Após dois anos sem poder celebrar presencialmente o Tríduo Pascal, este ano o fizemos com grande alegria em nossas comunidades. Assim como o povo de Deus no Antigo Testamento, cada experiência pascal traz consigo compromisso e missão. Acabamos de vivenciar a nossa XI Assembleia Diocesana de Pastoral e foram escolhidas prioridades pastorais para cada um dos pilares que sustentam a vida da comunidade eclesial missionária. No entanto, precisamos de nossas comunidades “reconstruídas” para colocarmos em prática as decisões da Assembleia. Temos que nos lembrar ainda, que em 2020 tínhamos realizado a Assembleia Diocesana da Pastoral Juvenil e, em virtude da pandemia, não pudemos levar adiante as prioridades escolhidas.
Pode não parecer, mas estes anos de pandemia e restrições afetaram nossa caminhada. Espero que não tenham afetado nosso compromisso de fé. Que a força renovadora da Páscoa nos impulsione na restauração de tantas coisas que estão paradas.
Toda a Escritura é perpassada por uma palavra: Páscoa. Que toda nossa vida cristã seja perpassada por esta Páscoa, mesmo que tenhamos de enfrentar e afrontar tantas situações de morte!
A celebração pascal, desde o Antigo Testamento, traz consigo um tempo de renovação para o povo escolhido. Fazer Páscoa traz consigo um compromisso e uma missão. O povo de Israel ao ser libertado do Egito, celebra a Páscoa na noite da libertação e se compromete a ser um povo totalmente do Senhor Libertador e testemunhar sua fidelidade perante todas as nações. Este compromisso e esta missão, possíveis com a libertação da escravidão, será um aprendizado ao longo da caminhada do deserto rumo à terra prometida. Antes de entrarem na terra realizam uma celebração de aliança em Siquém (Js 24) e ao entrarem na terra celebram a Páscoa tendo presente a missão de testemunhar fidelidade ao Deus que é Único. É com este espirito, apesar de todos os pecados, é que o povo escolhido vai se deixando conduzir pelo Deus da história.
Outro momento que tem um “sabor de Páscoa” no Antigo Testamento é o tempo do Exílio da Babilônia. Um grande sentimento de morte e abandono invade o povo de Deus com a tomada de Jerusalém e a destruição do templo. Chega-se até mesmo a acreditar que Deus tenha abandonado o seu povo e que não é maior “que os outros desuses”. Os profetas do pós exílio (alguns destes escritos foram proclamados na Vigília Pascal), anunciam ao povo o retorno a Jerusalém como um novo êxodo, uma nova Páscoa libertadora. O povo tem o compromisso de reconstruir Jerusalém, viver a fidelidade ao Deus Senhor de todas as nações, e com isso, juntamente a missão, de proclamar a unicidade de Deus perante todas as nações. O povo precisa tomar consciência maior da sua identidade como povo eleito.
Não é possível viver a experiência e da experiência da Páscoa de forma ambígua, ou seja, não ser explícito no culto e na vivência da Aliança com o Senhor. Não é possível fazer alianças idolátricas com os outros povos.
Com a celebração da Páscoa de 2022 estamos retomando o nosso caminhar eclesial. Temos uma caminhada no deserto: deixar-se conduzir pelo Senhor da história. Temos uma Jerusalém para reconstruir: encontros nas comunidades, formações, retorno dos grupos de reflexão, leitura orante, catequese de inspiração catecumenal…Sem dúvida não acabou a pandemia. Temos que continuar tendo os cuidados necessários. Não se trata de voltar ao normal de 2019. Deus fez história e estamos num outro momento novo. Assim como os profetas do pós exílio temos que animar irmãos e irmãs a retornarem a Jerusalém. Assim como Israel que retorna a Jerusalém, nossa identidade cristã tem que estar renovada, com novas perspectivas de vida e missão.
Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist. – Bispo diocesano