Na reflexão do mês passado coloquei alguns pontos do “clima pascal” no Antigo Testamento, convidativo ao povo escolhido para a fidelidade e a missão. No povo da Antiga Aliança estão prefiguradas a fidelidade e a missão do povo da “nova e eterna Aliança”. A Páscoa e o “clima pascal” do Antigo Testamento se cumprem plenamente em Jesus Cristo, nosso Senhor.
A Páscoa da Ressurreição do Novo Testamento exige o anúncio do senhorio de Jesus Cristo em toda a missão da Igreja: “É ele a pedra desprezada por vós, os construtores, mas que se tornou a pedra angular . Pois não há debaixo do céu outro nome dados aos homens pelo qual devamos ser salvos.” (At 4,11-12). Não é falta de respeito para quem não aceita, rejeita, acredita de modo diferente ou expressa outra experiência religiosa. Jesus Cristo é necessário para salvação do homem (integralmente) e à Igreja cabe a missão – imperativa – de anunciá-lo explicitamente.
Peço desculpas pela abundância de citações bíblicas, mas é para ajudar a refletir sobre as exigências pascais na missão da Igreja. Nas aparições de Jesus ressuscitado nos evangelhos sinóticos, os apóstolos são sempre enviados com um mandato explícito de anunciar o evangelho da salvação “a todos” (Mt 28,18-20; Mc 16,15-20; Lc 24,46-47). Desde a primitiva Igreja em Jerusalém, manifestada no dia de Pentecostes, até a missão de Paulo entre as nações pagãs, (At 1,8; 2,37-41; 3,11-26; 4,8-12; 5,27-33. 7,56; 8.34-35; 10-11; 13-28) o anúncio explícito de Jesus Cristo ressuscitado forma as comunidades cristãs, anima a vida da Igreja, transforma a vida das pessoas e, consequentemente, vai transformando pela força do evangelho as sociedades.
Ainda que, infelizmente, tenhamos assistido imposições e retaliações por parte da Igreja na chamada primeira evangelização da Europa e primeira evangelização nas Américas, é preciso concordar que doutrinas e, consequentemente, práticas que contradizem o evangelho não podem coexistir harmonicamente. Isso não quer dizer que devam estar em guerra. Diálogo não é sincretismo. O anúncio de Jesus Cristo é sempre um dom. Não pode ser identificado como opressão.
Iniciamos o mês de junho com a solenidade de Pentecostes, final do Tempo Pascal, mas ápice da Páscoa. O Espírito fala em nós, nos leva ao verdadeiro testemunho de Jesus. Com a força da Páscoa caminhamos na nossa missão.
Esta missão para a qual nos impulsiona Pentecostes, traz consigo a exigência do anúncio explícito da salvação conquistada por Jesus ressuscitado. Somente este anúncio pode revitalizar a vida das nossas comunidades, algumas tão feridas neste tempo de pandemia. Somente este anúncio pode reanimar os nossos agentes de pastoral, alguns tão desiludidos que não querem retomar as atividades que tiveram de ser interrompidas há 02 anos. Somente este anúncio pode trazer uma verdadeira esperança e fazer “esperançar” as pessoas que acabaram indo para periferias existenciais e geográficas durante este tempo. Somente a força deste anúncio pode auxiliar na transformação da nossa sociedade tão esfacelada por aproveitadores, que neste tempo inescrupulosa e egoisticamente, arquitetaram a conquista de um poderio econômico e político. Somente o evangelho de Jesus pode nos dar um discernimento amplo, perspicaz e eficaz. Somente o evangelho pode nos dar lucidez profética.