Para entender esta reflexão, convido a fazer uma leitura do artigo de dezembro de 2021, desta coluna. Ali está explanado que para entender a espiritualidade bíblica sinodal, é preciso conceber o itinerário como uma “peça teatral” onde Jesus é o protagonista absoluto e os “atores” coadjuvantes são os discípulos e a multidão.
Como em todo “drama” aqui também há o antagonista. Este é representado através de várias categorias de pessoas. A primeira categoria é “os que vão embora”: estes são aqueles que diante das exigências de uma conversão com radicalidade, desistem de ouvir e procuram outros caminhos, diferente do que foi proposto por Jesus. A segunda categoria é dos que “mudam de humor”. Esta mudança geralmente é marcada pelos privilégios e status que podem ser perdidos. São os que mudam de lado. Há outra categoria: os rigoristas religiosos. Pessoas profundamente marcadas por uma religiosidade cega, que não sabe olhar para outro, para o diferente. Não estão abertas a um diálogo que pode levar a uma compreensão nova da mesma fé, sem negá-la. Uma quarta categoria é a dos rigoristas morais. São rigoristas porque vivem no constante pecado do julgamento do pecado dos outros e consideram-se santos. Evitam sempre o contato com os “pecadores”. Uma quinta categoria: “os que se deixam seduzir por uma sabedoria política mundana que dispensa o discernimento dos espíritos”. Estas são aquelas pessoas que desejam instrumentalizar o discurso de Jesus e a vida da comunidade dos discípulos de Jesus para alcançarem o objetivo de seus ideais políticos. Chegam mesmo a ser maquiavélicos (os fins justificam os meios).
Se nos encontramos numa destas categorias, será difícil fazer o caminho sinodal, pois nos encontramos fechados em nós mesmos.
Se nos encontramos numa destas categorias, há um só caminho possível: conversão pessoal e conversão pastoral.
No capítulo 10 dos Atos dos Apóstolos, nos é narrada a conversão de Cornélio. “Cornélio é pagão, …oficial de baixa patente do exército (romano)…exerce sua profissão baseada na violência e no abuso. No entanto, dedica-se à oração e à esmola, ou seja, cultiva a relação com Deus e cuida do próximo.” (Doc. Preparatório 22). A religiosidade natural de Cornélio é a base para o diálogo da fé. Através de uma inspiração divina, Cornélio manda chamar Pedro. Pedro resiste a este chamado, pois ficaria “impuro” se entrasse em contato com um pagão ou, pior ainda, entrasse na casa de um pagão. Também por uma inspiração divina, Pedro vai até Jope, entra em casa de Cornélio, apresenta-se e apresenta a novidade da fé. Cornélio e sua família se convertem. Pedro vendo os sinais de Deus neste DIÁLOGO, também se converte: “Deus não faz acepção de pessoas”… os pagãos também recebem o Espírito Santo.
“Trata-se de uma conversão, uma passagem dolorosa e imensamente frutuosa para sair das categorias culturais e religiosas: Pedro aceita alimentar-se com pagãos da comida que sempre tinha considerado proibida, reconhecendo como instrumento de vida e de comunhão com Deus e com o próximo. (…) Tanto Cornélio como Pedro envolvem outras pessoas no seu percurso de conversão, fazendo delas companheiros de caminho.” (Documento Preparatório 23.24)
Este acontecimento, conforme os Atos dos Apóstolos, prepara Pedro para que num futuro próximo, tome uma decisão importante para a obra da evangelização “ad gentes”, fora dos limites do povo do Antigo Testamento, herdeiro das promessas de Deus. Isso acontece no que se chama “Concílio de Jerusalém” que está no Capítulo 15 dos Atos dos Apóstolos.
As perguntas para objetivar a caminhada sinodal na sua fase diocesana estão no site da diocese. Elas podem ser respondidas individualmente, mas a resposta em grupo ajuda no diálogo e, quem sabe, numa conversão análoga à de Cornélio e Pedro. Assim sendo, é preciso organizar nas comunidades este momento de diálogo e enviar as respostas para que a Equipe diocesana do Sínodo, sem nada instrumentalizar, possa com discernimento que vem de Deus, entender caminhos que precisam ser trilhados.
Participe respondendo aos questionários acessando:
www.diocesedeguarulhos.org.br/sinododosbispos
Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.
Bispo diocesano de Guarulhos