SÃO PAULO - BRASIL

“O Senhor fez em mim maravilhas.” (Lc 1,49)

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"O Senhor fez em mim maravilhas." (Lc 1,49)

O nascimento de uma vocação

Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei.” (Jr 1,5).

Esse texto retrata o chamado do profeta Jeremias. Ele foi escolhido por Deus para anunciar a necessária conversão de Israel. Que o povo se arrependesse e que mudasse de vida. Mas, como nasce uma vocação? O que a constitui? Iniciaremos, com este texto, uma série sobre a formação dos sacerdotes, a começar pela descoberta da vocação.

Quantas vezes na comunidade não escutamos comentários como: fulano tem cara de padre! O que será mesmo a vocação? A etimologia da palavra é de origem latina vocare. Os significados são: chamar, convocar, escolher. Em todos estes significados, uma raiz comum – o chamado, a convocação, a escolha, ambos têm um autor: Deus.

Creio que o primeiro chamado de Deus para nós é a vida. Fomos formados e constituídos seres humanos já com uma missão específica: a glória de Deus! Santo Irineu de Lião já dizia: “A glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus”. Não obstante a vida, Deus com sua generosidade, ainda nos chama a uma vocação universal: À SANTIDADE. Independente da vocação específica de cada um de nós, a santidade é imperativo para todos. “Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos também vós santos em todo o vosso comportamento, porque está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pd 1,15-16). Não importa o estado de vida, casados, solteiros, consagrados, leigos e leigas, o convite se repete “Sede santos, como o vosso Pai do céu é santo.” (Mt 5,48).

Mas, e a vocação específica, onde ela se localiza na Igreja? Na Igreja, o Espírito distribui seus dons e carismas com abundância. E convoca os fiéis a assumirem uma vocação específica. São vocações laicais, sacerdotais e religiosas. Dentro da vocação laical há diversidade, o matrimônio, os que escolhem o celibato sem estarem ligados a institutos ou congregações, as virgens que se consagram, etc.

A vocação sacerdotal, vocação específica, nasce de um encontro da vontade de Deus e da resposta do que é chamado. E Deus chama das mais diversas formas. Às vezes, o candidato descobre sua vocação no contato com algum sacerdote, às vezes com uma canção, outras vezes em um retiro, numa pregação, enfim, os meios que Deus se utiliza para chamar são diversos, mas o fim é o mesmo: constituir sacerdotes para distribuir sua multiforme graça.

A Igreja, através de seus sacerdotes, santifica o povo na distribuição dos sacramentos. Aquele que um dia olhava a comunidade e reconhecia as grandes necessidades dela, agora se coloca à serviço. Reconhece que Deus lhe está chamando. Nem sempre é uma decisão tranquila; às vezes, nossa resistência à vontade de Deus nos faz crer sermos chamados à outra vocação, ou até mesmo o medo de responder. Muitas vezes é uma luta travada entre o Chamado e o que Chama: sempre ganha o que Chama. “Tu me seduziste Senhor, e eu me deixei seduzir; Tu te tornastes forte demais para mim, tu me dominaste” (Jr 20,7).

Lembro-me do menino tímido que, de longe, olhava o padre e dentro do seu coração uma voz dizia: “Vem e segue-me” (Mt 19,21). Ao ouvir as palavras do prefácio da oração Eucarística: “Corações ao alto”, pensava comigo: Ele deseja meu coração unido ao dEle. Reconheci que Ele me chamava para a vocação sacerdotal. Ele me chamava a deixar a timidez e o comodismo para lançar redes.  A vocação nasce de um encontro de amor, de um chamado irresistível. Ele venceu! Assim, nasce a vocação. Quando Deus vence.

 

Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros

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