Em nossa jornada que já passou pela descoberta da vocação, pela escuta dos anseios de Deus e a resposta generosa, pelo propedêutico e pela filosofia, agora chegamos à Teologia. Até aqui o candidato já passou pelos estudos introdutórios e a filosofia o fez adquirir maior facilidade com os raciocínios. Mas, não se trata só de vida intelectual. Recordemo-nos dos aspectos todos a serem trabalhados durante a formação que foram apresentados quando começamos nossa série no mês de Maio. Além de tudo, o candidato deve auscultar os anseios do Espírito, em nome Dele deve falar e Dele deve ser arauto.
“No entanto, quando estamos entre pessoas maduras, falamos com palavras de sabedoria, mas não com o tipo de sabedoria desta era ou de seus governantes, que logo caem no esquecimento. Pelo contrário, a sabedoria a que nos referimos é o mistério de Deus, seu plano antes secreto e oculto, embora ele o tenha elaborado para nossa glória antes do começo do mundo”. (1 Cor 2, 6-7). A Teologia se encarrega de nos colocar diante do mistério de Deus e de seu modo próprio de agir. Em síntese ela é o estudo sobre Deus.
Evidente que não se esgota o mistério de Deus e não se pode abarcá-lo. Por isso, a máxima: a Teologia se faz de joelhos no chão. O conhecimento imperfeito sobre o homem e sobre a natureza é aperfeiçoado pela Teologia. E mais uma vez voltamos a São João
Paulo II: “A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio (cf. Ex 33, 18; Sal 2726, 8-9; 6362, 2-3; Jo 14, 8; 1 Jo 3, 2). (FIDES ET RATIO) Fé e razão não são inimigos, antes se auto ajudam na grande tarefa de compreender e buscar, decidido, a verdade. E, ao encontrar a verdade, encontramos Deus.
“Onde encontrei a verdade, aí encontrei o meu Deus, que é a própria verdade, da qual nunca mais me esqueci, desde o dia em que a conheci.” (Confissões, Santo Agostinho)
Este período da Teologia, que compreende 4 anos, destaca-se pela chamada configuração a Cristo. O candidato ao sacerdócio deve empreender esta tarefa junto a seus formadores e buscar uma verdadeira configuração a Cristo. Não nos esqueçamos de Paulo: “Para mim, de fato, o viver é Cristo” (Fl 1,21). É um programa de santidade bem específico tal como a vocação. O candidato, cursando teologia, deve entender que ela tem dois aspectos. Nas palavras do Santo Padre, o Papa Francisco, temos o aspecto espiritual e o aspecto eclesial. É espiritual justamente porque na oração e na abertura ao Espírito se compreende a revelação: O Verbo se fez carne! E é eclesial porque a teologia está a serviço de todos na difusão do sabor do Evangelho. O candidato ao sacerdócio deve ser homem de oração e também comunitário. Se não sabe viver em comunidade não serve para o ministério sacerdotal.
Desde o propedêutico até o término da teologia já se vão 8 anos, sem contar os encontros vocacionais e o discernimento até a entrada. Se, durante todo este tempo, o candidato não demonstra maturidade para a oração e para a vida de comunidade, é necessário o desligamento do seminário. Aliás, pode ser que alguém pergunte: quando se desliga alguém do seminário? Os candidatos são acompanhados por uma equipe de formação, reitores, diretores espirituais, professores, psicólogos, etc. e ele deve ser desligado do seminário quando a Igreja discernir que a vocação sacerdotal em primeiro não é um chamado de Deus para a vida do candidato. Deve ser desligado quando sua conduta não for condizente com o nome de cristão e às exigências da vida sacerdotal. E este desligamento pode ser feito em qualquer uma das etapas.
A Igreja necessita sim de sacerdotes, mas não quaisquer sacerdotes. “Filho de homem, profetiza acerca dos pastores de Israel; profetiza, dize a esses pastores: Assim fala o Senhor Deus: ai dos pastores de Israel que se apascentam a si próprios! Porventura não é o rebanho que deve ser apascentado pelos pastores?” (Ez 34, 2) E vem a grande promessa: “E vos darei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com ciência e com inteligência”. (Jr 3,15). Que beleza saber que o Senhor Deus se empenha e se esmera na formação dos futuros padres e depois de ordenados também. Ele mesmo quer conceder à Igreja sacerdotes que sejam bons pastores e apascentem o rebanho com diligência e sabedoria.
Rezemos pelos nossos seminaristas que estão cursando a teologia e peçamos a Deus que eles próprios se deixem ser verdadeiramente formados. Que se abram à graça e permitam que a graça de Deus os associe a Si como “In persona caput”. Rezemos também pelos formadores para que o discernimento esteja sempre na vontade de Deus.
Padre Cristiano Sousa – Representante dos Presbíteros