Continuação…
Retomando nosso estudo sobre Salomão, vejamos as características gerais do seu reinado:
– As preocupações principais eram criar um exército permanente, fixar uma capital política e religiosa, Jerusalém, e selecionar uma elite a serviço do rei;
– Acumulação: poder, terras, privilégios e luxo na corte (1Rs 5, 2 – 3; 7, 1 – 8; 10, 14 – 23)
– Tributação abusiva: o luxo da corte, a estrutura do Estado e as guerras exigiam muito dinheiro;
– Exploração sobre os agricultores e a corveia (1Rs 5, 27 – 32; 12, 4): isso vai criar a resistência dos trabalhadores;
– União com princesas estrangeiras e adoção de cultos estranhos à fé do povo (1Rs 11, 1 – 8);
– Concentração de riquezas nas mãos do rei e dos seus auxiliares;
– Uso da religião para manipular o povo (ver 1Rs 8, 1 – 13; 6 – 7)
Mais uma vez, o povo elevou seu clamor, como na escravidão do Egito. O rei se distanciava cada vez mais do povo e da periferia (Am 6, 1 – 6). A elite vai criando ideologias para oprimir ainda mais o povo, como ocorre na literatura sapiencial, por exemplo, na qual a pobreza é considerada fruto da preguiça e, portanto, uma maldição, e a riqueza, uma bênção de Deus (ver Pr 10, 4; 10, 15; 13, 18).
O resultado disso tudo era a discriminação ao pobre e desprezo ao seu clamor (Ecl 9, 13 – 16; Eclo 13, 3 – 4). Na época de Salomão, portanto, houve um retrocesso: a volta à escravidão semelhante à escravidão vivida no Egito!
Salomão morreu em 931 a.C.; após sua morte, houve um cisma político e surgiram dois reinos:
– no NORTE – Reino de Israel, composto pelas DEZ tribos, que se rebelaram contra Roboão, filho sucessor de Salomão (1Rs 12, 10 – 12);
– no SUL – Reino de Judá, composto pelas tribos de Judá e Benjamim, fiéis a Roboão (descendente de Davi, filho de Salomão).
As causas dessa divisão do Reino de Salomão foram:
- Impostos abusivos:
– taxas do santuário: aspecto sagrado, desde Moisés – dois tipos:
– obrigatórias: dízimo anual e tributo anual por pessoa;
– eventuais (casos especiais): taxa pelo pecado e resgates de pessoas ou bens consagrados a Deus (comutação) Ver Lv 4; 5, 15 – 16; 27, 30 – 33; Dt 14, 22 – 29.
– impostos “do rei”: meios de se apossar dos bens de seus súditos – diversas formas de exploração; Samuel já prevenira o povo desse risco: 1Sm 8, 11 – 17; Tipos:
– dízimo do rei – ver 1 Rs 10, 15; 21;Am 7, 1;
– impostos por vassalagem – ver 2Rs 15, 19 – 20; 23, 33 – 35 = casos de Manaém e Joacaz;
– outros impostos: tributo territorial, tributo por pessoa e pedágios (Esd 4, 13).
- Violência e opressão:
– política de Salomão: cruel e opressora (corveia = trabalhos forçados);
– manipulação religiosa;
– surgimento de dois inimigos: Síria (Aram) e Edom;
– tributos para manter um exército forte e bem equipado (1Rs 11, 14 – 25);
– riqueza do rei ao lado da miséria do povo do Norte.
- Influências do paganismo:
– Casamentos de Salomão – número exagerado de esposas = gastos excessivos na corte;
– Inserção da IDOLATRIA no Templo de Jerusalém (deuses);
– Pactos comerciais e políticos com outros países.
- Escravidão: o povo do Norte tornou-se mercadoria de barganha política e econômica (1Rs 5, 20 – 25; 9, 10 – 14) e colocado como escravo do rei (1Rs 5, 27; 11, 26).
Dois fatos marcaram o fim da era de Salomão:
1º- A rebelião contra Roboão, apoiada pelo profeta Aías, de Silo (1Rs 11, 29 – 32.37 – 38; 12, 4 – 11). O povo foi suplicar a Roboão o alívio às imposições de seu pai Salomão, mas Roboão não ouviu os clamores do povo.
2º – Jeroboão: tornou-se rei das tribos do Norte, uma espécie de “Davi do Norte”; porém, a dinastia de Jeroboão não cumpriu o ideal que Aías propôs (1Rs 11, 37 – 38), porque Jeroboão estava afeito à idolatria.
Pe. Éder Aparecido Monteiro