante, as mídias recorrem ao plantão para interromper sua programação e noticiar a situação.

De fato, a vocação é uma urgência na Igreja. O próprio Jesus, diante da carência de vocacionados de seu tempo, exortou que “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos; pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” (Mt 9,37-38).

Entretanto, o uso do termo “plantão” é um pouco mais amplo. Segundo o Dicionário Michaelis, a palavra plantão significa “(1) serviço policial distribuído a um soldado; (2) serviço de funcionamento em farmácias, hospitais, redações de jornais, entre outros”. Aqui entra o significado concreto para o Plantão Vocacional.

Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus Vivit direcionada aos jovens, o Papa Francisco nos incentiva dizendo que “há sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos, profissionais e até jovens qualificados, que podem acompanhar os jovens no seu discernimento vocacional. Quando nos toca ajudar o outro a discernir o caminho da sua vida, a primeira coisa a fazer é ouvir (…) O sinal desta escuta é o tempo que dedico ao outro” (nº291-292).

Esse é o papel do Plantão Vocacional: acolher, escutar e direcionar os jovens para o seu discernimento vocacional. É um serviço simples – muitas vezes invisível –, mas necessário. Assim como um vigia está de prontidão em plantão, o Serviço de Animação quer estar despertada para ouvir ou rezar pelas vocações.

 

Padre Edson Vitor

Coordenador Serviço de Animação Vocacional (SAV/PV)

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O profeta Ezequiel crítica a prática dos falsos pastores

Deportado, já, na primeira leva à Babilônia, no ano de 597 a.C., por ocasião do cerco imposto ao governo do reino de Judá, Ezequiel não poupa tintas para criticar o modo da elite judaíta fazer política. Estamos nos anos de 597 a 587 a.C., período em que a província é governada por uma junta administrativa liderada por Sedecias.

Sedecias, frágil e manipulado pelas lideranças ao seu redor, mostra-se incapaz de evitar a catástrofe imposta pelos exércitos caldeus, no ano de 587 a.C. Sua morte é um exemplo da violência que se abateu sobre os habitantes, quando Nabucodonosor, em pessoa, comanda seu exército impondo total ruína da província, conforme o relato exposto em 2Rs 25,8-10:

“No quinto mês, no dia sete – era o décimo nono ano de Nabucodonosor, rei da Babilônia, -, Nabuzardã, comandante da guarda, oficial do rei de Babilônia, fez sua entrada em Jerusalém. Incendiou o Templo de Javé, o palácio real e todas as casas de Jerusalém. E todo o exército caldeu que acompanhava o comandante da guarda destruiu as muralhas que rodeavam Jerusalém”.

Juntamente com a corte do rei Joaquin, Ezequiel parte à região de Tel-Abib, às margens do rio Cobar, afluente do Eufrates, no ano de 597 a.C. Para os redatores do livro dos Reis, dez mil notáveis e mil artesãos – entalhadores, marceneiros, ourives, padeiros – formam a comunidade dos exilados (2Rs 24,14-16), que será nutrida pelas mensagens catequéticas dos profetas Jeremias, Ezequiel e Isaías (Ez 1,3; 3,15-21; 16; 22; Is 42,22-45; 44,9-20; Jr 28,2-17; Sl 137). Mesmo na condição de rei derrotado e deportado, Joaquin e seus mais diretos colaboradores, não perderam seus títulos e nem deixaram de ser tratados como membros da realeza do reino de Judá. Nas escavações arqueológicas de 1930, próximas da porta da deusa Ishtar, foi encontrada uma inscrição com o seguinte registro: “6 litros de óleo para Joaquin, rei da terra de Judá, 2½ litros para os 5 príncipes de Judá e mais 4 litros para os 8 homens de Judá”. O profeta Jeremias indica benevolência ao rei Joaquin sob os comandos do rei Evil-Merodac que “falou-lhe com bondade e lhe concedeu um assento superior ao dos outros reis que estavam com ele na Babilônia” (Jr 52, 31-34).

Com a destruição da cidade e do seu templo, as instâncias de poder deixam de existir, agora, no arrasado reino de Judá.  A interferência bélica babilônica foi precisa e planejada, pois as pequenas e médias cidades, que davam proteção a capital Jerusalém, não foram destruídas. A região de Benjamim e as cidades de Gibeon, Masfa, Betel, Ramat Rahel e Belém, promissoras na produção agrícola, cultivo de oliveiras, criação de ovelhas e tâmaras serão preservadas. Ramat Rahel, Masfa, Belém sediarão importantes centros de arrecadação tributária, produção de cerâmicas, sede de governo regional e subvenção de alimentos, integrando-se ao grande Império.

É nesse contexto de dez anos de governo chefiado por Sedecias, que encontramos a conjuntura social capaz de justificar as denúncias de abandono do “rebanho de Israel”, tão fortemente exposta na profecia de Ezequiel 34,1-16. A falta de tática e honestidade política de Sedecias estão presentes nas palavras do profeta. Pertencente ao grupo de sacerdotes exilados na primeira deportação, não é difícil imaginar que as tratativas espalhafatosas de Sedecias na esfera da administração da província de Judá, não chegaram ao conhecimento do profeta Ezequiel. A elite e seu governante se deixam levar pelos caminhos do assédio político. Inebriados pelas vantagens oferecidas pelo poder, agora, encontram-se cegos diante do sofrimento do povo. Aqui entre a denúncia de Ezequiel contra os pastores de si mesmo instalados em Israel.

O rebanho sofre. Padece por falta de pastor. Encontra-se abandonado e, assim, entregue como alimento às feras do campo que, sem proteção, agora, disperso entre “montes e colinas elevados” (v. 6), amarga os anos vividos no exílio babilônico:

“Ai dos pastores de Israel que pastoreiam a si mesmos! Não é do rebanho que os pastores deveriam cuidar? A gorda [ovelha] vós comeis  e a lã vós vestis a gorda sacrificais, do rebanho não cuidais. As enfraquecidas não fortalecestes, as que adoeceram não procurastes curar, as que se fraturaram, não enfaixastes, as que se dispersaram, não trouxestes de volta, as que se perderam, não fostes procurar, as dominais com violência e brutalidade. Elas se dispersaram, por falta de pastor. E se tornaram alimento para todas as feras dispersas no campo. O meu rebanho se dispersou por todos os montes”. (Ez 34,2-6).

Nota-se que ao descrever a penosa situação do rebanho a insistência no uso do verbo dispersar, três vezes recorrente (v. 5a-b, 6), abre e conclui esta parte da narrativa.  O rebanho sofre. Padece por falta de pastor. Encontra-se abandonado e, assim, entregue como alimento às feras do campo que, sem proteção, agora, disperso entre “montes e colinas elevados” (v. 6), amarga os anos vividos no exílio babilônico.

Sedecias em nada amenizou nas taxas de impostos cobradas junto aos grupos de agricultores e criadores de gados. Na sua estratégia política de aproximação com o Egito, no dia a dia, camponeses e agricultores sentiram o peso das elevadas taxas tributárias. O profeta Jeremias, árduo defensor de uma constante submissão aos planos traçados pelo Império Babilônico às regiões da Síria e Palestina, não só teria alertado, como presenciou anos de forte sofrimento imposto ao povo, durante e após os dias que sucederam a administração de Sedecias:

Os pastores perderam o bom senso e deixaram de procurar Javé. Por isso não tiveram sucesso, e o rebanho que eles conduziam se espalhou. Ouçam o barulho que avança do norte. Ele vem fazer das cidades de Judá um lugar arrasado, um abrigo de chacais. (Jr 10,21-22).

O trabalho de cuidar, oferecer boas pastagens, garantir ao rebanho segurança e água, legitima uma profissão muito conhecida na cultura dos povos mesopotâmicos. A profissão de pastor é compreendida como sinônimo de zelador, cuidador. O sentimento nacional de pertença à realeza exilada, ao deus que os acompanhou mudando sua tenda para junto dos exilados, justificam as severas críticas aos planos gananciosos da classe dirigente de Jerusalém, nos anos vividos pelo profeta Ezequiel.

 

Pe. Frizzo

acfrizzo@uol.com.br

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Entrevista do Secretário Geral da CNBB sobre a recepção do Sínodo no Brasil

O Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam) encerrou sua agenda de Encontros Regionais 2025 na Argentina, com um encontro que reuniu mais de 30 representantes das Conferências  episcopais do Cone Sul. O encontro aconteceu de 24 a 28 de março, em Buenos Aires.

O objetivo principal é identificar as necessidades dos episcopados em relação à sua missão, fortalecer a articulação entre as Igrejas locais e compartilhar o Plano Pastoral 2023-2027 do Celam. Além disso, pretende-se acompanhar a implementação dos clamores que surgiram na Assembleia Eclesial e sua integração no caminho sinodal promovido pelo Papa Francisco.

A Igreja no Brasil assumiu com entusiasmo o processo sinodal, empenhando-se em sua implementação em todas as regiões do país. O bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers, concedeu uma entrevista para a ADN Celam sobre como a terceira etapa do Sínodo continuará na Igreja do Brasil e como os desafios pastorais serão enfrentados neste caminho sinodal. O portal da CNBB publica a entrevista abaixo na íntegra.

Igreja comprometida com o processo sinodal

A partir de sua experiência na equipe de animação sinodal da CNBB, dom Hoepers aponta como tarefa principal a articulação e continuidade do processo sinodal: “A Igreja do Brasil se comprometeu desde o início com o processo sinodal de uma forma bela, com representações das diferentes regiões do Brasil, respondendo em todas as etapas e compartilhando suas alegrias e tristezas. Hoje o Brasil se sente identificado com o que resultou do processo sinodal”.

Um dos maiores desafios é a aplicação das conclusões do Sínodo na ação evangelizadora: “Talvez o maior desafio seja retomar as conclusões do Sínodo e aplicá-las nas orientações para a ação evangelizadora que serão votadas na próxima Assembleia”, disse ele. Para isso, o exercício sinodal será realizado nas comunidades de base, paróquias e conselhos, adaptando-o à realidade de um país tão grande e diverso como o Brasil.

“O tamanho do Brasil é o nosso maior desafio, mas, ao mesmo tempo, vemos que todas as dioceses estão comprometidas. Com a Assembleia Geral, esperamos fortalecer ainda mais esse retorno e nos comprometemos com o processo sinodal e a Assembleia Eclesial”, acrescentou.

Documento Final do Sínodo no Brasil

A atual fase de implementação requer um trabalho conjunto nos níveis diocesano, regional e nacional: “Em todas as áreas queremos exercer este processo sinodal. É a única maneira pela qual o Brasil pode realmente assumir esse compromisso, desde as bases até os grandes organismos e organizações, das comunidades eclesiásticas, dos missionários às instituições, aos conselhos e, digamos, a todos aqueles que estão comprometidos com a Igreja, todos podem assumir o processo sinodal”, explicou.

Neste contexto, destacou que será feito um trabalho sobre a formação permanente e contínua de líderes na animação do processo sinodal “para que possam motivar as regiões e dioceses a se comprometerem com o processo sinodal. A liderança é o pároco, o coordenador pastoral, o catequista. Então, tudo em chave sinodal, para que possamos sentir também que os líderes são os protagonistas, os jovens são os protagonistas desse processo”, disse.

Da mesma forma, um dos pilares do Sínodo é a inclusão de todas as vozes, especialmente das comunidades mais vulneráveis. Dom Ricardo expressou o valor do aprendizado que a Igreja no Brasil obteve ao se aproximar dos povos tradicionais, comunidades indígenas, presos, setores marginalizados e periferias.

Viver em harmonia com a natureza

“A Igreja no Brasil tem a facilidade de chegar a todos os lugares porque temos comunidades em todos os cantos do país. Isso nos permitiu ouvir e aprender com eles. Os povos tradicionais têm dado grandes lições sobre uma ecologia integral. Uma coisa é falar em defesa da natureza, outra coisa é quem tem sabedoria para entender o significado. Então, esse processo sinodal também nos fez chegar a esses grupos vulneráveis, a esses grupos que estavam distantes”, disse ele.

Além disso, ele enfatizou que este processo sinodal tem sido uma oportunidade de conversão e formação tanto para a Igreja quanto para esses grupos historicamente distantes.

Sinodalidade e Pastoral Familiar

Dom Ricardo, que foi presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB, destacou a conexão entre sinodalidade e Pastoral Familiar: “Estamos falando de uma catequese desde o ventre materno, aquele pré-matrimônio em que os noivos se preparam para o sacramento, depois do itinerário nupcial de encontros para perseverar na fé; também sobre a questão dos casos especiais, novas uniões e outras situações que a Igreja acolheu”.

A Pastoral Familiar também deve responder a novas realidades e desafios, como casos de novas uniões e outras situações complexas: “Estamos pensando em itinerários para que a família tenha sempre apoio espiritual em todas as etapas: antes do casamento, durante a vida conjugal e na velhice, onde as relações intergeracionais são fortalecidas”, disse ele.

E afirmou que “a família é a base de tudo e, portanto, uma das prioridades da Igreja no Brasil”.

Presença misericordiosa a quem mais precisa

Referindo-se à crise social e à desigualdade, o secretário-geral da CNBB disse que, no Brasil, essa renovação se traduz em um compromisso com os mais vulneráveis, denunciando as estruturas que perpetuam a injustiça e oferecendo espaços de acolhimento e cura.

Dom Ricardo Hoepers expressou que a Igreja deve ser profética, apontando as raízes da desigualdade e da corrupção que afetam a dignidade de milhões de pessoas: “Há um grande sofrimento, há dor, há uma grande exclusão em nosso país. Os problemas sociais continuam a ser estridentes, têm impacto. A desigualdade corrói nossos relacionamentos. A Igreja será sempre profética a este respeito. Primeiro, denunciando a corrupção e tudo o que é a fonte dessa desigualdade. E em segundo lugar, é a casa que acolhe a todos, que cuida de todos”.

Nas comunidades atingidas pela pobreza, violência ou exclusão, a Igreja torna-se um refúgio, um “hospital de campanha” que oferece acompanhamento e esperança. Das periferias às grandes cidades, sua presença se manifesta em cada gesto de solidariedade e serviço aos esquecidos.

“Onde há dor humana, comunitária, social, há a Igreja. Lá, porque talvez não resolvamos tudo e não é nossa intenção resolvê-lo, mas ser a presença misericordiosa de Jesus Cristo para aqueles que foram esquecidos, invisibilizados, deixados de lado. A Igreja quer ser aquela presença que acolhe e dá apoio a todos aqueles que mais precisam e nunca deixar de lutar por uma sociedade mais justa, mais solidária e mais fraterna”, concluiu.

Com informações ADN Celam