Diocese de Guarulhos

SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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Fomos chamados à Santidade

Fomos chamados a ser plenos em Deus. Fomos chamados à santidade: “Em Cristo Ele nos escolheu…para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo.” (Ef 1,4-5). Ser escolhido, ser predestinado à santidade, eis aí a nossa vocação. Através da filiação divina (adotiva) em Cristo, do mesmo Cristo somos revestidos e o mesmo Cristo é fonte e modelo da nossa vocação. O chamado à santidade não nos isola do mundo, nem dos problemas e muito menos dos combates que temos de vivenciar contra tudo aquilo que nos afasta desta vocação substancial a cada um de nós, discípulos de Jesus, seja qual for a nossa vocação específica.

A carta aos Efésios, que se abre com um belo hino que proclama a grandiosidade e gratuidade do amor de Deus para conosco e a nossa vocação à santidade, é objeto de reflexão do mês da Bíblia de 2023, conforme proposição da CNBB. Quero, aqui, de maneira simples, propor quase que uma leitura orante de Ef 6,10-18.

O combate espiritual, que não é nada alienante, nos faz perceber a força que temos em Cristo e garante a vivência da nossa vocação à santidade. “Revesti a armadura de Deus para poderdes resistir às insídias do diabo. Pois nosso combate não é contra o sangue nem a carne, mas contra os principados, contra as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, conta os espíritos do mal, que povoam as regiões celestes. Por isso deveis vestir a armadura de Deus, para poderdes resistir no dia mau e sair firmes do combate.” (Ef 6,11-13)

Revestir-se da armadura de Deus é revestir-se de Cristo, o rebento de Jessé, como nos descreve o Profeta Isaías: “Julgará os fracos com justiça, com equidade pronunciará sentença em favor dos pobres da terra. Ele ferirá a terra com o bastão da sua boca e com o sopro de seus lábios matará o ímpio. A justiça será o cinto dos seus lombos e a fidelidade o cinto de seus rins.”  (Is 11,4-5). Portanto, o combate espiritual não é alienante. O que “mata” o malvado é ter na boca o sopro do Espírito. O cinto nos lombos é estar revestido de justiça e equilíbrio. Na verdade, a couraça da justiça sobre os ombros, é a justiça da Cruz, que não paga o mal com o mal, mas compromete-se em carregar a maldade do mundo de maneira redentora.  O cinto nos rins é a fidelidade de quem não se deixa levar pelas paixões. As paixões deturpam a verdade. A verdade é racional e existencial. As paixões são “loucas”. Nem sempre o que eu sinto está em acordo com a verdade.  “Ponde-vos de pé e cingi os rins com a verdade e revesti-vos da couraça da justiça.”  (Ef 6,14)

“Calçai os pés com o zelo para propagar o evangelho da paz, empunhando sempre o escudo da fé, com o qual podeis extinguir os dardos inflamados do Maligno.” (Ef 6,15-16) Propagar o evangelho não é somente um empenho missionário de anúncio, mas também de testemunho concreto e radical no seguimento de Jesus. Isso se dá em momentos específicos missionários e pastorais, mas também no cotidiano. Para tanto precisamos estar alicerçados na fé que recebemos da Igreja. O que não está aí contido, são dardos inflamados do Maligno. O que fazem tais dardos? Enganam e enganam muito bem, criando confusão em nós mesmos e no ambiente em que devemos propagar o evangelho da paz. Para empunhar o escuda da fé, é preciso a virtude da vigilância (justiça, piedade, temperança).  “Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhe firmes na fé, sabendo que a mesma espécie de sofrimento atinge os vossos irmãos espalhados pelo mundo.”  (1Pd 5,8-9)

“E tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito que é a Palavra de Deus.” (Ef 6,17). O capacete protege cabeça. “Sede prudentes como a serpente”, a prudência da serpente é proteger a cabeça para não ser destruída. Nossa cabeça é Cristo. Defender a nossa fé, é proteger a nossa cabeça. Tantas coisas querem “fazer a nossa cabeça”, desviando-nos do caminho da fé. É preciso proteger a cabeça lutando com a espada do Espírito, a Palavra de Deus. Não são os nossos pobres argumentos que defendem a fé, mas aqueles que brotam da Palavra da Revelação de Deus na sua plenitude que é Jesus Cristo.

Na entrega do Símbolo da fé (Creio) aos catecúmenos, exorta São Cirilo de Jerusalém:  

“Abraça, cuidadoso, unicamente a fé que agora a Igreja te entrega para aprende-la e confessá-la, protegida pelos muros da Escritura…para eu não pereçam por ignorância, encerramos nos poucos versículos  do símbolo todo dogma da fé. Exorto-te a tê-lo como viático durante a vida inteira e não admitir nenhum outro mais…este resumo da fé foi selecionado dentre toda a Escritura…este Símbolo em poucas palavras encerra como num seio materno o conhecimento de toda a religião contida no Antigo e no Novo Testamento…Agora te foi dado o tesouro da vida”.

(S. Cirilo de Jerusalém Catequese 5 De fide et Symbolo)

Neste combate, na busca e vivência da santidade, deixemo-nos conduzir pela Palavra.

Dom Edmilson Amador Caetano, O. CistBispo Diocesano

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