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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

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Artigos Vida Presbiteral

Chorem, sacerdotes, chorem!

Todos os anos, na Quarta-Feira de Cinzas, nos deparamos com a leitura da profecia de Joel, mais especificamente o capítulo 2. Uma leitura que suscita grande transformação interior e também a exterior. A prática quaresmal deve converter o homem na sua totalidade. O centro é o grande apelo: “Voltai para o Senhor” (vers.12), mas, como voltar? O próprio profeta nos responde: “Com todo o coração, com jejuns, lágrimas e gemidos”. É um apelo contundente. O pecado nos separou da comunhão com Deus e somente o retorno a Ele nos dará a graça da reconciliação já operada em seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas, hoje, gostaria de refletir com vocês um outro trecho. Este está no mesmo capítulo, porém, no versículo 17: “Chorem, postos entre o vestíbulo e o altar, os ministros sagrados do Senhor”. Confesso que, ao ouvir este trecho, fiquei a me perguntar o que seria este chorar pois, como ministro sagrado pela força da ordenação sacerdotal, devo ser fiel em tudo à Palavra do Senhor.

A situação de pecado atraiu, ao povo, a desgraça. Uma invasão de gafanhotos que aparece como um exército. O povo precisa voltar arrependido e clamar a misericórdia de Deus. As indicações são cúlticas. O fato dele dizer “rasgai o coração”, não é crítica ao culto, mas à conversão, à interioridade. Deus não suporta cultos vazios.

Por que o ministro sagrado deve chorar? Precisamos antes nos perguntar quem é o ministro sagrado? Como escolhido de Deus e “constituído em favor do povo nas coisas que se referem à Deus” (Hb 5,1), o sacerdote deve, antes de mais nada, tomar um partido. Ele deve ser feroz no zelo pelo Senhor. Quando se transgredir a Lei de Deus, o sacerdote deve ser o primeiro a denunciar e clamar o povo à conversão.

Porque as lágrimas? As lágrimas manifestam, em primeiro, repúdio pelo pecado cometido, e depois a compaixão. No dia 12/02/2020, o Santo Padre, falando sobre as Bem-Aventuranças dos que choram, disse: “Pode-se amar de maneira fria? Pode-se amar por obrigação, por dever? Certamente não! Existem aflitos para consolar mas, às vezes, existem também consolados para afligir, para despertar, que têm um coração de pedra e desaprenderam a chorar. Despertar quem não sabe se comover com a dor dos outros.” O sacerdote deve chorar pelos que se esqueceram de amar a Deus. Eis como o profeta formula a prece do sacerdote: “Perdoa, Senhor, o teu povo, e não deixes que tua herança sofra infâmia e que as nações a dominem”.

Precisamos de ministros sagrados para chorarem as infâmias cometidas contra Deus. Neste tempo de apostasia que vivemos os ataques a Deus, a religião e a fé se multiplicam. Chorem ministros sagrados, derramem lágrimas pelos pecados próprios e pelos os de seu povo. Chorem, ministros sagrados, pelos tão desérticos corações emoldurados na pedra da indiferença! Chorem, ministros sagrados, pelos resistentes à misericórdia, que não buscam o sacramento da confissão! Chorem, ministros sagrados,  pelos que acrescentam, a cada dia, um pecado novo às suas listas! Chorem, ministros sagrados, pelos que atentam contra a santidade de Deus! Chorem, ministros sagrados, pelos matrimônios destruídos de suas paróquias! Chorem, ministros sagrados, pelos filhos que, desobedecendo seus pais, atiraram-se numa vida de promiscuidade, drogas e leviandade! Chorem, ministros sagrados, pelos atentados contra a vida e pelo culto à morte de nossa sociedade! Chorem, ministros sagrados, pelas vítimas de maus tratos e de violência! Chorem, ministros sagrados, e peçam a Deus misericórdia!

Me lembro do Manípulo que antes fazia parte das vestes sacerdotais. Ele servia também para secar as lágrimas dos sacerdotes durante o sacrifício. Quantas vezes Padre Pio chorou! Choremos, irmãos Padres, em defesa da verdade do Evangelho. Choremos pela conversão do mundo a Deus. Choremos na esperança de que Deus perdoe o seu povo!

 

Padre Cristiano Sousa

Pároco – Paróquia Santa Cruz e N. Sra. Aparecida – Jd. Pres. Dutra

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Formação Permanente dos Presbíteros

“Cuidando de quem cuida”

Entre os dias 07 e 10 de novembro, na Cidade de Passa Quatro, nós presbíteros da Diocese de Guarulhos nos retiramos para a semana anual de Atualização do Clero, na qual pudemos viver a experiência formativa e de convivência da fraternidade presbiteral.

Este ano assumimos duas temáticas que se interligam para a vida de nossos sacerdotes: Prevenção e Saúde / Fraternidade Presbiteral. Para a exposição e desenvolvimento destes assuntos, convidamos o Dr. Paulo Celso Fontão (Médico da Família e Comunidade) e Dom Cícero (bispo auxiliar de São Paulo – Região Episcopal Belém).

Dr. Paulo em sua reflexão buscou ter uma conversa familiar com os presentes sobre a construção de uma saúde melhor, “cuidando de quem cuida”, para melhor exercer a missão confiada: “primeiro em você” – um chamado de atenção para não nos esquecermos dos devidos cuidados que nós sacerdotes precisamos também ter conosco, pois chamados a cuidar do povo de Deus a nós confiado precisamos de condições físicas, psíquicas, emocionais e espirituais.

A periodicidade em consultas médicas, alimentação saudável, medicação devida, equilíbrio emocional, atividades físicas, lazer, alegrar-se com o outro, repouso e boa noite de sono são algumas das atitudes que não devem ser negligenciadas pelos presbíteros e pelo povo em geral. O reconhecimento dos próprios limites deve ser percebido para que em meio à necessidade se possa desacelerar para que não exista um esgotamento até mesmo diante da missão e da vida.

Dom Cícero, na linha do cuidado com a saúde no relacionamento fraterno entre os presbíteros refletiu muito sobre a comunhão como um ideal a ser alcançado para sermos verdadeiros irmãos na vivência da ajuda mútua pela arte do encontro, apesar de tanto desencontro na vida, como afirmara Vinicius de Moraes.

Não se fechar em uma vida individualista torna saudável a nossa vocação. Saber agir com amabilidade nos cura e cura a tantos em nossas relações humanas. Pensar em si e pensar no outro com amor, com atitudes amorosas de respeito e estima. Respeitar como o outro é. Mesmo diante do confronto de ideias, o respeito e estima são indispensáveis. Lutar pelo outro e aprender a optar por ele. Saber somar com humildade apesar das imperfeições, como disse Bruno Forte: “Humildade é deixar que o outro seja”. Isso é maturidade, é crescimento. Saber quem somos e permitir com que os outros nos veja e adentre a nossa vida, sem exclusões ou fechamentos, com abertura aos irmãos padres, ao bispo e ao povo de Deus, como uma resposta ao chamado de Deus Trindade, comunhão plena de Amor.

Pe. Thiago R. dos Santos

Pastoral Presbiteral

 

Confira as fotos da atualização do Clero da Diocese:

Semana de Atualização do Clero 2022
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Ser Padre Vale a Vida! – VIII

Chegamos ao final de nossa caminhada iniciada desde o mês de Março. Tivemos a oportunidade de refletirmos sobre a Vocação Sacerdotal. Foi uma verdadeira jornada que nos rendeu grandes aprendizados e uma paixão ainda maior por eles. Um ministério tão grande e, ao mesmo tempo, dado a homens tão frágeis: “trazemos tesouro em vaso de barro”. Mas, nosso Senhor o quis assim, e assim será para todo o sempre.

Hoje, nossa diocese conta com cerca de 80 sacerdotes que, espalhados em nosso território diocesano, ajudam nosso Bispo Dom Edmilson com o pastoreio do povo de Deus. Todos os anos temos novas ordenações e rezamos sempre ao Pai de Misericórdia para que sua messe seja sempre dotada de operários.

Pedi, pois, ao dono da messe que envie operários para a sua messe,” a ordem de Jesus expressa a necessidade de que o reino seja anunciado. Perceberam com que urgência Nosso Senhor fala da necessidade de anunciar o reino? Pois é irmãos, o mundo tem necessidade de sacerdotes e Sacerdotes segundo o coração de Jesus.

O que falta aos nossos jovens para que respondam a esse chamado tão belo?

Primeiro, falta escutar o chamado. Rezemos, pois, assim: ‘Ó Deus, que suscitais a escuta ao povo de Israel, retirai a cera dos ouvidos de nossos jovens para que escutem o Teu chamado’. Falta também ousadia e resposta, rezemos assim: ‘Ó Deus, não sejam medrosos os que chamastes e nem apegados a si mesmos e ao mundo, inspirai a eles a paresia, a resposta generosa a exemplo da Virgem’. Falta-lhes ainda a confiança, rezemos assim: ‘Ó Deus, que dissestes não tenhais medo, fazei que nossos jovens vivam a linda aventura de uma vida toda entregue a Deus na confiança’.

Não pode a Igreja, em seus leigos e leigas, se esquecer de que os sacerdotes precisam de orações. Há vários padres à frente de batalhas terríveis e muitas vezes se sentem sozinhos e solitários. Falta o apoio da comunidade. Falta a oração. Falta o engajamento nos mais diversos serviços. Sejamos uma rede solidária na construção do Reino de Deus.

Prestemos também nossas homenagens com orações aos que já partiram ao encontro da recompensa eterna. Lembremos com carinho os nossos bispos falecidos como também os nossos sacerdotes. Eles construíram um legado de fé e de obras que não devem ser esquecidas. Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno e que a luz perpétua brilhe para eles!

 

Padre Cristiano Sousa

Representante dos Presbíteros

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O Episcopado: fazer presente a Igreja de Jesus – VII

Progredimos em nossa jornada na explicitação da vocação ao ministério ordenado e em seus graus. Nas últimas matérias falamos sobre o grau do diaconado e presbiterado. Agora é a vez do último grau do sacramento da ordem. Em nossas catequeses, quando falamos sobre este sacramento, as pessoas nem imaginam sua importância e abrangência. A Igreja, zelosa em nos fazer conhecer a verdade manifestada por Cristo, apresenta o sacramento da ordem. Vejamos mais uma vez o que diz o catecismo: “a Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos Apóstolos continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos: é, portanto, o sacramento do ministério apostólico. E compreende três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconado”.

Mas quem é o bispo? Recorramos à língua latina e grega. A palavra bispo em latim é escrita “episcopus” e em grego “Episkopien”, atribuída aos apóstolos e a seus sucessores. Tomemos cuidado com os muitos que, por aí, se dizem bispos e bispas. Saibamos discernir e compreender a fé que professamos. Na Igreja de Cristo, a Igreja Católica, os bispos são escolhidos após criteriosa consulta e sagrados para o exercício deste ministério tão excelso. Não se autoproclamam. Recebem de Deus este encargo.

A função do bispo é o cuidado com o rebanho de Cristo e o fazer presente a Igreja de Cristo. O grande doutor Agostinho de Hipona já nos disse: “Onde está o bispo, aí está a Igreja”. É grande a tarefa e árdua ao mesmo tempo, o exercício de fazer presente a Igreja de Cristo. O múnus laborioso precisa ser acompanhado com nossas preces e súplicas. Não esqueçamos de rezar por nosso bispo.

Como sucessor dos apóstolos, o bispo deve zelar, com solicitude pastoral, pelo rebanho que lhe foi confiado. Dom Pedro Carlos Cipolini, Diocese de Santo André, em artigo no site da CNBB, respondendo à pergunta quais as tarefas e ofícios dos bispos, diz: “É o próprio Jesus Cristo que age na Igreja através de seus ministros. Para isso os bispos recebem a efusão dos dons do Espírito Santo, mediante a imposição das mãos (desde os tempos apostólicos) na ordenação episcopal (cf. At 1,8; Jo 20,22-23; 2Tm 1, 6-7). O bispo recebe a plenitude do sacramento da Ordem para ser ministro de Cristo e dispensador dos mistérios de Deus e garantia da unidade de sua Igreja (cf. 1Cor 4,1); dar testemunho do Evangelho pela pregação (cf. Rm 15,16), administrar a justiça e o Espírito (cf. 2Cor 3,8-9). A sagração episcopal confere ao bispo a tarefa de santificar, ensinar e governar a Igreja que lhe é confiada. O Concílio Vaticano II assim se expressa: “Os Bispos, pois com seus auxiliares, os presbíteros e diáconos, receberam o encargo de servir a comunidade, presidindo no lugar de Deus ao rebanho do qual são pastores, como mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado e ministros do governo (LG n. 20).”

É, pois, um sacramento conferido àquele que foi eleito por Deus e nomeado para tal ministério. Ministério que, como vimos, é responsável pelo múnus de santificar, governar e ensinar. O decreto Christus Dominus de São Paulo VI, sobre o múnus pastoral dos bispos na Igreja, define com clareza o tríplice múnus:

Sobre o múnus de Ensinar: “No exercício do seu múnus de ensinar, anunciem o Evangelho de Cristo aos homens, que é um dos principais deveres dos Bispos, (2) chamando-os à fé com a fortaleza do Espírito ou confirmando-os na fé viva. Proponham-lhes, na sua integridade, o mistério de Cristo, isto é, aquelas verdades que não se podem ignorar sem ignorar o mesmo Cristo. E ensinem-lhes o caminho que Deus revelou para ser glorificado pelos homens e estes conseguirem a bem-aventurança eterna (3).

Mostrem, além disso, que as coisas terrestres e as instituições humanas no plano de Deus Criador se ordenam também para a salvação dos homens e podem, por conseguinte, contribuir não pouco para a edificação do Corpo de Cristo.

Ensinem, por isso, quanto, segundo a doutrina da Igreja, valem a pessoa humana, com a sua liberdade e a própria vida corpórea; a família e a sua unidade e estabilidade, a procriação e a educação dos filhos; a sociedade civil, com as suas leis e profissões; o trabalho e o descanso, as artes e a técnica; a pobreza e a riqueza. Exponham, por fim, os princípios com que se hão de resolver os problemas gravíssimos da posse, do aumento e da justa distribuição dos bens materiais, da paz e da guerra, e da convivência fraterna de todos os povos (4)”.

Sobre o múnus de Santificar: “No exercício do seu múnus de santificar, lembrem-se os Bispos que foram escolhidos dentre os homens e constituídos a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecerem dons e sacrifícios pelos pecados. Na verdade, os Bispos têm a plenitude do sacramento da Ordem, e deles dependem, no exercício do seu poder, quer os presbíteros — que são consagrados verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento para serem cooperadores providentes da ordem episcopal — quer os diáconos, ordenados para servir o Povo de Deus em união com o Bispo e com o seu presbitério; os Bispos são, portanto, os principais dispensadores dos mistérios de Deus, como também ordenadores, promotores e guardas da vida litúrgica na igreja a si confiada (8).

Não se poupem, por isso, a esforços para que os fiéis, por meio da Eucaristia, conheçam e vivam cada vez mais perfeitamente o mistério pascal, de modo a formarem um corpo bem compacto na unidade da caridade de Cristo; (9) «insistindo na oração e no ministério da palavra» (Act. 6, 4) esforcem-se por que todos aqueles que estão entregues aos seus cuidados sejam unânimes na oração (10), e, por meio da recepção dos sacramentos, cresçam na graça e sejam testemunhas fiéis do Senhor.

Como santificadores, procurem os Bispos promover a santidade dos seus clérigos, dos religiosos e dos leigos, segundo a vocação de cada um (11), lembrando-se da obrigação que têm de dar exemplo de santidade pela caridade, humildade e simplicidade de vida. Santifiquem de tal modo as igrejas que lhes estão confiadas, que nelas brilhe plenamente o modo de sentir de toda a Igreja de Cristo. Por isso, promovam o mais possível as vocações sacerdotais e religiosas, e de modo particular, as missionárias”.

Sobre o múnus de Governar:No exercício do seu múnus de pais e pastores, comportem-se os Bispos no meio dos seus como quem serve (12), como bons pastores que conhecem as suas ovelhas e por elas são conhecidos como verdadeiros pais que se distinguem pelo espírito de amor e de solicitude para com todos, de modo que todos se submetam facilmente à sua autoridade recebida de Deus. Reúnam à sua volta a família inteira da sua grei e formem-na de tal modo que todos, conscientes dos seus deveres, vivam e operem em comunhão de caridade.”

Numa sucessão ininterrupta que liga diretamente aos 12 escolhidos por Jesus, os bispos continuam a trazer e fazer presente a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo. A solicitude pastoral do pastor e o zelo por suas ovelhas manifestam o Cristo Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas. Rezemos para que não falte ao rebanho a solicitude do pastor e nem ao pastor a obediência do rebanho.

 

Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros

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O Sacerdócio Consagrados pelo Reino – VI

Continuamos nossa caminhada na fascinante aventura de descoberta da vocação até a sua concretização segundo a vontade de Deus. No mês anterior falamos sobre o primeiro grau da ordem e nesta edição falaremos sobre o segundo grau da ordem: “Ordo presbyterorum”.  Mas porque este sacramento recebe o nome de Sacramento da Ordem? Talvez, no mês anterior, já devíamos ter falado sobre isto mas, se não aconteceu, é porque teria que ser neste mês mesmo. Então vamos lá.

A segunda parte do Catecismo da Igreja Católica, se não leu ainda, fazemos um apelo para lê-lo, nos coloca diante da celebração do mistério cristão e nos apresenta os sete sacramentos da Igreja. O artigo 6 nos apresenta o sacramento da ordem. “Ordem na antiguidade designava um corpo constituído”. Ordenação é a integração em uma ordem. A ordem dos presbíteros.

Mas de onde nasceu o sacerdócio católico? Sabemos que no Antigo Testamento havia uma tribo responsável pelo oferecimento do sacrifício e serviço litúrgico.  Sabemos também que o povo do Senhor é um povo sacerdotal. Mas, o sacerdócio hierárquico católico nasceu em uma quinta-feira, a Quinta-feira Santa. Era noite, Jesus se reuniu com seus apóstolos, o Eterno Sacerdote quis ali instituir o sacerdócio para perpetuar sua presença. “E tomando o pão, deu graças, o partiu e o distribuiu dizendo: – Isto é o meu corpo, que é entregue por vós. Fazei isto em minha memória”(Lc 22,19). São quatro relatos que testemunham este acontecimento. Os três relatos sinóticos e a Carta aos Coríntios. Nela os gestos e as palavras de Jesus  revelam o núcleo sacramental.

Jesus não tomou o pão e disse comam, mas Ele disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo… não disse: bebam, mas disse: Tomai, bebei, este é o cálice do meu sangue… aqui estava instituído o sacramento de sua presença perpétua, mas e quem faria? Quem ofereceria o sacrifício? Ele instituiu o sacerdócio dizendo: Fazei isto em memória de mim. Aqui estava apresentado o núcleo do sacerdócio. Sim, ali na última ceia, Jesus ordena os apóstolos. E inaugura um novo sacerdócio. Não mais como no Antigo Testamento.

Eis como o ritual de ordenação reza: “Senhor, Pai santo, […] já na Antiga Aliança se desenvolveram funções sagradas que eram sinais do sacramento novo. A Moisés e a Aarão, que pusestes à frente do povo para o conduzirem e santificarem, associastes como seus colaboradores outros homens também escolhidos por Vós. No deserto, comunicastes o espírito de Moisés a setenta homens prudentes, com o auxílio dos quais ele governou mais facilmente o vosso povo. Do mesmo modo, as graças abundantes concedidas a Aarão. Vós as transmitistes a seus filhos, a fim de não faltarem sacerdotes, segundo a Lei, para oferecer os sacrifícios do templo, sombra dos bens futuros…”. Mas, para que o sacerdócio ministerial? “O sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio comum, ordena-se ao desenvolvimento da graça batismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos quais Cristo não cessa de construir e guiar a sua igreja. E é por isso que é transmitido por um sacramento próprio, o Sacramento da Ordem.”(CIC 1547).

Pela santa ordenação, o presbítero é configurado a Cristo cabeça e age como “In Persona Christi”. Sabemos, porém, que o sacerdote é um homem sujeito às fraquezas humanas. Deus o escolheu dentre os homens e não dentre os anjos. “Mas trazemos este tesouro em vaso de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus” (2 Cor 4,7). E o sacramento fica prejudicado quando o sacerdote não é santo? Quando não age segundo as exigências do seu ministério, do seu estado de vida? O Catecismo lembra que, mesmo que o sacerdote não tenha uma vida exemplar, o sacramento por ele celebrado tem sua validade e eficácia.

Sabemos que, assim como o sacramento do batismo, o sacramento da ordem confere um caráter indelével. Quem o recebe, o recebe uma vez para sempre. Feito ministro de Cristo “para servir de instrumento em favor da sua Igreja. Pela ordenação recebe-se a capacidade de agir como representante de Cristo, cabeça da Igreja

Que grande graça é ser chamado a este ministério. Trata-se de uma eleição mesma de Deus. Não sabemos os critérios dos quais Ele se utiliza para o chamado. O certo é que, é uma vocação! E os que são chamados devem estar conscientes de que sua vida não mais lhes pertence. A vida deve ser também sacrificada junto ao Grande Sacrifício do altar.  Um sacerdote deve ser hóstia também imolada. Sua vida, como incenso oferecido na Santa Missa, se queima para perfumar a vida dos fiéis. Em síntese, o padre é feito tudo para todos. tornei-me tudo para todos, para de alguma forma salvar a muitos.(1 Cor 9,22)

Em sua paróquia tem um sacerdote? Louve e agradeça a Deus. Ele não é o melhor sacerdote do mundo? Seja compreensível e reze para que seja santo. Os sacerdotes carecem de orações, carecem de pessoas que se interessem por suas vidas e por suas dores. Carecem de amigos que lhe ofereçam ombros para chorar suas dores. Ofereça orações e colabore também com seu padre em sua paróquia.

Senhor, enviai muitas e santas vocações sacerdotais para nossa Igreja. Sacerdotes segundo o Teu coração.

 

Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros

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O Diaconado. Serviço de Amor, por Amor – V

Neste caminho que estamos percorrendo falando acerca da vocação sacerdotal em todas as suas fases, chegamos à Ordenação Diaconal. Não foi fácil, já foram percorridos no mínimo uns 9 anos. Entre faculdade, discernimentos e muita oração, o candidato já se viu também diante de crises. Será mesmo que Deus me chama ao sacerdócio? Eu, tão fraco. Tão barro. Não havia outros jovens até mais santos? Essas crises e questionamentos foram amadurecendo e chegamos ao momento da ordenação.

Antes, porém, de falar sobre o primeiro grau da ordem gostaria de lhe perguntar. Conhece algum diácono? Conhece a história de Santo Estevão? O capítulo 6 dos Atos dos Apóstolos relata a eleição de 7 diáconos. “Naqueles dias, aumentando o número dos discípulos, surgiram murmurações dos helenistas contra os hebreus. Isto porque, diziam aqueles, suas viúvas eram esquecidas na distribuição diária. Os doze convocaram então a multidão dos discípulos e disseram: Não é conveniente que abandonemos a Palavra de Deus para servir às mesas. Procurai, antes, entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, repletos do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos dessa tarefa”, entre estes estava Estevão. Seu ministério fecundo o levou ao mais alto grau do testemunho: O martírio! “E apedrejaram Estevão, enquanto ele dizia esta invocação: Senhor Jesus recebe, recebe meu espírito” (At 7,59).

O diaconado ocupa na Igreja um lugar de destaque e está entre os graus do sacramento da ordem. Vejamos o que diz o Catecismo da Igreja: “a Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos Apóstolos continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos: é, portanto, o sacramento do ministério apostólico. E compreende três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconado”.

Embora faça parte do grau da ordem, o diácono não é um padre. Sua função consiste no serviço.“Cabe aos diáconos, entre outros serviços, assistir o Bispo e os padres na celebração dos divinos mistérios, sobretudo a Eucaristia, distribuir a Comunhão, assistir ao Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir os funerais e consagrar-se aos diversos serviços de caridade.” (CIC 1570).

Imagino que também você já tenha escutado: Ah, fulano é diácono, mas como se ele é casado? Nós estamos acostumados, em nossa diocese, aos diáconos somente transitórios. Quem são estes? São os homens que estão em caminho para a ordenação sacerdotal. Depois de um período de estudos, as faculdades de filosofia e teologia concluídas, o exame final chamado “De universa” e a aprovação do conselho de presbíteros, eles são ordenados diáconos e exercem o ministério por um período de 6 meses, ou se o bispo julgar necessário, antecipa o período.

Já os diáconos permanentes não estão caminhando para o sacerdócio. São, em geral, homens casados já a algum tempo e se sentem chamados a este ministério. Neste caso, não fazem promessas de celibato. Somente os que são transitórios fazem. Unidos às suas esposas e com o consentimento delas, atestada a idoneidade do candidato, ele é ordenado pelo bispo.

Tanto os Transitórios quanto os Permanentes são ordenados pelos bispos. Os diáconos permanentes têm seu trabalho, sua profissão com a qual sustenta sua família. É importante lembrar que seu ministério, exercido na comunidade, visa o serviço de caridade. Além do mais, eles são designados pelo bispo para os serviços necessários na diocese e nas paróquias. Rezemos pelos diáconos transitórios para que vivam bem este tempo de serviço em vista do segundo grau da ordem, e que não se esqueçam de que o servir é perpétuo em suas vidas. E rezemos pelos diáconos permanentes para que bem compreendam sua missão e santifiquem suas famílias à medida em que também se santificam.

Em nossa próxima edição do jornal apresentaremos o segundo grau da ordem.

Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros