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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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8º Encontro Nacional da Pascom

De 12 a 14 de julho, o Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida, em Aparecida, foi o palco do 8º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom), reunindo mais de 900 participantes de todas as regiões do Brasil. O evento contou com uma programação diversificada de conferências, seminários, oficinas e workshops, centrados no tema “Pastoral da Comunicação em uma mudança de época: desafios e perspectivas.”

Primeiro dia – 12 de julho de 2024

O evento começou com uma recepção calorosa, superando as expectativas de público. Monsenhor Lucio Adrian Ruiz, Secretário do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, abriu as palestras com reflexões sobre o papel crucial da comunicação na missão da Igreja. Ele enfatizou: “É essencial adaptar-se às dinâmicas da cultura contemporânea sem perder a essência da mensagem cristã.” A reflexão sobre “Inteligência Artificial: o futuro no presente” foi conduzida por Everthon de Souza Oliveira e Aline Amaro da Silva. Everthon, professor do CEFET-MG, destacou “a necessidade de integrar a tecnologia de forma ética e eficaz no serviço pastoral.” Aline, teóloga e jornalista, complementou ao afirmar que “a inteligência artificial pode ser uma ferramenta poderosa para a evangelização, desde que usada com discernimento.”  

Segundo dia – 13 de julho de 2024

O segundo dia começou com a palestra “Comunicadores da Esperança”, apresentada por Dom Amilton Manoel da Silva, bispo de Guarapuava, membro da Comissão Episcopal para a Comunicação Social da CNBB. É graduado em Filosofia, História, Psicologia e Teologia. Possui especialização em formação humana, espiritualidade, liturgia e parapsicologia. Dom Amilton, ressaltou a importância de “serem comunicadores da paz e da esperança em um mundo tão necessitado de boas notícias.” Moisés Sbardelotto, jornalista e professor, seguiu com a conferência “Igreja em saída nas rodovias digitais”, sublinhando que “a presença dos cristãos nas redes sociais deve ir além dos instrumentos e envolver uma compreensão profunda das mudanças culturais e sociais que ocorrem no contexto digital.” Ele lembrou as palavras do Papa Francisco: “Entre as estradas estão também as digitais, congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida.” À tarde, os participantes se dividiram em grupos temáticos para discutir tópicos como inteligência artificial, planejamento pastoral, espiritualidade nas paróquias, tendências para mídias sociais, comunicação para transformação social, e protagonismo feminino na comunicação. Sbardelotto refletiu sobre o impacto das redes sociais na saúde mental, afirmando que “o aumento de depressão e suicídio entre os jovens demanda da Igreja uma reflexão profunda sobre sua missão no ambiente digital.”

Terceiro e último dia – 14 de julho de 2024

O último dia começou com a Santa Missa, presidida por Dom Valdir Castro, Presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, que destacou a importância da comunicação na evangelização: “A Pascom desempenha um papel crucial na união dos fiéis e no fortalecimento da fé.” Em sua homilia, ele ressaltou a necessidade de uma comunicação que “seja verdadeira, acolhedora e promotora da paz.” Ele destacou que “a comunicação eficaz é aquela que constrói pontes, não muros. Nós, como comunicadores, somos chamados a ser construtores de paz em meio às adversidades do mundo moderno.” Após a Santa Missa, aconteceu a última conferência do encontro que foi apresentada pela da Irmã Joana Puntel, irmã Paulina, jornalista pela Faculdade Casper Líbero- SP. Possui mestrado em Comunicação pela Universidade Metodista de S. Paulo – Unesp, doutorado em Comunicação pela Simon Fraser University (Vancouver, Canadá) e pela Universidade de S. Paulo (USP). Pesquisadora na The London School of Economics and Political Science (Londres, Inglaterra). intitulada “Artesãos da comunhão: a comunicação eclesial num ambiente polarizado”, forneceu orientações práticas para os agentes de comunicação. Ela destacou que “num mundo polarizado, a comunicação deve ser um instrumento de unidade e compreensão.” Na conclusão do evento, Marcus Tullius agradeceu pelos seis anos de liderança na Pascom Brasil, e Janaína Gonçalves foi anunciada como a nova coordenadora nacional. Janaína comentou sobre a emoção de ver o Centro de Eventos do Santuário Nacional lotado: “É uma alegria imensa celebrar a comunicação e olhar para os novos passos da Pascom, especialmente com o Jubileu de 2025 e o processo sinodal.” O encontro encerrou com o envio dos pasconeiros e pasconeiras. Dom Valdir animou os presentes a “serem comunicadores da paz, da fraternidade e da esperança em suas comunidades, paróquias e dioceses.” A bênção final, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, trouxe um sentimento de renovação e compromisso, marcando um encerramento emocionante para todos os participantes.  
Foto Oficial do 8º Encontro Nacional da Pascom – Foto: Maurício Aoki
8º Encontro Nacional da Pascom em Aparecida destacou a relevância da comunicação na missão da Igreja, abordando os desafios e perspectivas em uma era de rápidas mudanças culturais e tecnológicas. O evento reforçou a necessidade de uma comunicação autêntica e eficaz, capaz de integrar tecnologia e espiritualidade na disseminação da missionariedade da Boa Nova.
“falar com o coração no processo sinodal” em curso na Igreja. Fala de uma “escuta sem preconceitos” que seja “atenta e disponível” e sustenta que “na Igreja temos urgente necessidade de uma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs” (Papa Francisco)
Confira algumas fotos da participação da Pascom Diocesana no Encontro:
8º Encontro Nacional da Pascom
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3º Encontro de padres assessores da Pastoral da Comunicação – CNBB Regional Sul 1

Liderança, comunicação, cooperação e comunhão foram as características norteadoras do Encontro que buscou fortalecer o papel do assessor de comunicação pastoral e institucional.

Com o desejo de estreitar os laços e gerar comunhão, 31 padres Assessores da Pastoral da Comunicação do Estado de São Paulo se reuniram em Atibaia (SP), na Casa de Retiros Schoenstatt-Tabor, entre os dias 18 e 19 de junho.  Em sua terceira edição, o encontro foi promovido pela Pastoral da Comunicação do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Com a temática “o presbítero e a assessoria de comunicação pastoral e institucional”, o encontro contou com a assessoria de Marcello Zanluchi, pesquisador e doutor em Comunicação e Semiótica. Marcelo também possui vasta experiência na prática pastoral, chegando a ser coordenador da Pascom da Diocese de Bauru (SP), seu local de residência.

Partindo das responsabilidades que os presbíteros possuem no trabalho com as pessoas que estão ao seu lado na atuação da Pastoral da Comunicação e nos departamentos de comunicação institucional das Dioceses, Marcelo lançou mão de quatro características para o bom cumprimento desta missão: liderança, comunicação, cooperação e comunhão. Mais do que apresentar um conteúdo, Marcelo envolveu os padres numa dinâmica para criação de laços entre si e construção de pontes.

Ao refletir sobre as noções atuais de liderança, Marcelo apresentou características que devem fazer parte do líder: aquele que está ao lado de sua equipe e a conduz para o propósito de sua instituição: “quando comunicamos, nós trazemos pessoas para o propósito de nossa instituição ou fazemos a mera informação de algo que acontece?”, ponderou Marcelo.

A descentralização também foi abordada como uma atitude própria de um líder que não concentra a execução de todos os trabalhos em si, mas percebe que na colaboração mútua está a chave para o avanço dos trabalhos na Pastoral e na comunicação institucional. Porém, uma verdadeira mudança de mentalidade é necessária para alcançar a descentralização: “A minha mentalidade impede ou alavanca os projetos paroquiais e pastorais? O que nós precisamos rever?”. Com a descentralização e a colaboração, aponta Marcelo, é possível construir comunicação a partir de redes, cujos nós desta rede são seus líderes.

Dentre outros pontos, o pesquisador também falou sobre a importância de constantemente estudar comunicação, como maneira de compreender os apelos dos tempos atuais: “por quais motivos devemos estudar comunicação? Primeiro, compreensão. Precisamos compreender que a cultura atual e a nova situação da igreja favorecem o desenvolvimento de modalidades comunicativas que precisamos estar a par. A realidade nos faz buscar isso. Se eu tenho uma equipe que estuda, e eu mesmo estudo, isso nos ajuda a responder os apelos do tempo”.

O exemplo do padre jesuíta Theodor Amstad, fundador do modelo moderno cooperativo, foi utilizado para ilustrar a necessidade da cooperação nas diversas atividades: “Uma grande característica do ser humano é a necessidade de cooperar. Mesmo quando não imaginamos, a necessidade está presente do cotidiano. Percebendo isso, padre Theodor foi uma liderança transformadora através da iniciativa de cooperação que lançou”. Marcelo acrescenta: “O quanto estamos preparados para olhar além do nosso tempo?”.

A dimensão da comunhão, com grande fundamento na Santíssima Trindade, é outra característica fundamental, que está entrelaçada à liderança, comunicação e à cooperação “Se queremos que a comunhão aconteça, os primeiros que devem favorecer a comunhão somos nós. Pessoas abertas a compartilhar conhecimento”. Esta comunhão, que deve acontecer como um modo de vida, também deve passar pelos laços institucionais, como recordou Marcelo: “Como iremos estreitar os laços não apenas entre as dioceses, mas esta comunhão de comunicação que deve haver entre Igreja e meios de comunicação seculares? Um dos objetivos da Pascom é evangelizar os profissionais de comunicação e tambémcriar laços com estes profissionais”.

Suas colocações foram finalizadas com a apresentação de propostas de colaboração entre dioceses e mesmo com o próprio Regional Sul 1. Sugeriu ainda a criação de um núcleo de boas práticas, onde cada diocese poderia apresentar seus trabalhos e os modos de superação de desafios, permitindo que tais experiências inspirem outras dioceses e haja intercambio de ideias.

Senso de responsabilidade

Padre Tiago Barbosa e Edite Neves, assessor e coordenadora da Pastoral da Comunicação do Regional Sul 1, respectivamente, finalizaram o encontro lançando palavras de encorajamento para todos os padres assessores. Padre Tiago enfatizou a necessidade e a importância do fortalecimento da comunhão e as expectativas do Regional em relação a cada Diocese no que diz respeito à comunicação.

“Nossa comissão estadual pensou este encontro com o objetivo de nos engajar na fraternidade e nos fortalecermos na comunhão. Assim, lá em nossas bases, junto ao povo, nos sintamos responsáveis pela comunicação nas dioceses”, recordou padre Tiago. A colaboração das Dioceses com o Regional foi apresentada por padre Tiago como uma urgência, além da elaboração de um plano pastoral de comunicação para garantir a continuidade dos trabalhos a longo prazo.

Anunciou o lançamento da “Com Você”, a Escola Permanente de Comunicação do Regional no segundo semestre de 2024. Trata-se de uma iniciativa do Regional para oferecer de maneira ampla formação sobre comunicação para os agentes da Pascom na modalidade online, garantindo melhor capacitação para os voluntários que nem sempre possuem formação na área. “No coração da Escola está a transversalidade, compreendendo que a comunicação passa por e está com cada pastoral da Igreja”, afirma padre Tiago.

O encontro contou ainda com a presença de Dom Frei João Bosco Barbosa de Sousa, bispo diocesano de Osasco e referencial para a Comunicação do Estado de São Paulo. Aos padres, Dom João manifestou sua admiração com o número expressivo de padres presentes no encontro. Disse estar surpreso em saber que este é o único regional da CNBB que realiza um encontro com os padres Assessores da Pastoral da Comunicação: “eu gostaria que outros regionais também tivessem essa experiência para proporcionarmos uma comunicação eclesial mais eficaz”.

Fonte: Site CNBB Regional Sul 1

Texto: Pe. Rodrigo Antônio da Silva | Assessor da Pascom da Diocese de Campo Limpo

Fotos: Mauricio Aoki | Pascom Arquidiocese de Campinas

Encontro com Padres Assessores da Pascom - CNBB Regional Sul 1
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Missa Diocesana das Comunicações Sociais 2024

No dia 11 de maio, tivemos a alegria de celebrar a Missa Diocesana das Comunicações Sociais na Paróquia São Francisco – Nações. Presidida por Dom Edmilson e concelebrada pelos Pe. Marcos Vinícius, assessor da Pascom, e Pe. Fernando Benetti, pároco da São Francisco, a celebração foi um verdadeiro exemplo de beleza e dedicação.

A missa foi meticulosamente preparada, e cada detalhe refletiu o empenho e a paixão das equipes envolvidas. Desde a decoração até a liturgia, tudo foi pensado para garantir que a mensagem do dia fosse transmitida com clareza e fervor. Nossos corações se encheram de gratidão ao testemunhar o trabalho duro e o cuidado das equipes que cuidaram de cada aspecto da celebração, garantindo que tudo corresse perfeitamente.

Logo no início, Dom Edmilson fez uma reflexão sobre a carta sobre as Comunicações Sociais, ressaltando a importância de “nutrir o coração da liberdade, que cresce na sabedoria”, uma mensagem que nos convida a refletir sobre o papel da comunicação na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. A missa nos lembrou que, como cristãos, devemos usar as ferramentas de comunicação não só para disseminar informações, mas para espalhar o amor e a compaixão de Cristo.

Após a celebração, a comunidade se reuniu para um jantar de confraternização, um momento de partilha e alegria que reforçou os laços entre todos os presentes. Foi uma oportunidade para conversar, trocar experiências e celebrar juntos a missão compartilhada de comunicar com propósito e coração.

Estamos profundamente agradecidos a todos que participaram e contribuíram para tornar este evento um sucesso. Que possamos continuar a usar nossas vozes e nossos meios para construir pontes de entendimento e paz, seguindo sempre o exemplo de Cristo.

Obrigado por serem parte desta bela jornada de fé e comunicação!

 

Pascom – Diocese de Guarulhos

Missa Diocesana da Comunicação 2024
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Mensagem do Papa Francisco para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais

“Inteligência artificial e sabedoria do coração: por uma comunicação plenamente humana”

Queridos irmãos e irmãs!

A evolução dos sistemas da chamada «inteligência artificial», sobre a qual já me debrucei na recente Mensagem para o Dia Mundial da Paz, está a modificar de forma radical também a informação e a comunicação e, através delas, algumas bases da convivência civil. Trata-se duma mudança que afeta não só aos profissionais, mas a todos. A rápida difusão de maravilhosas invenções, cujo funcionamento e potencialidades são indecifráveis para a maior parte de nós, suscita um espanto que oscila entre entusiasmo e desorientação e põe-nos inevitavelmente diante de questões fundamentais: O que é então o homem, qual é a sua especificidade e qual será o futuro desta nossa espécie chamada homo sapiens na era das inteligências artificiais? Como podemos permanecer plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso?

A partir do coração

Antes de mais nada, convém limpar o terreno das leituras catastróficas e dos seus efeitos paralisadores. Já há um século Romano Guardini, refletindo sobre a técnica e o homem, convidava a não se inveterar contra o «novo» na tentativa de «conservar um mundo belo condenado a desaparecer». Ao mesmo tempo, porém, com veemência profética advertia: «O nosso posto é no devir. Devemos inserir-nos nele, cada um no seu lugar (…), aderindo honestamente, mas permanecendo sensíveis, com um coração incorruptível, a tudo o que nele houver de destrutivo e não-humano». E concluía: «Trata- se – é verdade – de problemas de natureza técnica, científica e política; mas só podem ser resolvidos passando pelo homem. Deve-se formar um novo tipo humano, dotado duma espiritualidade mais profunda, duma nova liberdade e duma nova interioridade». [1]

Neste tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano. [2] Somente dotando-nos dum olhar espiritual, apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana. O coração, entendido biblicamente como sede da liberdade e das decisões mais importantes da vida, é símbolo de integridade e de unidade, mas evoca também os afetos, os desejos, os sonhos, e sobretudo é o lugar interior do encontro com Deus. Por isso a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós.

Esta sabedoria do coração deixa-se encontrar por quem a busca e deixa-se ver a quem a ama; antecipa-se a quem a deseja e vai à procura de quem é digno dela (cf. Sab 6, 12-16). Está com quem aceita conselho (cf. Pr 13, 10), com quem tem um coração dócil, um coração que escuta (cf. 1 Re 3, 9). É um dom do Espírito Santo, que permite ver as coisas com os olhos de Deus, compreender as interligações, as situações, os acontecimentos e descobrir o seu sentido. Sem esta sabedoria, a existência torna-se insípida, pois é precisamente a sabedoria que dá gosto à vida: a sua raiz latina sapere associa-a ao sabor.

Oportunidade e perigo

Não podemos esperar esta sabedoria das máquinas. Embora o termo inteligência artificial já tenha suplantado o termo mais correto utilizado na literatura científica de machine learning (aprendizagem automática), o próprio uso da palavra «inteligência» é falacioso. É certo que as máquinas têm uma capacidade imensamente maior que os seres humanos de memorizar os dados e relacioná-los entre si, mas compete ao homem, e só a ele, descodificar o seu sentido. Não se trata, pois, de exigir das máquinas que pareçam humanas; mas de despertar o homem da hipnose em que cai devido ao seu delírio de omnipotência, crendo-se sujeito totalmente autónomo e autorreferencial, separado de toda a ligação social e esquecido da sua condição de criatura.

Realmente o homem sempre teve experiência de não se bastar a si mesmo, e procura superar a sua vulnerabilidade valendo-se de todos os meios. Partindo dos primeiros instrumentos pré-históricos, utilizados como prolongamento dos braços, passando pelos meios de comunicação como extensão da palavra, chegamos hoje às máquinas mais sofisticadas que funcionam como auxílio do pensamento. Entretanto cada uma destas realidades pode ser contaminada pela tentação primordial de se tornar como Deus sem Deus (cf. Gen 3), isto é, a tentação de querer conquistar com as próprias forças aquilo que deveria, pelo contrário, acolher como dom de Deus e viver na relação com os outros.

Cada coisa nas mãos do homem torna-se oportunidade ou perigo, segundo a orientação do coração. O próprio corpo, criado para ser lugar de comunicação e comunhão, pode tornar-se instrumento de agressão. Da mesma forma, cada prolongamento técnico do homem pode ser instrumento de amoroso serviço ou de domínio hostil. Os sistemas de inteligência artificial podem contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações. Por exemplo, podem tornar acessível e compreensível um património enorme de conhecimentos, escrito em épocas passadas, ou permitir às pessoas comunicarem em línguas que lhes são desconhecidas. Mas simultaneamente podem ser instrumentos de «poluição cognitiva», alteração da realidade através de narrações parcial ou totalmente falsas, mas acreditadas – e partilhadas – como se fossem verdadeiras. Basta pensar no problema da desinformação que enfrentamos, há anos, no caso das fake news [3] e que hoje se serve da deep fake, isto é, da criação e divulgação de imagens que parecem perfeitamente plausíveis mas são falsas (já me aconteceu a mim também ser objeto delas), ou mensagens-áudio que usam a voz duma pessoa, dizendo coisas que ela própria nunca disse. A simulação, que está na base destes programas, pode ser útil nalguns campos específicos, mas torna-se perversa quando distorce as relações com os outros e com a realidade.

Já desde a primeira vaga de inteligência artificial – a das redes sociais – compreendemos a sua ambivalência, constatando a par das oportunidades também os riscos e as patologias. O segundo nível de inteligências artificiais geradoras marca, indiscutivelmente, um salto qualitativo. Por conseguinte é importante ter a possibilidade de perceber, compreender e regulamentar instrumentos que, em mãos erradas, poderiam abrir cenários negativos. Os algoritmos, como tudo o mais que sai da mente e das mãos do homem, não são neutros. Por isso é necessário prevenir propondo modelos de regulamentação ética para contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial e contrastar a sua utilização para a redução do pluralismo, a polarização da opinião pública ou a construção do pensamento único. Assim reitero aqui a minha exortação à «Comunidade das Nações a trabalhar unida para adotar um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas». [4] Entretanto, como em todo o âmbito humano, não é suficiente a regulamentação.

Crescer em humanidade

Somos chamados a crescer juntos, em humanidade e como humanidade. O desafio que temos diante de nós é realizar um salto de qualidade para estarmos à altura duma sociedade complexa, multiétnica, pluralista, multirreligiosa e multicultural. Cabe a nós questionar-nos sobre o progresso teórico e a utilização prática destes novos instrumentos de comunicação e conhecimento. As suas grandes possibilidades de bem são acompanhadas pelo risco de que tudo se transforme num cálculo abstrato que reduz as pessoas a dados, o pensamento a um esquema, a experiência a um caso, o bem ao lucro, com o risco sobretudo de que se acabe por negar a singularidade de cada pessoa e da sua história, dissolvendo a realidade concreta numa série de dados estatísticos.

A revolução digital pode tornar-nos mais livres, mas certamente não conseguirá fazê-lo se nos prender nos modelos designados hoje como echo chamber (câmara de eco). Nestes casos, em vez de aumentar o pluralismo da informação, corre-se o risco de se perder num pântano anónimo, favorecendo os interesses do mercado ou do poder. Não é aceitável que a utilização da inteligência artificial conduza a um pensamento anónimo, a uma montagem de dados não certificados, a uma desresponsabilização editorial coletiva. A representação da realidade por big data (grandes dados), embora funcional para a gestão das máquinas, implica na realidade uma perda substancial da verdade das coisas, o que dificulta a comunicação interpessoal e corre o risco de danificar a nossa própria humanidade. A informação não pode ser separada da relação existencial: implica o corpo, o situar-se na realidade; pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha.

Penso na narração das guerras e naquela «guerra paralela» que se trava através de campanhas de desinformação. E penso em tantos repórteres que ficam feridos ou morrem no local em efervescência para nos permitir a nós ver o que viram os olhos deles. Pois só tocando pessoalmente o sofrimento das crianças, das mulheres e dos homens é que poderemos compreender o caráter absurdo das guerras.

A utilização da inteligência artificial poderá proporcionar um contributo positivo no âmbito da comunicação, se não anular o papel do jornalismo no local, antes pelo contrário se o apoiar; se valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador; se devolver a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, da própria comunicação.

Interrogativos de hoje e de amanhã

E surgem, espontâneas, algumas questões: Como tutelar o profissionalismo e a dignidade dos trabalhadores no campo da comunicação e da informação, juntamente com a dos utentes em todo o mundo? Como garantir a interoperabilidade das plataformas? Como fazer com que as empresas que desenvolvem plataformas digitais assumam as suas responsabilidades relativamente ao que divulgam daí tirando os seus lucros, de forma análoga ao que acontece com os editores dos meios de comunicação tradicionais? Como tornar mais transparentes os critérios subjacentes aos algoritmos de indexação e desindexação e aos motores de pesquisa, capazes de exaltar ou cancelar pessoas e opiniões, histórias e culturas? Como garantir a transparência dos processos de informação? Como tornar evidente a paternidade dos escritos e rastreáveis as fontes, evitando o para-vento do anonimato? Como deixar claro se uma imagem ou um vídeo retrata um acontecimento ou o simula? Como evitar que as fontes se reduzam a uma só, a um pensamento único elaborado algoritmicamente? E, ao contrário, como promover um ambiente adequado para salvaguardar o pluralismo e representar a complexidade da realidade? Como podemos tornar sustentável este instrumento poderoso, caro e extremamente energívoro? Como podemos torná-lo acessível também aos países em vias de desenvolvimento?

A partir das respostas a estas e outras questões compreenderemos se a inteligência artificial acabará por construir novas castas baseadas no domínio informativo, gerando novas formas de exploração e desigualdade ou se, pelo contrário, trará mais igualdade, promovendo uma informação correta e uma maior consciência da transição de época que estamos a atravessar, favorecendo a escuta das múltiplas carências das pessoas e dos povos, num sistema de informação articulado e pluralista. Dum lado, vemos assomar o espetro duma nova escravidão, do outro uma conquista de liberdade; dum lado, a possibilidade de que uns poucos condicionem o pensamento de todos, do outro a possibilidade de que todos participem na elaboração do pensamento.

A resposta não está escrita; depende de nós. Compete ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria. Esta sabedoria amadurece valorizando o tempo e abraçando as vulnerabilidades. Cresce na aliança entre as gerações, entre quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro. Somente juntos é que cresce a capacidade de discernir, vigiar, ver as coisas a partir do seu termo. Para não perder a nossa humanidade, procuremos a Sabedoria que existe antes de todas as coisas (cf. Sir 1, 4), que, passando através dos corações puros, prepara amigos de Deus e profetas (cf. Sab 7, 27): há de ajudar-nos também a orientar os sistemas da inteligência artificial para uma comunicação plenamente humana.

Roma – São João de Latrão, 24 de janeiro de 2024.

[Francisco]


[1] Cartas do Lago de Como (Brescia 52022), 95-97

[2] Em continuidade com as anteriores Mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, dedicadas a «encontrar as pessoas onde estão e como são» (2021), «escutar com o ouvido do coração» (2022) e «falar com o coração» (2023).

[3] Cf. Mensagem para o LII Dia Mundial das Comunicações (2018): «“A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz».

[4] Mensagem para o LVII Dia Mundial da Paz: 1 de janeiro de 2024, 8.

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Retiro Espiritual da Pastoral da Comunicação da Diocese de Guarulhos: Um Encontro Profundo com a Espiritualidade

No último dia 14 de abril, o Seminário Diocesano Imaculada Conceição, em Guarulhos, foi palco de um momento marcante no calendário anual da Pastoral da Comunicação (Pascom) da Diocese de Guarulhos: o retiro espiritual. Sob a orientação e inspiração da renomada irmã Nilza Silva, do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt, cerca de 80 participantes se reuniram para uma jornada de reflexão e conexão espiritual.

Com uma vasta experiência como jornalista e assessora nacional de comunicação do Movimento Apostólico de Schoenstatt, irmã Nilza trouxe uma abordagem única e inspiradora ao tema central do retiro: “Vida de Oração”. Esta temática se revela como um dos pilares fundamentais da Pascom, evidenciando a importância de nutrir a espiritualidade para fortalecer o trabalho de comunicação dentro da Igreja.

Ao longo do dia, os participantes tiveram a oportunidade de explorar reflexões mais profundas sobre o papel da Pascom. Em um ambiente de acolhimento e partilha, foram abordados diversos tópicos relacionados à comunicação, desde a importância da escuta atenta até a responsabilidade ética no compartilhamento da mensagem cristã.

Além disso, vivenciaram um momento de intensa espiritualidade diante do Santíssimo Sacramento, conduzido com maestria pelo Diácono Permanente José Célio, que proporcionou um espaço de recolhimento e comunhão espiritual.

O ápice do retiro se deu com a celebração da Santa Missa, presidida pelo Padre Marcos Vinicius, assessor diocesano da Pascom de Guarulhos. Sob a luz das velas e a atmosfera de serenidade proporcionada pelo ambiente, os participantes puderam renovar seus votos de serviço à comunicação evangelizadora, fortalecidos pela experiência espiritual compartilhada ao longo do dia.

Este retiro espiritual não apenas fortaleceu os laços entre os membros da Pascom, mas também reacendeu o compromisso com a missão de comunicar a mensagem do Evangelho com autenticidade e fervor.

Que os ensinamentos e as vivências deste dia possam ecoar em cada coração, impulsionando-os a continuar sendo instrumentos de comunicação e amor ao próximo em suas comunidades.

 

Pascom Diocesana

 

Confira as fotos do Retiro:

Retiro Espiritual da Pascom
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Pascom Guarulhos realiza Assembleia Diocesana

Aconteceu na tarde do dia 17/02, a assembleia diocesana da pascom, com a presença dos coordenadores da pascom de Guarulhos.

O evento aconteceu na Paróquia Nossa Senhora Aparecida do cocaia, situada na Av. Tiradentes.

Esta assembleia foi uma oportunidade única para compartilharmos experiências, discutimos ideias e planejarmos as atividades futuras. Nela também foi apresentada a mensagem do Papa Francisco para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se realizará em maio deste ano.

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Pastoral da comunicação diocesana participa do 13º Muticom em João Pessoa-PB

A pastoral da comunicação da Diocese esteve representada por seu assessor eclesiástico, coordenador diocesano e membros da coordenação diocesana no 13 Mutirão de Comunicação realizado em João Pessoa – Paraíba. Juntos assumimos a carta de compromisso dos comunicadores de todo o Brasil.

O 13º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom) foi concluído com a Santa Missa do XV Domingo do Tempo Comum, na tarde de sábado, 15 de julho. O evento, no Centro de Convenções de João Pessoa, no estado da Paraíba, iniciou na quinta-feira, 13 de julho, com o tema: “Comunicar para a cultura do encontro”.

Ao final da celebração aconteceu o anúncio da cidade-sede que irá acolher o 14º Muticom, em 2025. Acolhendo uma das pautas levantadas durante o Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom), em 2022, o evento será realizado em Manaus, capital do estado do Amazonas.

Além do anúncio, na Missa foi feita a leitura da carta-compromisso fruto do 13º Muticom.

“Motivados pela força transformadora do Evangelho, comprometemo-nos a trilhar este caminho, assumindo a escuta como condição essencial para nos encontrarmos em todos os ambientes e base para um mundo mais unido e reconciliado.”

A Missa que concluiu o 13º Muticom foi presidida por dom Valdir José de Castro, e concelebrada por diversos bispos, padres e diáconos que participaram do encontro. “Precisamos semear a semente da Palavra pelos diferentes meios, mas sobretudo, com a própria vida. Mas, antes, precisamos deixar que a Palavra germine em nós”, refletiu o presidente da celebração e da Comissão da CNBB para a Comunicação.

O bispo ainda refletiu que o Muticom não é um ponto de chegada, mas de partida. “A cultura do encontro é o único caminho que temos para uma sociedade de humanidade e fraternidade”.

 

Fonte: Pascom Brasil

13º Muticom - João Pessoa-PB
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Missa Diocesana da Comunicação – 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais

Queridos irmãos e irmãs na fé,

É com grande alegria que relatamos a celebração da Missa Diocesana das Comunicações Sociais que aconteceu no último domingo, dia 21, na Paróquia São José, marcando o Dia da Ascensão do Senhor. Presidida por nosso estimado Bispo Dom Edmilson e concelebrada pelo Padre Marcos Vinícius, assessor eclesiástico, Padre Vinícius, vigário da Paróquia São José, e Padre Salvador, a cerimônia foi um marco espiritual para nossa diocese.

Nesta missa, foi notório o reconhecimento das inúmeras pastorais da comunicação que servem nossa diocese, destacando-se a entrega do Selo Diocesano pelas mãos de Dom Edmilson. Este gesto simboliza nosso reconhecimento e gratidão pelo trabalho incansável destes agentes, sempre engajados em levar a palavra de Deus e a missão da Igreja aos mais diversos cantos de nossa comunidade.

No espírito de “Falar com o coração. ‘Testemunhando a verdade no amor’ (Ef 4, 15)”, tema deste ano, Dom Edmilson proferiu uma homilia inspiradora, instando-nos a ouvir com coração puro e falar, testemunhando a verdade no amor. Lembrou-nos das palavras de Jesus, que nos ensina a conhecer cada árvore por seus frutos (Lc 6, 44) e ressaltou que a comunicação eficaz e genuína exige a purificação do coração.

Na celebração, estavam presentes aproximadamente 350 agentes da Pastoral da Comunicação (Pascom), um grupo cheio de fé e entusiasmo que, como bons arautos, dedicam-se a transmitir a Boa Nova de Cristo através dos meios de comunicação.

Após a Santa Missa, tivemos um almoço de confraternização, um momento de comunhão e alegria, reforçando os laços de amizade e colaboração entre todos os presentes.

Queridos irmãos e irmãs, no mundo de hoje, muitas vezes tumultuado e dividido, o papel da comunicação na vida da Igreja nunca foi tão vital. Vamos juntos, escutar e falar com o coração, promovendo a paz, o amor e a unidade em nossa comunidade e além.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês!

 

Pascom – Diocese de Guarulhos

Missa Diocesana das Comunicações Sociais
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“FALAR COM O CORAÇÃO”, CONVIDA O PAPA NA MENSAGEM PARA O 57º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

O vaticano divulgou nesta terça-feira, 24, a mensagem do Papa Francisco para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que será celebrado, este ano, em 21 de maio. A data de divulgação celebra a memória de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, e neste ano tem como tema Falar com o coração. “Testemunhando a verdade no amor” (Ef 4, 15) 

O Papa Francisco recorda as mensagens anteriores e afirma que “foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora”. Permeado por citações e inspirações da Palavra de Deus, o texto recorda que “o apelo para se falar com o coração interpela radicalmente este nosso tempo, tão propenso à indiferença e à indignação, baseada por vezes até na desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade.”

São Francisco de Sales é invocado como um exemplo de quem falava com o coração. Na carta, o Papa Francisco recorda o quarto centenário de sua morte, celebrado em 2023, e a carta apostólica recém lançada. O pontífice recorda que “para ele, a comunicação nunca deveria reduzir-se a um artifício, a uma estratégia de marketing – diríamos nós hoje –, mas era o reflexo do íntimo, a superfície visível dum núcleo de amor invisível aos olhos.”

Considerando o andamento do Sínodo sobre sinodalidade, Fransciso expressa seu desejo para a comunicação neste processo: “uma comunicação que coloque no centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado, e esteja mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial. Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor.”

O contexto da desinformação e as situações conflituosas no planeta também são citadas pelo Papa, convidando os comunicadores à promoção da cultura da paz. “Precisamos de comunicadores prontos a dialogar, ocupados na promoção dum desarmamento integral e empenhados em desmantelar a psicose bélica que se aninha nos nossos corações.”

Confira a íntegra da mensagem do Papa.

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O 57º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

 Falar com o coração.

“Testemunhando a verdade no amor” (Ef 4, 15)

Estimados irmãos e irmãs!

Depois de ter refletido, nos anos anteriores, sobre os verbos “ir e ver” e “escutar” como condição necessária para uma boa comunicação, com esta Mensagem para o LVII Dia Mundial das Comunicações Sociais gostaria de me deter sobre o “falar com o coração”. Foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora. Após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente. E, se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor (cf. Ef 4, 15). Não devemos ter medo de proclamar a verdade, por vezes incômoda, mas de o fazer sem amor, sem coração. Com efeito “o programa do cristão – como escreveu Bento XVI – é ‘um coração que vê’”.[1] Trata-se de um coração que revela, com o seu palpitar, o nosso verdadeiro ser e, por essa razão, deve ser ouvido. Isto leva o ouvinte a sintonizar-se no mesmo comprimento de onda, chegando ao ponto de sentir no próprio coração também o pulsar do outro. Então pode ter lugar o milagre do encontro, que nos faz olhar uns para os outros com compaixão, acolhendo as fragilidades recíprocas com respeito, em vez de julgar a partir dos boatos semeando discórdia e divisões.

Jesus chama-nos a atenção de que cada árvore se conhece pelo seu fruto (cf. Lc 6, 44). De igual modo “o homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro, tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração” (6, 45). Por conseguinte, para se poder comunicar testemunhando a verdade no amor, é preciso purificar o próprio coração. Só ouvindo e falando com o coração puro é que podemos ver para além das aparências, superando o rumor confuso que, mesmo no campo da informação, não nos ajuda a fazer o discernimento na complexidade do mundo em que vivemos. O apelo para se falar com o coração interpela radicalmente este nosso tempo, tão propenso à indiferença e à indignação, baseada por vezes até na desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade. 

Comunicar cordialmente

Comunicar cordialmente quer dizer que a pessoa que nos lê ou escuta é levada a deduzir a nossa participação nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimentos das mulheres e homens do nosso tempo. Quem assim fala, ama o outro, pois preocupa-se com ele e salvaguarda a sua liberdade, sem a violar. Podemos ver este estilo no misterioso Viandante que dialoga com os discípulos a caminho de Emaús depois da tragédia que se consumou no Gólgota. A eles, Jesus ressuscitado fala com o coração, acompanhando com respeito o caminho da sua amargura, propondo-Se e não Se impondo, abrindo-lhes amorosamente a mente à compreensão do sentido mais profundo do sucedido. De facto, eles podem exclamar com alegria que o coração lhes ardia no peito enquanto Ele conversava pelo caminho e lhes explicava as Escrituras (cf. Lc 24, 32).

Num período da história marcado por polarizações e oposições – de que, infelizmente, nem a comunidade eclesial está imune – o empenho em prol duma comunicação “de coração e braços abertos” não diz respeito exclusivamente aos agentes da informação, mas é responsabilidade de cada um. Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la, fazendo-o com amor. De modo particular nós, cristãos, somos exortados a guardar continuamente a língua do mal (cf. Sl 34, 14), pois com ela – como ensina a Escritura – podemos bendizer o Senhor e amaldiçoar os homens feitos à semelhança de Deus (cf. Tg 3, 9). Da nossa boca, não deveriam sair palavras más, “mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam” (Ef 4, 29).

Por vezes, o falar amável abre uma brecha até nos corações mais endurecidos. Encontramos vestígios disto na própria literatura; penso naquela página memorável do cap. XXI do livro Promessi Sposi, onde Luzia fala com o coração ao Inominável até que este, desarmado e atormentado por uma benéfica crise interior, cede à força gentil do amor. Experimentamo-lo na convivência social, onde a gentileza não é questão apenas de «etiqueta», mas um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações. Precisamos daquele falar amável no âmbito dos mass media, para que a comunicação não fomente uma aversão que exaspere, gere ódio e conduza ao confronto, mas ajude as pessoas a refletir calmamente, a decifrar com espírito crítico e sempre respeitoso a realidade onde vivem. 

A comunicação de coração a coração: “Basta amar bem para dizer bem”

Um dos exemplos mais luminosos e, ainda hoje, fascinantes deste “falar com o coração” temo-lo em São Francisco de Sales, Doutor da Igreja, a quem dediquei recentemente a Carta Apostólica Totum amoris est, nos 400 anos da sua morte. A par deste aniversário importante e relacionado com a mesma circunstância, apraz-me recordar outro que se celebra neste ano de 2023: o centenário da sua proclamação como padroeiro dos jornalistas católicos, feita por Pio XI com a Encíclica Rerum omnium perturbationem. Mente brilhante, escritor fecundo, teólogo de grande profundidade, Francisco de Sales foi bispo de Genebra no início do século XVII, em anos difíceis marcados por animadas disputas com os calvinistas. A sua mansidão, humanidade e predisposição a dialogar pacientemente com todos, e de modo especial com quem se lhe opunha, fizeram dele uma extraordinária testemunha do amor misericordioso de Deus. Dele se pode dizer que as suas “palavras amáveis multiplicam os amigos, a linguagem afável atrai muitas respostas agradáveis” (Sir 6, 5). Aliás uma das suas afirmações mais célebres – “o coração fala ao coração” – inspirou gerações de fiéis, entre os quais se conta São John Henry Newman que a escolheu para seu lema: Cor ad cor loquitur. “Basta amar bem para dizer bem”: constituía uma das suas convicções. Isto prova como, para ele, a comunicação nunca deveria reduzir-se a um artifício, a uma estratégia de marketing – diríamos nós hoje –, mas era o reflexo do íntimo, a superfície visível dum núcleo de amor invisível aos olhos. Para São Francisco de Sales, precisamente “no coração e através do coração é que se realiza aquele sutil e intenso processo unitário em virtude do qual o homem reconhece a Deus”.[2] “Amando bem”, São Francisco conseguiu comunicar com o surdo-mudo Martinho tornando-se seu amigo, e daí ser recordado também como protetor das pessoas com deficiências comunicativas.

É a partir deste “critério do amor” que o santo bispo de Genebra nos recorda, através dos seus escritos e do próprio testemunho de vida, que “somos aquilo que comunicamos”: uma lição contracorrente hoje, num tempo em que, como experimentamos particularmente nas redes sociais, a comunicação é muitas vezes instrumentalizada para que o mundo nos veja, não por aquilo que somos, mas como desejaríamos ser. São Francisco de Sales difundiu em grande número cópias dos seus escritos na comunidade de Genebra. Esta intuição “jornalística” valeu-lhe uma fama que superou rapidamente o perímetro da sua diocese e perdura ainda nos nossos dias. Como observou São Paulo VI, os seus escritos suscitam “uma leitura sumamente agradável, instrutiva e estimulante”.[3] Pensando no atual panorama da comunicação, não são estas precisamente as caraterísticas de que se deveriam revestir um artigo, uma reportagem, um serviço radiotelevisivo ou uma mensagem nas redes sociais? Possam os agentes da comunicação sentir-se inspirados por este Santo da ternura, procurando e narrando a verdade com coragem e liberdade, mas rejeitando a tentação de usar expressões sensacionalistas e agressivas. 

Falar com o coração no processo sinodal

Como já tive oportunidade de salientar, “também na Igreja há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos. É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros”.[4] Duma escuta sem preconceitos, atenta e disponível, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura. Na Igreja, temos urgente necessidade duma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs. Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milênio. Uma comunicação que coloque no centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado, e esteja mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial. Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor. 

Desarmar os ânimos promovendo uma linguagem de paz

“A língua branda pode até quebrar ossos”: lê-se no livro dos Provérbios (25, 15). Hoje é tão necessário falar com o coração para promover uma cultura de paz, onde há guerra; para abrir sendas que permitam o diálogo e a reconciliação, onde campeiam o ódio e a inimizade. No dramático contexto de conflito global que estamos a viver, urge assegurar uma comunicação não hostil. É necessário vencer “o hábito de denegrir rapidamente o adversário, aplicando-lhe atributos humilhantes, em vez de se enfrentarem num diálogo aberto e respeitoso”.[5] Precisamos de comunicadores prontos a dialogar, ocupados na promoção dum desarmamento integral e empenhados em desmantelar a psicose bélica que se aninha nos nossos corações, como exortava profeticamente São João XXIII na Encíclica Pacem in terris: “a verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio [de armamentos], mas sim e exclusivamente na confiança mútua” (n.º 113). Uma confiança que precisa de comunicadores não postos à defesa, mas ousados e criativos, prontos a arriscar na procura dum terreno comum onde encontrar-se. Também agora, como há 60 anos, a humanidade vive uma hora escura temendo uma escalada bélica, que deve ser travada o mais depressa possível, inclusivamente em termos de comunicação. Fica-se apavorado ao ouvir com quanta facilidade se pronunciam palavras que invocam a destruição de povos e territórios; palavras que, infelizmente, se convertem muitas vezes em ações bélicas de celerada violência. Por isso mesmo há que rejeitar toda a retórica belicista, assim como toda a forma de propaganda que manipula a verdade, deturpando-a com finalidades ideológicas. Em vez disso seja promovida, a todos os níveis, uma comunicação que ajude a criar as condições para se resolverem as controvérsias entre os povos.

Como cristãos, sabemos que é precisamente na conversão do coração que se decide o destino da paz, pois o vírus da guerra provém do íntimo do coração humano.[6] Do coração brotam as palavras certas para dissipar as sombras dum mundo fechado e dividido e construir uma civilização melhor do que aquela que recebemos. É um esforço que é exigido a todos e cada um de nós, mas faz apelo de modo particular ao sentido de responsabilidade dos agentes da comunicação a fim de realizarem a própria profissão como uma missão.

Que o Senhor Jesus, Palavra pura que brota do coração do Pai, nos ajude a tornar a nossa comunicação livre, limpa e cordial.

Que o Senhor Jesus, Palavra que Se fez carne, nos ajude a colocar-nos à escuta do palpitar dos corações, para nos reconhecermos como irmãos e irmãs e desativarmos a hostilidade que divide.

Que o Senhor Jesus, Palavra de verdade e caridade, nos ajude a dizer a verdade no amor, para nos sentirmos guardiões uns dos outros.

Roma – São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2023.

FRANCISCO

 

Fonte: Pascom Brasil e Vatican News