SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

Leigas e Leigos “nem cá, nem lá”

Estamos vivendo os últimos dias do III Ano Vocacional no Brasil, “Vocação: Graça e Missão – Corações ardentes pés a caminho”. No mês de novembro, de modo especial, recordamos a vocação laical. Entre as solenidades de Cristo Rei 2017-2018, vivemos no Brasil o Ano do Laicato, animado pelas reflexões do documento 2015 da CNBB: Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na sociedade – Sal da terra e luz do mundo.

Prestes a terminar o Ano do Laicato – não me recordo quem –pediram-me para escrever algo sobre o legado do Ano Laicato. Abaixo segue um trecho do que escrevi.

A primeira coisa a destacar é a conscientização e reflexão sobre a vocação laical. O documento 105 da CNBB não trouxe novidades teológicas, e nem poderia. No entanto, os vários eventos nas dioceses trouxeram consigo a afirmação – talvez um pouco esquecida – que ser leigo e leiga na Igreja, não é uma “sub vocação”, mas uma vocação plena e autônoma como a vocação aos ministérios ordenados e à vida consagrada. O grande relevo que o documento 105 da CNBB dá à vocação laical – relevo, não novidade – é o leigo como sujeito eclesial. A tradicional regra gramatical nos ensina que sujeito é aquele que pratica a ação. A vocação laical não é passividade, mas atuação concreta e própria na obra da evangelização. Esta é a missão da Igreja. Leigos e leigas, ministros ordenados, consagrados e consagradas, todos somos sujeitos eclesiais que, dentro do nosso âmbito vocacional, somos chamados atuar concretamente na obra da evangelização, com a autonomia – não independência arbitrária – que se manifesta numa verdadeira espiritualidade de comunhão e participação.

                Ligado a este primeiro ponto fundamental está a responsabilidade dos vocacionados leigos e leigas na obra evangelizadora da Igreja.  Como sujeitos eclesiais, necessitam (ou melhor, a missão da Igreja necessita) participar ativamente nos vários âmbitos da comunhão eclesial. (cf. Doc 105 CNBB 136-160)

                O Ano do Laicato, na sua reflexão teológica, colocou em foco o específico da vocação laical: a sua índole secular. De modo particular, é no mundo que os leigos devem vivenciar a ação transformadora do evangelho. A presença da identidade cristã católica precisa incrementar a sua presença profética e evangelizadora em tantos âmbitos da nossa sociedade e nos modernos areópagos. (cf. Doc 105 CNBB 241-273.) A organização do laicato com os Conselhos de Leigos ou algo similar, deveria ajudar no diálogo com as realidades da sociedade e ação transformadora na sociedade. Trata-se de uma presença profética.

Por último, não exatamente em último lugar, este Ano deixa como legado o sentimento da necessidade da formação espiritual, catequética, teológica e específica para os vários âmbitos e “areópagos modernos”. Tanto para a ação transformadora no âmbito eclesial, como no mundo é necessário formar-se.  É preciso caminhar para um aprimoramento na formação do laicato. Não podemos simplesmente ser uma “Igreja em saída”. Temos que sair com uma identidade, estar presente no mundo com o odor de Cristo.

Um legado importante para a nossa diocese do Ano do Laicato foi a formação do Conselho Nacional de Leigos – CNLB Guarulhos, que tem promovido, especialmente, a formação para a missão da vocação laical na sociedade.

Entretanto, aproximando-se da solenidade de Cristo Rei, dia de celebrar a vocação laical, percebo um desinteresse dos leigos – sem generalizar, por favor – na missão ad intra e ad extra em nossas comunidades. Entre a pandemia e o período pós pandemia, foram sendo manifestados abandono em muitas comunidades dos ministérios exercidos com tanto vigor anteriormente. É verdade que pandemia nos desestruturou em tantos aspectos, mas a fé que vence o mundo sempre nos coloca em pé, quando a buscamos como força no caminhar.

Temos vários leigos “nem nem”. Alguns resolveram “dar um tempo” simplesmente na missão assumida em força do batismo e diante de Deus nos ministérios laicais importantes para a obra da evangelização. Até mesmo nas celebrações dominicais aumentou o absenteísmo. E o que dizer dos momentos formativos para o exercício dos ministérios dentro das comunidades? Os grupos de rua esvaziaram-se. Temos irmãos e irmãs que estão assumindo várias missões nas comunidades em virtude da omissão dos chamados e capacitados que estão “dando um tempo”. Estes são os leigos e leigas “nem cá”.

As formações do CNLB Guarulhos, que tanto tem trabalhado para a vivência da índole secular da vocação laical, têm tido pouca adesão.  Alguns, para não dizer muitos, dos agentes das pastorais sociais – que manifestam um aspecto preponderante da Igreja em saída – abandonaram o seu trabalho e a formação. Em várias paróquias várias pastorais sociais que existiam antes da pandemia, deixaram de existir. Tenho certeza de que estes irmãos e irmãs buscam viver no mundo conforme os valores do evangelho, mas vão aos poucos perdendo a identidade eclesial. Estes são os leigos e leigas “nem lá”.

Este não é uma bronca de pastor. Trata-se de uma reflexão que brota de mim após passar alguns dias pensando sobre o que escrever neste mês para a Folha Diocesana.

Dom Edmilson Amador Caetano, O. Cist.Bispo diocesano

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