SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

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Artigos Vocação e Seminário

A vocação precede a existência

Perdoe-me a complexidade da sentença do título do artigo com o seu teor tanto quanto filosófico – e, de fato, ela é uma paráfrase da máxima da filosofia existencialista. Ao dizer que a vocação precede a existência é – baseando-se nas palavras de Santa Teresinha do Menino Jesus – compreender que, uma vez que “nada acontece que Deus não tenha previsto desde toda a eternidade”, o assumir a vocação é uma resposta ao apelo de Deus prenunciado desde as origens.

É só pensarmos que, considerando que a vocação é um chamado – não sendo uma disposição própria do homem, mas uma iniciativa de quem o convida –, ela é um projeto único e bem-aventurado que o Onipresente quis desde toda a eternidade, como recordado nas palavras de exortação de Deus ao chamado do profeta Jeremias: “antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações” (Jr 1,5).

Ao dizer que a vocação é precedente à nossa existência é dizer, literalmente, que Deus anseia pela nossa santidade e salvação antes mesmo de passarmos a existir. Torna-se belo pensarmos que você, na sua vocação assumida, é uma resposta a um desejo eterno de Deus, na correspondência ao apelo existencial do Criador “para nos fazer participantes da sua santidade” (Hb 12,10). Como consequência, ao aceitarmos a nossa vocação, correspondemos ao apelo do Eterno e de nossa própria existência.

 

Sem. Edson Vitor – 4º ano de Teologia

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Artigos Liturgia

Quando e quem pode receber o Sacramento da Unção dos Enfermos

Continuamos a falar sobre o sacramento da Unção dos Enfermos. E como já afirmamos este sacramento é celebrado pela Igreja na situação de doença grave ou de perigo de morte de um fiel. A Santa Mãe Igreja, sempre sensível e cheia de compaixão diante da experiência de sofrimento de seus filhos, administra esse sacramento com o objetivo de fazer com que o fiel doente ou em perigo de morte possa se unir livremente à Paixão do Senhor e participar de sua Ressurreição, sendo salvo de seus pecados e recebendo a força do Espírito Santo.

Mas, quais as circunstâncias que este sacramento pode ser administrado? Quais são as condições para que um fiel possa receber o sacramento da Unção dos enfermos de forma válida e lícita?

A Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia deixa muito claro que a Unção dos enfermos “não é sacramento só dos que estão no fim da vida. É já certamente tempo oportuno para a receber quando o fiel começa, por doença ou por velhice, a estar em perigo de morte” (n. 73). O cânon 1004 do Código de Direito Canônico complementa essa mesma ideia adicionando a necessidade do fiel “ter atingido o uso da razão”.

Com isso, já podemos concluir várias condições para receber o Sacramento da Unção dos Enfermos: em primeiro lugar, a pessoa deve ser batizada (o termo ‘fiel’ supõe o Batismo); em segundo lugar, o fiel deve ter atingido o uso da razão que, conforme o cânon 97, pode ser presumido quando a pessoa já tiver completado 7 anos de idade; em terceiro lugar, o fiel deve estar em perigo de morte, por motivo de uma doença grave ou velhice. “Para avaliar a gravidade da doença, basta que se tenha dela um juízo prudente ou provável, consultando-se o médico, se for o caso, para remover, com sua opinião, qualquer dúvida” (Ritual da Unção dos Enfermos, n. 8).

A Igreja também permite que esse sacramento seja administrado antes de uma operação cirúrgica, sempre que uma doença grave seja a causa de tal operação (cf. Ritual, n. 10), assim como às pessoas de idade cujas forças estão claramente debilitadas, mesmo quando não se trate de grave enfermidade (cf. Ritual, n. 11).

Pode surgir a pergunta sobre o que fazer quando a pessoa está inconsciente, sem capacidade de pedir, ela mesma, a Unção. Diante desse cenário possível, a Igreja nos ensina que se deve administrar esse sacramento “aos doentes que, ao menos implicitamente, o pediram quando estavam no uso de suas faculdades”. Sabemos, pela fé, que o sacramento dado nessas circunstâncias é tão eficaz como quando é dado a uma pessoa totalmente consciente.

Finalmente, vale a pena ressaltar que a Igreja recomenda muito, na medida do possível, que o doente, ou aquele que está em perigo de morte, se confesse antes de receber o sacramento da Unção dos Enfermos. Quando possível, o ideal é que se siga o que se chama o rito contínuo, que contempla a administração da Confissão Sacramental, seguida pela Unção dos Enfermos e, finalmente, a Sagrada Eucaristia.

 

Pe. Fernando Gonçalves – Comissão Diocesana de Liturgia

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Artigos Bíblia

Profetas: Começo e evolução do profetismo

A palavra “profeta” (NABI, em hebraico) hoje tem muitos sentidos. Muitos caracterizam os prfetas como previsores de futuro (precognitivos, videntes, como em 1Sm 9, 9). Podemos encontra-los em grupos de “homens em transe” (1Sm 10, 5s; 19, 24; 10, 10; Dt 13, 2 – 4; 1Rs 17, 17s; 2Rs 2, 19 – 22; Nm 22, 2 – 6), como intérpretes de sonhos (Cf Dt 13, 2 – 4) ou simples consultores de Deus (1Sm 8, 6 – 7). Às vezes, eles aparecem como conselheiros de reis (conf. Khalil Gibran), integrados a uma corte, como os prpfetas Natã e Isaías (veja 1Sm 10, 1.24; 16, 12 -13; 2Sm 7, 1 – 7; 24, 11 – 19; 1Rs 1, 34; 11, 29 – 31; 22, 5).

No profetismo clássico da Bíblia, eles aparecem como defensores dos pobres e ferrenhos críticos dos desmandos dos monarcas e são reconhecidos como “homens de Deus”, homens da fé em Deus. Sua fé se fundamenta no Deus libertador do Êxodo (go’el). Alguns profetas formarão grupos proféticos com o objetivo de manter vigilância crítica sobre os abusos dos reis. Durante o Exílio na Babilônia (ver Is 40 – 55 e Ez) serão os consoladores do povo sofrido.

 

O MOVIMENTO PROFÉTICO:

O profetismo também esteve presente em outros povos do Oriente Antigo (Egito, Mesopotâmia, Pérsia, etc). Nos textos proféticos da nossa Bíblia encontramos afinidade entre os escritos de Mari (Mesopotâmia) e profetas de Israel: o profeta era um ser humano que recebia uma missão nos momentos de crise.

A diferença consiste em que os profetas de outros povos se constituíam mensageiros de deuses e os profetas de Israel se dirigiam ao povo e aos reis exigindo conversão interior e exterior, anunciavam a Palavra de Deus e denunciavam as injustiças, arriscando suas vidas. Certos anúncios dos profetas eram feitos com ações simbólicas.

         Temos duas fases do profetismo em Israel no tocante à sua relação com os reis (monarquia):

1º fase: apoio à monarquia (ver 1 Sm 22, 5; 2 Sm 24, 11-19).

2º fase: crítica e combate à monarquia (ver 1Rs 19, 10.14) = fase da independência do Profetismo.

 

SEPARAÇÃO ENTRE PROFETISMO E MONARQUIA

O Deus anunciado pelos profetas era o Deus da Aliança (Iahweh), um Deus que legitimava tudo o que os reis faziam.

Os profetas de Israel estavam a serviço da Aliança entre Deus e o povo. Por isso, era preciso estabelecer uma certa independência ou até oposição aos atos dos reis (Elias, Jeremias, Amós, Oséias, Miquéias, etc). E, quando falam em nome de Deus contra os desmandos dos reis, encontram dificuldades para a missão (perseguições, por exemplo).

 

OS PRIMEIROS PROFETAS:

Samuel: foi um opositor da monarquia (1Sm 8), mas acabou ungindo Saul e Davi como reis de Israel (1Sm 10; 15, 10 – 23) por ordem de Deus.

Natã: sempre presente na corte de Davi (2Sm 7, 2; 12 e 1Rs 1); favorável à dinastia davídica, mas crítico diante dos pecados do rei Davi.

Gad: chamado “vidente”, era mais severo (ver 2Sm 24, 11 – 14. 18 – 19; 1Cr 21, 9 – 13 . 29; 29, 9; 1Sm 22, 5).

Natã e Gad: conselheiros severos do rei Davi (2Sm 7; 12; 24).

 

Já no tempo do rei Saul, os profetas reagem contra os erros dos reis, que prejudicavam o povo (ex.: Samuel). Alguns eram até próximos dos palácios, mas não eram coniventes com tudo o que os reis faziam!

        Após o Cisma de 931 a.C., quanto aos profetas do Norte (Israel), o profetismo floresceu em fidelidade às tradições javistas do tribalismo; os profetas eram “mais conservadores” e exerciam severas intervenções como “homens de Deus”, criando uma distância cada vez maior entre eles e o palácio dos reis e dos templos oficiais do culto nacional (ex.: Elias, Eliseu e Amós).

Já no Reino do Sul (Judá), o profetismo será um pouco mais tardio e estará condicionado às promessas messiânicas a partir de Davi ou da dinastia davídica (Natã e Isaías), mas sempre voltado para a fidelidade à Aliança com Deus (Jeremias, Sofonias, Miqueias, por exemplo).

Padre Éder Aparecido Monteiro

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Artigos Enfoque Pastoral

A avaliação moral do Aborto

A polêmica sobre o aborto é grande na sociedade. A favor ou contra? Permitido ou não? Legaliza-se sua prática ou não? Do ponto de vista social o aborto é um flagelo, pela enormidade dos males que causa à sociedade. Quem já ouviu o depoimento de uma mãe que abortou e se arrependeu, sabe do que se trata. É uma chaga oculta por onde se esvai um precioso potencial de vida, especialmente nas sociedades, nas quais diminui drasticamente o número de crianças.

Não falo aqui do aborto do ponto de vista religioso, mas antropológico. É uma questão humanitária que não pode considerar os direitos somente dos mais fortes, os adultos envolvidos, mas dos mais fracos, os fetos que perguntam: por que matar quem tem direito à vida?

Do ponto de vista moral, o aborto é um atentado contra a vida de um ser humano, vivendo ainda na dependência do organismo materno (encarregado de formá-lo e protegê-lo, constituindo, porém, já um ser autônomo), com uma lei peculiar à sua evolução. Dentre os crimes contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam abjurável. Isto é reconhecido por 90% da população brasileira, segundo pesquisa Data/Folha.

Desta forma, as propostas de certos vgrupos da sociedade para legalizar o aborto não estão em sintonia com a democracia, que deve levar em conta a vontade da maioria. São grupos de interesses, revestidos de argumentos que não se sustentam diante da mais elementar consciência humana, não subjugada por ideologias. Diante do direito à vida, nenhum legislador pode se arvorar em “Deus” para decretar a morte de inocentes e indefesos.

Além do valor intrínseco como membro da espécie humana, o feto não teria nenhum outro direito? Seria um feto humano, inferior aos fetos das tartarugas marinhas, protegidos por lei antes de saírem do ovo, antes de nascerem? O Império Romano concedia à pátria potestas, o direito do infanticídio, do abandono das crianças, venda dos filhos como escravos e do aborto. Na mentalidade do mundo greco-romano, somente o cidadão livre é sujeito do direito: não o escravo nem a criança.

Parece-nos que, após um progresso significativo, uma evolução do Direito, estamos involuindo, ao perder a percepção da gravidade e criminalidade do aborto. A aceitação do aborto na mentalidade, costumes e na própria lei é sinal de uma crise do sentido moral, que se torna cada vez mais incapaz de distinguir o bem do mal, mesmo quando está em jogo o direito fundamental à vida: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, chamam mal, os que tem as trevas por luz e a luz por trevas” (Is 5,20).

Todo ser humano, inclusive o feto, tem direito à vida que lhe vem imediatamente do Criador, não dos pais nem de qualquer autoridade humana. O ser humano é chamado a colaborar com o Criador na transmissão da vida, mas não é o senhor da vida. Não existe ademais uma pessoa humana com título válido ou indicação suficiente para uma disposição deliberada sobre uma vida inocente. Apenas se justifica o aborto não provocado ou espontâneo, independente da vontade humana.

Dados científicos, interesses políticos e econômicos, correntes filosóficas e morais com ideias equivocadas de liberdade, que inclui a eliminação do outro, soberba dos legisladores, que se arvoram em senhores da vida ou da morte, como se fossem Deuses, tudo isto vai aos poucos incutindo na sociedade o projeto de uma “sociedade abortista”.

Numa sociedade que legisla a morte de inocentes e crianças, aos poucos se chega a legislar a morte dos idosos, depois a legislar a morte dos doentes incuráveis, dos inúteis ao Mercado etc. É urgente a “humanização” baseada na importância de toda vida humana e que dá o mesmo valor a todo ser humano desde seu início a seu fim natural.

Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André (SP)

Artigo – Site CNBB.org.br

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Artigos Falando da Vida

Narcisismo Parental

A tênue fronteira entre cuidar e prender

O drama vivido pela atriz global Larissa Manoela, amplamente explorado na mídia no último mês, é o ponto de partida para discutir um problema muito comum que ocorre nas famílias. Trata-se da relação de possessão que alguns pais querem exercer sobre os filhos. É natural que alguns pais tenham dificuldade em transferir responsabilidades e, até certo ponto, isso não é um problema. Na maioria das vezes, esse sentimento, logo dá lugar ao orgulho de presenciar o sucesso dos filhos. No entanto, existem casos em que essa relação é carregada de estresse, pois os genitores querem dirigir a vida dos filhos em todos os aspectos, sob a justificativa de que eles são jovens imaturos.

Alguns casos podem evoluir para o Narcisismo Parental, um transtorno psíquico que atua especificamente na relação entre pais e filhos. Narcisismo origina-se do mito grego onde o belo jovem Narciso se apaixonou pela própria imagem refletida nas águas do rio e, por esse motivo, viveu infeliz e sozinho, impossibilitado de se relacionar com outras pessoas. No Narcisismo Parental, o pai, a mãe ou ambos se seduzem pelo papel que representam e têm dificuldade de reconhecer a autonomia dos filhos, pois isto significaria abrir mão da própria superioridade pela qual, estão seduzidos.

Na prática, não querem perder o poder que imaginam ter e, por isso, transformam a convivência numa relação tóxica e carregada de estresse envolvendo sentimentos contraditórios de amor, inveja, ciúme e até ódio. Pais narcisistas em geral, são autoritários, egoístas e manipuladores, pois, ao longo do relacionamento com os filhos, desenvolvem essas características como estratégias para manter o poder sobre eles. Quando são contestados ou desafiados, tornam-se agressivos fazendo com que a relação se torne inviável. As consequências não são boas para nenhuma das partes, pois os pais acabam sozinhos repetindo o mito de Narciso. Quanto aos filhos, os danos são ainda maiores, pois podem desenvolver: baixa autoestima, dependência afetiva, insegurança, depressão, entre outros.

Nunca a carta de São Paulo aos efésios (Ef 4:24) tornou-se tão apropriada ao contexto que estamos vivendo sobretudo nas relações sociais, incluindo as famílias.  Revestir-se da nova humanidade é desapegar-se dos valores materiais, do poder que queremos exercer sobre as pessoas e aprender a viver na humildade. A sedução nos cega tal como no mito de Narciso e nos faz viver aprisionados pelo egoísmo.  A empatia é a porta que se abre para o amor, permitindo viver a bondade de coração, único caminho que pode nos libertar e conduzir à felicidade sustentável e à Salvação.

 

Romildo R. Almeida – Psicólogo Clínico

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Artigos Vida Presbiteral

Encontro Nacional de Presbíteros do Equador

(Guayaquil, 12 de julho de 2023)

Discurso do Cardeal Lazzaro Cardo You Heung-sik – Prefeito do Dicastério para o Clero

Queridos irmãos sacerdotes!

Em primeiro lugar, um OBRIGADO pela sua presença aqui, mas muito mais pelo seu serviço ao Povo de Deus, pela sua dedicação ao povo que lhe foi confiado, dia após dia e especialmente na recente pandemia que tem sido para nós, ministros de Deus, um tempo que a todos nós pôs à prova.

Estou feliz por poder conhecê-los hoje e ter essa oportunidade de olhar junto de vocês para a minha vida e para a nossa vida. Falo-vos de coração aberto, sem formalidades, e por isso começo por vos contar primeiramente algo sobre mim e depois disso, de vez em quando partilharei convosco algo sobre a minha vida.

Uma opção que deve ser sempre renovada

Quando o Papa Francisco me disse, em abril de 2021, que queria me chamar a Roma e me tornar prefeito do Dicastério para o Clero, fiquei chocado. Nunca imaginei trabalhar um dia no Vaticano, longe da minha terra natal e longe do meu povo. Na Coreia, eu era um bispo feliz, empenhado juntamente com a minha diocese num caminho promissor seguindo os passos dos nossos mártires. O Papa Francisco veio até nós na diocese para a Jornada da Juventude Asiática e surgiram iniciativas interessantes. Tínhamos também realizado um Sínodo diocesano que reunia padres e leigos, e eu estava construindo uma nova Cúria diocesana.

E veio esse chamado, esse pedido do Papa. Eu disse: “Mas eu sou camponês, filho de camponeses”. O Papa não ficou impressionado com isso.

Ele se informara sobre mim e sabia que eu tinha uma relação boa e fraternal com os padres. Era isso que lhe interessava.

Serei sincero: deixar tudo e até deixar um certo padrão de vida – o carro com o motorista, as freiras que cuidavam da casa, os colaboradores à minha disposição e o apreço das pessoas – não foi fácil. Cheguei em Roma e não havia apartamento para mim. Morei por três meses e meio em um quarto com banheiro, cercado por minhas malas. E depois mais três meses em Santa Marta, perto do Papa, mas sem casa própria. Para mim foi uma purificação saudável. Isso me ajudou a voltar mais uma vez ao essencial do evangelho. Foi a ocasião de uma escolha renovada somente de Deus. Peço por mim e por vós a graça de saberdes renovar sempre esta escolha. Quando somos jovens, se tudo der certo, começamos com grandes ideais, mas com o passar dos anos corremos o risco de nos acomodarmos, de não termos mais aquele frescor evangélico, e então nossa vida não é mais um testemunho transparente de Deus. E é justamente nesse momento! — a ocasião de uma segunda escolha de Deus, mais profunda e verdadeira do que aquela que fizemos com o entusiasmo e o entusiasmo que sentimos como jovens.

Padres felizes ou desanimados?

Vou contar outra coisa que aconteceu comigo. Quando minha nomeação foi publicada, em 1º de junho de 2021, um amigo bispo me ligou e disse: “Agora você está encarregado de fazer todos os sacerdotes do mundo felizes”. Estas palavras tocaram-me como se viessem do próprio Deus e nunca me abandonaram: fazer felizes os sacerdotes! Não é fácil porque, quando olho em volta, vejo tantos padres desanimados. E eu os entendo: há muitas razões para que se sentam sobrecarregados e certamente vocês também têm muito a dizer sobre isso. Vamos tentar relembrar algumas causas dessa situação. Cito quatro que mais se destacam, mas há outras também.

  1. A sobrecarga. Em muitas partes do mundo, os sacerdotes carregam um fardo maior do que podem carregar. Muitas vezes são em número reduzido e as paróquias são grandes e até muito grandes, com muitas comunidades a seguir e por vezes distantes. As pessoas depositam muitas expectativas nos padres. Para chegar a todos, há muitas missas para celebrar: talvez cinco ou seis aos domingos e duas, três, quatro nos dias de semana. E depois a catequese a fazer, os grupos e associações a seguir, os sacramentos a preparar. Você nunca chega ao fim: sempre em movimento, sempre em ação. Com esse “supertrabalho”, em determinado momento a pessoa se sente vazia, o entusiasmo desaparece e entra na rotina; os mais entusiasmados, por outro lado, correm o risco de se exaurir. E lá dentro há uma situação de aridez e até à noite: já não se sente nada, apenas funciona.
  1. Um segundo motivo: a solidão e o individualismo. O Concílio Vaticano II falou dos sacerdotes quase exclusivamente no plural — sacerdotes; e não: o sacerdote — e deixou-nos no n. 8 do Decreto “Presbyterorum Ordinis” uma página maravilhosa sobre a comunhão sacerdotal, encorajando os sacerdotes a praticar várias formas de vida comum: da convivência à mesa comum ou, pelo menos, reuniões frequentes. Mas, infelizmente, a realidade é outra: os sacerdotes quase sempre se encontram vivendo e trabalhando sozinhos, e isso muitas vezes já desde os primeiros anos de ministério. Eles escolheram – esperamos – a vida no celibato pensando que assim eles podem reviver a experiência dos apóstolos com Jesus e entre si, mas na realidade eles estão sozinhos. Vivem para os outros, entregam-se às pessoas, mas quando voltam tarde da noite para casa, não há ninguém. Só tem a TV. E apetece-se dizer: “Desgasto-me pelos outros, corro de manhã à noite, mas quem pensa em mim? Não tenho ninguém.” Nesta situação é fácil procurar substitutos, e também é fácil tornarmo-nos individualistas, capazes de ter e dirigir muitos colaboradores, que dependem de nós, mas pouco capazes e dispostos a colaborar em pé de igualdade com outros sacerdotes e também com os leigos.
  1. Nossa fragilidade. Já falamos sobre sobrecarga e solidão, mas há um terceiro motivo de desânimo que afeta a todos nós. Quanto mais avançamos, mais descobrimos que não somos super-heróis e sim cheios de limites; não somos o super-homem, mas temos nossas fraquezas. E então sentimos que não estamos à altura da nossa tarefa e da nossa vocação. Descobrimos — se formos realistas e sinceros — nossa fraqueza e o fato de que somos pecadores. O Papa Francisco frequentemente nos fala sobre isso. Comparado com Jesus e seu Evangelho, todos nós temos em algum momento a experiência de Pedro que, vendo a distância infinita entre ele e Jesus, exclama: “Senhor, afasta-te de mim, sou um pecador” (LC 5, 8). E, depois de ter negado Jesus, chorou amargamente (Cf. LC 22,62). Se não formos superficiais e sensíveis, mais cedo ou mais tarde o sentimento de nossa inadequação corre o risco de nos desencorajar e às vezes até nos esmagar.
  1. Uma Igreja e uma sociedade em rápida mudança. Há uma quarta coisa que facilmente produz em nós desânimo e não um pouco. Vivemos em uma sociedade em rápida mudança. E não é uma mudança linear e gradual, mas uma mudança radical, tanto que o Papa Francisco fala de uma mudança de época. Muitas coisas que eram úteis e válidas até ontem não são mais úteis hoje. Pense na máquina de escrever, outrora indispensável. Hoje é uma peça de museu. Muitos jovens nem sabem mais o que é. O mesmo acontece também no campo pastoral: certas formas de fazer as coisas que até ontem davam frutos, no mundo digital e globalizado de hoje já não têm impacto. E nos vemos deslocados. Nesta situação, a Igreja é chamada a trilhar novos caminhos. Entre elas está a sinodalidade, que estabelece um caminho diferente na relação entre sacerdotes e leigos, mais participativo e mais igualitário, e busca ativar e colocar todo o Povo de Deus em missão. Mas não estamos acostumados com isso. Então começamos a nos questionar muito sobre nosso papel e nossa identidade e corremos o risco de ficar bloqueados, desanimados.

Sacerdotes felizes, no espírito das bem-aventuranças

Dizia-lhes que fiquei muito impressionado com as palavras daquele bispo amigo que me disse: “Agora você é responsável por todos os padres do mundo serem felizes”. Essa palavra me fez olhar para os padres que encontro quando atravesso a Praça de São Pedro para ir de casa ao escritório ou vice-versa com outros olhos: eles são felizes? Eles estão na luz? Eles têm alegria? Ou estão tristes, cansados, desanimados? Não raro paro e converso com um ou outro. Eles ficam surpresos quando descobrem que sou o Prefeito do Departamento para o Clero e me interesso por eles como um irmão. Na verdade, também eu saio desses momentos enriquecido, porque compreendo melhor o que os sacerdotes vivem e o que esperam nas várias etapas da vida e nas várias situações existenciais. E fico feliz quando finalmente podemos nos despedir com alegria.

Mas esta é apenas uma primeira resposta ao pedido do meu amigo bispo que sinto como um pedido que me veio de Deus. Dissemos a nós mesmos e repetimos sempre em nosso Dicastério que devemos trabalhar e agir para que os sacerdotes do mundo possam viver sua vocação com mais coragem e mais alegria.

Mas o que pode fazer um padre feliz? Tenho me observado e convido você a me fazer a pergunta: o que me faz feliz? Feliz de forma alguma, fugaz e superficial e talvez egoísta; mas feliz num sentido verdadeiro, profundo, evangélico? Compartilho três situações que me chamaram a atenção, mas com certeza você saberia acrescentar outras.

  1. Somos felizes quando nos sentimos olhados com confiança, estima e benevolência. Aqui, na verdade, surge uma grande responsabilidade recíproca entre nós, sacerdotes: como olhamos uns para os outros? E como nos sentimos olhados uns pelos outros? Há a terrível expressão que fala de “invidia clericalis”: de inveja entre os sacerdotes. Quem de nós não passou por isso? Quanto mal fazemos uns aos outros com isso! E há outro fenômeno, que o Papa Francisco não hesita em chamar de “câncer”: fofocas, falar mal um do outro e reclamar um do outro: o pároco vizinho, o bispo, o vigário geral… Falar mal dos outros, em vez de abençoá-los: em vez de falar bem deles e criar no presbitério um clima de confiança, estima e benevolência! Se isso não existe, é fácil começarmos a procurar afeto em outro lugar.

Mas devemos ser realistas: nunca encontraremos um presbitério ideal ou um bispo perfeito, um vigário geral perfeito! O profeta Jeremias adverte: “Maldito é o homem que confia no homem e põe o seu apoio na carne, afastando o seu coração do Senhor” (Jr 17:5). A verdadeira âncora da salvação em nossas vidas e a única fonte de estima e benevolência que nunca falha é o Senhor! Precisamos nos expor diariamente aos raios desse Sol divino que é o Seu Amor. E isso acontece especialmente na oração. Alguém disse: “A oração é a casa da virgem”. É claro que não qualquer oração superficial feita apenas com palavras, mas a oração vivida com o coração quando estamos diante dele e a escutamos, pobres e desarmados, abertos interiormente e silenciosos.

Desde que moro no Vaticano, todas as manhãs me levanto um pouco antes das 5 e saio de casa para a Gruta de Lourdes nos Jardins do Vaticano. Enquanto eu estou andando eu rezo o Rosário e medito: ando na companhia de Nossa Senhora, ouvindo Jesus. Olho para a minha vida e para o meu dia com Ele, falo com Ele e escuto-O, confio-Lhe pessoas e coisas, coloco nas Suas mãos preocupações e nós para desatar. Volto para casa com nova luz e com novo alento, mais consciente de que sou filho de Deus, amado por Ele, e que só assim posso ser irmão e pai de todos que encontro. Por isso, sou um feliz Cardeal e Prefeito, apesar do trabalho árduo e dos muitos problemas que tenho de enfrentar todos os dias.

  1. Uma segunda experiência que pode surpreendê-los: sou feliz, evangelicamente feliz, quando não tenho nada a esconder. Mas como podemos fazê-lo, se todos temos fragilidades e inevitavelmente cometemos erros e equívocos? Quem de nós poderia dizer que está tudo bem em sua vida? Seríamos como aquele fariseu que sobe ao templo, se levanta na primeira fila e diz: «Ó Deus, agradeço-Te por não ser como os outros» (Lc 18, 11). Em vez disso, todos precisamos recorrer humildemente ao grande dom do sacramento da reconciliação. É verdade que às vezes nos aproximamos deste sacramento com medo e vergonha, mas depois voltamos a ser inteiros, completos, e sentimos uma nova liberdade: não temos nada a esconder; não há nada que não seja confiado à misericórdia e ao perdão de Deus. Para mim, quando cheguei a Roma, era uma prioridade encontrar um confessor estável e visitá-lo regularmente.

Mas a confissão por si só não é suficiente. Nós, que somos chamados a ser pais de almas e entramos em contato com tantas situações pessoais, mesmo íntimas e delicadas, também precisamos ser acompanhados; ou seja, precisamos recorrer a uma pessoa madura e deixá-la olhar para nós como um livro aberto. Sabemos que um carro precisa ser levado à oficina de vez em quando para um serviço, se não quisermos ter surpresas desagradáveis. Da mesma forma, também precisamos nos deixar olhar de vez em quando por um especialista sem esconder nossas sombras e nossas incoerências, para entender como lidar com elas e remediá-las. Caso contrário, corremos o risco de ser guias cegos (cf. Mt 23, 16,24) e de ligar as pessoas a nós e não a Jesus, enredando-nos em situações pouco claras. E não experimentamos a felicidade dos “puros de coração” (cf. Mt 5, 8): daqueles que têm a coragem de deixar purificar novamente o coração.

  1. Uma terceira experiência que penso que todos nós fazemos: ficamos felizes quando estamos com bons amigos ou familiares e almoçamos ou jantamos bem, passeamos ou passamos férias juntos. Quem de nós não se lembra de momentos como esses? Momentos em que todas as preocupações desaparecem e podemos simplesmente ser nós mesmos, sem máscaras e sem defesas; momentos em que também acolhemos os outros como eles são, nos entregamos generosamente a eles e eles fazem o mesmo. Então nos sentimos em casa, não mais sozinhos e em perigo, mas protegidos. “Um padre precisa de um lar – o padre precisa de um lar”, repetia muitas vezes o padre que cuidou de grande parte da minha formação no ministério e a quem tanto devo. Ora, esta casa não deve ser um refúgio que a gente encontra em algum lugar – na própria família de origem ou no círculo de amigos ou em outro lugar – mas deve ser o santuário. Para mim esta é uma questão prioritária: nos preocupamos com muitas pessoas, mas cuidamos uns dos outros? Quão próximos estamos de alguém que, como padre, passa por um momento de incerteza, de dúvida, à noite? Quem encontra dificuldades no ministério pastoral e talvez seja atacado pelas pessoas? Quem tem uma paróquia pobre e quase não tem o que é preciso para viver? E como estamos próximos também do bispo que muitas vezes tem uma vida mais complicada que a nossa. Se as alegrias e as tristezas chegam até nós como párocos, muitas vezes os problemas chegam sobretudo ao bispo. Em resumo, quanto fazemos para que possam nossos irmãos e também o bispo ser felizes e para que possamos ser felizes junto com eles? Só assim a nossa vida será atraente e poderão também nascer novas vocações! E somente assim — somente se nós sacerdotes formos uma verdadeira comunidade entre nós — seremos verdadeiros construtores da comunidade onde realizamos nosso serviço ministerial.

É por isso que sempre foi uma prioridade para mim lembrar os aniversários dos meus irmãos, pegar o telefone e ligar para eles para que eles sintam minha proximidade. Assim como é uma prioridade para mim hoje, chegar ao Dicastério pela manhã ao mesmo tempo que todos os outros e não me sentar imediatamente na mesa, mas parar na entrada para trocar algumas palavras com um ou outro e depois passar de escritório em escritório para cumprimentar os outros também. Não é tempo perdido, mas aquilo que torna o nosso serviço real e autêntico: «Nisto todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35). E você sabia que até mesmo os bispos, quando vêm até nós em sua visita ad limina, ficam felizes em serem recebidos com um café ou um suco e alguns doces? Porque, na realidade, até os bispos precisam de um lar!

Construído sobre a rocha

Queridos irmãos sacerdotes: Fizemos muitas considerações sobre o que pode nos desanimar em nosso ministério e sobre o que pode nos alegrar. A verdadeira felicidade – Jesus faz-nos compreender nas bem-aventuranças com que abre o Sermão da Montanha – é a felicidade pascal: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque consolai-vos. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra…” (Mt 5, 3-5). No final, para resumir todo aquele Discurso, Jesus afirma: “Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática será como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram contra aquela casa, mas ela não caiu, porque estava edificada sobre a rocha” (Mt 7, 24-25). Nossa felicidade só pode ser firme e duradoura se for baseada na Palavra de Deus, na vida e a colocar em prática a Palavra de Deus.

Por isso me é tão querido o lema que guiou toda a segunda parte da minha formação ao ministério e sobre o qual falarei esta tarde aos seminaristas: um só livro: o Evangelho; uma única lei: o novo mandamento; Um Mestre: Jesus.

Mas então veio minha ordenação. Estranhamente, acordei naquela manhã com a impressão de que iria morrer naquele dia. Quando mais tarde, durante a missa, me prostrei por terra, senti-me como o trigo que cai na terra e morre: morre com Cristo para o bem dos irmãos. Naquele dia compreendi que ser padre significa morrer para viver com Jesus pelos meus irmãos e me uni profundamente a Jesus crucificado: sim, naquele dia me casei com Jesus crucificado e abandonado. Passaram-se mais de 40 anos e posso dizer duas coisas: primeiro, é esta união com Jesus abandonado na cruz, é este “casamento” com Ele, que sempre me fez continuar; em segundo lugar, é esta união com Jesus abandonado que sempre me fez passar, uma e outra vez, da Cruz à Ressurreição, dos problemas à esperança, dos conflitos à caridade, do negativo e das trevas, à luz e ao positivo.

Recentemente, fui convidado a ordenar 25 diáconos da Prelazia do Opus Dei como sacerdotes. Alguns dias antes eu os conheci e tivemos um momento de profunda comunhão. Tive a coragem de falar-lhes de coração aberto e disse-lhes sem rodeios: tornar-se sacerdote significa casar-se com Jesus Abandonado, porque foi ali na Cruz e no mais negro abandono que Ele gerou a Igreja, a nova humanidade. Todos ficaram impressionados com essas minhas palavras. Fiquei muito feliz quando, após a celebração da ordenação, um deles veio até mim e disse: “Hoje me casei com Jesus Abandonado”. Pensei: este sacerdote compreendeu verdadeiramente o segredo da felicidade e da fecundidade sacerdotal. Sua vida é construída sobre a rocha.

Em conclusão

Permitam-me que diga, para concluir, uma palavra final que resume um pouco tudo o que partilhei convosco: os desafios da vida sacerdotal e ministerial de hoje são muitos; Acho que precisamos deixar de agir como sacerdotes para sermos sacerdotes, como Jesus.

Fonte: https://presbiteros.org.br/

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Fomos chamados à Santidade

Fomos chamados a ser plenos em Deus. Fomos chamados à santidade: “Em Cristo Ele nos escolheu…para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo.” (Ef 1,4-5). Ser escolhido, ser predestinado à santidade, eis aí a nossa vocação. Através da filiação divina (adotiva) em Cristo, do mesmo Cristo somos revestidos e o mesmo Cristo é fonte e modelo da nossa vocação. O chamado à santidade não nos isola do mundo, nem dos problemas e muito menos dos combates que temos de vivenciar contra tudo aquilo que nos afasta desta vocação substancial a cada um de nós, discípulos de Jesus, seja qual for a nossa vocação específica.

A carta aos Efésios, que se abre com um belo hino que proclama a grandiosidade e gratuidade do amor de Deus para conosco e a nossa vocação à santidade, é objeto de reflexão do mês da Bíblia de 2023, conforme proposição da CNBB. Quero, aqui, de maneira simples, propor quase que uma leitura orante de Ef 6,10-18.

O combate espiritual, que não é nada alienante, nos faz perceber a força que temos em Cristo e garante a vivência da nossa vocação à santidade. “Revesti a armadura de Deus para poderdes resistir às insídias do diabo. Pois nosso combate não é contra o sangue nem a carne, mas contra os principados, contra as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, conta os espíritos do mal, que povoam as regiões celestes. Por isso deveis vestir a armadura de Deus, para poderdes resistir no dia mau e sair firmes do combate.” (Ef 6,11-13)

Revestir-se da armadura de Deus é revestir-se de Cristo, o rebento de Jessé, como nos descreve o Profeta Isaías: “Julgará os fracos com justiça, com equidade pronunciará sentença em favor dos pobres da terra. Ele ferirá a terra com o bastão da sua boca e com o sopro de seus lábios matará o ímpio. A justiça será o cinto dos seus lombos e a fidelidade o cinto de seus rins.”  (Is 11,4-5). Portanto, o combate espiritual não é alienante. O que “mata” o malvado é ter na boca o sopro do Espírito. O cinto nos lombos é estar revestido de justiça e equilíbrio. Na verdade, a couraça da justiça sobre os ombros, é a justiça da Cruz, que não paga o mal com o mal, mas compromete-se em carregar a maldade do mundo de maneira redentora.  O cinto nos rins é a fidelidade de quem não se deixa levar pelas paixões. As paixões deturpam a verdade. A verdade é racional e existencial. As paixões são “loucas”. Nem sempre o que eu sinto está em acordo com a verdade.  “Ponde-vos de pé e cingi os rins com a verdade e revesti-vos da couraça da justiça.”  (Ef 6,14)

“Calçai os pés com o zelo para propagar o evangelho da paz, empunhando sempre o escudo da fé, com o qual podeis extinguir os dardos inflamados do Maligno.” (Ef 6,15-16) Propagar o evangelho não é somente um empenho missionário de anúncio, mas também de testemunho concreto e radical no seguimento de Jesus. Isso se dá em momentos específicos missionários e pastorais, mas também no cotidiano. Para tanto precisamos estar alicerçados na fé que recebemos da Igreja. O que não está aí contido, são dardos inflamados do Maligno. O que fazem tais dardos? Enganam e enganam muito bem, criando confusão em nós mesmos e no ambiente em que devemos propagar o evangelho da paz. Para empunhar o escuda da fé, é preciso a virtude da vigilância (justiça, piedade, temperança).  “Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhe firmes na fé, sabendo que a mesma espécie de sofrimento atinge os vossos irmãos espalhados pelo mundo.”  (1Pd 5,8-9)

“E tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito que é a Palavra de Deus.” (Ef 6,17). O capacete protege cabeça. “Sede prudentes como a serpente”, a prudência da serpente é proteger a cabeça para não ser destruída. Nossa cabeça é Cristo. Defender a nossa fé, é proteger a nossa cabeça. Tantas coisas querem “fazer a nossa cabeça”, desviando-nos do caminho da fé. É preciso proteger a cabeça lutando com a espada do Espírito, a Palavra de Deus. Não são os nossos pobres argumentos que defendem a fé, mas aqueles que brotam da Palavra da Revelação de Deus na sua plenitude que é Jesus Cristo.

Na entrega do Símbolo da fé (Creio) aos catecúmenos, exorta São Cirilo de Jerusalém:  

“Abraça, cuidadoso, unicamente a fé que agora a Igreja te entrega para aprende-la e confessá-la, protegida pelos muros da Escritura…para eu não pereçam por ignorância, encerramos nos poucos versículos  do símbolo todo dogma da fé. Exorto-te a tê-lo como viático durante a vida inteira e não admitir nenhum outro mais…este resumo da fé foi selecionado dentre toda a Escritura…este Símbolo em poucas palavras encerra como num seio materno o conhecimento de toda a religião contida no Antigo e no Novo Testamento…Agora te foi dado o tesouro da vida”.

(S. Cirilo de Jerusalém Catequese 5 De fide et Symbolo)

Neste combate, na busca e vivência da santidade, deixemo-nos conduzir pela Palavra.

Dom Edmilson Amador Caetano, O. CistBispo Diocesano

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A esperança renasce da leitura, oração e prática da Palavra de Deus!

Queridos irmãos e irmãs, a Sagrada Escritura é o centro de reflexão a partir do convite da Igreja no Brasil para o mês de setembro através dos encontros dos grupos de base das comunidades. A lei do cristão está na Sagrada Escritura que nos ensina a nos revestirmos de humanidade e da busca a santidade de maneira concreta em meio a uma sociedade que cultiva um modelo de convivência social baseado no narcisismo, egoísmo, ativismo e consumismo atingindo a relação educacional entre pais e filhos, o direito à vida, e até mesmo o sacerdote que é constantemente esquecido como humano. Para combater este modelo de convivência proposto, ressalto três aspectos desenvolvidos pela Igreja concretamente:

1) A realização de ações externas, marcando presença na sociedade como a Jornada Mundial da Juventude, o Bote fé e o agito do Pré-viva a Vida atingindo o Centro e as periferias da cidade e a caminhada do povo de Deus ao Santuário Mariano,

2) A promoção de formação através da realização da Semana da Família em todas as paróquias e o estudo bíblico e eclesiológico sobre a Carta aos Efésios, os Profetas e o Sacramento da Unção dos Enfermos.

3) O testemunho da alegria de servir a Deus e ser Igreja a exemplo dos diáconos que celebram o padroeiro São Lourenço; os catequistas como propagadores da iniciação cristã; os agentes da Pastoral da Criança que zelam pelo direito a vida desde a concepção; a gratidão e alegria pela vida em comunidade das Irmãs Operárias da Santa Casa de Nazaré e das Missionárias Diocesanas de Jesus Sacerdote e todas as comunidades consagradas que celebram o chamado de Deus e a resposta por amor.

Que possamos juntos confirmar que através da leitura, oração e prática da Palavra de Deus a esperança renasce diante de cada desafio, por isso vamos continuar gritando pelos excluídos e peregrinando a casa da Mãe Aparecida.

Desejo excelente leitura!

Padre Marcos Vinicius ClementinoJornalista e Diretor Geral

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Serviço de Animação Vocacional realiza Viva a Vida 2023

Aconteceu no último domingo, 03 de setembro a 18ª. Edição do evento vocacional da Diocese de Guarulhos – Viva a Vida com o tema Vocação: Graça e Missão e o lema: “Corações ardentes pés a caminho” (cf. Lc 24, 32-33), promovido pelo Serviço de Animação Vocacional SAV – Pastoral Vocacional.

O encontro se iniciou às 7h30 com a concentração de milhares de jovens na praça das Pedras no bairro do Macedo em Guarulhos, de onde eles partiram em uma caminhada Vocacional animada pelo grupo Carna-Cristo da paróquia São Roque do Parque Cecap. A caminhada partiu em direção ao Centro Diocesano de Pastoral localizado na Avenida Gilberto Dini, 519 no bairro do Bom Clima. Chegando os jovens foram acolhidos e participaram durante todo o dia de uma programação com shows vocacionais, teatro, jogos, pocketshow, talkshow, atendimento de confissões, a Santa Missa presidida pelo bispo diocesano Dom Edmilson Amador Caetano.

Esse ano o Viva a Vida contou com uma novidade a feira vocacional com vários estandes das congregações religiosas e novas comunidades, onde os jovens puderam visitar e conversar sobre as diversas dimensões vocacionais.

O dia foi encerrado com o show do cantor católico Diego Fernandes com a Adoração ao Santíssimo Sacramento.

Comissão de Comunicação Viva a Vida 2023.

 

Confira as fotos do Viva a Vida 2023:

Viva a Vida 2023
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Semana Bíblica da Forania Aparecida – 2º e 3º Dias

Semana Bíblica da Forania Nossa Senhora Aparecida – 2º Dia

Com uma bonita participação, a segunda noite da Semana Bíblica foi assessorada pelo Padre Boris da PUC/SP, que destacou a importância do Batismo para todas e todos católicos. Fomos batizados para gerar comunhão, para participar da vida da comunidade e para sair em missão, e que a nossa maior alegria é sermos reconhecidos como pertencentes ao Corpo de Cristo, a Igreja. Ressaltou ainda que amando a Jesus, testemunhando suas palavras e ações no cotidiano, seremos fiéis ao chamado de Deus e salvos por Sua Graça. Apresentou um breve panorama do Novo Testamento e da carta aos Efésios.

Confira as fotos do 2ºdia:

Semana Bíblica - Forania Aparecida - 2º Dia

Semana Bíblica da Forania Nossa Senhora Aparecida – 3º Dia

A Semana Bíblica da Forania Nossa Senhora Aparecida teve, no terceiro dia, a assessoria do Padre Shigeyuki, do Centro Bíblico Verbo.

Os mais de 200 participantes tiveram a oportunidade de aprofundar sobre o contexto em que a Carta aos Efésios foi escrita (entre 90-95 d.C.), para ler a Palavra de Deus considerando aspectos culturais e políticos da época.

O grande ensinamento das primeiras comunidades cristãs foi o reconhecimento que Jesus Cristo é o Senhor, em contrapartida ao helenismo que agia com força (e ainda tem sido tão presente no nosso cotidiano) na busca desenfreada do prazer e do poder.

Por isso cantamos com alegria:

“Pela Palavra de Deus saberemos por onde andar, ela é luz e verdade, precisamos acreditar”.

Confira as fotos do 3ºdia:

Semana Bíblica - Forania Aparecida - 3º Dia