Estamos vivendo o III Ano Vocacional do Brasil.
Geralmente quando se fala em vocação remete-se, quase que instantaneamente, às vocações aos ministérios ordenados e à vida consagrada. Não se pensa que estamos na Igreja por vocação. Ainda que tenha sido opção nossa fazermos parte da Igreja, houve alguém que nos chamou primeiro. “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto e para que vosso fruto permaneça…” (Jo 15,16).
A Escritura nos narra tantos chamados de Deus. Os vocacionados, desde Abraão, são chamados nas realidades concretas de sua vida. Abraão vivia angustiado por não ter filhos e uma esposa estéril. Moisés, foragido do Egito, estava curioso ao descobrir o porquê do arbusto queimar-se sem se consumir. Samuel, na sua infância, discerne o chamado de Deus, ajudado por Eli. Davi é ungido rei, enquanto pastoreava as ovelhas. Todas as mulheres e homens de Deus no Antigo Testamento possuem um momento concreto do chamado de Deus em suas vidas.
No Novo Testamento Jesus chama seus discípulos indicados por João Batista, na pesca, na banca da cobrança de impostos, convidando a descer da árvore àquele que queria vê-lo. De modo maravilhoso, durante uma perseguição quase que odiosa, o Apóstolo Paulo é chamado.
A iniciativa do chamado é sempre de Deus e Ele o faz nas mais variadas situações concretas da vida. Ele nos amou e nos chamou por primeiro.
Um dos objetivos do III Ano Vocacional do Brasil é promover a cultura vocacional. Neste sentido é fundamental que façamos memória na nossa existência quando e como o Senhor nos chamou. Alguém pode objetar que está na Igreja como que naturalmente, pois é uma “tradição” familiar. Até mesmo nossa família é um acontecimento concreto no qual Deus se manifesta. No entanto, ainda que por mais “natural” possam parecer as coisas, estamos na Igreja por uma opção consciente. Portanto, precisamos identificar na nossa existência, com fatos concretos e existenciais, quando a voz de Cristo atingiu o nosso coração. Isso é ter consciência vocacional. Não se pode promover uma cultura vocacional sem esta consciência.
“…Vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes frutos…” não podemos identificar o porquê da escolha do Senhor sobre nós. Não somos melhores dos que não foram escolhidos para estarem imediatamente na comunidade cristã. No evangelho de Mc 3 está dito que Jesus escolheu os que Ele quis. Não sabemos os critérios da escolha dos apóstolos e nem os critérios de Deus para nossa escolha. No entanto, o “para que” fomos escolhidos está dito na citação de João e em outros lugares. O Senhor nos escolheu para a missão. O nosso chamado é graça e missão, como todos os chamados bíblicos.
Para a promoção da cultura vocacional na Igreja precisamos ter consciência da concretude do nosso chamado e com qual finalidade o Senhor nos chamou. O nosso coração irá arder quando identificarmos o chamado de Deus. Quando percebermos que não fizemos nada para receber a graça da vocação – que é graça mesmo -uma gratidão brotará do nosso coração ardente. Um coração ardente não pode estar desprovido da missão. Vocação é graça e missão.
Dom Edmilson Amador Caetano, O.Cist.
Bispo diocesano