SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

A formação ao silêncio na liturgia

O Papa Francisco em sua Carta apostólica Desiderio Desideravi abordou a necessidade de os batizados serem formados para a liturgia e pela liturgia, considerada a fonte e o ápice da vida cristã. De modo particular, no parágrafo 52, sobre a formação ao silêncio orante e litúrgico, que não é uma pausa ou ausência de palavras, mas parte necessária da ação litúrgica, porque move o fiel ao arrependimento e ao desejo de conversão, suscita nele a escuta da Palavra de Deus e prepara-o à oração, dispondo-o também à adoração do Corpo e do Sangue de Cristo.

Fica claro que o Pontífice quer levar os cristãos a refletir sobre a urgência da redescoberta do silêncio como símbolo da presença e da ação do Espírito Santo na celebração litúrgica, em particular da Eucaristia.

É inegável a necessidade da redescoberta do silêncio litúrgico, entendido não como elemento absoluto e significativo em si mesmo, mas um sinal de participação, condição espiritual para uma verdadeira compreensão do mistério celebrado, para a escuta da Palavra de Deus e para a resposta da assembleia, visto que é o Espírito Santo que leva a comunidade reunida a crescer como templo consagrado.

Tal silêncio é também pedagógico, capaz de criar as atitudes espirituais necessárias à vivência litúrgica e de oferecer a cada um dos membros presentes um espaço vital para sua interiorização. Muitas vezes o silêncio não existe porque, provavelmente, se perdeu (ou se foi atenuando) a noção do Sagrado dentro da celebração dos sacramentos. E ele é importantíssimo para o encontro pessoal com o Senhor! Valorizar novamente o silêncio, portanto, é uma das tarefas mais urgentes da Igreja.

O silêncio inspira o diálogo entre Deus e os homens, torna-se manifestação do respeito devido ao Senhor que se revela. Sua importância está ligada à palavra, da qual é um terreno privilegiado, de modo que uma maior busca por ele, na liturgia, é também sinal de uma maior maturidade celebrativa. Silêncio e palavra que se complementam sem se contradizer. Uma celebração que “empilha” um rito sobre o outro, que segue um ritmo frenético sem parar, cansa a comunidade, sem edificá-la. A liturgia é feita de ritmos, de alternâncias, de ritos.

Por fim, ressaltamos que, para além destes momentos específicos previstos para o silêncio, é toda a liturgia, aliás a própria igreja enquanto espaço celebrativo, que precisa recuperar a dimensão ritual do silêncio, evitando-se todo tipo de ruído não somente desnecessário, mas também prejudicial à vida litúrgica, como o alto volume de instrumentos e do sistema de som e imagens, o excesso de comentários, o não infrequente grande número de avisos ao fim da Missa, as conversas dentro do ambiente da igreja, todas essas atitudes que muitas vezes dificultam aos fiéis ouvir a suave voz do Espírito.

 

Pe. Fernando Gonçalves – Comissão Diocesana de Liturgia

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