O Ano Jubilar que estamos vivendo está repleto de imagens e acontecimentos que somos chamados a contemplar e ver a ação de Deus. Entre o final de julho e começo de agosto pudemos assistir o Jubileu dos jovens em Roma. Aquela imagem da multidão de jovens em Tor Vergata, seguramente, faz-nos acreditar que, sim, podemos ser peregrinos de esperança.
Temos um outro acontecimento ligado à juventude que é a canonização do Beato Carlo Acutis, que deveria ter acontecido no dia 27 de abril, mas em virtude da morte do Papa Francisco, foi, posteriormente, transferida para o dia 07 de setembro.
Carlo Acutis (1991-2006), jovem adolescente, que viveu entre o final do século XX e início do século XXI, é um santo que inspira a nossa juventude tão “antenada” com as novas tecnologias. Afinal, ele não foi somente um jovem gamer, mas serviu-se de seu conhecimento técnico de informática para favorecer a obra da evangelização em sua paróquia, na Igreja e na sociedade.
No entanto, a sua santidade não vem dos seus conhecimentos tecnológicos e do trabalho que realizou. A santidade é dom de Deus. Dom que Carlo soube acolher com o impulso do Espírito Santo. Ele, de família católica tradicional, mas nem tanto “praticante”, acolheu o chamado de Deus e na infância, adolescência e início da sua juventude, esforçou-se por ser fiel a Deus e à Igreja. Este seu esforço e fidelidade foram elementos para uma caminhada de conversão para toda sua família. Sua vida desde a infância foi permeada de catequese, oração e adoração, e profundo sentido da força da Eucaristia, celebrada e acolhida como caminho para o céu.
Que os nossos jovens possam olhar para São Carlo Acutis não simplesmente como gamer, antenado no mundo digital, mas como aquele no qual Deus, propõe um caminho de santidade para hoje!
Entretanto, a Providência Divina, através do Papa Leão, nos presenteia com outra canonização na mesma celebração do dia 07 de setembro, a do Beato Pier Giorgio Frassati (1901-1925).
Também ele, proveniente de família católica “tradicional”. Educado em colégios católicos, desde a infância, adolescência e juventude destaca-se – diferentemente da sua família – numa vida eclesial mais engajada: comunhão diária, Cruzada Eucarística, Liga Eucarística, Companhia do Santissimo Sacramento. Congregação Mariana, Confraria do Santo Rosário. Ação Católica. Terciário dominicano, Conferência de São Vicente. Todos movimentos eclesiais que congregavam jovens na Itália do início do século XX. Como Acutis fará um século depois, acolhe o chamado de Deus e busca ser fiel a ele. Sua biografia diz que sua mãe temia que ele fosse querer ser padre, mas há testemunhos de que ele teria dito preferir ser leigo para poder estar mais perto de realidades que ferem a dignidade da pessoa humana.
Era conhecedor da cultura clássica, com destaque para a Divina Comédia, de Dante Aleghieri. A sua experiência de fé possui fundamentos bíblicos (Novo Testamento) e leituras de Santo Agostinho e Santa Catarina de Sena. Amava esportes e alpinismo. Estava prestes a tornar-se engenheiro na área da mineração quando faleceu. Esta escolha ele o fez para poder estar mais perto de uma das classe trabalhadoras mais sofrida na sua realidade.
A sua família era abastada. Seu pai foi fundador de um dos jornais mais fortes da Itália, em Turim, “La Stampa”. Pier Giorgio diante dos acontecimentos sociais do seu tempo, sempre buscou ler os fatos através do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja (lembremos que fazia poucos anos que Leão XIII havia escrito a Rerum Novarum). Esta leitura se torna concreta nele diante do forte avanço da industrialização em Turim, do flagelo da gripe espanhola, dos horrores da I Guerra mundial e do avanço do fascismo na Itália. Para estar mais engajado politicamente inscreveu-se no Partido Popular e se desliga de uma organização universitária onde estava inscrito, por discordar dela devido a condescendência, da mesma, com as ideias fascistas.
Dois santos propostos como exemplos e intercessores para a Igreja e, de modo especial, para juventude. A nossa juventude está sendo “bombardeada” por tantas ideias através das novas tecnologias e por tantas ideologias de polarizações sociais e políticas. A grande tentação é alienar-se ou tomar “partido” buscando refúgio onde se encontra mais seguranças humanas.
Dois jovens – cada um no seu tempo – souberam encontrar caminhos dentro de uma vida eclesial comprometida espiritual, intelectual e socialmente.
Dois jovens que são colocados como padroeiros do nosso VIVA A VIDA, que chega à sua 20ª edição, no mesmo dia da canonização de ambos.
Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.
Bispo diocesano