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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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Liturgia nos Ritos de Iniciação Cristã (Parte 3)

A catequese de crianças, jovens e adultos, conforme as orientações atuais da Igreja Católica, supõe a acolhida dos grupos de catequese nas celebrações litúrgicas da comunidade. É preciso que esta acolhida continue, depois de terem recebido os sacramentos. Nos artigos de março e abril desta Folha Diocesana comentamos alguns ritos da iniciação, previstos para acontecer na Quaresma, para inserção dos catequizandos na comunidade. Comentaremos neste artigo a fase posterior à recepção dos sacramentos, o tempo da mistagogia, que coincide com o tempo pascal.

Para continuar a bela experiência vivida na recepção dos sacramentos da iniciação cristã, os manuais de catequese prevêem que após o Batismo, Crisma e Eucaristia, os iniciados continuem o caminho, conduzindo ao mistério da fé que foram iniciados. Por isso o período pós-catequese é chamado mistagogia (conduzir ao mistério), uma ajuda para viver de acordo com os ritos que celebraram, e perseverar no seguimento de Cristo e na vida em comunidade.

Vamos voltar no tempo, à prática das comunidades da Igreja Antiga, onde a primeira semana da Páscoa era um tempo especial para as chamadas catequeses mistagógicas. São Cirilo de Jerusalém, no século IV, explicava os ritos com textos bíblicos. Sobre o Batismo, ele explica: “Vós professastes a fé da salvação e fostes por três vezes mergulhados na água e por três vezes dela saístes; deste modo, significastes, em imagem e símbolo, os três dias da sepultura de Cristo (…). Na realidade, não morremos nem fomos sepultados nem crucificados nem ainda ressuscitados. No entanto, a imitação desses atos foi expressa através de uma imagem e daí brotou realmente a nossa salvação (…) é por isso mesmo que Paulo exclama (Rm 6, 3-4): Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele” (Catequese 20).

Falando sobre o sacramento do Crisma, São Cirilo explica assim: “depois que subistes da fonte sagrada (do batismo), o óleo do crisma vos foi administrado, imagem real daquele com o qual Cristo foi ungido, e que é, sem dúvida, o Espírito Santo (…). Davi cantava (Sl 44, 7-8): É por isso que Deus vos ungiu com seu óleo, deu-vos mais alegria que aos vossos amigos. Cristo foi ungido com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo. Vós, porém, fostes ungidos com o óleo do crisma, tornando-vos participantes da natureza de Cristo e chamados a conviver com ele” (Catequese 21).

E sobre a Eucaristia, São Cirilo completa: “Ao receberes o corpo e sangue de Cristo, te transformas com ele num só corpo e num só sangue. Tornamo-nos, como diz São Pedro (2Pd 1, 4) participantes da natureza divina (…). Antigamente, já dizia Davi nos salmos (Sl 103, 15) o pão revigora o coração do homem e o óleo ilumina a sua face. Fortifica, pois, o teu coração, recebendo este pão espiritual e faze brilhar a alegria no rosto de tua alma” (Catequese 22).

O caminho da mistagogia em nossas comunidades ainda precisa conquistar espaço na prática: os catequizandos necessitam participar de grupos e serviços específicos, e também da preparação das celebrações litúrgicas das comunidades. Vemos aqui o peso da prioridade da Assembleia Diocesana: “assumir o caminho de iniciação à vida cristã, com a necessária reformulação da estrutura paroquial, catequética e litúrgica”.

 

Pe Jair CostaComissão Diocesana de Liturgia

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