SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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A Política Melhor e o dever do Cristão (2)

Após os acontecimentos de declarações de ódio e atos de violência que têm  sido noticiados pela imprensa, envolvendo questões políticas e partidárias, pensei que não seja o caso de ficar dando conselhos, ou melhor, dá-los refletindo nas palavras do Papa Francisco na “Fratelli Tutti.” De modo especial no capitulo quinto da Encíclica o Papa fala da “Política melhor”. Não quero me deter nas formas de política que o Papa classifica como maléficas para sociedade, mas quero revisitar as indicações da Política Melhor. O mundo não pode funcionar sem a política. A política, a boa política, só pode encontrar um caminho eficaz na busca da fraternidade universal e na paz social.

Acredito que estes meus “conselhos” não irão chegar aos grandes políticos do nosso País e nem é esta a minha intenção. Eles se dirigem, de modo particular, aos irmãos e irmãs da diocese de Guarulhos.

  1. “…a política não deve submeter-se à economia…não se pode justificar uma economia sem política, porque seria incapaz de promover outra lógica para governar os vários aspectos da crise atual…” (FT 177)

È  falsa a equação que Política é igual a Economia. Isso acontece principalmente quando no se tem noção que a própria palavra significa: eco (oikos-casa) + nomia (lei). Uma política que não busca um diálogo amplo e sob vários aspectos é manipuladora. Uma política sem visão integral busca somente solucionar temporariamente problemas pontuais, sem ir à raiz que causa tanta pobreza e miséria. Visão integral quer dizer englobar  todos os aspectos que leve o ser humano a viver com dignidade desde a sua concepção até a sua morte natural.  O contrário disso é buscar resolver problemas pontuais e emergenciais  para manipular as pessoas, sem dar perspectivas à integralidade e ao verdadeiro bem comum. Uma política identificada com economia simplesmente, vê tudo sob aspecto financeiro e lucrativo, sem se dar conta, por exemplo, que a destruição do meio ambiente, nossa casa comum, atinge a todos e faz crescer pobreza e miséria. A Economia não pode direcionar ou assumir o poder do Estado.

Não é possível que reflitamos sobre a melhor política a partir dos problemas e interesses pessoais, sem primeiramente olhar para o outro, principalmente para o pobre e miserável.

Precisamos, neste tempo de campanha política, em nossas famílias e comunidades,  estar atentos em nossas reflexões (não discussões, brigas e competições), quais são as propostas que visam o bem comum, mesmo que se tenha de construir caminhos que precisam de um prazo longo. Propostas imediatistas podem ser falsas. “Pensar nos que hão de vir não tem finalidade para fins eleitorais, mas é o que exige uma justiça autêntica…” (FT 178)

 

  1. “…uma amizade social que integre a todos não são meras utopias.. .gerar processos sociais de fraternidade e justiça para todos, entra no campo da caridade mais ampla, a caridade política…(FT 180) “…o amor expressa-se não só nas relações íntimas e próximas, mas também nas macrorrelações como relacionamentos sociais, econômicos e políticos.” (FT 181) “Essa caridade política supõe ter maturado um sentido social que supere toda mentalidade individualista…A boa política procura caminhos de construção de comunidade nos diferentes níveis da vida social, a fim de reequilibrar e reordenar a globalização para evitar seus efeitos desagregadores.” (FT 182)

Toda e qualquer plataforma política que só ataca o outro e prefere construir-se sozinha, ou dominando o outro não oferece condições de amor, mas somente de individualismo e desejo de poder manipulador. Uma plataforma política que se apresenta ditatorial e não quer se abrir ao diálogo, não inspira comunhão e participação. Toda polarização é ignorante, pois não sabe olhar o que outro pode oferecer e acaba por se tornar mera competição.

É preciso que em nossas famílias e comunidades nos exercitemos nesta caridade política. É preciso “ter os rins cingidos”: não se deixar levar pelas paixões do momento. É preciso “ter as lâmpadas acesas”: ter como luz a fé que faz enxergar onde se encontram os valores do Reino que o Senhor nos ensinou.

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist – Bispo diocesano

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