Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. A primeira coisa a recordar aqui é gramatical. Dizemos “perdoai-nos” (reflexivo, suplicante) e não “perdoai” (imperativo, como que ordenando). Quem é verdadeiramente filho de Deus, recebeu a natureza divina (revestiu-se de Cristo) e experimentou tantas e tantas vezes na vida o perdão. Deus é Aquele que perdoa e, se tenho a natureza de Deus, também sei perdoar. Tenho a capacidade de perdoar como um dom. Se não se vive de acordo com a natureza divina, não se é filho “do Pai que está nos céus”, mas se deixa conduzir pelo pai da mentira.
Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. É preciso distinguir e discernir entre ser tentado e cair em tentação. Jesus foi tentado, é verdade que para nós pecadores é muito tênue a linha que separa o ser tentado e cair em tentação. Remeto a dois textos bíblicos que, com uma boa Leitura Orante, podem nos ajudar: 1Cor 10,12-13 e Tg 1,2-15. Deus não nos tenta, mas permite a tentação em nossas vidas para que com firme decisão da nossa vontade, optemos e comportemo-nos como filhos do Pai que está no céu, pois estamos enxertados naquele que por nós foi tentado, Jesus Cristo, o Filho Unigênito do Pai.
A última parte desta petição do Pai nosso, mas livrai-nos do mal, é bem distinta da tentação. As tentações podem nos levar ao pecado. Há sempre possibilidade de conversão, se assim o quisermos. Entretanto, o MAL que aparece nesta petição do Pai Nosso não é simplesmente coisas ruins que nos podem acontecer. Aqui se trata de uma tentação especial, a tentação por excelência: a apostasia. Abandonar a fé, a confiança no amor do Pai. Este MAL é “personificado”, é o MALIGNO, satanás, o demônio, o pai da mentira que nos quer “arrancar” a filiação que recebemos. O grande momento desta tentação chega em nossa vida quando abandonamos a oração e buscamos “outros deuses”. Jesus não foi tentado somente no deserto, mas sua agonia no Getsêmani foi um terrível combate. Ele mesmo exorta seus discípulos e a nós: “Vigiai e orai para não entrar em tentação: o espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (Mc 10,38)
Assim terminamos as breves reflexões sobre as petições do Pai Nosso que fizemos ao longo deste ano, como preparação para o Ano Jubilar de 2025. Não é possível ser “peregrinos de esperança” se o nosso coração não está entregue nas mãos misericordiosas do Pai. Que todos possamos iniciar em comunhão com a Papa Francisco o Ano Santo na Noite de Natal de 2024 e, em comunhão com toda a Igreja (todas as dioceses farão neste dia), no domingo dia 29 de dezembro, festa da Sagrada Família, às 15h, congregados na Igreja NS do Rosário (centro de Guarulhos) e fazermos a primeira peregrinação jubilar até a Catedral onde celebraremos a Eucaristia.
Dom Edmilson Amador Caetano
Bispo diocesano