Diocese de Guarulhos

SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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Artigos Dízimo

Partilhar é uma missão!

A Igreja vive este novo tempo litúrgico, tempo da Quaresma, como tempo verdadeiramente favorável, que Deus nos concede para a reflexão, um convite à conversão: Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: “No momento favorável, eu te ouvi e, no dia da salvação, eu te socorri”. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,1-2).

É tempo de nos refazer, mudar de vida. O próprio Senhor nos diz: “Não quero a morte do pecador, mas que mude de conduta” (Ez 33,11). Voltados para Deus, devemos redirecionar nossa vida à Ele, reconhecer que somos pecadores, necessitados do Seu perdão, implorar humildemente sua misericórdia.

As práticas penitenciais nos ajudam a viver de modo mais intenso este espirito quaresmal, encontrando na oração, na esmola e no jejum a força restauradora para seguir adiante nosso compromisso de discípulo de Jesus Cristo. Sejamos dóceis à ação do Espírito de Deus e deixemos que tais práticas nos impulsione a viver o que Deus tem para cada um de nós.

A Igreja no Brasil durante este período litúrgico vive a Campanha da Fraternidade, que neste ano nos convida a lançar o olhar para os irmãos mais necessitados, afetados pelo flagelo da fome. É inadmissível que em nosso país, pessoas morram de fome. Isso é grave e deve nos fazer refletir, pois o país produz quantidade suficiente para saciar a todos. Em meio a tanta abundância na produção de alimentos, a fome ainda mata no país. Devemos nos perguntar, por que produzimos tanto e, ainda assim, uma parcela da população morre de fome? Em paralelo a isso, descartam-se toneladas de alimentos, ou seja, a partilha não acontece.

A partir do lema da CF deste ano: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16), somos chamados a acolher de Jesus a missão de partilhar com os irmãos, sobretudo, os que mais precisam, alimento material, mas também espiritual, apresentar o Senhor aos irmãos, pois a prática da caridade feita ao irmão é saciar o próprio Cristo que diz “todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,35.40).

O dízimo ao tratar da Dimensão Caritativa tem o compromisso de tornar presente este mandato de Jesus, ter compaixão dos que sofrem, colocar-se a serviço dos pobres. Eis a missão da Igreja, de todo dizimista, de todo cristão. Por isso, é importante termos clareza de que toda partilha realizada na comunidade faz com esta dimensão ganhe força e dê mais dignidade aos filhos e filhas de Deus que passam necessidade.

Roguemos a Deus e supliquemos que a Virgem Aparecida nos ajude na reflexão desta temática, que seja acolhida por toda a Igreja e desperte em cada um de nós a consciência de que somos chamados à partilha, ofertar aos irmãos e à Igreja o que gratuitamente recebemos de Deus. A partilha não pode ser restrita a uma campanha apenas, mas deve ser uma atitude constante de cada cristão que verdadeiramente fez o encontro pessoal com Jesus Cristo. Partilhar é uma missão!

 

Pastoral do Dízimo Diocesana

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Artigos Falando da Vida

DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER!

Precisamos resgatar nossa vocação para o bem.

A campanha da Fraternidade deste ano nos faz refletir sobre o problema da fome no Brasil. É uma grande contradição um país ser considerado o celeiro do mundo pela produção e exportação de alimentos e, ao mesmo tempo, figurar no ranking mundial da fome com 33,1 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave. O lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”, indica a urgência com que esse tema deve ser tratado, ou seja, não podemos esperar somente as ações das autoridades; nós mesmos, temos que agir, pois a desnutrição causa consequências terríveis para toda a sociedade.

A dimensão da fome ultrapassa a questão biológica; atinge também o aspecto social, pois está associada a dificuldades de aprendizagem escolar. Estudos demonstram que crianças subnutridas apresentam maior chance de desenvolver: retardo mental, baixa capacidade para resolução de problemas, hiperatividade, além de déficit de atenção. Esses problemas se estendem até a vida adulta já que grande parte do sistema neurológico se desenvolve durante a infância e depende, sobretudo, da ingestão de nutrientes. A natureza não perdoa, portanto, não é difícil imaginar como serão as gerações futuras se algo não for feito com urgência.

Somos seres sociais, nascemos com uma vocação para cooperar. No entanto, no decorrer da vida, somos influenciados com ideias que se opõe ao altruísmo numa direção onde o Ego se torna o centro. As mídias sociais estão carregadas de influencers digitais que se especializaram em dar conselhos para nos ensinar a buscar o bem-estar individual e a felicidade egocêntrica. Mas isso é utopia, pois não existe felicidade sustentável num mundo desumano onde a fome e a desigualdade social são tratadas como fenômenos normais.

Dai-lhes vós mesmo de comer.  Vão aqui algumas maneiras de atender o clamor desta Campanha: podemos contribuir com alguma Entidade assistencial que tenha ação local. Os Vicentinos, por exemplo, fazem um belo trabalho provendo famílias não só de pão, mas de conforto espiritual e psicológico. Em nível mais amplo, temos a CUFA que é reconhecida pelo seu trabalho nas favelas do Brasil. Também a Cáritas brasileira, organismo da CNBB, que entre tantos projetos, atua também na área de segurança alimentar. Existem várias organizações confiáveis como: a Ação da Cidadania, Gerando Falcões, Amigos do Bem, Ong Banco de Alimentos, entre outras. O importante é dar um passo além do nosso Ego e validar a única condição que nos torna realmente humanos: A prática do amor incondicional.

 

Romildo R. Almeida

Psicólogo clínico

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Artigos Vida Presbiteral

ELEIÇÃO DOS REPRESENTANTES DOS PRESBÍTEROS DA DIOCESE DE GUARULHOS

No dia 15 de fevereiro, em reunião ordinária dos presbíteros da Diocese de Guarulhos, presidida por Dom Edmilson Amador Caetano, foram eleitos os novos representantes dos presbíteros conforme estatuto do Conselho Presbiteral, Pe Romualdo Nunes de Almeida, Pe Tiago Ferraz Leite e Pe Jonas B. dos Santos.

Na Presbyterortun Ordinis, nº 8, um dos fundamentos para a Pastoral Presbiteral, podemos ler: “Os presbíteros, estabelecidos na ordem do presbiterato através da ordenação, estão ligados entre si por uma íntima fraternidade sacramental […]. Levados pelo espírito fraterno, não esqueçam os presbíteros a hospitalidade, pratiquem a beneficência e a comunhão de bens […]. Também, para uma folga, reúnam-se com gosto e prazer, lembrados das palavras com que o próprio Senhor convidava os apóstolos cansados: ‘Vinde à parte para um lugar deserto e descansai um pouco’” (Mc 6,31). “O representante dos presbíteros tem a função de auxiliar o bispo na efetivação da pastoral presbiteral. O bispo é o principal agente e poderá articular as atividades por meio do representante. Este, por sua vez, deve oferecer ao bispo as propostas, demandas, iniciativas e prerrogativas, buscando entre os presbíteros as respostas aos desafios reais em que se encontram. O representante deve ser o primeiro assessor do bispo para os assuntos referentes aos presbíteros. Com ele o bispo deve contar sempre para ajudar no projeto de pastoral presbiteral, como também para dirimir questões entre os presbíteros ou mesmo para ser a primeira presença do bispo em caso de problemas particulares de algum presbítero.

(Artigo da Revista Vida Pastoral )

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Chorem, sacerdotes, chorem!

Todos os anos, na Quarta-Feira de Cinzas, nos deparamos com a leitura da profecia de Joel, mais especificamente o capítulo 2. Uma leitura que suscita grande transformação interior e também a exterior. A prática quaresmal deve converter o homem na sua totalidade. O centro é o grande apelo: “Voltai para o Senhor” (vers.12), mas, como voltar? O próprio profeta nos responde: “Com todo o coração, com jejuns, lágrimas e gemidos”. É um apelo contundente. O pecado nos separou da comunhão com Deus e somente o retorno a Ele nos dará a graça da reconciliação já operada em seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas, hoje, gostaria de refletir com vocês um outro trecho. Este está no mesmo capítulo, porém, no versículo 17: “Chorem, postos entre o vestíbulo e o altar, os ministros sagrados do Senhor”. Confesso que, ao ouvir este trecho, fiquei a me perguntar o que seria este chorar pois, como ministro sagrado pela força da ordenação sacerdotal, devo ser fiel em tudo à Palavra do Senhor.

A situação de pecado atraiu, ao povo, a desgraça. Uma invasão de gafanhotos que aparece como um exército. O povo precisa voltar arrependido e clamar a misericórdia de Deus. As indicações são cúlticas. O fato dele dizer “rasgai o coração”, não é crítica ao culto, mas à conversão, à interioridade. Deus não suporta cultos vazios.

Por que o ministro sagrado deve chorar? Precisamos antes nos perguntar quem é o ministro sagrado? Como escolhido de Deus e “constituído em favor do povo nas coisas que se referem à Deus” (Hb 5,1), o sacerdote deve, antes de mais nada, tomar um partido. Ele deve ser feroz no zelo pelo Senhor. Quando se transgredir a Lei de Deus, o sacerdote deve ser o primeiro a denunciar e clamar o povo à conversão.

Porque as lágrimas? As lágrimas manifestam, em primeiro, repúdio pelo pecado cometido, e depois a compaixão. No dia 12/02/2020, o Santo Padre, falando sobre as Bem-Aventuranças dos que choram, disse: “Pode-se amar de maneira fria? Pode-se amar por obrigação, por dever? Certamente não! Existem aflitos para consolar mas, às vezes, existem também consolados para afligir, para despertar, que têm um coração de pedra e desaprenderam a chorar. Despertar quem não sabe se comover com a dor dos outros.” O sacerdote deve chorar pelos que se esqueceram de amar a Deus. Eis como o profeta formula a prece do sacerdote: “Perdoa, Senhor, o teu povo, e não deixes que tua herança sofra infâmia e que as nações a dominem”.

Precisamos de ministros sagrados para chorarem as infâmias cometidas contra Deus. Neste tempo de apostasia que vivemos os ataques a Deus, a religião e a fé se multiplicam. Chorem ministros sagrados, derramem lágrimas pelos pecados próprios e pelos os de seu povo. Chorem, ministros sagrados, pelos tão desérticos corações emoldurados na pedra da indiferença! Chorem, ministros sagrados, pelos resistentes à misericórdia, que não buscam o sacramento da confissão! Chorem, ministros sagrados,  pelos que acrescentam, a cada dia, um pecado novo às suas listas! Chorem, ministros sagrados, pelos que atentam contra a santidade de Deus! Chorem, ministros sagrados, pelos matrimônios destruídos de suas paróquias! Chorem, ministros sagrados, pelos filhos que, desobedecendo seus pais, atiraram-se numa vida de promiscuidade, drogas e leviandade! Chorem, ministros sagrados, pelos atentados contra a vida e pelo culto à morte de nossa sociedade! Chorem, ministros sagrados, pelas vítimas de maus tratos e de violência! Chorem, ministros sagrados, e peçam a Deus misericórdia!

Me lembro do Manípulo que antes fazia parte das vestes sacerdotais. Ele servia também para secar as lágrimas dos sacerdotes durante o sacrifício. Quantas vezes Padre Pio chorou! Choremos, irmãos Padres, em defesa da verdade do Evangelho. Choremos pela conversão do mundo a Deus. Choremos na esperança de que Deus perdoe o seu povo!

 

Padre Cristiano Sousa

Pároco – Paróquia Santa Cruz e N. Sra. Aparecida – Jd. Pres. Dutra

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Artigos Enfoque Pastoral

Espera no Senhor e tem coragem, espera no Senhor! (Salmo 27,14)

Dizem que o ano só começa depois do Carnaval! Eu discordo, mas entre os cristãos têm ocorrido um comportamento estranho: a espera por algo ou por um evento para que o ano comece. Em alguns casos mesmo vivendo esses momentos, como por exemplo o carnaval, numa tentativa de extravasar e viver momentos de “felicidades”, o que se percebe são pessoas entristecidas. Quando o batizado deixa entrar em sua vida as trevas do mundo, em vez de ser ‘sal e luz’ (conf. Mt 5,13-14), a vida se torna cada vez mais sem cor e sem alegria. E mesmo após as tribulações, como a pandemia do Covid, a humanidade, que aos poucos retoma as suas atividades, não tem demonstrado, em geral, algum tipo de crescimento humano e espiritual.

Com o início do terceiro mês do ano somos chamados a renovar nosso ânimo e encorajados, pela graça batismal, a ofertar ao mundo os dons recebidos pelo Senhor. Unidos a Cristo, como ramos ligados ao tronco (Jo 15,1-17) nos empenhemos em nossas atividades pastorais em 2023 e em promover em nossa cidade de Guarulhos o Reino de Deus. Pois o Senhor nos impulsiona com seu Espírito Santo, Ele renova em nós a fé, a esperança e a caridade para sermos no mundo Sua presença de paz e justiça. “Oferecer a paz está no coração dos discípulos de Cristo”. (Papa Francisco)

Por meio das ações pastorais desenvolvidas em nossas paróquias e nos trabalhos diocesanos, nossa Igreja responde ao chamado do Senhor. Nosso Bispo Dom Edmilson é quem nos anima e incentiva em todas as nossas iniciativas pastorais e conduz a Diocese, no tríplice múnus de ensinar, santificar e governar. Peçamos a Deus que o ilumine e o conduza no Espírito Santo em sua missão, assim como a todos os Presbíteros, Diáconos, Religiosos, Agentes de Pastoral e a todo o Povo de Deus.

Neste mês iniciamos a quaresma, tempo de conversão, oração, jejum e prática da caridade. Como acontece todo ano, desde 1964, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, nos apresenta neste ano a Campanha da Fraternidade com o tema: ‘Fraternidade e fome’, e o lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).  Com uma proposta de conversão pessoal, comunitária e social na liturgia e nos diversos grupos de ruas que se formam em nossas paróquias durante este tempo.

“Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus” (Lc 1, 30). Como Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, nos abramos a Vontade de Deus e não nos deixemos dominar pelo medo, desanimo e dúvidas, pois pelo batismo, nós fomos imbuídos da graça de Deus e como seus filhos fomos fortalecidos no seu Espírito. Como a jovem Maria possamos dar o nosso ‘Sim’ a Deus ofertando na Igreja e no mundo nossos dons. Coragem!

 

Pe. Marcelo Dias Soares

Coordenador Diocesano de Pastoral

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Artigos Voz do Pastor

“O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje”.

O Senhor Jesus ao ensinar-nos a rezar com a oração do Pai Nosso, nos dá a oportunidade de fazer com que de nossos lábios saia a prece que nos convém, ou seja, a prece que é conforme a vontade Deus. Afinal, o cristão reza para fazer a vontade de Deus e para estar na vontade de Deus.

A oração do Pai Nosso não é individualista e intimista. É “nosso” Pai. Estamos unidos por esta paternidade. Não podemos dizer “Pai Nosso” desvinculados uns dos outros. Cada petição do Pai Nosso possui uma dimensão comunitária e fraterna. Tem a dimensão do “nós”. Em cada petição não pode ser realizado algo que privilegie a mim em detrimento do outro.

Deste modo, a petição “o pão nosso de cada dia dai-nos hoje”. Só pode ser feita em dimensão comunitária. Eu não posso pedir o pão somente para mim, sem olhar para o outro que também necessita. Esta petição é compromisso de olhar para o outro.

Jesus quando vê os discípulos preocupados com o pão somente para si, querendo dispensar a multidão, ordena-lhes: “Dai-lhes vós mesmos de comer.” (cf. Mt 14,16)

Alguns podem objetar também como os discípulos, que nem há mesmo comida para todos… Esta atitude individualista foi a dos hebreus no deserto quando recolheram o maná pela primeira vez. Ao invés de recolherem, conforme a ordem que Deus deu a Moisés, o necessário para cada dia, cada um se apressava em recolher o máximo que pudesse para si. Qual foi o resultado? Podridão e mau cheiro tomaram conta do acampamento…(cf. Ex 16,1-20)

Não falta alimento no Brasil e no mundo. Falta a vivência do “nós”. Há má distribuição. Há desperdício. Não falta terra para produzir alimentos no Brasil, há, sim, grandes latifúndios improdutivos nas mãos de poucos, que não abrem sequer a possibilidade para a produção agrícola. Há, sim, a grande exploração do agronegócio, visando cada vez mais a exportação (ganhar em dólares), onde o que importa é o lucro e não a alimentação. Há a mentalidade do acumular para “mim” em detrimento do produzir para “nós”. Aqui também cabe a parábola contada por Jesus  do homem que só pensou em acumular para si, mas não se preocupou em ser rico para Deus. (cf. Lc 12,13-21).

A petição da oração do Senhor “o pão nosso de cada dia, dai-nos hoje” coloca em realce além do “nosso”, para que não sejamos individualistas e egoístas,  a especificação “de cada dia”, para não incorrermos na tentação do acumular  e termos  a sensação falsa de segurança, mediante o juntar para si, sem olhar para o outro.

Pedir o “o pão nosso de cada dia”, é pedir o essencial para a existência humana. Esta petição possui também sua dimensão espiritual e mística. O pão de que necessitamos cada dia, até mesmo para não cairmos no individualismo e egoísmo, é o Cristo no seu mistério pascal. Precisamos de Cristo, nosso pão, cada dia, para não nos fecharmos em nós mesmos e aprendermos a amar na dimensão da cruz de Nosso Senhor. Ser para o outro. O mesmo Senhor que ensinou a pedir o pão de cada dia, é o mesmo Senhor que exigiu que quem o quisesse seguir tomasse sua cruz cada dia. (cf. Lc 9,23)

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.

Bispo diocesano

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Artigos Vida Presbiteral

Formação Permanente dos Presbíteros

“Cuidando de quem cuida”

Entre os dias 07 e 10 de novembro, na Cidade de Passa Quatro, nós presbíteros da Diocese de Guarulhos nos retiramos para a semana anual de Atualização do Clero, na qual pudemos viver a experiência formativa e de convivência da fraternidade presbiteral.

Este ano assumimos duas temáticas que se interligam para a vida de nossos sacerdotes: Prevenção e Saúde / Fraternidade Presbiteral. Para a exposição e desenvolvimento destes assuntos, convidamos o Dr. Paulo Celso Fontão (Médico da Família e Comunidade) e Dom Cícero (bispo auxiliar de São Paulo – Região Episcopal Belém).

Dr. Paulo em sua reflexão buscou ter uma conversa familiar com os presentes sobre a construção de uma saúde melhor, “cuidando de quem cuida”, para melhor exercer a missão confiada: “primeiro em você” – um chamado de atenção para não nos esquecermos dos devidos cuidados que nós sacerdotes precisamos também ter conosco, pois chamados a cuidar do povo de Deus a nós confiado precisamos de condições físicas, psíquicas, emocionais e espirituais.

A periodicidade em consultas médicas, alimentação saudável, medicação devida, equilíbrio emocional, atividades físicas, lazer, alegrar-se com o outro, repouso e boa noite de sono são algumas das atitudes que não devem ser negligenciadas pelos presbíteros e pelo povo em geral. O reconhecimento dos próprios limites deve ser percebido para que em meio à necessidade se possa desacelerar para que não exista um esgotamento até mesmo diante da missão e da vida.

Dom Cícero, na linha do cuidado com a saúde no relacionamento fraterno entre os presbíteros refletiu muito sobre a comunhão como um ideal a ser alcançado para sermos verdadeiros irmãos na vivência da ajuda mútua pela arte do encontro, apesar de tanto desencontro na vida, como afirmara Vinicius de Moraes.

Não se fechar em uma vida individualista torna saudável a nossa vocação. Saber agir com amabilidade nos cura e cura a tantos em nossas relações humanas. Pensar em si e pensar no outro com amor, com atitudes amorosas de respeito e estima. Respeitar como o outro é. Mesmo diante do confronto de ideias, o respeito e estima são indispensáveis. Lutar pelo outro e aprender a optar por ele. Saber somar com humildade apesar das imperfeições, como disse Bruno Forte: “Humildade é deixar que o outro seja”. Isso é maturidade, é crescimento. Saber quem somos e permitir com que os outros nos veja e adentre a nossa vida, sem exclusões ou fechamentos, com abertura aos irmãos padres, ao bispo e ao povo de Deus, como uma resposta ao chamado de Deus Trindade, comunhão plena de Amor.

Pe. Thiago R. dos Santos

Pastoral Presbiteral

 

Confira as fotos da atualização do Clero da Diocese:

Semana de Atualização do Clero 2022
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Artigos Bíblia

A MONARQUIA UNIDA I: SAUL

≈1030 – 1010 a.C. (1 Sm 7,2 – 15, 31. 18-31)

Israel viveu sob o regime da Confederação das Tribos por quase 200 anos (1230 a.C. – 1030 a.C.).

Algumas vezes, as tribos se desentendiam quanto à defesa (Jz 5, 16 – 17 e 12, 1 – 7), à unidade (Jz 20) e quanto à fé (Jz 18).

Até houve uma tímida forma de governo centralizado em algumas tribos da região Central e do Norte de Canaã (Jz 9).

Surge a necessidade de um governo centralizado e estável, ou seja, a monarquia. Algumas causas contribuíram para isso:

– o crescimento das dificuldades internas (unidade entre as tribos) e externas (invasões de filisteus; ver 1Sm 4, 10 – 11);

– novas técnicas agrícolas trazidas pelo ferro (machado, foices, etc) e uso do boi na agricultura;

– produção de excedente e melhoria em algumas condições de vida (a escavação e caiação de poços também ajudaram nesta prosperidade);

– prestígio de algumas tribos mais privilegiadas e desigualdades econômicas e sociais;

– Influências: “reis” em Canaã: algumas cidades eram reinos independentes entre si, embora, vassalos dos egípcios por algum tempo; cidades costeiras da Síria, Fenícia, Sidônia e outras eram relativamente independentes umas das outras;

– reinos hostis, que antes, tinham sido grupos de tribos: Edom, Amon (amonitas: 1Sm 11, 1 – 11; 2 Sm 10, 1) e Moab (Nm 21, 11 – 15; 22, 4.10; Jz 3, 12 -30): esses reinos passaram rapidamente do estado tribal para a constituição de um estado organizado, autônomo e com um rei;

– necessidade de uma união maior contra filisteus e amonitas: os filisteus traziam a tecnologia do uso do ferro em armas e eram bem organizados militarmente;

– Samuel, último juiz, estava velho e seus filhos, corruptos, não puderam mais governar o povo (ver 1Sm 7, 3 – 9; 12, 2; 8, 1 – 3); porém, podemos constatar posturas conflituosas no mesmo texto de 1Sm: pró-monarquia (9, 15 – 10, 8) X contra a monarquia ( 8 e 10, 17 – 24);

Por isso, mesmo contra a monarquia, Samuel, orientado por Deus, resolve atender aos apelos dos anciãos do povo para constituir um governo central (rei).

Temos três narrativas sobre a escolha de Saul: a unção secreta(1Sm 9, 1 – 10, 8), a escolha por sorteio (1Sm 10, 9 – 27) e a aclamação do povo ( 1Sm 11, 1 – 15).

Na verdade, Saul não foi necessariamente um “rei” (melek); foi mais chefe de recrutamento tribal (nagid); apenas mantinha uma tropa defensiva.

Em sua época, constatamos uma frágil centralização do poder político:

– Saul não chegou a governar todas as tribos (1Sm 10, 14 – 16. 26s.; 11, 12)

– falta de autoridade: não criou uma organização estatal (nação) e nem constituiu uma corte;

– não constituiu Gabaá capital de um reino e nem construiu palácio – não houve uma estrutura burocrática;

– não teve funcionários estáveis e nem promoveu mudanças no culto ou na vida religiosa (tradição oral, ainda);

– viveu em conflito com Samuel (representante do grupo anti-monárquico);

– mostrou impotência contra os filisteus: seu exército não tinha condições de combatê-los e vencê-los;

– limites pessoais do rei (1Sm 16, 14 – 23): mostrou relativo desequilíbrio na condução de momentos de conflitos em sua vida;

– divisões na família: seu próprio filho Jônatas era a favor de Davi (ver 1Sm 22, 7 – 8);

– infidelidade e desobediência à Palavra de Deus: Saul quis passar acima da autoridade de Samuel, mas não teve sucesso em seu empreendimento (1Sm 13, 7b – 14; 14, 24 – 34; 15, 10 – 30 e 31, 1 – 13).

– causou insatisfação do povo: enquanto isso, Davi adquiria a simpatia do povo pelos combates e vitórias empreendidas em suas batalhas (1Sm 22, 2);

– perdeu o apoio e a confiança de Davi que, de guerreiro seu, passou a ser concorrente (1Sm 18, 5 – 8.11; 19, 10);

– matou sacerdotes em Nob, que eram a favor de Davi, manchando de sangue seu governo: essa atrocidade de Saul foi determinante para sua queda e ruína (1Sm 22, 6 – 23).

– morto na batalha de Gelboé (1Sm 31, 8 – 13), daí a autoridade militar ser a grande marca do governo de Saul.

Saul foi incapaz no plano político (1Sm 31), indigno no plano religioso (1Sm 15, 10 – 31) e desequilibrado no plano psíquico (1Sm 19, 8 – 24); perde, aos poucos, o prestígio inicial;

 

Pe. Éder Aparecido Monteiro – Vigário Paroquial – Paróquia Sta. Cruz Pres. Dutra

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Artigos Liturgia

Advento, o que esperamos?

A liturgia do advento contém uma autêntica espiritualidade litúrgica, centrada na vinda do Senhor e sua espera; a vinda do Senhor na carne e no fim dos tempos, assim como sua constante presença na Igreja que é prefigurada de modo particular em Maria, virgem, mãe da esperança.

Palavras chaves do advento são espera e esperança, vigilância e acolhimento. A espera e a esperança que a liturgia do advento nos inspira não nos deixam tranquilos e sossegados no mundo e na história em que vivemos. Ela nos inquieta, porque tem dentro de si um dinamismo que mexe conosco e nos impulsiona. O clamor pela vinda e chegada de Cristo novamente à história humana acompanha o drama dos filhos da nova e eterna aliança, que desde a manifestação plena de Deus em Jesus Cristo, exclamam pressurosos: Maranathá! Vem, Senhor Jesus!

Estas atitudes de espera e esperança do advento são tão grandes e importantes que não podemos perdê-las. Devemos nos dar um tempo e ajudar também nossos irmãos, para que possam abrir-se os corações, precisamente no advento, para o Senhor que vem. Se ele vier sem encontrar os corações abertos, ele não pode entrar. A liturgia do advento oferece a melhor ajuda para que aconteça esta abertura.

Devemos também valorizar os símbolos que nos falam da vinda do Senhor, como por exemplo a coroa do advento, que nos mostra a aproximação e o brilho, cada semana mais forte, da luz que está vindo ao mundo. A árvore do natal e o presépio devem nos lembrar que o Salvador, a luz do mundo, nasceu.

Quando falta Deus, falta a esperança. Tudo perde sentido. Deus conhece o coração do homem. Sabe que quem O rejeita não conheceu o seu verdadeiro rosto, e por isso não cessa de bater à nossa porta, como peregrino humilde em busca de acolhimento. O Senhor concede um novo tempo à humanidade: precisamente para que todos possam chegar a conhecê-lo!

Advento quer dizer que o Senhor vem. Mas ele chega à medida em que o esperamos e nos abrimos para ele.

 

Padre Fernando Gonçalves

Comissão Diocesana de Liturgia

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Artigos Falando da Vida

Finalmente um Natal de Paz

Aprendendo com as crises.

Passados dois anos de pandemia e de quase 700 mil mortes, será que estamos prontos para sentarmos novamente à mesa e celebrarmos o Natal em família? Com alguns cuidados, a resposta seria sim, afinal mesmo com o aumento de casos verificado nas últimas semanas, a pandemia está sob relativo controle e não oferece os perigos de antes. Todavia, as sequelas das brigas causadas pelas discussões envolvendo preferências partidárias nas últimas eleições, ainda são um desafio a ser vencido.

É certo que estamos vivendo uma crise política que afeta as relações sociais, mas analisando o conceito de crise, temos razões para ficarmos esperançosos de que poderemos colher frutos dos conflitos gerados pela pandemia e também pela política. A palavra crise vem do grego krisis e significa mudança súbita.  Conhecemos várias modalidades em que a palavra é empregada: crise econômica, crise afetiva, crise nervosa, crise política, etc. Em Psicologia, crise define um momento de sofrimento intenso, podendo ser o ponto de partida para uma mudança efetiva na vida da pessoa. Portanto, crise não é algo negativo, pois está relacionado à ideia de transformação.

Se com a crise de saúde aprendemos a seguir protocolos a fim de proteger o outro e também a nós mesmos, da mesma forma podemos aprender com as crises que provocaram desavenças e fizeram membros de família se separarem fisicamente ou deixarem de se seguir nas mídias sociais. Creio que, no atual momento, cabe aqui fazer uma pergunta: esse combate político valeu a pena? O que na verdade estamos buscando? Ter paz ou ter razão? O vazio que vai ficar em muitas mesas na ceia de Natal tem de ser o ponto de partida para a discussão que verdadeiramente vale a pena ser feita.

Será que não estamos atirando no alvo errado? Será que não temos inimigos em comum como a fome, a miséria, a violência, a degradação do meio ambiente e será que além da política não existem outras formas de combatê-los? Se percebêssemos que, em última análise fazemos parte de uma mesma família chamada humanidade, que habitamos a mesma casa chamada Terra e que compartilhamos os mesmos objetivos, poderíamos nos reunir numa mesma mesa e celebrar o Natal como irmãos. A verdade é que mais importante do que esse jogo insano, no qual não existem vencedores, existe a paz em família que deve triunfar acima de tudo.

 

Romildo R.Almeida

Psicólogo clínico