A palavra Sínodo (palavra grega), quer dizer “caminhar juntos”. Neste mês e nos próximos, me ocuparei nesta coluna de falar sobre o próximo Sínodo dos bispos, para que nossa diocese possa entender a importância de caminhar juntos neste acontecimento eclesial.
Em Outubro de 2023 será celebrada a XVI Assembleia dos Sínodo dos Bispos. No entanto, esta Assembleia sinodal será aberta nos 09-10 de outubro de 2021 em Roma e no dia 17 de outubro de 2021 em cada diocese. A diocese de Guarulhos iniciará sua participação no Sínodo no dia 17 de outubro de 2021, às 15h00, com uma celebração da Eucaristia no Centro
Diocesano de Pastoral.
O Sínodo dos bispos que irá para a sua 16ª edição, e tal como temos em nossos dias, é fruto do Concílio Vaticano II. A renovação trazida pelo Concílio em seus documentos foi tão ampla, bem como a percepção da existência de uma Igreja atenta aos sinais dos tempos, que esta instituição (o Sínodo dos Bispos) é um instrumento para a atualização constante na missão evangelizadora. Os temas dos Sínodos sempre são escolhidos pelo Papa e trabalhado pelas secretarias competentes do Sínodo, não sem antes uma consulta a todo o episcopado do mundo. Geralmente, após a escolha do tema é feita um “Documento Preparatório” que, além de expor a temática, faz consultas às dioceses. Do material colhido das consultas é elaborado o “Instrumentum laboris” (Instrumento de trabalho) que serve aos bispos para as várias intervenções e encaminhamentos na realização da reunião Sinodal.
Entretanto, o Papa Francisco, juntamente com a Secretaria do Sínodo dos Bispos, está realizando algo inédito para a celebração do XVI Sínodo dos bispos. A consulta não será fase preparatória para o Sínodo. Será já a realização do Sínodo. Não realização com a presença dos bispos delegados em Roma, mas realização – como primeira fase – nas próprias dioceses e em outros Organismos da Igreja.
Esta primeira fase será a de colocar-se à escuta do Espírito Santo, ouvindo os irmãos e irmãs de dentro da Igreja, ouvir os irmãos cristãos que não fazem parte da nossa Igreja e dialogar com a família humana nas mais variadas esferas. Esta fase de escuta nas dioceses irá de outubro de 2021 a março de 2022. Em Guarulhos encerraremos esta fase no dia 26 de março de 2022.
Esta escuta, sem dúvida, tem que levar em conta os sinais dos tempos, para que estes possam ser interpretados à luz do Evangelho. A pandemia gerada pelo novo coronavírus (Covid 19) e tudo o que ela tem gerado não pode ser ignorada como sinal dos tempos, bem como tudo o quanto ela gerou e revelou da nossa sociedade. Algumas destas situações o Papa Francisco refletiu na Encíclica Fratelli Tutti e outras ele já tinha vislumbrado na Laudato Sì.
A escuta também não pode ignorar sofrimentos que irmanam toda a família humana e situações tristes e difíceis que a própria Igreja enfrenta no seu interior, tais como falta de fé e corrupção, bem como os abusos sofridos por menores e pessoas vulneráveis. Não podemos ignorar e muito menos esconder as feridas, não simplesmente para termos acusações, mas para podermos enxergar também os apelos do Espírito Santo.
Nesta escuta não pode ser omitida a consciência de vivermos numa sociedade secularizada e descristianizada, onde tantas vezes e em tantas circunstâncias a Igreja é perseguida. Muitas vezes o “verniz” da tolerância religiosa é disfarce para impedir a missão profética da Igreja e uma verdadeira liberdade religiosa.
Por outro lado não pode ser omitida também a consciência que temos tantos aspectos de fundamentalismo religioso e bíblico, clericalismo (dos clérigos e dos leigos também).
Para nós será algo novo e, espero, maravilhoso. Teremos que aprender a nos ouvir, desejando que o Espírito fale. Não se trata de fazer projetos futuros neste momento, mas de perceber onde já fomos e estamos sendo uma Igreja sinodal (que caminha junto em unidade) e onde ainda não o somos e estamos longe de ser. A coragem que exige este ouvir, chama-se, na realidade, espírito de conversão. Já temos uma equipe sinodal diocesana que irá ajudar a todos neste processo.
No dia 07 de setembro de 2021 foi publicado o Documento Preparatório com as instruções de como proceder na fase diocesana. Ao encerrar a fase diocesana, apresentaremos o resultado da consulta (escuta) à nossa Conferência Episcopal (CNBB). Então teremos ainda mais encontros e escuta (não mais a nível diocesano). Após todo este amplo espaço de consulta e escuta será elaborado o Instrumentum Laboris 1. Até março de 2023, então haverá vários tipos de reuniões pré sinodais a nível internacional e com a síntese dos documentos finais destas reuniões será elaborado o Instrumentum Laboris 2, que será usado na celebração do Sínodo em Outubro de 2023.
No Brasil esta fase do Sínodo encontra-se maravilhosamente com a Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe que acontecerá em Novembro (21-28)e que também foi preparada por um longo período de escuta. Nesta Assembleia teremos o privilégio de ter como participante (ainda que de maneira on-line) nossa irmã Célia Soares, como representante do CNLB Sul 1. Nossa diocese, por sua vez, vive este clima sinodal enquanto se prepara para a XI Assembleia diocesana de pastoral que acontecerá no dia 12 de março de 2022 e que está sendo preparada pelas etapas paroquiais e forânicas. Acredito que já estamos experimentando algo de sinodalidade.
+Edmilson Amador Caetano. O.Cist.
Bispo diocesano