“No primeiro dia da semana elas foram ao túmulo levando aromas…”
O túmulo é o símbolo da morte, símbolo do fim de todos os entraves da vida e símbolo de todas as coisas que não conseguimos vencer com as nossas forças. Cada um pode aqui elencar os seus próprios fracassos e pecados que são comparáveis ao túmulo.
Além disso, podemos nos sentir imóveis, conformados e decepcionados com a falta de vivência dos valores do Reino na sociedade e vemos tantas conquistas desbaratadas por poderes mortíferos e a incapacidade de ter voz de anúncio do Reino, quando tantas vozes tentam sufocar a nossa fé. Tantos anos de trabalho evangelizador em Guarulhos e não vemos aparentemente fruto abundante.
As mulheres vão ao túmulo para um ritual costumeiro. Algo que pode transparecer como conformismo diante da morte que não pode ser vencida. São muitos os sofrimentos de morte em nossas vidas e vamos arcados com eles ao túmulo, como que nos conformando com as várias realidades para as quais nos sentimos inertes.
“Encontraram a pedra removida…não encontraram o corpo do Senhor Jesus.”
A grande pedra removida e o túmulo vazio são sinais de que algo forte aconteceu. Constatar primeiramente que a realidade de morte e fracasso pode ter novos desdobramentos é uma grande possibilidade de ir além. A primeira constatação que nos faz o anúncio pascal é que o “depósito da morte” está vazio. A morte não está ali dominando.
Quando vemos em nossas comunidades pessoas restauradas pelo amor misericordioso de Deus; jovens e adultos buscando a Palavra e serem iniciados na fé cristã; crianças animadas na catequese; uma Pastoral Familiar, com todas as suas expressões, que trazem a alegria do Evangelho da Família; jovens interessados no discernimento vocacional etc. Sentimos que, apesar do túmulo, a morte não está aí dominando.
“Cheias de medo, inclinaram o rosto para o chão…Ele não está aqui; ressuscitou…Lembrai-vos de como vos falou…É preciso que o Filho do homem seja entregue às mãos dos pecadores, seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia.”
Quando o improvável acontece, temos medo. Inclinamos o rosto para o chão, como reverência ao mistério ou assentimento à verdade dos fatos que não somos capazes de explicar. As palavras de Jesus, acolhidas verdadeiramente, vão nos esclarecendo e dando sentido até mesmo aos nossos momentos de fracasso e aparente derrota. Somente Jesus Cristo dá sentido à vida. Somente Jesus Cristo revela ao homem a grandeza do ser humano. Somente o anúncio da ressurreição, o anúncio do ressuscitado, nos faz caminhar por cima da morte. Somente este anúncio faz-nos passar da morte para a vida. Faz-nos fazer Páscoa.
“Elas lembraram-se das palavras de Jesus…anunciaram tudo isso aos onze, bem como a todos os outros.
É este anúncio reverberado em nós que que nos arranca ao medo e nos faz enxergar que para além dos poderes mortíferos, existe a vida que impera. Não há voz alguma que tente sufocar a nossa fé que possa imobilizar-nos. Assim, na força do ressuscitado, vamos adiante com todos os desafios e projetos de uma Igreja Sinodal que intensifica sua vida na comunhão, participação e missão.
“As outras mulheres que estavam com elas disseram-no também aos apóstolos; essas palavras, porém, lhes pareceram desvario, e não lhes deram crédito.”
Neste ano, no qual na Vigília Pascal, proclamamos este trecho do evangelho segundo Lucas, onde as mulheres são apresentadas como primeiras anunciadoras da ressurreição, mostrando-nos todo um processo que vai da decepção e do medo à força extraordinária do anúncio, apesar da incredulidade dos apóstolos. Quero recordar a importância da expressão de fé da alma feminina apresentada nas Escrituras, desde o Antigo Testamento aos relatos da ressurreição, passando pela atuação das mesmas na Igreja nascente até o Documento Final do Sínodo de 2024. Num dos trechos deste documento está dito:
“As mulheres constituem maioria daqueles que frequentam as igrejas e são, constantemente, as primeiras testemunhas da fé nas famílias. São ativas na vida das pequenas comunidades cristãs e nas paróquias; …contribuem para a investigação teológica e estão presentes em posições de responsabilidade nas instituições ligadas à Igreja…Há mulheres que exercem cargos de autoridade ou são responsáveis pela comunidade.” (Documento Final 60).
Vejamos com olhar pascal as mulheres das nossas comunidades. A presença delas e seu testemunho de fé no ressuscitado faz-se presente nas nossas paróquias e comunidades, na vida consagrada, nas novas comunidades e nas diversas pastorais. Graças ao testemunho de fé de tantas mulheres o simbolismo do túmulo vai se redefinindo.
“Pedro…correu ao túmulo…viu apenas os lençóis…voltou para casa, muito surpreso com o que acontecera.”
Celebramos a Páscoa de 2025, ano jubilar da Esperança. Ao terminarmos as celebrações voltamos às nossas casas. Como estamos voltando? Transformados pela ressurreição e fortes para o anúncio, como as mulheres? Apenas surpresos como Pedro, indagando sobre os acontecimentos? Será que voltamos somente satisfeitos por termos cumprido o preceito, após as penitências da Quaresma e prontos para voltar ao modo antigo de vida, isto é, longe da comunidade, longe dos compromissos de vida cristã? Voltar como as mulheres seria o ideal. Voltar como Pedro seria um bom começo. Já a terceira possibilidade nos faria voltar para diante do túmulo com todo o seu antigo simbolismo.
FELIZ PÁSCOA!
O SENHOR RESSUSCITOU VERDADEIRAMENTE, ALELUIA!
+ Edmilson Amador Caetano, O. Cist.
Bispo diocesano de Guarulhos