SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

SÃO PAULO - BRASIL

"A Esperança não decepciona" (Rm 5,5)

Presbítero: Comunhão e Missão

“Vós todos sois irmãos” (Mt 23,8)

O presbítero é um homem inserido num contexto sujeito aos desafios e mudanças de cada período. O grande desafio é manter-se sadio e ajudar a sarar os que doentes ficaram e a preservar da enfermidade os que estão sãos. Imaginemos, portanto, o grande desafio do nosso tempo.

No Encontro Nacional de Presbíteros (ENP), ocorrido em Aparecida, de 09 a 14 de Maio, foram abordados vários aspectos da situação atual e como se colocar diante de um contexto de tanta conturbação. As reflexões a seguir têm por base o que lá foi apresentado.

Padre Rosimar, da Arquidiocese de Cuiabá, começou citando uma frase de Padre Manoel Godoi: “Antes de ser padre é preciso ser cristão e antes de ser cristão é preciso ser humano”. Trouxe também trechos das diretrizes gerais para contextualizar o tempo presente. Nas diretrizes, a denúncia de que a nossa sociedade caminha para um secularismo e a perda do sentido da transcendência. Deus é esquecido, quase uma figura mítica.

Sem a referência divina, a subjetividade vira uma ditadura do eu: “eu quero assim, eu penso assim”. O individualismo se acentua e o sujeito vira um mundo à parte do todo. Neste contexto, a comunidade começa a se esfacelar, pois o sujeito não se sente pertença – eu não sou deste grupo, eu não pertenço a esta comunidade e a nenhuma outra. Imaginemos as consequências para nossas paróquias, imaginemos o desastre em nossas pastorais. “Se não for do meu jeito, eu não quero” – não há envolvimento. O isolamento acontece. A comunidade dá lugar a um processo de isolamento. Neste contexto, não há empatia, compaixão, o outro não me diz respeito – “é cada um por si”. E a identidade comunitária de nossa fé? E o convite de Jesus para integrar uma comunidade? E a vivência do Evangelho? Se a deterioração da identidade comunitária se apresenta, consequentemente a deterioração da identidade humana também, pois o homem é um ser para relacionar-se.

No meio desta crise toda, a identidade do presbítero fica prejudicada e a sua missão também. Imagine ser presbítero num contexto desafiador assim. O que acontece é que também o sacerdote adoece e pode acontecer o problema do isolamento e do afastamento da comunidade presbiteral. Pode acontecer o desencantamento com a missão.

Um outro aspecto do nosso tempo é a questão da vida acelerada, acentuada ainda mais pela pandemia. É como se vivêssemos a ditadura do tempo. Corremos contra ele que está atrás de nós, nos devorando. A sensação de que o que fazíamos antes, num determinado período de tempo, não dá para fazer agora, se faz presente. O filósofo Zygmunt Bauman conceitua estas transformações rápidas como modernidade líquida. É como se tudo escorresse por entre as mãos.

Não há tempo para os encontros fraternos. Somos, muitas vezes, absorvidos por vários trabalhos e iniciativas pastorais que, ao invés de produzir frutos, sufocam a comunidade e, consequentemente, o padre. Muitas vezes estamos conversando com pessoas e resolvendo coisas no celular, sem querer nos entregar verdadeiramente ao encontro com o outro. Não estamos inteiros. Ferimos a santidade da escuta.  Muitas vezes, não há comprometimento com os vínculos de relação. Diante deste cenário, eu penso em Deus perguntando a Caim: Onde está teu irmão?

É inegável que, neste contexto, a superficialidade com o outro se faz presente. Os diálogos não são francos e honestos. Os vínculos serão sempre superficiais. A escuta e a compreensão ficarão prejudicadas. A escuta exige envolvimento com o outro. O cristianismo é marcado por encontros. Gastar tempo com o irmão é uma necessidade evangélica.

Uma outra característica deste tempo é o consumo, pai de uma série de desgraças. Nossa sociedade vai apresentando necessidades não existentes para seduzir o interlocutor a comprar desesperadamente. E, para facilitar a vida da pessoa, o mercado se desdobra em propagandas mirabolantes. Uma das desgraças é o “conforto”. É justificável que se tenha coisas para facilitar a vida, mas a corrida exagerada pelo conforto gerou pessoas frágeis, sem o mínimo de espírito de resiliência e de resistência. Lidar com a escassez de algo é como se fosse uma morte.

Os sacerdotes correm o risco de também se deixarem levar pelo discurso de consumo e de conforto. O sacerdote é chamado a reconhecer o caminho do sacrifício e da renúncia da vontade como um caminho de identificação com o mestre Jesus. O conforto pode nos levar a uma proximidade com a preguiça.

Nesta sociedade, priva-se também os padrões de beleza estabelecidos por um grupo que domina as mídias sociais. Uma beleza que não conta com as diferenças mas, a padronização de tudo. Todos têm que ser assim. Se estabelece um povo uniforme. Todos com a mesma “cara” e o mesmo comportamento.

Por causa do individualismo, o autorreferencialismo se estabelece. Quem é a forma perfeita?: EU. Mas, como pode o presbítero esquecer que a referência é sempre Cristo? E como o povo pode desejar uma religiosidade que agrada ao ego? Se me faz bem, eu vou. Se eu choro, este padre é ungido… etc.

Quem é o presbítero em meio a este mundo doente? É aquele que se deixa ser atraído pela gratuidade de uma vida entregue a Deus. Aquele que cuida dos que lhe foram confiados. Aquele que sabe os limites e os comunica aos outros. É aquele que não negligencia a missão, mas também não se deixa sobrecarregar pelos muitos trabalhos. Aquele que é íntimo de Deus e das dores dos homens. É o homem de Deus e dos irmãos!

O cuidado de si também faz parte da missão. É cuidar cuidando-se. Os números de suicídios e de desistências do ministério refletem as enfermidades que assolam também a vida dos sacerdotes. Burnout, ansiedade, depressão, abuso de substâncias químicas, transtornos de personalidade, etc. A Presbiterorum Ordinis usa uma palavra para descrever os tempos: desalento.

O começo de uma mudança se dá com a descoberta do convite de Jesus:Vinde a mim, vós que estais cansados” (Mt 11,28). Dom Joel Portella, secretário da CNBB, nos fez este audacioso e conhecido convite: Escutar o convite de Jesus, descansar nEle. Não dá para, em meio às mudanças que se fazem presentes, colocar nossa confiança naquilo que temos ao alcance, na loucura da crise de identidade, o indivíduo se agarra ao que está ao seu alcance. Temos as verdades basilares. A Igreja, sacramento da salvação, continua sua missão no mundo.

O presbítero é o homem da esperança com características, segundo Dom Joel, bem definidas:

O sacerdote é peregrino: como Jesus, o enviado do Pai, o sacerdote vive sua missão neste mundo sabendo que sua realização se dará em plenitude em Deus. Caminhamos nas estradas do mundo rumo ao céu;

O sacerdote é irrequieto: não se acomoda, mas busca, em meio a tudo, formas de anunciar Deus e seu reino;

O sacerdote é ponte: estabelece relações, liga através dos sacramentos, principalmente o sacramento da confissão;

O sacerdote é ouvinte: trata-se da nobre missão de se fazer escuta. Escuta a Deus e escuta os irmãos;

O sacerdote é testemunha: não se trata de anunciar Cristo com um discurso vazio e frio, mas de tocar o coração das pessoas com o que viu e ouviu;

O sacerdote é celibatário: sua vida é uma oferta. O amor é indiviso, é todo entregue a Deus;

O sacerdote é Cirineu: feito para ajudar os irmãos a carregarem as pesadas cruzes desta vida, anunciando-lhes a grandeza do céu;

O sacerdote é irmão: membro de uma família chamada presbitério, onde experimenta o exercício da fraternidade presbiteral, é irmão com os irmãos;

Rezemos pelos sacerdotes de nossa Diocese e pelos sacerdotes espalhados no mundo inteiro. Sejam eles homens de comunhão e de serviço. E que, em nossas paróquias e comunidades, cooperemos com o exercício pastoral de nossos padres. Construamos a Igreja de Cristo sendo irmãos uns dos outros e ajudando sempre a carregar a cruz.

 

Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros

PÁSCOA: COMPROMISSO E MISSÃO (2)

Na reflexão do mês passado coloquei alguns pontos do “clima pascal” no Antigo Testamento, convidativo ao povo escolhido para a fidelidade e a missão. No povo da Antiga Aliança estão prefiguradas a fidelidade e a missão do povo da “nova e eterna Aliança”. A Páscoa e o “clima pascal” do Antigo Testamento se cumprem plenamente em  Jesus Cristo, nosso Senhor.

A Páscoa da Ressurreição do Novo Testamento exige o  anúncio do senhorio de Jesus Cristo em toda a missão da Igreja: “É ele a pedra desprezada por vós, os construtores, mas que se tornou a pedra angular . Pois não há debaixo do céu outro nome dados aos homens pelo qual  devamos ser salvos.”  (At 4,11-12). Não é falta de respeito para quem não aceita, rejeita, acredita de modo diferente ou expressa outra experiência religiosa. Jesus Cristo é necessário para salvação do homem (integralmente) e à Igreja cabe a missão – imperativa – de anunciá-lo explicitamente.

Peço desculpas pela abundância de citações bíblicas, mas é para ajudar a refletir sobre as exigências pascais na missão da Igreja. Nas aparições de Jesus ressuscitado nos evangelhos sinóticos, os apóstolos são sempre enviados com um mandato explícito de anunciar o evangelho da salvação “a todos” (Mt 28,18-20; Mc 16,15-20; Lc 24,46-47). Desde a primitiva Igreja em Jerusalém, manifestada no dia de Pentecostes, até a missão de Paulo entre as nações pagãs, (At 1,8; 2,37-41; 3,11-26; 4,8-12; 5,27-33. 7,56; 8.34-35; 10-11; 13-28) o anúncio explícito de Jesus Cristo ressuscitado forma as comunidades cristãs, anima a vida da Igreja, transforma a vida das pessoas e, consequentemente, vai transformando pela força do evangelho as sociedades.

Ainda que, infelizmente, tenhamos assistido imposições e retaliações por parte da Igreja na chamada primeira evangelização da Europa e primeira evangelização nas Américas, é preciso concordar que doutrinas e, consequentemente, práticas que contradizem o evangelho não podem coexistir harmonicamente.  Isso não quer dizer que devam estar em guerra. Diálogo não é sincretismo. O anúncio de Jesus Cristo é sempre um dom. Não pode ser identificado como opressão.

Iniciamos o mês de junho com a solenidade de Pentecostes, final do Tempo Pascal, mas ápice da Páscoa. O Espírito fala em nós, nos leva ao verdadeiro testemunho de Jesus. Com a força da Páscoa caminhamos na nossa missão.

Esta missão para a qual nos impulsiona Pentecostes, traz consigo a exigência do anúncio explícito da salvação conquistada por Jesus ressuscitado. Somente este anúncio pode revitalizar a vida das nossas comunidades, algumas tão feridas neste tempo de pandemia. Somente este anúncio pode reanimar os nossos agentes de pastoral, alguns tão desiludidos que não querem retomar as atividades que tiveram de ser interrompidas há 02 anos. Somente este anúncio pode trazer uma verdadeira esperança e fazer “esperançar” as pessoas que acabaram indo para periferias existenciais e geográficas durante este tempo. Somente a força deste anúncio pode auxiliar na transformação da nossa sociedade tão esfacelada por aproveitadores, que neste tempo inescrupulosa e egoisticamente, arquitetaram a conquista de um poderio econômico e político. Somente o evangelho de Jesus pode nos dar um discernimento amplo, perspicaz e eficaz. Somente o evangelho pode nos dar lucidez profética.

 

 

18º CONGRESSO EUCARÍSTICO NACIONAL

O tema do XVIII Congresso Eucarístico Nacional, “Pão em todas as mesas”, chama a atenção para a finalidade última da Eucaristia: que o pão e o vinho partilhados na Ceia do Senhor frutifiquem no “pão nosso de cada dia”, na mesa das casas, no cotidiano do povo. Participando do corpo e do sangue do Senhor, a comunidade se torna um só corpo. (cf. Oração Eucarística II)

Os braços erguidos expressam o louvor e a ação de graças, em memória da morte e ressurreição do Senhor.
A Eucaristia é “Pão que alimenta e que dá vida e Vinho que nos salva e dá coragem” oferecidos por todo o povo celebrante. (cf. Oração Eucarística V e SC 48).
A Eucaristia move a Igreja a sair de si, das zonas de conforto, para alcançar as periferias existenciais, tão lembradas pelo Papa Francisco e a ponte evoca a cidade do Recife, que sedia o Congresso, e os anseios de justiça e paz.

A água, essencial para a sobrevivência, é fonte da vida nova, em Cristo e no seu Espírito.

(Ir. Laíde Sonda, PDDM)

Liturgia nos Ritos de Iniciação Cristã (Parte 3)

A catequese de crianças, jovens e adultos, conforme as orientações atuais da Igreja Católica, supõe a acolhida dos grupos de catequese nas celebrações litúrgicas da comunidade. É preciso que esta acolhida continue, depois de terem recebido os sacramentos. Nos artigos de março e abril desta Folha Diocesana comentamos alguns ritos da iniciação, previstos para acontecer na Quaresma, para inserção dos catequizandos na comunidade. Comentaremos neste artigo a fase posterior à recepção dos sacramentos, o tempo da mistagogia, que coincide com o tempo pascal.

Para continuar a bela experiência vivida na recepção dos sacramentos da iniciação cristã, os manuais de catequese prevêem que após o Batismo, Crisma e Eucaristia, os iniciados continuem o caminho, conduzindo ao mistério da fé que foram iniciados. Por isso o período pós-catequese é chamado mistagogia (conduzir ao mistério), uma ajuda para viver de acordo com os ritos que celebraram, e perseverar no seguimento de Cristo e na vida em comunidade.

Vamos voltar no tempo, à prática das comunidades da Igreja Antiga, onde a primeira semana da Páscoa era um tempo especial para as chamadas catequeses mistagógicas. São Cirilo de Jerusalém, no século IV, explicava os ritos com textos bíblicos. Sobre o Batismo, ele explica: “Vós professastes a fé da salvação e fostes por três vezes mergulhados na água e por três vezes dela saístes; deste modo, significastes, em imagem e símbolo, os três dias da sepultura de Cristo (…). Na realidade, não morremos nem fomos sepultados nem crucificados nem ainda ressuscitados. No entanto, a imitação desses atos foi expressa através de uma imagem e daí brotou realmente a nossa salvação (…) é por isso mesmo que Paulo exclama (Rm 6, 3-4): Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele” (Catequese 20).

Falando sobre o sacramento do Crisma, São Cirilo explica assim: “depois que subistes da fonte sagrada (do batismo), o óleo do crisma vos foi administrado, imagem real daquele com o qual Cristo foi ungido, e que é, sem dúvida, o Espírito Santo (…). Davi cantava (Sl 44, 7-8): É por isso que Deus vos ungiu com seu óleo, deu-vos mais alegria que aos vossos amigos. Cristo foi ungido com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo. Vós, porém, fostes ungidos com o óleo do crisma, tornando-vos participantes da natureza de Cristo e chamados a conviver com ele” (Catequese 21).

E sobre a Eucaristia, São Cirilo completa: “Ao receberes o corpo e sangue de Cristo, te transformas com ele num só corpo e num só sangue. Tornamo-nos, como diz São Pedro (2Pd 1, 4) participantes da natureza divina (…). Antigamente, já dizia Davi nos salmos (Sl 103, 15) o pão revigora o coração do homem e o óleo ilumina a sua face. Fortifica, pois, o teu coração, recebendo este pão espiritual e faze brilhar a alegria no rosto de tua alma” (Catequese 22).

O caminho da mistagogia em nossas comunidades ainda precisa conquistar espaço na prática: os catequizandos necessitam participar de grupos e serviços específicos, e também da preparação das celebrações litúrgicas das comunidades. Vemos aqui o peso da prioridade da Assembleia Diocesana: “assumir o caminho de iniciação à vida cristã, com a necessária reformulação da estrutura paroquial, catequética e litúrgica”.

 

Pe Jair CostaComissão Diocesana de Liturgia

ÊXODO: A FÉ NA EXPERIÊNCIA DA LIBERTAÇÃO

O livro do êxodo abre a narrativa dos fatos falando de uma situação enfrentada pelo povo hebreu antigo: a escravidão.

Temos, então, três detalhe relativos a essa situação:

– um povo sofrido clama sob a opressão do Egito (Ex 1, 18 – 22; 2, 23 – 25);

– um Deus que ouve e acolhe o clamor de um povo escravizado;

– por fim, esse mesmo Deus resolve buscar os meios para libertar esse povo sofrido.

Sendo a fé sempre uma inciativa de Deus, Deus se utiliza do meio humano para libertar seu povo da escravidão: prepara Moisés (Ex 2, 1 – 10 ), embora Moisés se torne um assassino (2, 11 – 22), e lhe dá uma missão (Ex 3, 7 – 11), manifestando-se na sarça ardente (Ex 3, 1 – 6).

Ao revelar seu nome divino “EU SOU” (Ex 3, 13 – 15), Deus deixa bem clara sua transcendência em relação ao ser humano. Ao dar suas instruções para a missão de Moisés (Ex 3, 16 – 22), garante sua fidelidade ao permitir que Moisés realize sinais (Ex 4 , 1 – 9).

Mesmo assim, Moisés tentou se esquivar da missão, mas Deus propõe Aarão como seu intérprete (Ex 4, 10 – 17). Por fim, Moisés parte de Madiã para o Egito (Ex 4, 18 – 23) e vai ao encontro de Aarão, seu irmão (Ex 4, 27 – 31).

A primeira entrevista com o Faraó (Ex 5, 1 – 5) não trouxe bons frutos: o Faraó endureceu mais ainda o peso do trabalho sobre os escravos hebreus (Ex 5, 6 – 14), gerando queixas dos escribas hebreus (Ex 5, 15 – 18) e recriminações contra Moisés (Ex 5, 19 – 6, 1).

Tendo enfrentado esse primeiro obstáculo, começam as intervenções diretas de Deus para enfrentar o Faraó: os nove prodígios (pragas: ver Ex 7, 14 – 10, 29) com duplo significado:

– o poder de Deus de colocar as forças da natureza a favor dos planos de Deus e contra o Faraó;

– Deus mostrando sus superioridade em relação ao Faraó, que pretendi ser um deus.

Outro fato que nos mostra “Deus no comando” dos fatos é o endurecimento do Faraó, permitido por Deus, mesmo após alguns prodígios.

Por fim, o último prodígio (praga), a morte dos primogênitos (Ex 11, 1 – 10; 12, 29 – 34) nos mostra o que Deus foi capaz de realizar para salvar seus filhos hebreus do sofrimento.

Aparentemente para que Deus odeia os egípcios ao impor essa última praga; mas o problema é que, quando o pecador se obstina no pecado, atrai a si a sua própria ruína. Foi o que houve com o Faraó e seus súditos.

Tendo “dobrado” o Faraó, agora era preciso preparar-se para a saída da terra da escravidão. Tal experiência histórica se torna um MEMORIAL, a ser repetido, celebrado e lembrado todos os anos.

Os preparativos (Ex 12, 1 – 14), os pães ázimos (Ex 12, 15 – 20; 13, 3 – 10), as prescrições (Ex 12, 21 – 28) e a questão dos primogênitos (Ex 13, 1 – 2. 11 – 16), tudo isso se relaciona à Páscoa, saída dos hebreus da terra da escravidão (Ex 12, 37 – 42; 13, 17 – 22).

A Páscoa tem esse tríplice significado:

– passagem da condição de escravo para a situação de povo livre, no caso dos hebreus;

– passagem do Senhor pelas portas das casa no Egito para julgar e condenar (no caso, os primogênitos do Egito) e para salvar (no caso, o povo hebreu);

– passagem pelo mar, significando a transição para uma vida nova, constituindo-se assim uma prefiguração do Batismo.

Apesar da perseguição dos Egípcios (Ex 14, 5 – 19) ao povo hebreu em marcha para o mar, prevaleceu o que Deus determinara com o milagre do mar e o canto de vitória de Moisés (Ex 15).

A fé do povo hebreu tem seu gérmen nesta experiência de libertação, que se tornou paradigma para outras libertações que viriam acontecer.

A Páscoa hebraica se tornou prefiguração da Páscoa de Cristo, que passou da morte para a vida. Também quando nos confessamos saímos de um estado de escravidão para a vida de filhos de Deus livres. No Batismo também passamos  pela água santificada para a vida nova em Cristo, libertados da morte e do pecado.

 

Pe. Éder Aparecido Monteiro – Comissão de Liturgia

MARIA, A ÁRVORE DA VIDA

Neste mês de maio, de forma especial, contemplamos a Virgem Maria, a árvore da vida, cujo fruto – Cristo – concede a alegria da salvação a cada coração. Com o mistério da encarnação do Verbo, temos diante dos olhos o milagre da vida nascente, que encheu o mundo de esperança. Não há como permanecer impassível diante do “sim” de Nossa Senhora à vontade do Pai – manifestada pela voz do Anjo – cercada, para ela, de incertezas e perigos, à qual humildemente se submeteu.

Este acontecimento nos faz refletir que, por detrás da batalha de cada vida humana, dom de Deus – cujo resgate custou a vida de seu Filho, Jesus – há uma batalha espiritual entre os filhos da luz e os filhos das trevas. A guerra anunciada em Gênesis entre os descendentes da Mulher e os descendentes da Serpente é a história da salvação e da perdição das almas, da graça de Deus que busca salvar os homens e da tentação demoníaca que procura perdê-los.

O aborto provocado é uma ação absolutamente cruel e diabólica contra uma vida totalmente inocente e completamente indefesa, ação essa que só uma mente cujo senso moral foi adormecido presta-se a defender. E neste sentido, a interrogação de Madre Tereza de Calcutá ainda ressoa: “Se nós aceitamos que uma mãe pode matar até mesmo seu próprio filho, como é que nós podemos dizer às outras pessoas para não se matarem?”. É por isso que a igreja Católica, coerentemente, desde o século I, entende que o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral e punível com a pena de excomunhão (CIC, 2271 e 2272).

No campo jurídico, devemos nos lembrar de que a Constituição garante o direito à vida, sem qualquer restrição (art. 5º), disposição essa que é reforçada pelo Pacto de São José, assinado pelo Brasil (art. 4.1), e, dentre outros diplomas, pelo Código Civil, que declara que todos os direitos do nascituro estão assegurados desde a concepção (art. 2º). Por isso não há fundamento válido para a liberação do aborto, o que vai, frente aos nossos olhos, ocorrendo por meio de instituições que não representam a vontade do povo brasileiro, que é majoritariamente a favor da vida.

Repito o que já disse em outras ocasiões: não há caminho constitucional que legitime aos membros do STF legislarem sobre o assunto. Seja sob o aspecto científico (já há vida desde a concepção), seja sob o jurídico (direito à vida é um direito natural e constitucional), não há que se falar em legalização do aborto, sobretudo por decisão do Poder Judiciário, que não representa a vontade popular. Ainda que ao STF a vida intrauterina não tenha tanto valor quanto a de animais em extinção, a ele cabe o dever de fazer prevalecer a letra da Constituição; e esta é clara em determinar que o direito à vida é inviolável.

Diante da estrutura maléfica que, por egoísmo e soberba, opera em diversos setores buscando a implementação da denominada “cultura da morte”, cabe a cada um de nós escolhermos de que lado ficar, do lado da descendência da Mulher, abandonando a tibieza, o comodismo e a covardia, ou do lado dos filhos da serpente, entregando-se ao prejuízo, à mundanidade e à sujeira do mal.

A batalha pela vida é travada diante dos poderes deste mundo, e como cidadãos, dela devemos participar, defendendo nossos irmãos mais fragilizados; contudo, sem perder de vista, que há uma guerra espiritual e, nela, podemos contar com o apoio dos santos anjos de Deus, e, sobretudo, com o exemplo e intercessão de Nossa Mãe Maria, que, de forma especial, neste tempo, veneramos.

 

Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, pós-graduando em Teologia, mestre em Direito pela PUC-SP

Você sonha em ser mãe?

Os desafios da maternidade nos dias de hoje.

Uma pesquisa realizada pela Bayer Indústria farmacêutica aponta, que no Brasil 37% das mulheres não querem ter filhos. Essa estatística confirma o que já percebemos informalmente, ou seja, um grande número de mulheres que não veem mais a maternidade como condição básica para a felicidade. Notem que esse número ainda é pequeno se comparado com países da Europa onde chega a 72%. Essas mulheres fazem parte da geração “NoMo” derivado da expressão em inglês No mother que dá título ao movimento de mulheres que não querem ser mães.

Se considerarmos que as políticas públicas e privadas não favorecem muito a maternidade, não podemos julgar como egoístas aquelas mulheres que pensam mais em carreira e realização profissional deixando em segundo plano o sonho de ser mãe. De fato, a sociedade desencoraja a maternidade à medida em que não cria condições justas para o seu estabelecimento. Todos sabem das dificuldades que uma mãe encontra para matricular seu filho numa creche, da carga mental representada pela responsabilidade de ter que administrar um lar, cuidar de um bebê, além do conflito óbvio entre ser uma profissional de sucesso e uma mãe dedicada.

O Papa Francisco resgatou a importância do papel feminino na criação, afirmando num Congresso para leigos: “Tantas coisas podem mudar e mudaram na evolução cultural e social, mas fica a realidade que é a mulher que concebe, carrega dentro de si e dá à luz os filhos dos homens. Chamando a mulher à maternidade, Deus lhe confiou numa maneira toda especial o ser humano”.       Por outro lado, o papa também alerta sobre o perigo de ver só a questão social da maternidade, desprezando na mulher suas potencialidades e a sua vocação para outras demandas inclusive eclesiásticas.

Felizmente ainda estamos vivendo a Páscoa, tempo de esperança e renovação, que se converte em oportunidade para renunciarmos à tendência automática de julgar, criticar e condenar. Vamos cultivar a empatia, uma atitude propícia para esse momento pelo qual passa a sociedade. Pela empatia podemos enxergar melhor o rosto daqueles que sofrem e fazer eco com as suas causas. Definitivamente, a mulher precisa ser respeitada no seu direito e liberdade. A partir disso, poderá brotar a sua vocação verdadeira fazendo florescer um caminho para a vida plena.

  

Romildo R. Almeida – Psicólogo clínico

Maria, Mãe das Vocações

Mais um mês de maio e, com ele, realiza-se no Seminário Diocesano a Festa em honra a Nossa Senhora das Vocações. Para melhor entender a importância dessa importante devoção em nossa Diocese, lembramos que a Festa desse ano inaugura o jubileu dos 25 anos da realização da Festa à Mãe das Vocações. Por consequência, temos um outro grande motivo de ação de graças: como tornou-se evidente o aumento e a multiplicação das vocações sacerdotais na Diocese, após assumirmos a súplica a Deus pelo chamado a novas vocações através da intercessão da Virgem Imaculada. É deveras um grande júbilo que há duas décadas e meia diariamente, seja no Seminário ou nas orações feitas junto às Capelinhas das Vocações em nossas comunidades, unidos fazemos o pedido ao Senhor da messe que envie mais trabalhadores – e Ele admiravelmente nos ouve. Sim, é fato que no passado, ao termos um número escasso de vocacionados em Guarulhos, e, após o início da devoção à Nossa Senhora das Vocações, o número de seminaristas – e, por consequência – de sacerdotes, aumentou em nossa Diocese. Prova-se, mais uma vez, que o Senhor não desampara aos que a Ele recorrem.

Nesse mês de maio – mariano por excelência – convidamos à participar em nossa programação em honra à Mãe das Vocações. Nas intenções de suas orações – seja nesse mês ou em todo ano jubilar que inauguraremos –, convidamos a elevar a Deus uma nobre ação de graças pelas vocações enviadas à Igreja em Guarulhos e em rezarmos para o que Senhor envie mais operários à sua messe.

Não deixe também de participar das Santas Missas no Seminário às quintas-feiras às 19h30. Retornamos de forma presencial para que possamos louvar e clamar a Deus pelas santas vocações em sua Igreja.

 

Edson Vitor – 3º ano de Teologia

A propedêutica formação da vocação ao sacerdócio II

No mês passado falamos sobre ‘como nasce uma vocação ao sacerdócio’, desta vez falaremos sobre a formação da vocação nascida. O que é um seminário? O que é um propedeuta? Talvez algumas coisas corriqueiras que passam despercebidas aos nossos olhos. O convívio com o seminarista nem nos faz perguntar sobre todo o processo pelo qual ele passa. Mas agora vamos nos familiarizar com estas coisas…

O seminário é um lugar onde os seminaristas se preparam através de uma formação rigorosa acerca da vocação a qual reconhecem que Deus os chama e que cabe à Igreja ajudá-los a discernir. Mas, nem sempre foi assim… Antes, o candidato se apresentava, logo recebia o acesso às ordens sacras e passava a ajudar o bispo local. Com o Concílio de Trento e a aplicação, por parte de São Carlos Borromeu, da necessidade de uma formação mais robusta, criam-se os seminários. Reconhecemos também a grandiosíssima contribuição do Concílio Vaticano II nas exigências para a formação do padre.

No seminário propedêutico os candidatos recebem uma formação introdutória para as realidades que nortearão a vida deles. Neste período de um ano o candidato é colocado diante do encontro pessoal com Cristo. Não é possível que se doe a vida à Igreja e aos irmãos sem que o encontro com Cristo se faça presente. Se, como disse o papa Bento em Aparecida: “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (DAp 12), muito mais a um futuro sacerdote. A decisão deve estar atrelada ao encontro com Aquele que nos chama: E disse Jesus: “Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens” (Mt 4,19).

São João Paulo II muito contribuiu para esquematizar também a formação abrangendo todos os aspectos necessários. Na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis lança mão de uma formação que envolva a dimensão humana, espiritual, intelectual e pastoral. Por que todos estes aspectos? Podemos usar como resposta a própria exortação: “Certamente, há uma fisionomia essencial do sacerdote que não muda: o padre de amanhã, não menos que o de hoje, deverá assemelhar-se a Cristo. Quando vivia sobre a terra, Jesus ofereceu, em Si mesmo, o rosto definitivo do presbítero, realizando um sacerdócio ministerial do qual os apóstolos foram os primeiros a serem investidos; aquele é destinado a perdurar, a reproduzir-se incessantemente em todos os períodos da história. O presbítero do terceiro milênio será, neste sentido, o continuador dos padres que, nos precedentes milênios, animaram a vida da Igreja.” São necessários os aspectos todos da formação para que se assemelhe a Cristo!

Na formação humana, o candidato é acompanhado por psicólogos que o ajudam no amadurecimento da personalidade até que se torne imagem de Cristo, o Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas. Na dimensão espiritual, acompanhado por um diretor espiritual, o candidato é introduzido na comunhão com a Trindade Santa, deixando-se sempre guiar pela ação do Espírito Santo. Modelar sua vontade à de Deus. Na dimensão intelectual, o candidato é exigido a dar respostas adequadas e fiéis ao Evangelho. Na dimensão pastoral, o candidato é formado a compreender-se na dinâmica de Cristo, Mestre e Pastor que veio para servir e não ser servido.

Sabendo das exigências iniciais da formação dos futuros padres, assumamos o compromisso de rezar por eles e ajudar com nossas valiosas contribuições para mantermos os nossos seminaristas na formação necessária. E que a Mãe das Vocações interceda pela Igreja de Cristo para que tenhamos santos sacerdotes.

Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros

PÁSCOA: COMPROMISSO E MISSÃO

Após dois anos sem poder celebrar presencialmente o Tríduo Pascal, este ano o fizemos com grande alegria em nossas comunidades. Assim como o povo de Deus no Antigo Testamento, cada experiência pascal traz consigo compromisso e missão. Acabamos de vivenciar a nossa XI Assembleia Diocesana de Pastoral e foram escolhidas prioridades pastorais para cada um dos pilares que sustentam a vida da comunidade eclesial missionária. No entanto, precisamos de nossas comunidades “reconstruídas” para colocarmos em prática as decisões da Assembleia. Temos que nos lembrar ainda, que em 2020 tínhamos realizado a Assembleia Diocesana da Pastoral Juvenil e, em virtude da pandemia, não pudemos levar adiante as prioridades escolhidas.

Pode não parecer, mas estes anos de pandemia e restrições afetaram nossa caminhada. Espero que não tenham afetado nosso compromisso de fé. Que a força renovadora da Páscoa nos impulsione na restauração de tantas coisas que estão paradas.

Toda a Escritura é perpassada por uma palavra: Páscoa. Que toda nossa vida cristã seja perpassada por esta Páscoa, mesmo que tenhamos de enfrentar e afrontar tantas situações de morte!

A celebração pascal, desde o Antigo Testamento, traz consigo um tempo de renovação para o povo escolhido. Fazer Páscoa traz consigo um compromisso e uma missão. O povo de Israel ao ser libertado do Egito, celebra a Páscoa na noite da libertação e se compromete a ser um povo totalmente do Senhor Libertador e testemunhar sua fidelidade perante todas as nações. Este compromisso e esta missão, possíveis com a libertação da escravidão, será um aprendizado ao longo da caminhada do deserto rumo à terra prometida. Antes de entrarem na terra realizam uma celebração de aliança em Siquém (Js 24) e ao entrarem na terra celebram a Páscoa tendo presente a missão de testemunhar  fidelidade ao Deus que é Único. É com este espirito, apesar de todos os pecados, é que o povo escolhido vai se deixando conduzir pelo Deus da história.

 

Outro momento que tem um “sabor de Páscoa” no Antigo Testamento é o  tempo do Exílio da Babilônia. Um grande sentimento de morte e abandono invade o povo de Deus com a tomada de Jerusalém e a destruição do templo. Chega-se até mesmo a acreditar que Deus tenha abandonado o seu povo e que não é maior “que os outros desuses”. Os profetas do pós exílio (alguns destes escritos foram proclamados na Vigília Pascal), anunciam ao povo o retorno a Jerusalém como um novo êxodo, uma nova Páscoa libertadora. O povo tem o compromisso de reconstruir Jerusalém, viver a fidelidade ao Deus Senhor de todas as nações, e  com isso, juntamente a missão, de proclamar a unicidade de Deus perante todas as nações. O povo precisa tomar consciência maior da sua identidade como povo eleito.

Não é possível viver a experiência e da experiência da Páscoa de forma ambígua, ou seja, não ser explícito no culto e na vivência da Aliança com o Senhor. Não é possível fazer alianças idolátricas com os outros povos.

Com a celebração da Páscoa de 2022 estamos retomando o nosso caminhar eclesial. Temos uma caminhada no deserto: deixar-se conduzir pelo Senhor da história. Temos uma Jerusalém para reconstruir: encontros nas comunidades, formações, retorno dos grupos de reflexão, leitura orante, catequese de inspiração catecumenal…Sem dúvida não acabou a pandemia. Temos que continuar tendo os cuidados necessários.  Não se trata de voltar ao normal de 2019. Deus fez história e estamos num outro momento novo. Assim como os profetas do pós exílio temos que animar irmãos e irmãs a retornarem a Jerusalém. Assim como Israel que retorna  a Jerusalém, nossa identidade cristã tem que estar renovada, com novas perspectivas de vida e missão.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist. – Bispo diocesano