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“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"A Esperança não decepciona" (Rm 5,5)

As peregrinações do Ano Santo: expressão do ser Peregrino de Esperança

Em maio de 2024 o Papa Francisco publicou a Bula de convocação do Ano Santo Jubilar de 2025. No refletir sobre ela e apresentá-la à diocese, veio em meu coração o desejo de fazer a Peregrinação a Roma. Pela minha idade é bem possível que seja o último Ano Santo Jubilar em que possa fazer esta peregrinação. Uma vez visto na programação que haveria uma data específica para o Jubileu dos bispos, preparei-me na agenda, no espírito e economicamente para esta viagem. Com alegria, então, pude estar em Roma nos dias 23 a 30 junho.

O Papa Leão XIV ao saudar os bispos no dia do Jubileu dos Bispos, disse-nos: “Aprecio e admiro o vosso empenho em vir como peregrinos a Roma, sabendo muito bem quão prementes são as exigências do ministério. Mas cada um de vós, como eu, antes de ser pastor, é ovelha do rebanho do Senhor!…somos os primeiros a serem convidados a atravessar a Porta Santa, símbolo de Cristo Salvador. Para guiar a Igreja confiada a nossos cuidados, devemos deixar-nos renovar profundamente por Ele, o Bom Pastor, para nos conformarmos plenamente ao Seu coração e ao Seu mistério de amor.” Estas palavras tocaram-me de modo especial, pois exprimiam todo o sentido de estar ali, naquele momento e naqueles dias. Foi exatamente com este espírito que passei pelas Portas Santas das quatro Basílicas papais de Roma.

Quero, pois, partilhar com os meus diocesanos algumas experiências destes dias de peregrinação.

            Já. na segunda-feira, dia 23 de junho, após breve repouso da viagem, peregrinei a duas Igrejas jubilares de Roma. A primeira foi a Basílica de São João do Latrão, catedral do Papa e considerada mãe de todas as igrejas de Roma e do mundo. Lá, primeiramente, participei do Sacramento da misericórdia de Deus para os pecadores. Ali, nas orações próprias para lucrar as indulgências, rezei pela caminhada sinodal da nossa diocese, pelos passos corajosos que pastoralmente somos chamados a dar. Não pude deixar de colocar nas minhas orações a comunhão do presbitério e a comunhão do bispo com o presbitério. Rezei pela minha conversão pessoal e pastoral. De lá dirigi-me à Basílica de Santa Cruz in Gerusalemme, cujo inícios remontam ao século IV e que, desde então, custodiam as relíquias da Cruz de Cristo, trazidas desde a Terra Santa por Santa Helena. Os monges cistercienses, da minha Congregação, foram responsáveis por esta Basílica até 2010, por quase 500 anos. Ali residi por 02 anos e meio, durante meus estudos em Roma e também fui vigário paroquial. Ao rezar diante das relíquias da Cruz, não pude deixar de pensar nos tantos rostos sofredores dos irmãos e irmãs de nossa diocese. Jesus, o homem das dores, conhecedor de todas as misérias, se faz presente no rosto dos pobres e sofredores. Como o meu, o nosso coração, precisa se abrir à grandeza do mistério da Cruz, para amarmos na dimensão da Cruz e tomar cada dia a nossa cruz.

Dia 24 de junho, terça-feira, foi o dia de ir à periferia de Roma: Santuário de Nossa Senhora do Divino Amor. Neste lugar pedi especialmente pelos movimentos marianos da nossa diocese: Terço dos homens, Mães que oram pelos filhos, Movimento Sacerdotal Mariano, Consagração a Nossa Senhora, terço das mulheres e tantas outras expressões marianas que temos. A última igreja onde peregrinei neste dia foi a Basílica de Santa Maria Maior. Ali, juntamente com outros peregrinos presentes, pude rezar o santo terço, pedindo a todos nós, a exemplo da Virgem Maria, a obediência da fé. Esta Basílica papal, tem recebido peregrinos (e turistas também) de modo excepcional neste Ano Jubilar, pois nela se encontra sepultado o saudoso Papa Francisco. Impressionante a fila que se forma para passar diante do local onde o seu corpo está sepultado. Neste dia, também, entre a minha ida ao Santuário de Nossa Senhora do Divino Amor e a Basílica de Santa Maria Maior, peregrinei também à Basílica de São Lourenço al Verano, local do martírio do Diácono São Lourenço. Logicamente, aí, detive-me em oração pela nossa Escola Diaconal São Lourenço e pelos diáconos permanentes da nossa diocese e suas famílias.

Dia 25 de junho foi o dia do Jubileu dos Bispos. Acredito que éramos mais de 800 bispos em peregrinação. Todos nós, já paramentados para a celebração da Eucaristia, adentramos à Basílica de São Pedro, passando pela Porta Santa. A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Ouellet, Prefeito emérito do Dicastério para os bispos, pois o Papa estava na audiência geral com o povo na Praça de São Pedro. Após a celebração da Eucaristia o Papa Leão XIV veio encontrar-nos no altar da Cátedra, na Basílica de São Pedro. A maneira como nos saudou já disse acima. A sua audiência para nós foi uma verdadeira catequese, pois exortou-nos a ser peregrinos de esperança para vivermos o dom profético que somos chamados a exercer, sendo construtores da unidade, como homens de fé, esperança e caridade pastoral. Exortou-nos ainda em cultivar virtudes humanas indispensáveis para a nossa missão: prudência pastoral, pobreza evangélica e a continência perfeita no celibato por causa do Reino dos Céus. As palavras do Papa Leão foram encorajadoras para mim, pois ser profeta se torna mesmo, cada vez mais, nadar contra a corrente No final da audiência, foi muito significativo, juntamente com Pedro (o Papa) e junto ao túmulo de Pedro cantarmos a profissão da fé, o Creio.

Quinta-feira, 26 de junho, foi o dia de peregrinar à Basílica de São Paulo Fora dos Muros. Neste lugar onde está sepultado o Apóstolo Paulo, coloquei intenções especiais pelo nosso COMIDI, mas também por todas as pastorais e movimentos da nossa diocese para que tenhamos uma verdadeira e corajosa conversão missionária. Coloquei nas orações os padres que estão servindo em outras dioceses e também os nossos dois missionários ad gentes, Pe. Salvador, Helena e a família em missão do Caminho Neocatecumenal, Ariel, Daniela e seus seis filhos.

Na noite deste dia foi celebrada uma vigília vocacional na Basílica de São Pedro. O testemunho de um seminarista nigeriano, estudante em Roma, tocou a todos, pois sofreu perseguição por causa da fé, junto com alguns outros companheiros de seminário na Nigéria. Eles foram ridicularizados pelos seus sequestradores e um dos seus companheiros de seminário foi cruelmente assassinado por ter falado sobre a fé cristã e ter ensinado o Pai Nosso a um dos carcereiros. Pensei em nossos seminaristas que devem sempre se preparar nestes momentos de formação para que estejam sempre preparados para dar a razão da própria fé. Esta vigília preparava a solene ordenação presbiteral que foi realizada no dia seguinte, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, presidida pelo Papa Leão XIV.

No sábado, dia 28 de junho, juntamente com o nosso seminarista Sebastião, peregrinamos à Basílica de São Sebastião ad catacumbas, local também de peregrinação jubilar. Rezando na basílica e visitando as catacumbas, coloquei nas minhas intenções todos que oferecem suas vidas pela evangelização em nossa diocese. Não deixei de colocar nas minhas intenções todos que, por pertencerem à Igreja e evangelizarem, são perseguidos, muitos começando a partir das próprias famílias.

Domingo dia 29 de junho, solenidade do martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo, tive a alegria de poder concelebrar com o Papa Leão. Nesta celebração, o Santo Padre impôs o pálio a 54 novos arcebispos. A grande experiência mística nesta celebração, foi poder atualizar na minha vida o dom da unidade e comunhão na Igreja. De fato, o Santo Padre, em sua homilia sublinhou que, apesar dos conflitos na obra evangelizadora, Pedro e Paulo, viveram a comunhão eclesial e a vitalidade da fé. “Caríssimos, a história de Pedro e Paulo ensina-nos que a comunhão a que o Senhor nos chama é uma harmonia de vozes e rostos, e não apaga a liberdade de cada um. Os nossos Padroeiros percorreram caminhos diferentes, tiveram ideias diferentes, por vezes confrontaram-se e discordaram com franqueza evangélica. Mas isso não os impediu de viver a concordia apostolorum, ou seja, uma viva comunhão no Espírito, uma sintonia fecunda na diversidade. Como afirma Santo Agostinho, «temos um só dia para as Paixões dos dois Apóstolos. Eles eram dois e formavam um só ser. Embora tivessem sofrido em dias diferentes, eles formavam um só ser» (Sermão 295, 7.7).”

Dia 30 de junho: dia de retornar a Guarulhos com o coração agradecido. Esta ação de graças pude exprimir num longo momento de oração na igreja paroquial Nossa Senhora de Loreto (que também é igreja jubilar). Esta igreja paroquial fica dentro do Aeroporto Internacional de Roma, em Fiumicino.

Ainda que seja difícil a todos irem a Roma, temos os lugares de peregrinação em nossa diocese. Espero que esta minha experiência possa animar os irmãos e irmãs, que ainda não fizeram sua peregrinação jubilar que o façam. Recordando nossas igrejas jubilares: Catedral Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, Santuário Nossa Senhora do Bonsucesso, Santuário Bom Jesus da Cabeça, Santuário São Judas Tadeu e paróquia Santa Terezinha. A nossa Romaria diocesana deste ano, dia 20 de setembro, também será a nossa peregrinação ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, também igreja jubilar.

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.

Bispo diocesano

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