Nesta edição da Folha Diocesana somos chamados a refletir sobre o tema escolhido pela Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para celebrar o Mês Vocacional que é “Cristo Vive! Somos suas testemunhas” e o lema é “Eu vi o Senhor!”.
Para bem vivermos nossa vocação de batizados é necessário que orientemos nossas ações para a conquista de um sadio e sustentável equilíbrio entre uma vida contemplativa, pautada na oração e na frequência assídua aos Sacramentos, com uma vida ativa, marcada pelo anúncio de Jesus, o que se faz, em primeiríssimo lugar, a partir uma da vivência coerente dos valores do Reino, cuja principal característica é o amor que concretamente manifestemos aos outros.
Em outras palavras, é preciso conjugar em nós as figuras de Marta e Maria (Lucas 10,38-42), cientes de que o permanente encontro com Jesus – vida contemplativa – tem primazia sobre a vida ativa, como bem alertou Jesus a Marta, no Evangelho. “Vocação” é um termo derivado do verbo no latim “vocare” que significa “chamar” o que significa dizer que é preciso, em primeiro lugar, ter ouvidos de discípulos para com o Mestre, que nos revela seu inesgotável amor e nos envia em missão. Por isso, o testemunho do Senhor ressuscitado é consequência natural de um coração preenchido e transbordante do seu Amor.
O Apóstolo Paulo nos ensina que “fomos feitos por ele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, previamente preparadas por Deus para que andássemos nela” (Ef. 2,10). É desejo do próprio Jesus que a luz dos cristãos resplandeça a partir de boas obras para que o Pai seja glorificado (Mt. 5,16).
Como católicos inseridos no mundo, importa refletir que por muitas vezes praticamos boas obras nos lares, nos hospitais, nas escolas, nas comunidades carentes, mas, nem sempre nos sentimos a vontade para atuar junto aos governos, em especial quando formulam as políticas públicas e elaboram as leis civis. Por que excluir essa área da vida da prática de boas obras dos católicos?
Ora, a política é a mais perfeita forma de caridade. Esta expressão foi pronunciada pelo Papa Pio XI, reforçada pelo Papa Paulo VI e recentemente retomada pelo Papa Francisco. É a perfeita forma de caridade porque está a serviço do bem comum, o objetivo primeiro da política segundo a Doutrina Social da Igreja.
Jesus ordena que amemos o próximo como a nós mesmos (Mt. 22). Isso implica que lutemos por boas leis que protejam os bebês desde o útero materno; que protejam o casamento e a família tradicional; que afastem as crianças da corrupção moral que pretende utilizar as salas de aula para desconstruir a sua identidade sexual, implodir os padrões morais ensinados pela suas famílias e induzi-las à promiscuidade.
As sagradas escrituras estão repletas de exemplos de homens que, a partir de uma experiência com Deus, tomaram posse de sua missão e influenciaram os governos de sua época. Assim Daniel perante Nabucodonosor (Dn. 4); José e Moisés perante o Faraó (Gn. 41 e Ex. 8); Ester diante do rei Xerxes, dentre tantos outros profetas que denunciaram o pecado das nações. No novo Testamento, João Batista perante Herodes (Mt. 14) e mesmo Paulo diante de Félix (At. 24).
Assim, firme-se em nós a convicção de que, em algum grau, a depender da vocação e chamado de cada um, devemos exercer com ardor e fidelidade nossa missão de agentes de transformação social a partir de uma sincera conversão aos valores do Reino, que deve ser sempre alimentada com uma permanente vida ativa, aos pés do Senhor Ressuscitado. Tenhamos coragem de, como o Profeta Isaías, responder: “eis-me aqui, envia-me!”.
Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, Pós-Graduado
em Teologia, Mestre em Direito na PUC-SP