SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

JOSÉ DO EGITO: A FÉ POSTA À PROVA

Na história de José, o preferido de Jacó no Gênesis, percebemos uma ação discreta de Deus no desenrolar dos fatos da vida de José e de seus irmãos.

A preferência do pai em relação a José o coloca numa situação conflituosa com seus irmãos (37, 2b – 11). Os sonhos que José tem aumenta a tensão entre seus irmãos e ele. Por fim, vendido como escravo pelos irmãos (37, 12 – 36), José vai parar no Egito (39, 1 – 6), onde enfrentará uma cilada por parte da esposa de Putifar, seu senhor (39, 7 – 20), que o leva à prisão. Vemos em José a prefiguração de Jesus, vendido por um dos seus irmãos (do grupo dos Doze) por trinta moedas de prata. O agravante nos irmãos de José é que eles mentem a seu pai, dizendo que José fora atacado por um animal feroz e simulam tal versão dos fatos, sujando com sangue de animal a roupa de José.

Na prisão, José já se destaca por seus dons (39, 20b – 40, 23). O que o leva a ser o intérprete dos sonhos do faraó (41, 1 – 36), revelando a sabedoria de Deus nos fatos da vida, nos sete anos de abundância e nos sete anos de seca que o Egito enfrentaria. Sua sabedoria o levou a ser exaltado pelo faraó (41, 37 – 49), prefigurando a exaltação de Cristo mediante sua ressurreição. Os filhos de José, Efraim e Manassés (41, 50 – 52), seriam patriarcas de duas importantes tribos de Israel.

Como fora previsto por José, chegou a fome na região do Egito e lugares circunvizinhos, inclusive em Canaã (41, 53 – 57). Neste contexto, os irmãos de José vão até o Egito à compra de víveres para seu grupo de Canaã. José os reconhece. Eles não reconhecem José. (42, 1 – 24) e José os coloca à prova, permitindo que retornem (42, 25 – 38), desde que tragam Benjamin (irmão caçula de José) para o Egito. Simeão ficou como refém. Por fim, os irmãos de José retornam com Benjamin e se reencontram com José no Egito (43, 1 – 34), ocasião em que José manifesta a preferência por seu irmão caçula. Entretanto, mais uma vez, José coloca seus irmãos à prova: a taça na sacola de Benjamin (44, 1 17) é deixada de propósito, ao ponto de gerar uma tensão intensa entre José e seus irmãos. Mas José estava pondo-os à prova. Judá intervém (44, 18 – 34) para defender o irmão caçula. E, assim, José se dá a conhecer aos seus irmãos (45, 1 – 15), concedendo-lhes o perdão e convidando-os a morar no Egito com o pai Jacó (46, 16 – 28). Os irmãos de José voltam a Canaã para buscar o pai Jacó, já bem idoso.

É tocante o retorno de Jacó ao Egito e seu acolhimento por José (46, 1 – 7. 28 – 34).

Ao abençoar seus filhos (49, 1ss), Jacó concede na bênção o que a cada um convinha, sem poupar os que realmente mereciam algo mais severo ou desagradável. Por fim, o texto nos fala da morte e funerais de Jacó (49, 29 – 50, 14). Mais uma vez José concede o perdão a seus irmãos em consideração a seu pai Jacó (50, 15 – 26) e, enfim, José morre no Egito.

A história de José nos ensina que:

– Deus tem seus escolhidos para realizar uma grande missão: no caso de José, Deus salva um família (digo mais: um povo inteiro!) do extermínio da fome; mais tarde, na plenitude dos tempo, o Filho dileto do Pai traria a salvação de toda a humanidade mediante sua Paixâo, Morte e Ressurreição;

– o justo, mesmo desprezado e até vendido como escravo, no caso de José, mantém-se firme no Senhor, colocando sua confiança na providência do Senhor da vida e da história e concede o perdão aos seus agressores no tempo oportuno;

– na interpretação dos sonhos que José faz, percebemos desde já a tendência sapiencial da fé no Antigo Testamento, que também interpretará os fatos da vida em função dos planos de Deus; mais tarde, essa sabedoria está nos oráculos e exortações dos profetas, em cujas experiências, terão visões que serão também interpretadas pelos mesmos; Jesus, ao revelar-se, se mostrará como a sabedoria do Pai entre os homens;

– José, sendo o justo que sofre não só a rejeição dos irmãos, mas a cilada que a esposa de Putifar lhe preparou, é uma prefiguração de Jesus, que iria também ser traído, mas iria levantar-se do sepulcro, já ressuscitado, para reunir de novo os seus, remindo-os do pecado e da morte; da condição de escravo, Jesus foi exaltado na glória de Deus Pai (Fl 2, 5 – 11), assim como José fora exaltado pelo faraó;

– nas “linhas tortas” dos fatos históricos Deus vai delineando uma história de fé e de salvação, mesmo apostando no ser humano, apesar dos absurdos que são realizados mediante ao exercício da liberdade humana: Deus dá a direção para que o bem sempre prevaleça e seu amor seja reconhecido, apesar dos sofrimentos pelos quais precisaríamos passar; na história de José o perdão prevalece sobre todos os fatos que o antecederam e se tornou resposta do justo a tudo o que ele sofreu, a exemplo de Jesus, que tanto padeceu por nós, mas nos concedeu a remissão dos pecados.

 

Pe. Éder Aparecido MonteiroComissão de Liturgia

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