≈1030 – 1010 a.C. (1 Sm 7,2 – 15, 31. 18-31)
Israel viveu sob o regime da Confederação das Tribos por quase 200 anos (1230 a.C. – 1030 a.C.).
Algumas vezes, as tribos se desentendiam quanto à defesa (Jz 5, 16 – 17 e 12, 1 – 7), à unidade (Jz 20) e quanto à fé (Jz 18).
Até houve uma tímida forma de governo centralizado em algumas tribos da região Central e do Norte de Canaã (Jz 9).
Surge a necessidade de um governo centralizado e estável, ou seja, a monarquia. Algumas causas contribuíram para isso:
– o crescimento das dificuldades internas (unidade entre as tribos) e externas (invasões de filisteus; ver 1Sm 4, 10 – 11);
– novas técnicas agrícolas trazidas pelo ferro (machado, foices, etc) e uso do boi na agricultura;
– produção de excedente e melhoria em algumas condições de vida (a escavação e caiação de poços também ajudaram nesta prosperidade);
– prestígio de algumas tribos mais privilegiadas e desigualdades econômicas e sociais;
– Influências: “reis” em Canaã: algumas cidades eram reinos independentes entre si, embora, vassalos dos egípcios por algum tempo; cidades costeiras da Síria, Fenícia, Sidônia e outras eram relativamente independentes umas das outras;
– reinos hostis, que antes, tinham sido grupos de tribos: Edom, Amon (amonitas: 1Sm 11, 1 – 11; 2 Sm 10, 1) e Moab (Nm 21, 11 – 15; 22, 4.10; Jz 3, 12 -30): esses reinos passaram rapidamente do estado tribal para a constituição de um estado organizado, autônomo e com um rei;
– necessidade de uma união maior contra filisteus e amonitas: os filisteus traziam a tecnologia do uso do ferro em armas e eram bem organizados militarmente;
– Samuel, último juiz, estava velho e seus filhos, corruptos, não puderam mais governar o povo (ver 1Sm 7, 3 – 9; 12, 2; 8, 1 – 3); porém, podemos constatar posturas conflituosas no mesmo texto de 1Sm: pró-monarquia (9, 15 – 10, 8) X contra a monarquia ( 8 e 10, 17 – 24);
Por isso, mesmo contra a monarquia, Samuel, orientado por Deus, resolve atender aos apelos dos anciãos do povo para constituir um governo central (rei).
Temos três narrativas sobre a escolha de Saul: a unção secreta(1Sm 9, 1 – 10, 8), a escolha por sorteio (1Sm 10, 9 – 27) e a aclamação do povo ( 1Sm 11, 1 – 15).
Na verdade, Saul não foi necessariamente um “rei” (melek); foi mais chefe de recrutamento tribal (nagid); apenas mantinha uma tropa defensiva.
Em sua época, constatamos uma frágil centralização do poder político:
– Saul não chegou a governar todas as tribos (1Sm 10, 14 – 16. 26s.; 11, 12)
– falta de autoridade: não criou uma organização estatal (nação) e nem constituiu uma corte;
– não constituiu Gabaá capital de um reino e nem construiu palácio – não houve uma estrutura burocrática;
– não teve funcionários estáveis e nem promoveu mudanças no culto ou na vida religiosa (tradição oral, ainda);
– viveu em conflito com Samuel (representante do grupo anti-monárquico);
– mostrou impotência contra os filisteus: seu exército não tinha condições de combatê-los e vencê-los;
– limites pessoais do rei (1Sm 16, 14 – 23): mostrou relativo desequilíbrio na condução de momentos de conflitos em sua vida;
– divisões na família: seu próprio filho Jônatas era a favor de Davi (ver 1Sm 22, 7 – 8);
– infidelidade e desobediência à Palavra de Deus: Saul quis passar acima da autoridade de Samuel, mas não teve sucesso em seu empreendimento (1Sm 13, 7b – 14; 14, 24 – 34; 15, 10 – 30 e 31, 1 – 13).
– causou insatisfação do povo: enquanto isso, Davi adquiria a simpatia do povo pelos combates e vitórias empreendidas em suas batalhas (1Sm 22, 2);
– perdeu o apoio e a confiança de Davi que, de guerreiro seu, passou a ser concorrente (1Sm 18, 5 – 8.11; 19, 10);
– matou sacerdotes em Nob, que eram a favor de Davi, manchando de sangue seu governo: essa atrocidade de Saul foi determinante para sua queda e ruína (1Sm 22, 6 – 23).
– morto na batalha de Gelboé (1Sm 31, 8 – 13), daí a autoridade militar ser a grande marca do governo de Saul.
Saul foi incapaz no plano político (1Sm 31), indigno no plano religioso (1Sm 15, 10 – 31) e desequilibrado no plano psíquico (1Sm 19, 8 – 24); perde, aos poucos, o prestígio inicial;
Pe. Éder Aparecido Monteiro – Vigário Paroquial – Paróquia Sta. Cruz Pres. Dutra