SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

SÃO PAULO - BRASIL

"A Esperança não decepciona" (Rm 5,5)

LIBERDADE, EDUCAÇÃO E HISTÓRIA

Como as informações podem nos influenciar?

Recentemente a imprensa repercutiu a fala do Youtuber Monark que em seu podcast disse que o Partido nazista deveria existir legalmente. Essa declaração infeliz culminou com o desligamento de Monark dos canais do Youtube. Vale a pena discutir aqui como a falta de conhecimento sobre a história aliada a irresponsabilidade de quem produz esses conteúdos, podem influenciar jovens e crianças e gerar opiniões como as de Monark. A verdade é que, para o bem ou para o mal, as mídias sociais têm um grande peso no processo de educação.

Educar é atribuição da família, mas há muito tempo as famílias perderam essa capacidade e terceirizaram essa função às escolas, que por sua vez, não têm a credibilidade necessária para fazê-lo. O processo de educação implica um vínculo complexo que envolve discussões e diálogos nos quais se ensina e se aprende tudo ao mesmo tempo. Mas os pais chegam em casa cansados e entregam seus filhos aos computadores. O resultado disso é que estamos criando uma geração de pessoas alienadas que consomem passivamente os conteúdos da internet.

O ideal seria discutir com os filhos o que está acontecendo no seu bairro, na sua cidade, no seu Estado, no país e no mundo. Deveriam ler com os filhos sobre os acontecimentos do passado, sobre guerras, escravidão, extermínio de povos, etc. Por que não discutir sobre racismo, perseguição às minorias, xenofobia e homofobia? É importante saber que as crianças sabem manusear o computador e ter acesso a notícias, mas não têm o discernimento para entender o que é falso e o que é verdadeiro. Sem a participação dos pais elas se tornam consumidoras passivas dos grandes Youtubers e das fake news.

O Papa Francisco em sua carta Encíclica Fratelli Tutti, nos lembra que somos todos irmãos e como tais devemos zelar um pelo outro. Nos lembra também que não existem problemas individuais, que afetem uma só pessoa, uma só localidade. Em última análise o problema de um é problema de todos, pois habitamos a terra, casa comum. A verdadeira escola que educa para a vida é aquela em que há a participação de todos: Pais, Escola e Estado, afinal a História não acontece nos noticiários da TV, mas dentro de cada um de nós.

 

Romildo R. Almeida – Psicólogo clínico

POR UMA EDUCAÇÃO INTEGRAL

A Campanha da Fraternidade, nesta quaresma, nos convida a refletir sobre educação. Penso que o tema escolhido pela CNBB é por demais oportuno. Em primeiro lugar por sua relevância para a construção das bases de uma sociedade melhor, mas também porque os efeitos da pandemia global ocasionada pela Covid-19 foram avassaladores nesse campo.

De saída, cabe-nos a pergunta: o que é educar? Gostaria de relembrar que certa vez, um dos alunos de Michelangelo, escolhendo com seu mestre, pedras a serem esculpidas nas montanhas, perguntou-lhe como que, de forma mágica, tais pedras se transformavam em santos, anjos, papas. Respondeu-lhe apontando uma pedra: “aí dentro tem um anjo, basta tirar os excessos que estão sobrando”.

Dessa reflexão já podemos concluir que o processo de educação não se resume à importante tarefa de garantir às crianças e adolescentes boa instrução escolar e desenvolvimento físico. Muito além, ele deve formar o ser humano em sua integralidade, conduzindo-o a desenvolver-se até sua potência máxima, com a iluminação de sua razão e o fortalecimento de sua vontade.

Tenho que dizer uma pobre herança deixaremos se nossos esforços se centrarem em garantir um diploma aos nossos filhos, se, ao fim, se tornarem pessoas sem princípios claros e sólidos, força de vontade para pô-los em prática, e, acima de tudo, sem fé. Eis a sublime missão de educar, que requer paciência e amor, entregues no dia-a-dia, para eliminar os maus hábitos e descobrir as virtudes dos nossos filhos.

Não é demais lembrar que os governos civis podem e devem amparar nossas famílias para prover educação aos nossos filhos. Aliás, a Constituição Federal que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família (art. 225).

A primazia da educação dos filhos, porém, é dos pais, que não podem delegá-la integralmente à escola, a quem cabe complementar os pais em sua missão, na qual são insubstituíveis. A Igreja nos recorda, na Encíclica Divini Illius Magistri, que os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação de prover a educação religiosa, moral e civil da sua prole, e, por isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores.

         Sábias as palavras do Papa Pio XI, que ensinou que “a escola, considerada até nas suas origens históricas, é por sua natureza instituição subsidiária e complementar da família e da Igreja, e portanto, por lógica necessidade moral deve não somente não contraditar, mas harmonizar-se positivamente com os outros dois ambientes, na mais perfeita unidade moral possível, a ponto de poder constituir juntamente com a família e com a Igreja, um único santuário, sacro para a educação cristã, sob pena de falir no seu escopo, e de converter-se, em caso contrário, em obra de destruição”.

Por isso, é necessário que cada família, em sua realidade, invista tempo em educar os filhos na formação das virtudes e do bom caráter.  Além disso, é necessário acompanhar com proximidade a educação ministrada aos filhos na escola, que não tem o direito de, em desserviço à família, desconstruir os princípios e valores transmitidos no lar.

Que essa quaresma seja momento propício para que nos conscientizemos de nosso dever e tomemos as rédeas da educação integral à qual nossos filhos tem direito, ainda que isso signifique abrir mão de outros projetos. Pois não há vitória sem sacrifício. Não há ressurreição sem cruz. E não há missão mais nobre e realizadora, do que levar educar nossos filhos para construir a eternidade aqui, por meio de uma vida santa, para, ao final, levá-los ao Céu.

 

Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, pós-graduando em Teologia, mestre em Direito pela PUC-SP

O presbítero sábio

A vida presbiteral é um contínuo encontro com Deus que diz: “Pede o que quiseres e eu te darei” (1Rs 3,5). Pedir o precioso dom da Sabedoria que vem em nosso auxílio, a exemplo de Salomão, permitindo-nos acolher a vontade de Deus, discernir pelas coisas do alto e conferir a autoridade para conduzir e ensinar como verdadeiros educadores na fé.

O tríplice múnus de governar, santificar e ensinar é assumido de maneira efetiva quando o presbítero é capaz de se reconhecer chamado por Deus para o exercício de tão necessário ministério na vida da Igreja. Em Jesus Cristo encontramos a Sabedoria encarnada que nos atrai para si e nos quer configurados à sua vida de maneira tal que tenhamos a admiração por parte do povo ao nos vê ensinando com a vida que se torna evangelho para tantos.

O presbítero sábio é aquele que não age por si e não atrai para si, mas reconhece que a missão à qual foi chamado é para uma vida de doação sincera ao povo de Deus que deve ser instruído na vida cristã com o que prega a santa Igreja. Não é fácil educar na fé se não estivermos unidos a Deus, sendo dóceis aos apelos do Senhor.

O presbítero sábio é aquele que, como o Apóstolo Paulo, transmite o que recebeu, sem trair a fé, a Palavra e o ensinamento dos apóstolos. Ao mesmo tempo, é aquele que reconhece a sua pequenez diante da grandeza de Deus e da missão. Por isso, o presbítero sábio é o que busca por primeiro o Reino de Deus e ensina o povo a também buscar o essencial na vida.

Diante dos tantos desafios, das muitas exigências, das escolhas cotidianas, da necessidade da escuta, dos pedidos de respostas, da desumanidade, cabe-nos a oração: “Dai-nos um coração sábio, Senhor!”. Disse o Papa Francisco numa de suas catequeses: “devemos pedir ao Senhor que nos dê o Espírito Santo e nos dê o dom da sabedoria, daquela sabedoria de Deus que nos ensina a olhar com os olhos de Deus, a ouvir com o coração de Deus, a falar com as palavras de Deus”.

O presbítero sábio é aquele que não alimenta o ódio, o orgulho, o ciúme ministerial, a competitividade, mas tem a humildade de suplicar um coração sábio e caridoso, capaz de preocupar-se com a vida e condução do rebanho, sem esquecer-se de olhar com empatia e misericórdia também para com os irmãos no presbitério. Preocupar-se com o outro e cuidar de si é um profundo gesto de quem tem um coração sábio.

 

Pe. Thiago R. dos Santos – Pastoral Presbiteral

Continua a história de fé: Isaac e Jacó

A fé é sempre um diálogo com Deus. No caso dos patriarcas, a vida cotidiana está entrelaçada com a ação de Deus na  história humana. Exemplo disso é o casamento de Isaac (Gn 24) em relação ao qual todos os fatos são atribuídos a Deus.

Na história de Isaac temos um relato breve e semelhanças com a história de Abraão (exemplo: Gn 26, 1 – 11 e 12, 10 – 20) com Isaac a Aliança que Deus fizera com Abraão é renovada (Gn 26, 23 – 25). As tradições sobre Isaac se ligam a um antigo santuário que havia em Bersabeia, onde Abraão também teria estado.

Notamos também a rejeição a casamento com estrangeiras, conforme o costume de um estilo de vida nômade tribal. Neste sentido, Esaú é um mau exemplo: casou-se com uma heteia (Gn 26, 34 – 35).

Nas entrelinhas do texto percebemos a preferência de Deus em relação a Jacó (Gn 27): apesar de ser fruto da armação de Rebeca, a bênção que Jacó recebe de seu pai Isaac é desígnio de Deus (Gn 25, 21 – 26). É notável também a malandragem de Jacó (Gn 25, 29 – 34) para ser abençoado por seu pai (Gn 27, 1 – 29).

O desfecho deste episódio iria marcar o destino de Esaú (Edom), determinando as características de seus descendentes: um povo ora “irmão” ora inimigo de Israel, um povo guerreiro que viveria da rapinagem.

Mais uma vez a exigência de não se casar com estrangeira prevalece por ocasião da fuga de Jacó em relação a seu irmão Esaú: Jacó foge pra casa de Labão, seu tio (Gn 27, 46 – 28, 5).

No caminho para a casa de Labão, Jacó tem um sonho: a escada de anjos que confirma a renovação das promessas de Deus feitas a Abraão e Isaac (Gn 28, 10 – 22).

Chegado à casa de Labão, alguns fatos marcantes podemos ler no texto:

– o encontro com Raquel (Gn 29, 1 – 12): desde então Jacó se apaixona por ela;

– o acolhimento (Gn 29- 13 – 14), conforme o costume da época;

– o casamento com as duas filhas de Labão, Lia e Raquel (Gn 29, 15 – 30); embora fosse um costume da época que hoje nos choca, no entanto, mais tarde, a Lei de Deus iria proibir casamento com duas irmãs (Lv 18, 18);

– os filhos de Jacó (Gn 29, 31 – 30, 24; 35, 16 – 20) que mais tarde iriam compor as doze tribos de Israel ; um outro costume da época que poderia nos chocar: alguns dos filhos de Jacó são filhos com as escravas Bala e Zelfa, a fim de garantir descendência a Jacó.

Quanto ao enriquecimento de Jacó, percebemos novamente a astúcia do mesmo, que, por sua vez, havia sido enganado por seu tio Labão (Gn 30, 25 – 43), sua fuga (Gn 31, 1 – 21) e a perseguição sofrida (Gn 31, 22 – 42).

Todavia, acontecem duas reconciliações:

– com Labão, com um tratado (Gn 31, 43 – 32, 3);

– com Esaú: primeiro o encontro (Gn 32, 4 – 33, 1) e, logo após, a separação (Gn 33, 12 – 17).

São também notáveis dois fatos dramáticos na história de Jacó:

– a luta com o Anjo de Deus (Gn 32, 23 – 33): na qual Jacó (Israel) conseguiu “derrotar” o anjo, fato que marcaria para sempre a relação entre Deus e Israel, por quem Deus sempre zelaria;

– a violência por vingança dos filhos de Jacó em relação aos habitantes de Siquém (Gn 34, 1 – 31), fato que recebeu a reprovação de Jacó.

Por fim, mais uma vez, a Aliança é renovada em Betel (Gn 35, 1 – 14)

Alguns fatos da história de Jacó podem nos chocar, mas é preciso perceber que Deus, na sua infinita misericórdia, vai tentando “escrever certo nas linhas tortas da experiência humana”.

É importante notarmos a intervenção e presença de Deus na vida dos patriarcas, apesar de seus costumes nada ortodoxos para nós hoje. Porém, o texto bíblico nos fala de um Deus que sempre quis estar presente na vida do homem e com ele fazer amizade (Aliança), apesar das limitações do próprio homem.

 

Pe. Éder Aparecido MonteiroComissão de Liturgia

O coração da Diocese estava em retiro

Aconteceu entre os dias 14 e 18 de fevereiro, o Retiro Anual dos Seminaristas da Diocese de Guarulhos, dos períodos formativos Discipulado (Filosofia) e Configuração (Teologia). O retiro aconteceu no Santuário da Mãe Rainha – Schoensttat Tabor, na cidade de Atibaia.

O pregador de nosso retiro foi o Pe. Cristiano Souza, pároco da Paróquia Santa Cruz e Nossa Senhora Aparecida – Jd. Presidente Dutra. Foram dias de muita vivência espiritual e de ensinamentos bíblicos, trabalhados com o tema “Vinde reconstruamos as muralhas da cidade e ponhamos termo a esta humilhante situação” (Ne 2,17).

O retiro tinha uma espiritualidade própria de reconstrução da cidade – analogamente referindo-se a cada um de nós quando, caídos no pecado, nos perdermos, abrindo em nós feridas em formas de buracos, brechas por onde o inimigo pode ter acesso a nossa vida espiritual e afetiva. Nos dias de reflexão, foi-nos apresentado as curas por meio da oração, para que assim pudéssemos direcionar nossas vontades para Deus e nossas memórias não nos traíssem. Fomos, nesse sentido, chamados a todo tempo nos reconstruirmos com base em três pilares: a humildade, obediência e solicitude.

Para isso, é necessário nos retirarmos da agitação do dia a dia e nos abandonarmos nas mãos e na vontade do Senhor. Ainda assim, faz-se necessário subirmos a montanha para ouvirmos Deus que nos fala ao coração e, dessa forma, sermos homens da cura, homens da Palavra, homens da obediência e do pão. Somos chamados a se retirar da velha e esburacada cidade e nos tornarmos Cidade Nova, com muralhas reconstruídas para darmos o nosso “sim” com toda a inteireza a Deus – à exemplo da Virgem Maria, que foi toda de Deus. Quando Maria, mesmo sem saber como seria aconteceria, disse o seu sim – o seu “Fiat”: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Somos chamados a sermos servos como se fez serva a Mãe do Salvador: convicta da sua missão, foi ao encontro daquela que mais precisava, estava pronta para o serviço. Ao serviço e ao sacramento da Ordem precisamos dar o nosso “sim” diário por inteiro, sem reservas. Nesse sentido, somos também chamados também à vivência do celibato e da castidade por amor a Deus e na correspondermos aos irmãos.

Queremos agradecer a Deus Pai por todo cuidado que sentimos por parte da formação e, de maneira muito especial, de nosso pastor Dom Edmilson Amador Caetano que, com muito zelo e cuidado, nos forma para fazermos sempre a vontade de Deus. Ao Padre Cristiano nosso muito obrigado por sua humildade e oração, seus ensinamentos e amizade e seu auxílio em ajudar a curarmos nossas tantas feridas.

 

Ricardo Valério da Silva, 4º de Teologia

SÍNODO DOS BISPOS 2023: “PARA UMA IGREJA SINODAL: COMUNHÃO, PARTICIPAÇÃO E MISSÃO”

Acredito que todos já ouvimos a fábula do menino perdido que procurava por sua mãe. Quando lhe perguntavam como seria sua mãe, ele dizia: “É a mulher mais linda do mundo!” Todos então saíram à procura da mulher mais bela. Quando lhe apresentavam as mulheres lindas que encontravam, o menino dizia: “Não é esta! Minha mãe é a mulher mais linda do mundo!” Encontraram, então, uma senhora encurvada, marcada por rugas de sofrimentos, que procurava por seu filho. Pensaram: “ Mas, será esta?  Esta não é a mulher mais linda do mundo.” Apresentaram a tal mulher ao menino. Vendo-a ele disse: “Esta é a minha mãe! Ela é a mulher mais linda do mundo!”

A Igreja é também nossa mãe.  Dela todos nós, pelo batismo, nascemos. É a mais linda do mundo, pois tem a beleza da Palavra e a graça dos Sacramentos e continua no mundo a mais bela obra, a obra redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo. “…Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas sana e irrepreensível.” (Ef 5,25-27) Esta realidade sacramental da Igreja é indestrutível, mesmo diante das rugas e feiura dos pecados de seus membros.

Ao respondermos à consulta diocesana para o Sínodo de 2023, não podemos duvidar da santidade e missão da Igreja, nem mesmo esquecer da maternidade da Igreja e que somos filhos dela.  Seria duvidar do próprio Cristo. (Isso é dito para os católicos). Responder à consulta numa atitude de ataque e desprezo, é como atacar e desprezar a própria mãe, que mesmo enrugada e deficiente é a mais linda do mundo e do seu ventre todos nascemos.  Por outro lado, somos chamados a discernir como vivenciamos em nossas atividades e estruturas eclesiais a vocação de ser Igreja.

A consulta diocesana para o Sínodo brota da questão fundamental colocada no Documento Preparatório: Anunciando o Evangelho, uma Igreja sinodal caminha em conjunto: como é que este caminhar juntos se realiza em nossa Igreja Particular? Que passos o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso caminhar juntos?

Para responder aos dez núcleos que emanam desta questão fundamental, penso que seja importante:

a) Conhecer a história da diocese de Guarulhos no que diz respeito à sua caminhada pastoral.

b) Saber enumerar as experiências positivas e que alegria proporcionaram.

c) Saber citar as intuições que foram suscitadas na caminhada, bem como momentos em que se experimentou um consenso inspirado pelo Espírito e escuta da Palavra.

d) Saber enumerar as estruturas que já temos na diocese e que favorecem a sinodalidade.

e) Saber dizer quais os vícios que tais estruturas possuem e que estão dificultando da sinodalidade.

f) Ter consciência das dificuldades no caminhar juntos e também quais foram as feridas abertas pelos pecados contra a unidade e comunhão.

Neste momento aprendermos a nos escutar é o método para podermos atingir o objetivo que é discernir. Participação é o caminho. Assim sendo, animemo-nos em nossas comunidades a responder em grupo a esta consulta.

Desde o início de fevereiro temos também no site da diocese algumas questões dirigidas aos não católicos e grupos da sociedade, cujas respostas nos ajudarão neste objetivo de discernir.

 

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.Bispo diocesano

“O Senhor fez em nós maravilhas” (Lc 1,49)

Amados, celebramos neste mês as maravilhas que o Senhor tem realizado em nossa Diocese de Guarulhos com a XI Assembleia Diocesana. No dia 12 de março teremos a reunião dos delegados das paróquias, pastorais diocesanas, movimentos pastorais, comunidades de vida, padres e seminaristas. Presidida pelo nosso Bispo Dom Edmilson, nossa Igreja dá mais um passo de comunhão e crescimento na missão de anunciar o Evangelho. Conto com a oração de todos para esse momento ímpar.

Como enfoque pastoral, neste mês temos a Campanha da Fraternidade com o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Seu início se dá na abertura da Quaresma, dia 2 de março, na Quarta-Feira de Cinzas. Em 2022, pela terceira vez, a Igreja no Brasil vai aprofundar o tema da educação em uma Campanha da Fraternidade, tema este, também aprofundado nas Campanhas dos anos de 1982 e 1998.  Desde 1964, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade como um dos modos de viver a espiritualidade quaresmal. “Uma Campanha que contribui para uma mudança de vida profunda que nos leva, não somente a pedir a Deus perdão por nossos pecados, mas a unir forças na construção de uma sociedade que corresponda à mensagem do Evangelho” (CNBB).

Em nossas foranias aconteceram encontros de formação e preparação para Campanha da Fraternidade. Os grupos de rua de nossas paroquias já se preparam para iniciar os encontros. Junto a Campanha, neste mês que iniciamos o tempo Quaresmal temos entre as iniciativas de aprofundamento deste tempo: as missas penitenciais que acontecerão nas madrugadas em muitas de nossas paróquias.

Por último, lembro a todos a importância de responder individual ou em grupos o questionário do Sínodo dos Bispos de 2023. Eles são encontrados no Site de nossa diocese. Além do questionário voltado para os membros da Igreja, temos ainda o questionário para a sociedade. Peço que todos se empenhem para respondê-lo e levá-lo as pessoas que não participam de nossa Igreja.

Roguemos a Virgem Maria por sua intercessão junto ao seu Amado Filho, Jesus, para que os diversos trabalhos pastorais, que aos poucos vem sendo retomados, sejam frutuosos. Bendito seja Deus!

 

Pe. Marcelo Dias Soares – Coordenador Diocesano de Pastoral

ADOÇÃO: UMA MANIFESTAÇÃO DO AMOR DE DEUS

A família natural é um projeto originado diretamente no coração de Deus, que, na sua bondade quis que o ser humano, já aqui na terra, experimentasse, ainda que de forma limitada e imperfeita, a relação de amor e comunhão da qual a Santíssima trindade é fonte e modelo.

A fecundidade é um dom para o matrimônio. Não apenas aquela de ordem natural, que tem em vistas a procriação, mas também a fecundidade dita alargada, que pode ser entendida como as diversas formas que o casal cristão tem de abrir-se generosamente para acolher aqueles que mais necessitam.

Penso que a adoção seja uma manifestação de amor ainda mais sólida e profunda do que própria maternidade natural já que nessa, os laços de sangue fazem brotar nos pais um especial sentido de pertença do filho, que é fortalecido pela adaptação do organismo da mãe durante a gestação. Já a adoção exige um coração desprendido, generoso, maduro e decido por amar aquele que não é naturalmente seu, mas que precisa ser amado.

São inspiradas as palavras do Papa Francisco, quando em sua Exortação Amoris Laetitia diz que “aqueles que assumem o desafio de adotar e acolhem uma pessoa de maneira incondicional e gratuita, tornam-se mediação do amor de Deus que diz: ‘Ainda que a tua mãe chegasse a esquecer-te, Eu nunca te esqueceria’ (cf. Is 49, 15)”.

A Constituição Federal estabelece que a toda criança tem direito a uma família (art. 227). Por isso, como Igreja, devemos exigir dos poderes constituídos que os processos de adoção tenham rapidez e efetividade, evitando que crianças, por lentidão do aparelho estatal, permaneçam abandonadas por meses ou até anos, em orfanatos ou em situação de ainda maior abandono, o que pode gerar marcas danosas e por vezes indeléveis em sua alma.

Por outro lado, é de fato necessário, que, como a atual legislação determina, o processo seja cuidadoso, contando com etapas, como a preparação da família, o estágio de convivência, entre outros, com o objetivo de verificar se, de fato, a família pretendente tem condições mínimas de dar à criança um lar onde possa se desenvolver de forma sadia.

É consequência da profunda experiência com um Deus que é amor, que é própria da fé que professamos, que as filas de adoção sejam compostas, em grande parte, por católicos que queiram, sentindo-se amados até as últimas consequências, fazer com que esse mesmo amor chegue até os mais pequenos e necessitados.

Santa Dulce dos pobres, conhecida como “anjo bom da Bahia”, que nas suas peregrinações pelos bairros de Salvador recolhia crianças e jovens órfãos e fugidos de casa, seu exemplo nos inspire e, do Céu, rogai por nós e por todos aqueles que esperam por um lar.

 

Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, Pós-Graduado em Teologia, Mestre em Direito na PUC-SP

UMA HISTÓRIA DE FÉ: ABRAÃO

A história de nossa fé se inicia em Gn 12, com o chamado de Deus a Abraão. Este é chamado a deixar sua família e ir aonde Deus definir. Mas o lugar para onde Abraão deveria ir é … indefinido! Isso nos lembra de quantas vezes, na nossa experiência de fé, caminhamos sem saber exatamente para onde vamos. É o “caminhar na penumbra da fé”! Abraão simplesmente “obedece” a Deus, contrastando com a desobediência de Adão e Eva (Gn3), mostrando-nos que o caminho da obediência é perfeitamente compatível com o caminho da fé!

Duas observações precisam ser consideradas aqui, no nosso estudo:

– A fé é inciativa de Deus: Deus, ao chamar Abraão, o desafia para uma nova experiência de vida, um novo modo de viver;

– A fé é resposta humana dada com prontidão, liberdade e confiança na Palavra de Deus.

No caso de Abraão, o chamado à fé lhe trouxe algumas consequências:

Crer na promessa de Deus – o desafio para Abraão, já idoso, com sua esposa Sara estéril, era crer na promessa; Abraão pensa nos “seus próprios meios” para assegurar o cumprimento da promessa de descendência que Deus lhe assegurava: escolher um dos seus servos (Gn 15, 3) ou ter um filho com a escrava Agar (Ismael: Gn 16). Deus tem seus próprios caminhos, que nem sempre são os caminhos humanos, de solução imediata. Daí é preciso se firmar numa relação de confiança com Deus.

Ruptura com o que destrói a família (Gn 13): embora nos impressionemos um pouco com a separação entre a família de Abraão e a família de Lot, o que está mais em questão aqui é a tentativa de superar aquilo que destrói a unidade e o bem estar de duas famílias, no caso. Muitas vezes, é preciso buscar um “mal menor”, pelo bem de todos na experiência da fé.

Resgate daqueles que amamos (Gn 14, 12 – 16): ao resgatar Lot dos reis que o raptaram, Abraão se torna um verdadeiro “go’el” (redentor, resgatador), mostrando-nos que a experiência da nossa fé supõe também reconduzir muitos e muitas à liberdade da fé.

Oblação do que temos e somos (Gn 14,17 -20): na oferenda que Abraão faz diante do sacerdote Melquisedec, vemos nesta experiência de fé, não só a oferenda de “coisas”, mas, na oferenda de seu dízimo, Abraão, na verdade, oferecia-se a si mesmo a Deus, prefigurando a oferenda de Cristo na Cruz.

A Aliança com Deus (Gn 15; 17): esta é firmada entre Deus e Abraão, através de “sinais visíveis”, que devem ser repetidos ou mantidos como concretização de algo espiritual na vida. Tanto o sacrifício de animais (mais tarde abolido pelo sacrifício de Cristo na Cruz) como a circuncisão (superada pela graça do Batismo), consistem não só em ritos externos, mas sobretudo expressões de uma comunidade que crê e segue os passos do “pai da fé”. Mas a essência da fé é a confiança absoluta na Palavra de Deus e nas suas promessas.

A intercessão até mesmo pelos que “não merecem” ((Gn 18, 1 – 33): Após confirmada a promessa de que Sara será mãe pelos três misteriosos peregrinos que Abraão hospeda em sua tenda, Abraão intercede para evitar a destruição de Sodoma, com o risco dos justos serem exterminados com os ímpios. Ainda hoje, diante da Cruz, contemplamos o Justo que deu sua própria vida em intercessão por nós, os ímpios.

O sacrifício do que mais amamos (Gn 22): no pedido do sacrifício de seu próprio filho Isaac, Deus põe Abraão à prova de uma forma um tanto radical; entretanto, assim como o Senhor providencia o animal para o sacrifício no lugar de Isaac, rejeitando o sacrifício de seres humanos, na plenitude dos tempos, Deus providenciará seu amado Filho como o Cordeiro para nos resgatar do pecado. Por isso, Isaac se torna prefiguração do “Cristo-sacrifício” para nossa redenção.

Enfim, a fé supõe como consequência, também “não ver” o cumprimento das promessas (Gn 25, 7 – 11): quando Abraão morreu, nada do que o Senhor lhe prometera havia se cumprido plenamente; mas Abraão creu até o fim. Na semente (Isaac) ele contemplou, no horizonte da esperança, todas as promessas de Deus acenadas para o futuro. Nosso grande desafio de hoje é prosseguir com confiança nas promessas de Deus, mesmo sem podermos enxergar com os olhos da carne a promessa da salvação; mas com o olhar da fé contemplamos as obras que Deus em nossa vida.

A fé de Abraão nos ensina a nos firmar na Palavra de Deus e crer no futuro que Deus prepara para nós. O autor da Carta aos Hebreus enaltece a fé dos antepassados e de Abraão (Hb 11, 8 – 12. 13 – 16. 17 – 19), mostrando-nos que vale a pena ter fé no amor de Deus.

 

Pe. Éder Aparecido MonteiroComissão de Liturgia Diocesana

VIVA O MOMENTO PRESENTE

O passado já passou e o futuro ainda não aconteceu!

Quando alguém cumprimenta e faz a clássica pergunta: “Como você está?”, sem perceber, está estimulando, no ouvinte, o seu sistema límbico que é a mente que trabalha com sentimentos e emoções. É nessa área do cérebro que ficam armazenadas as experiências do passado, positivas ou negativas que vão orientar o indivíduo nas suas avaliações e decisões. A resposta é geralmente sentimental na linha do estou bem, estou mal, aconteceram coisas terríveis, etc.

O sentimento é uma função importante do psiquismo e o seu objetivo é avaliar as experiências de maneira subjetiva, ou seja, se algo é agradável ou desagradável, bonito ou feio, bom ou ruim. Essa função está ligada à afetividade e se baseia nas interações do indivíduo com o meio. A questão é que se consultarmos sempre a mente que trabalha com os sentimentos, podemos concluir que a vida não tem valido a pena, principalmente se considerarmos as perdas causadas pela pandemia nos últimos dois anos.

Não quero aqui, afirmar que o passado e o futuro não sejam importantes, mas se o passado já passou e o futuro ainda não chegou, então qual a razão de indagarmos sobre isso? Na verdade, a vida que realmente importa é aquela que está acontecendo no momento em que você está lendo esse artigo. Quando baseamos nossa avaliação nos sentimentos, entramos num caminho perigoso que pode causar distorções cognitivas e concluir de forma precipitada que não estamos bem. Esse caminho de vitimização é perigoso, pois leva ao desânimo e a depressão.

A vida é uma viajem em que a estrada muda constantemente. Seria bom que a estrada fosse sempre plana e ladeada por belas paisagens, mas nem sempre é assim; às vezes ocorrem buracos e trechos que parecem intransitáveis. Como condutores temos que cuidar para que possamos chegar seguros ao nosso destino. Portanto, quando você se ver dentro de uma onda de sentimentos negativos onde o sofrimento parece não ter fim, respire profundamente, perceba o ar inundando os seus pulmões e a vida pulsando em cada célula do seu corpo. Ali está a vida, ali está Deus. Não existe riqueza maior do que estar plenamente consciente de quem você é e onde você está. Isto é a vida, isto é viver!

 

Romildo R. Almeida – Psicólogo clínico