"O Senhor fez em mim Maravilhas" (Lc 1,49)

Jubileu da Esperança e a ‘‘Dilexi te’’

Chegamos ao mês de dezembro, também ao último mês deste Ano Jubilar. No próximo dia 28 de dezembro, Festa da Sagrada Família, às 15h, em nossa Catedral, teremos a celebração de encerramento do Ano Jubilar.

O Jubileu termina, mas não o sermos Peregrinos de Esperança. Os sinais de esperança, manifestados pelo Papa Francisco na Bula convocatória do Jubileu, “Spes non confundit”, continuam aí para serem vivenciados, e agora mais iluminados pela Exortação Apostólica “Dilexit te”, do Papa Leão XIV.  Nesta Exortação, o Papa ao nos recordar ao longo da caminhada da Igreja, através dos séculos, as várias formas de manifestação da opção preferencial pelos pobres, nos dirige também para alguns sinais de esperança indicados pelo Papa Francisco.

O Apóstolo Paulo, na segunda Carta aos Coríntios (8-9), fala de uma campanha de solidariedade para os pobres da comunidade de Jerusalém. Na Igreja de Jerusalém são instituídos pela imposição das mãos os sete servidores para que ninguém passe dificuldades. Na Dilexi te o Papa Leão fala desta verdadeira Tradição do cuidado aos pobres, como parte integrante da missão e do testemunho da Igreja. Cita o Diácono São

Lourenço, de Roma (38), os Santos Inácio de Antioquia e Policarpo de Esmirna (39). Da mesma época dos dois santos – século II – é também citado São Jusitno, de Roma, que mostra que a partilha com os pobres, faz parte da vivência da celebração Eucarística (40). O cuidado pastoral para com os pobres do bispo de Cartago, S. Cipriano, também é citado (49). Não poderia, sem sombra de dúvida, faltar a citação do grande Padre da Igreja, São João Crisóstomo, século IV, que une intimamente a vivência cristã na liturgia e na vida, com a opção preferencial pelos pobres (41). O grande Padre da Igreja do Ocidente, Santo Agostinho – séculos IV e V – é citado pela exigência do seguimento de Cristo, oferta aos pobres e coração indiviso (46-48).

O primeiro sinal de esperança, indicado pelo Papa Franciso, é a paz no mundo imerso em guerras. (Spes non confundit 8). Aqui, podemos contemplar ao longo da história, que em tempos tristes de flagelos da guerra, as comunidades cristãs sempre encontraram meios de anunciar a paz pela solidariedade. Na “Dilexi te” é citada a Vida Monástica, de modo especial desde a chamada Idade Antiga até a Idade Média (53-58). Os mosteiros sempre foram vistos como oásis de paz, em meio a tantos conflitos. O desprezo das riquezas incluía o cuidado para com os pobres e acolhida aos necessitados em meio aos sofrimentos. Do Oriente é citado um dos grandes mestres: o Capadócio São Basílio Magno (sec. IV). Para fazer presente a vida monástica do Ocidente, são citados João Cassiano (séc. IV) e São Bento Pai dos monges do Ocidente (séc. V). Para Idade Média, entre tantos filhos da Tradição beneditina, é citado São Bernardo de Claraval e os cistercienses (sec. XII). O final da Idade Média, na Europa, marcado por tantas guerras intestinas de poder, tem em contrapartida o testemunho de pobreza e partilha das Ordens mendicantes (cf. Dilexi te 63-67), cujo grande testemunho temos em Francisco de Assis, mas também a grande presença dos dominicanos, carmelitas e agostinianos.

Depois, para olhar para o futuro com esperança, temos que ter a abertura à vida, segundo sinal de esperança (SNC 9). Quantas Congregações religiosas, principalmente, surgiram com a missão de defender a vida, seja cuidando dos órfãos, das mães abandonadas, bem como trabalhando para a educação dos pobres. Os números 68-72 da Dilexi te enumeram: São José de Calazans e a Ordem dos clérigos Regulares Pobres da Madre de Deus das Escolas Pias, no século XVI. Nos séculos seguintes surgiram, além de Congregações femininas, São João Batista La Salle, Marcelino Champagnat, São João Bosco, Beato Antonio Rosmini…

No número 10 da Bula o Papa Francisco para a necessidade de dar sinais de esperança aos encarcerados. Em tempos de guerra, onde pessoas eram escravizadas, Deus inspirou pessoas a viverem a consagração especial para a libertação dos cativos: Trinitários, Mercedários e na Dilexi te (59-62), são citados São João da Mata e São Felix de Valois.

No quarto sinal de esperança (SNC 11) estão os doentes e no número 14, estão os idosos. Deus suscita carismas, principalmente nos séculos XVII, que lembram estas obras de misericórdia: São Camilo de Lelis, São João de Deus, São Vicente de Paulo, Santa Luiza de Marillac (50-51).

O quinto sinal de esperança (SNC 12) dirige-nos aos jovens. Aqui, como não remeter aos já citados santos e santas, citados acima, que se preocuparam com a educação da juventude nas mais diversas situações?

Os migrantes são contemplados na Bula do Papa Francisco (SNC 13). A “Dilexi te” cita a situação de migração e imigração do Povo de Deus do Antigo Testamento e a própria Sagrada Família que foi para o Egito e de lá voltou tendo que se estabelecer em Nazaré. Acolher os forasteiros é obra de misericórdia (Mt 25,35). Deus também suscitou santos e santas chamados a viver esta obra de misericórdia, como São João Batista Scalabrini e Santa Francisca Cabrini (73-75)

Por último, mas não em último lugar, estão os pobres, os empobrecidos (SNC 15-16). De várias formas Deus tem suscitado na Igreja (e também no mundo, fora do ambiente ad intra da Igreja) pessoas que doam suas vidas pelos pobres. Duas santas são mencionadas particularmente na “Dilexi te”: Santa Teresa de Calcutá e Santa Dulce dos pobres. Também são citados: São Bento Menni, Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, São Charles de Foucauld, Santa Katarine Drexel… (76-81).

Quero concluir a citação desta espécie de resenha da “Dilexi te” e consonância com a “

Spes non confudit” com uma citação da Carta aos Hebreus: “Portanto, com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição. Em vista da alegria que o esperava, suportou a cruz, não se importando com a infâmia e assentou-se à direita do trono de Deus.” (Hb 12, 1-2)

 

Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.

Bispo diocesano

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