A Campanha da Fraternidade, nesta quaresma, nos convida a refletir sobre educação. Penso que o tema escolhido pela CNBB é por demais oportuno. Em primeiro lugar por sua relevância para a construção das bases de uma sociedade melhor, mas também porque os efeitos da pandemia global ocasionada pela Covid-19 foram avassaladores nesse campo.
De saída, cabe-nos a pergunta: o que é educar? Gostaria de relembrar que certa vez, um dos alunos de Michelangelo, escolhendo com seu mestre, pedras a serem esculpidas nas montanhas, perguntou-lhe como que, de forma mágica, tais pedras se transformavam em santos, anjos, papas. Respondeu-lhe apontando uma pedra: “aí dentro tem um anjo, basta tirar os excessos que estão sobrando”.
Dessa reflexão já podemos concluir que o processo de educação não se resume à importante tarefa de garantir às crianças e adolescentes boa instrução escolar e desenvolvimento físico. Muito além, ele deve formar o ser humano em sua integralidade, conduzindo-o a desenvolver-se até sua potência máxima, com a iluminação de sua razão e o fortalecimento de sua vontade.
Tenho que dizer uma pobre herança deixaremos se nossos esforços se centrarem em garantir um diploma aos nossos filhos, se, ao fim, se tornarem pessoas sem princípios claros e sólidos, força de vontade para pô-los em prática, e, acima de tudo, sem fé. Eis a sublime missão de educar, que requer paciência e amor, entregues no dia-a-dia, para eliminar os maus hábitos e descobrir as virtudes dos nossos filhos.
Não é demais lembrar que os governos civis podem e devem amparar nossas famílias para prover educação aos nossos filhos. Aliás, a Constituição Federal que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família (art. 225).
A primazia da educação dos filhos, porém, é dos pais, que não podem delegá-la integralmente à escola, a quem cabe complementar os pais em sua missão, na qual são insubstituíveis. A Igreja nos recorda, na Encíclica Divini Illius Magistri, que os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação de prover a educação religiosa, moral e civil da sua prole, e, por isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores.
Sábias as palavras do Papa Pio XI, que ensinou que “a escola, considerada até nas suas origens históricas, é por sua natureza instituição subsidiária e complementar da família e da Igreja, e portanto, por lógica necessidade moral deve não somente não contraditar, mas harmonizar-se positivamente com os outros dois ambientes, na mais perfeita unidade moral possível, a ponto de poder constituir juntamente com a família e com a Igreja, um único santuário, sacro para a educação cristã, sob pena de falir no seu escopo, e de converter-se, em caso contrário, em obra de destruição”.
Por isso, é necessário que cada família, em sua realidade, invista tempo em educar os filhos na formação das virtudes e do bom caráter. Além disso, é necessário acompanhar com proximidade a educação ministrada aos filhos na escola, que não tem o direito de, em desserviço à família, desconstruir os princípios e valores transmitidos no lar.
Que essa quaresma seja momento propício para que nos conscientizemos de nosso dever e tomemos as rédeas da educação integral à qual nossos filhos tem direito, ainda que isso signifique abrir mão de outros projetos. Pois não há vitória sem sacrifício. Não há ressurreição sem cruz. E não há missão mais nobre e realizadora, do que levar educar nossos filhos para construir a eternidade aqui, por meio de uma vida santa, para, ao final, levá-los ao Céu.
Marcos Antônio Favaro – Procurador Jurídico, pós-graduando em Teologia, mestre em Direito pela PUC-SP