Diocese de Guarulhos

SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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Liturgia nos Ritos de Iniciação Cristã (Parte 3)

A catequese de crianças, jovens e adultos, conforme as orientações atuais da Igreja Católica, supõe a acolhida dos grupos de catequese nas celebrações litúrgicas da comunidade. É preciso que esta acolhida continue, depois de terem recebido os sacramentos. Nos artigos de março e abril desta Folha Diocesana comentamos alguns ritos da iniciação, previstos para acontecer na Quaresma, para inserção dos catequizandos na comunidade. Comentaremos neste artigo a fase posterior à recepção dos sacramentos, o tempo da mistagogia, que coincide com o tempo pascal.

Para continuar a bela experiência vivida na recepção dos sacramentos da iniciação cristã, os manuais de catequese prevêem que após o Batismo, Crisma e Eucaristia, os iniciados continuem o caminho, conduzindo ao mistério da fé que foram iniciados. Por isso o período pós-catequese é chamado mistagogia (conduzir ao mistério), uma ajuda para viver de acordo com os ritos que celebraram, e perseverar no seguimento de Cristo e na vida em comunidade.

Vamos voltar no tempo, à prática das comunidades da Igreja Antiga, onde a primeira semana da Páscoa era um tempo especial para as chamadas catequeses mistagógicas. São Cirilo de Jerusalém, no século IV, explicava os ritos com textos bíblicos. Sobre o Batismo, ele explica: “Vós professastes a fé da salvação e fostes por três vezes mergulhados na água e por três vezes dela saístes; deste modo, significastes, em imagem e símbolo, os três dias da sepultura de Cristo (…). Na realidade, não morremos nem fomos sepultados nem crucificados nem ainda ressuscitados. No entanto, a imitação desses atos foi expressa através de uma imagem e daí brotou realmente a nossa salvação (…) é por isso mesmo que Paulo exclama (Rm 6, 3-4): Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele” (Catequese 20).

Falando sobre o sacramento do Crisma, São Cirilo explica assim: “depois que subistes da fonte sagrada (do batismo), o óleo do crisma vos foi administrado, imagem real daquele com o qual Cristo foi ungido, e que é, sem dúvida, o Espírito Santo (…). Davi cantava (Sl 44, 7-8): É por isso que Deus vos ungiu com seu óleo, deu-vos mais alegria que aos vossos amigos. Cristo foi ungido com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo. Vós, porém, fostes ungidos com o óleo do crisma, tornando-vos participantes da natureza de Cristo e chamados a conviver com ele” (Catequese 21).

E sobre a Eucaristia, São Cirilo completa: “Ao receberes o corpo e sangue de Cristo, te transformas com ele num só corpo e num só sangue. Tornamo-nos, como diz São Pedro (2Pd 1, 4) participantes da natureza divina (…). Antigamente, já dizia Davi nos salmos (Sl 103, 15) o pão revigora o coração do homem e o óleo ilumina a sua face. Fortifica, pois, o teu coração, recebendo este pão espiritual e faze brilhar a alegria no rosto de tua alma” (Catequese 22).

O caminho da mistagogia em nossas comunidades ainda precisa conquistar espaço na prática: os catequizandos necessitam participar de grupos e serviços específicos, e também da preparação das celebrações litúrgicas das comunidades. Vemos aqui o peso da prioridade da Assembleia Diocesana: “assumir o caminho de iniciação à vida cristã, com a necessária reformulação da estrutura paroquial, catequética e litúrgica”.

 

Pe Jair CostaComissão Diocesana de Liturgia

ÊXODO: A FÉ NA EXPERIÊNCIA DA LIBERTAÇÃO

O livro do êxodo abre a narrativa dos fatos falando de uma situação enfrentada pelo povo hebreu antigo: a escravidão.

Temos, então, três detalhe relativos a essa situação:

– um povo sofrido clama sob a opressão do Egito (Ex 1, 18 – 22; 2, 23 – 25);

– um Deus que ouve e acolhe o clamor de um povo escravizado;

– por fim, esse mesmo Deus resolve buscar os meios para libertar esse povo sofrido.

Sendo a fé sempre uma inciativa de Deus, Deus se utiliza do meio humano para libertar seu povo da escravidão: prepara Moisés (Ex 2, 1 – 10 ), embora Moisés se torne um assassino (2, 11 – 22), e lhe dá uma missão (Ex 3, 7 – 11), manifestando-se na sarça ardente (Ex 3, 1 – 6).

Ao revelar seu nome divino “EU SOU” (Ex 3, 13 – 15), Deus deixa bem clara sua transcendência em relação ao ser humano. Ao dar suas instruções para a missão de Moisés (Ex 3, 16 – 22), garante sua fidelidade ao permitir que Moisés realize sinais (Ex 4 , 1 – 9).

Mesmo assim, Moisés tentou se esquivar da missão, mas Deus propõe Aarão como seu intérprete (Ex 4, 10 – 17). Por fim, Moisés parte de Madiã para o Egito (Ex 4, 18 – 23) e vai ao encontro de Aarão, seu irmão (Ex 4, 27 – 31).

A primeira entrevista com o Faraó (Ex 5, 1 – 5) não trouxe bons frutos: o Faraó endureceu mais ainda o peso do trabalho sobre os escravos hebreus (Ex 5, 6 – 14), gerando queixas dos escribas hebreus (Ex 5, 15 – 18) e recriminações contra Moisés (Ex 5, 19 – 6, 1).

Tendo enfrentado esse primeiro obstáculo, começam as intervenções diretas de Deus para enfrentar o Faraó: os nove prodígios (pragas: ver Ex 7, 14 – 10, 29) com duplo significado:

– o poder de Deus de colocar as forças da natureza a favor dos planos de Deus e contra o Faraó;

– Deus mostrando sus superioridade em relação ao Faraó, que pretendi ser um deus.

Outro fato que nos mostra “Deus no comando” dos fatos é o endurecimento do Faraó, permitido por Deus, mesmo após alguns prodígios.

Por fim, o último prodígio (praga), a morte dos primogênitos (Ex 11, 1 – 10; 12, 29 – 34) nos mostra o que Deus foi capaz de realizar para salvar seus filhos hebreus do sofrimento.

Aparentemente para que Deus odeia os egípcios ao impor essa última praga; mas o problema é que, quando o pecador se obstina no pecado, atrai a si a sua própria ruína. Foi o que houve com o Faraó e seus súditos.

Tendo “dobrado” o Faraó, agora era preciso preparar-se para a saída da terra da escravidão. Tal experiência histórica se torna um MEMORIAL, a ser repetido, celebrado e lembrado todos os anos.

Os preparativos (Ex 12, 1 – 14), os pães ázimos (Ex 12, 15 – 20; 13, 3 – 10), as prescrições (Ex 12, 21 – 28) e a questão dos primogênitos (Ex 13, 1 – 2. 11 – 16), tudo isso se relaciona à Páscoa, saída dos hebreus da terra da escravidão (Ex 12, 37 – 42; 13, 17 – 22).

A Páscoa tem esse tríplice significado:

– passagem da condição de escravo para a situação de povo livre, no caso dos hebreus;

– passagem do Senhor pelas portas das casa no Egito para julgar e condenar (no caso, os primogênitos do Egito) e para salvar (no caso, o povo hebreu);

– passagem pelo mar, significando a transição para uma vida nova, constituindo-se assim uma prefiguração do Batismo.

Apesar da perseguição dos Egípcios (Ex 14, 5 – 19) ao povo hebreu em marcha para o mar, prevaleceu o que Deus determinara com o milagre do mar e o canto de vitória de Moisés (Ex 15).

A fé do povo hebreu tem seu gérmen nesta experiência de libertação, que se tornou paradigma para outras libertações que viriam acontecer.

A Páscoa hebraica se tornou prefiguração da Páscoa de Cristo, que passou da morte para a vida. Também quando nos confessamos saímos de um estado de escravidão para a vida de filhos de Deus livres. No Batismo também passamos  pela água santificada para a vida nova em Cristo, libertados da morte e do pecado.

 

Pe. Éder Aparecido Monteiro – Comissão de Liturgia

MARIA, A ÁRVORE DA VIDA

Neste mês de maio, de forma especial, contemplamos a Virgem Maria, a árvore da vida, cujo fruto – Cristo – concede a alegria da salvação a cada coração. Com o mistério da encarnação do Verbo, temos diante dos olhos o milagre da vida nascente, que encheu o mundo de esperança. Não há como permanecer impassível diante do “sim” de Nossa Senhora à vontade do Pai – manifestada pela voz do Anjo – cercada, para ela, de incertezas e perigos, à qual humildemente se submeteu.

Este acontecimento nos faz refletir que, por detrás da batalha de cada vida humana, dom de Deus – cujo resgate custou a vida de seu Filho, Jesus – há uma batalha espiritual entre os filhos da luz e os filhos das trevas. A guerra anunciada em Gênesis entre os descendentes da Mulher e os descendentes da Serpente é a história da salvação e da perdição das almas, da graça de Deus que busca salvar os homens e da tentação demoníaca que procura perdê-los.

O aborto provocado é uma ação absolutamente cruel e diabólica contra uma vida totalmente inocente e completamente indefesa, ação essa que só uma mente cujo senso moral foi adormecido presta-se a defender. E neste sentido, a interrogação de Madre Tereza de Calcutá ainda ressoa: “Se nós aceitamos que uma mãe pode matar até mesmo seu próprio filho, como é que nós podemos dizer às outras pessoas para não se matarem?”. É por isso que a igreja Católica, coerentemente, desde o século I, entende que o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral e punível com a pena de excomunhão (CIC, 2271 e 2272).

No campo jurídico, devemos nos lembrar de que a Constituição garante o direito à vida, sem qualquer restrição (art. 5º), disposição essa que é reforçada pelo Pacto de São José, assinado pelo Brasil (art. 4.1), e, dentre outros diplomas, pelo Código Civil, que declara que todos os direitos do nascituro estão assegurados desde a concepção (art. 2º). Por isso não há fundamento válido para a liberação do aborto, o que vai, frente aos nossos olhos, ocorrendo por meio de instituições que não representam a vontade do povo brasileiro, que é majoritariamente a favor da vida.

Repito o que já disse em outras ocasiões: não há caminho constitucional que legitime aos membros do STF legislarem sobre o assunto. Seja sob o aspecto científico (já há vida desde a concepção), seja sob o jurídico (direito à vida é um direito natural e constitucional), não há que se falar em legalização do aborto, sobretudo por decisão do Poder Judiciário, que não representa a vontade popular. Ainda que ao STF a vida intrauterina não tenha tanto valor quanto a de animais em extinção, a ele cabe o dever de fazer prevalecer a letra da Constituição; e esta é clara em determinar que o direito à vida é inviolável.

Diante da estrutura maléfica que, por egoísmo e soberba, opera em diversos setores buscando a implementação da denominada “cultura da morte”, cabe a cada um de nós escolhermos de que lado ficar, do lado da descendência da Mulher, abandonando a tibieza, o comodismo e a covardia, ou do lado dos filhos da serpente, entregando-se ao prejuízo, à mundanidade e à sujeira do mal.

A batalha pela vida é travada diante dos poderes deste mundo, e como cidadãos, dela devemos participar, defendendo nossos irmãos mais fragilizados; contudo, sem perder de vista, que há uma guerra espiritual e, nela, podemos contar com o apoio dos santos anjos de Deus, e, sobretudo, com o exemplo e intercessão de Nossa Mãe Maria, que, de forma especial, neste tempo, veneramos.

 

Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, pós-graduando em Teologia, mestre em Direito pela PUC-SP

Você sonha em ser mãe?

Os desafios da maternidade nos dias de hoje.

Uma pesquisa realizada pela Bayer Indústria farmacêutica aponta, que no Brasil 37% das mulheres não querem ter filhos. Essa estatística confirma o que já percebemos informalmente, ou seja, um grande número de mulheres que não veem mais a maternidade como condição básica para a felicidade. Notem que esse número ainda é pequeno se comparado com países da Europa onde chega a 72%. Essas mulheres fazem parte da geração “NoMo” derivado da expressão em inglês No mother que dá título ao movimento de mulheres que não querem ser mães.

Se considerarmos que as políticas públicas e privadas não favorecem muito a maternidade, não podemos julgar como egoístas aquelas mulheres que pensam mais em carreira e realização profissional deixando em segundo plano o sonho de ser mãe. De fato, a sociedade desencoraja a maternidade à medida em que não cria condições justas para o seu estabelecimento. Todos sabem das dificuldades que uma mãe encontra para matricular seu filho numa creche, da carga mental representada pela responsabilidade de ter que administrar um lar, cuidar de um bebê, além do conflito óbvio entre ser uma profissional de sucesso e uma mãe dedicada.

O Papa Francisco resgatou a importância do papel feminino na criação, afirmando num Congresso para leigos: “Tantas coisas podem mudar e mudaram na evolução cultural e social, mas fica a realidade que é a mulher que concebe, carrega dentro de si e dá à luz os filhos dos homens. Chamando a mulher à maternidade, Deus lhe confiou numa maneira toda especial o ser humano”.       Por outro lado, o papa também alerta sobre o perigo de ver só a questão social da maternidade, desprezando na mulher suas potencialidades e a sua vocação para outras demandas inclusive eclesiásticas.

Felizmente ainda estamos vivendo a Páscoa, tempo de esperança e renovação, que se converte em oportunidade para renunciarmos à tendência automática de julgar, criticar e condenar. Vamos cultivar a empatia, uma atitude propícia para esse momento pelo qual passa a sociedade. Pela empatia podemos enxergar melhor o rosto daqueles que sofrem e fazer eco com as suas causas. Definitivamente, a mulher precisa ser respeitada no seu direito e liberdade. A partir disso, poderá brotar a sua vocação verdadeira fazendo florescer um caminho para a vida plena.

  

Romildo R. Almeida – Psicólogo clínico

Maria, Mãe das Vocações

Mais um mês de maio e, com ele, realiza-se no Seminário Diocesano a Festa em honra a Nossa Senhora das Vocações. Para melhor entender a importância dessa importante devoção em nossa Diocese, lembramos que a Festa desse ano inaugura o jubileu dos 25 anos da realização da Festa à Mãe das Vocações. Por consequência, temos um outro grande motivo de ação de graças: como tornou-se evidente o aumento e a multiplicação das vocações sacerdotais na Diocese, após assumirmos a súplica a Deus pelo chamado a novas vocações através da intercessão da Virgem Imaculada. É deveras um grande júbilo que há duas décadas e meia diariamente, seja no Seminário ou nas orações feitas junto às Capelinhas das Vocações em nossas comunidades, unidos fazemos o pedido ao Senhor da messe que envie mais trabalhadores – e Ele admiravelmente nos ouve. Sim, é fato que no passado, ao termos um número escasso de vocacionados em Guarulhos, e, após o início da devoção à Nossa Senhora das Vocações, o número de seminaristas – e, por consequência – de sacerdotes, aumentou em nossa Diocese. Prova-se, mais uma vez, que o Senhor não desampara aos que a Ele recorrem.

Nesse mês de maio – mariano por excelência – convidamos à participar em nossa programação em honra à Mãe das Vocações. Nas intenções de suas orações – seja nesse mês ou em todo ano jubilar que inauguraremos –, convidamos a elevar a Deus uma nobre ação de graças pelas vocações enviadas à Igreja em Guarulhos e em rezarmos para o que Senhor envie mais operários à sua messe.

Não deixe também de participar das Santas Missas no Seminário às quintas-feiras às 19h30. Retornamos de forma presencial para que possamos louvar e clamar a Deus pelas santas vocações em sua Igreja.

 

Edson Vitor – 3º ano de Teologia

A propedêutica formação da vocação ao sacerdócio II

No mês passado falamos sobre ‘como nasce uma vocação ao sacerdócio’, desta vez falaremos sobre a formação da vocação nascida. O que é um seminário? O que é um propedeuta? Talvez algumas coisas corriqueiras que passam despercebidas aos nossos olhos. O convívio com o seminarista nem nos faz perguntar sobre todo o processo pelo qual ele passa. Mas agora vamos nos familiarizar com estas coisas…

O seminário é um lugar onde os seminaristas se preparam através de uma formação rigorosa acerca da vocação a qual reconhecem que Deus os chama e que cabe à Igreja ajudá-los a discernir. Mas, nem sempre foi assim… Antes, o candidato se apresentava, logo recebia o acesso às ordens sacras e passava a ajudar o bispo local. Com o Concílio de Trento e a aplicação, por parte de São Carlos Borromeu, da necessidade de uma formação mais robusta, criam-se os seminários. Reconhecemos também a grandiosíssima contribuição do Concílio Vaticano II nas exigências para a formação do padre.

No seminário propedêutico os candidatos recebem uma formação introdutória para as realidades que nortearão a vida deles. Neste período de um ano o candidato é colocado diante do encontro pessoal com Cristo. Não é possível que se doe a vida à Igreja e aos irmãos sem que o encontro com Cristo se faça presente. Se, como disse o papa Bento em Aparecida: “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (DAp 12), muito mais a um futuro sacerdote. A decisão deve estar atrelada ao encontro com Aquele que nos chama: E disse Jesus: “Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens” (Mt 4,19).

São João Paulo II muito contribuiu para esquematizar também a formação abrangendo todos os aspectos necessários. Na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis lança mão de uma formação que envolva a dimensão humana, espiritual, intelectual e pastoral. Por que todos estes aspectos? Podemos usar como resposta a própria exortação: “Certamente, há uma fisionomia essencial do sacerdote que não muda: o padre de amanhã, não menos que o de hoje, deverá assemelhar-se a Cristo. Quando vivia sobre a terra, Jesus ofereceu, em Si mesmo, o rosto definitivo do presbítero, realizando um sacerdócio ministerial do qual os apóstolos foram os primeiros a serem investidos; aquele é destinado a perdurar, a reproduzir-se incessantemente em todos os períodos da história. O presbítero do terceiro milênio será, neste sentido, o continuador dos padres que, nos precedentes milênios, animaram a vida da Igreja.” São necessários os aspectos todos da formação para que se assemelhe a Cristo!

Na formação humana, o candidato é acompanhado por psicólogos que o ajudam no amadurecimento da personalidade até que se torne imagem de Cristo, o Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas. Na dimensão espiritual, acompanhado por um diretor espiritual, o candidato é introduzido na comunhão com a Trindade Santa, deixando-se sempre guiar pela ação do Espírito Santo. Modelar sua vontade à de Deus. Na dimensão intelectual, o candidato é exigido a dar respostas adequadas e fiéis ao Evangelho. Na dimensão pastoral, o candidato é formado a compreender-se na dinâmica de Cristo, Mestre e Pastor que veio para servir e não ser servido.

Sabendo das exigências iniciais da formação dos futuros padres, assumamos o compromisso de rezar por eles e ajudar com nossas valiosas contribuições para mantermos os nossos seminaristas na formação necessária. E que a Mãe das Vocações interceda pela Igreja de Cristo para que tenhamos santos sacerdotes.

Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros

PÁSCOA: COMPROMISSO E MISSÃO

Após dois anos sem poder celebrar presencialmente o Tríduo Pascal, este ano o fizemos com grande alegria em nossas comunidades. Assim como o povo de Deus no Antigo Testamento, cada experiência pascal traz consigo compromisso e missão. Acabamos de vivenciar a nossa XI Assembleia Diocesana de Pastoral e foram escolhidas prioridades pastorais para cada um dos pilares que sustentam a vida da comunidade eclesial missionária. No entanto, precisamos de nossas comunidades “reconstruídas” para colocarmos em prática as decisões da Assembleia. Temos que nos lembrar ainda, que em 2020 tínhamos realizado a Assembleia Diocesana da Pastoral Juvenil e, em virtude da pandemia, não pudemos levar adiante as prioridades escolhidas.

Pode não parecer, mas estes anos de pandemia e restrições afetaram nossa caminhada. Espero que não tenham afetado nosso compromisso de fé. Que a força renovadora da Páscoa nos impulsione na restauração de tantas coisas que estão paradas.

Toda a Escritura é perpassada por uma palavra: Páscoa. Que toda nossa vida cristã seja perpassada por esta Páscoa, mesmo que tenhamos de enfrentar e afrontar tantas situações de morte!

A celebração pascal, desde o Antigo Testamento, traz consigo um tempo de renovação para o povo escolhido. Fazer Páscoa traz consigo um compromisso e uma missão. O povo de Israel ao ser libertado do Egito, celebra a Páscoa na noite da libertação e se compromete a ser um povo totalmente do Senhor Libertador e testemunhar sua fidelidade perante todas as nações. Este compromisso e esta missão, possíveis com a libertação da escravidão, será um aprendizado ao longo da caminhada do deserto rumo à terra prometida. Antes de entrarem na terra realizam uma celebração de aliança em Siquém (Js 24) e ao entrarem na terra celebram a Páscoa tendo presente a missão de testemunhar  fidelidade ao Deus que é Único. É com este espirito, apesar de todos os pecados, é que o povo escolhido vai se deixando conduzir pelo Deus da história.

 

Outro momento que tem um “sabor de Páscoa” no Antigo Testamento é o  tempo do Exílio da Babilônia. Um grande sentimento de morte e abandono invade o povo de Deus com a tomada de Jerusalém e a destruição do templo. Chega-se até mesmo a acreditar que Deus tenha abandonado o seu povo e que não é maior “que os outros desuses”. Os profetas do pós exílio (alguns destes escritos foram proclamados na Vigília Pascal), anunciam ao povo o retorno a Jerusalém como um novo êxodo, uma nova Páscoa libertadora. O povo tem o compromisso de reconstruir Jerusalém, viver a fidelidade ao Deus Senhor de todas as nações, e  com isso, juntamente a missão, de proclamar a unicidade de Deus perante todas as nações. O povo precisa tomar consciência maior da sua identidade como povo eleito.

Não é possível viver a experiência e da experiência da Páscoa de forma ambígua, ou seja, não ser explícito no culto e na vivência da Aliança com o Senhor. Não é possível fazer alianças idolátricas com os outros povos.

Com a celebração da Páscoa de 2022 estamos retomando o nosso caminhar eclesial. Temos uma caminhada no deserto: deixar-se conduzir pelo Senhor da história. Temos uma Jerusalém para reconstruir: encontros nas comunidades, formações, retorno dos grupos de reflexão, leitura orante, catequese de inspiração catecumenal…Sem dúvida não acabou a pandemia. Temos que continuar tendo os cuidados necessários.  Não se trata de voltar ao normal de 2019. Deus fez história e estamos num outro momento novo. Assim como os profetas do pós exílio temos que animar irmãos e irmãs a retornarem a Jerusalém. Assim como Israel que retorna  a Jerusalém, nossa identidade cristã tem que estar renovada, com novas perspectivas de vida e missão.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist. – Bispo diocesano

“Nascido de uma mulher” (Gl 4,4)

Amados, dedicamos o mês de maio à Maria, a Mãe de Jesus. “Nascido de uma mulher e sujeito a lei” (Gl 4,4), em que Jesus se fez semelhante a nós, exceto no pecado (conf. Hb 4,15). Redemos graças ao Senhor que escolheu Maria, a cheia da graça (conf. Lc 1,28), e que quis contar com o sim de Maria para realizar a nossa salvação.

Assim, Ela é a medianeira de todas as graças e por isso recorremos a sua intercessão maternal junto ao Nosso Senhor Jesus Cristo na liturgia e nas piedades populares. E neste mês, teremos em nossa Diocese a realização de várias atividades dedicadas a Nossa Senhora nas paróquias.

Também em enfoque pastoral, quero aqui registrar a alegria do povo de Deus no ultimo mês, por celebrar a Semana Santa, retomando a celebrações com a presença do povo e fazendo procissões. Além disso, retomamos as atividades pastorais com a presença do povo neste inicio de ano. Graças redemos ao Senhor que sustentou o seu povo através das orações e liturgias online, mas também pelo Santo Rosário rezado nas famílias e que neste mês de maio retoma o santo terço em pequenos grupos de nossas paróquias.

Em maio destaco pastoralmente a festa de Nossa Senhora das Vocações, em que serão instituídos no ministério de leitor 9 seminaristas e também se abrirá os festejos do jubileu de 25 anos do seminário diocesano do Lavras.

Reforço também acerca da importância de responder individual ou em grupos o questionário do Sínodo dos Bispos de 2023. Eles são encontrados no Site de nossa diocese. Além do questionário voltado para os membros da Igreja, temos ainda o questionário para a sociedade. Peço que todos se empenhem para responder e levar para as pessoas que não são da Igreja a responder também.

Roguemos a Santa Mãe de Deus pelos diversos trabalhos pastorais realizados em nossa Diocese e também por todos sacerdotes em sua missão na Igreja e no mundo.

 

Pe. Marcelo Dias SoaresCoordenador Diocesano de Pastoral 

A Páscoa é nossa vocação

Queridos irmãos e irmãs, como diz o apóstolo Paulo, “Aquele que vos chamou é fiel” (1Tm 5,24), e aqui estamos, em mais uma Páscoa, onde o Cristo venceu a morte para que possamos viver por Ele e para Ele e, assim, podermos viver a vocação do coração de Deus.

A Páscoa que hoje vivemos é a nossa vocação, no sentido do novo Êxodo, onde vamos ao encontro da Terra Prometida, que é a graça, saindo da vida velha. Neste sentido, é preciso compreender que somos seguidores do Crucificado, Aquele que tomou a sua cruz, e foi até o fim, com a certeza que da ressurreição ao terceiro dia.

A nossa vocação, seja ela qual for – familiar, religiosa, consagrada ou sacerdotal – exige que que tomemos o exemplo de Cristo, na exigência que carreguemos nossas cruzes. A resposta que damos ao chamado de Deus está neste caminho no qual fazemos todos os dias em busca da santidade do nosso sim a Ele. Por mais radical que seja a nossa opção vocacional e por mais profunda que seja a entrega incondicional do vocacionado à causa do Reino, ainda assim, ninguém está isento da cruz. Sabemos que nossas fragilidades muitas vezes falam mais alto e que acabamos caindo, porém é na certeza desse chamado que levantamos e seguimos em frente.

Na verdade, todas as nossas dores e sofrimentos faz com que nos aproximemos cada vez mais no Cristo e nos permite nos aprofundarmos na intimidade com Ele. E uma vez que não temos essa intimidade, não teremos força em nossa vocação, deixando de lado a radicalidade evangélica e não conseguindo doar por inteiro ao serviço do Reino e nem ao próximo.

Cada vocação, é uma experiência pascal. Nela vivemos dores e sofrimentos, mas sabemos que que temos a graça da vitória do Cristo Redentor. Páscoa é a vida nova para todos, independente da vocação que abraçamos. Nesta Páscoa, que hoje podemos retornar a celebrar em nossas comunidades, que é a mística de Cruz e Ressurreição, possamos dar o nosso verdadeiro testemunho ao mundo, precisamos ser “luz do mundo e sal da terra” (Mt 5,13-14).

Nossa vocação como cristãos nos tempos atuais – onde ainda vivemos um período pandêmico da história – é um compromisso de ser, de testemunhar e de anunciar a Boa Notícia do Cristo, para que assim seja feita total realização do Reino em nossas vidas. Precisamos ajudar a reascender as vocações que foram se apagando com o tempo; precisamos mostrar que o Filho de Deus está vivo e nos chama; precisamos ser esse sinal vivo para as pessoas retornem com mais fervor para as suas comunidades.

Não sabemos quanto tempo nós temos aqui nesta terra, mas sabemos que temos o agora, que temos esta Páscoa. Que neste período possamos realmente aprofundar o nosso chamado – seja em um momento de escuta; num momento de partilha ou até mesmo no momento de serviço. Que esta Páscoa nos renove e nos dê um novo ânimo na vivência da vocação a qual fomos chamados desde o ventre materno (Jr 1,5).

 

Igor Henrique – 2° ano de Filosofia

POR UMA CONVERSÃO EFETIVA E GLOBALIZADA

Aproximando-se a páscoa, chega o tempo de nos encontrarmos profundamente com o amor de Jesus que nos liberta das amarras do pecado. Nesta experiência que nos renova, devemos encontrar as disposições para praticar as boas obras que implementam o Reino!

Nas lições do Apóstolo Paulo, compreendemos que somos salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de nós, é dom de Deus (Ef. 2, 8-9). Todavia, a partir do encontro com Jesus Cristo, que perdoa os pecados, como viver como cristãos? É o mesmo Apóstolo que, prosseguindo, nos responde que “fomos feitos por ele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, previamente preparadas por Deus para que andássemos nela (Ef. 2,10). É desejo do próprio Jesus que a luz dos cristãos resplandeça a partir de boas obras para que o Pai seja glorificado (Mt. 5,16).

Que imensa tristeza causa a nós cristãos, sabermos que há lugares do mundo nos quais se implementam obras de destruição, a exemplo da atual guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É nossa missão, sem nenhuma dúvida, orar incessantemente pelo fim do conflito, que até o fechamento desta edição, já tinha vitimado cerca de mil pessoas.

Todavia, não devemos nos esquecer que há inúmeros outros conflitos ao redor do mundo que, provavelmente, por não interferirem em interesses comerciais de importantes nações, recebem menos atenção dos principais atores mundiais, ajuda internacional e até oração. Exemplo disso é o conflito do Iêmen, que já dura cerca de 11 anos e contabiliza cerca de 233 mil mortos e 2,3 milhões de crianças em desnutrição aguda. Ou, ainda, o conflito na Etiópia, que, em 16 meses, já deixou cerca de 900 mil pessoas em situação de fome, com relatos de assassinatos de civis e estupros em massa.

Pode ser que valha a pena refletir até que ponto a captação de nossas atenções e solidariedade à guerra que ocorre na Europa – que é inquestionavelmente cruel, repito – pode nos causar uma espécie de paralisia que nos rouba, de forma imperceptível, a consciência da importância de praticarmos as boas ações que nos são possíveis, sobretudo em âmbito local e familiar.

Nesse contexto, não custa lembrar que no Brasil, de acordo com dados do Datasus, registra-se uma média de 6 mil mortes por ano por complicações decorrentes de desnutrição. Muitas dessas vítimas, por certo, moram em nossa cidade, às quais somos chamados a socorrer, com nossos recursos financeiros, orações, e também com um voto consciente em candidatos comprometidos com o bem comum.

Ainda, é preciso lembrar que mesmo em nossas famílias, muitos de nossos filhos passam fome, senão de alimento, de atenção e direção, que se saciaria com a presença amorosa dos pais, que por vezes estão por demais ocupados com outras atribuições – por vezes até dentro da própria Igreja – e acabam por abdicar de sua missão de primeiros e principais educadores de seus filhos.

Por isso, ao me referir a uma conversão globalizada, quero indicar a necessidade de uma mudança de vida integral – nesse sentido, global, que nos faça sensíveis e atuantes com relação aos problemas mundiais, mas também que nos faça cumprir a missão a nós concretamente reservada, em nosso dia-a-dia.

Digo isso não para pregar um ativismo exclusivamente materialista, que por certo, não é característico da vida cristã. Mas para convidar a todos, a começar por mim, a que, nessa Páscoa, a partir da experiência da ressurreição de Cristo, nos desapeguemos de nós mesmos para nos darmos mais aos outros, em uma autêntica experiência cristã de amor e serviço desinteressado, do qual o maior exemplo é Nosso Senhor Jesus, e com Ele, tantos santos que de igual modo, nos indicam o caminho a seguir.

 

Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, pós-graduando em Teologia, mestre em Direito pela PUC-SP