A família natural é um projeto originado diretamente no coração de Deus, que, na sua bondade quis que o ser humano, já aqui na terra, experimentasse, ainda que de forma limitada e imperfeita, a relação de amor e comunhão da qual a Santíssima trindade é fonte e modelo.
A fecundidade é um dom para o matrimônio. Não apenas aquela de ordem natural, que tem em vistas a procriação, mas também a fecundidade dita alargada, que pode ser entendida como as diversas formas que o casal cristão tem de abrir-se generosamente para acolher aqueles que mais necessitam.
Penso que a adoção seja uma manifestação de amor ainda mais sólida e profunda do que própria maternidade natural já que nessa, os laços de sangue fazem brotar nos pais um especial sentido de pertença do filho, que é fortalecido pela adaptação do organismo da mãe durante a gestação. Já a adoção exige um coração desprendido, generoso, maduro e decido por amar aquele que não é naturalmente seu, mas que precisa ser amado.
São inspiradas as palavras do Papa Francisco, quando em sua Exortação Amoris Laetitia diz que “aqueles que assumem o desafio de adotar e acolhem uma pessoa de maneira incondicional e gratuita, tornam-se mediação do amor de Deus que diz: ‘Ainda que a tua mãe chegasse a esquecer-te, Eu nunca te esqueceria’ (cf. Is 49, 15)”.
A Constituição Federal estabelece que a toda criança tem direito a uma família (art. 227). Por isso, como Igreja, devemos exigir dos poderes constituídos que os processos de adoção tenham rapidez e efetividade, evitando que crianças, por lentidão do aparelho estatal, permaneçam abandonadas por meses ou até anos, em orfanatos ou em situação de ainda maior abandono, o que pode gerar marcas danosas e por vezes indeléveis em sua alma.
Por outro lado, é de fato necessário, que, como a atual legislação determina, o processo seja cuidadoso, contando com etapas, como a preparação da família, o estágio de convivência, entre outros, com o objetivo de verificar se, de fato, a família pretendente tem condições mínimas de dar à criança um lar onde possa se desenvolver de forma sadia.
É consequência da profunda experiência com um Deus que é amor, que é própria da fé que professamos, que as filas de adoção sejam compostas, em grande parte, por católicos que queiram, sentindo-se amados até as últimas consequências, fazer com que esse mesmo amor chegue até os mais pequenos e necessitados.
Santa Dulce dos pobres, conhecida como “anjo bom da Bahia”, que nas suas peregrinações pelos bairros de Salvador recolhia crianças e jovens órfãos e fugidos de casa, seu exemplo nos inspire e, do Céu, rogai por nós e por todos aqueles que esperam por um lar.
Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, Pós-Graduado em Teologia, Mestre em Direito na PUC-SP